"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(15) Entre os Ímpios e os Santos: A Tensão dos Cristãos na Sociedade Contemporânea

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(15) Entre os Ímpios e os Santos: A Tensão dos Cristãos na Sociedade Contemporânea

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A Bíblia toda nos ensina a "Não entrar pela vereda dos ímpios, nem andar no caminho dos maus" (Pv 4:14), pois esse é um conselho sábio e divino para todos os que desejam seguir a Deus e a sua vontade. No entanto, há quem defenda que os cristãos devem evitar os tolos e os pecadores, e se isolar do mundo, como se isso fosse uma garantia de santidade e sabedoria. Essa ideia, porém, não encontra respaldo nas Escrituras, nem na história da igreja, nem na experiência cristã. Pelo contrário, ela revela uma compreensão equivocada do propósito de Deus para o seu povo e do papel dos cristãos na sociedade.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que todos nós somos pecadores e carecemos da graça de Deus (Rm 3:23). Não há ninguém que seja justo por si mesmo, nem que possa se gloriar diante de Deus por suas obras (Ef 2:8-9). Portanto, não cabe aos cristãos se olharem superior aos demais, nem se afastarem dos que ainda não conhecem a Cristo. Pelo contrário, cabe-lhes testemunhar do amor de Deus e da salvação que ele oferece em Jesus (Mt 28:19-20). Como disse o apóstolo Paulo: "Porque Cristo me enviou, não para batizar, mas para evangelizar" (1 Co 1:17).

Em segundo lugar, é preciso lembrar que Jesus foi chamado de "amigo dos publicanos e pecadores" (Mt 11:19), pois ele não veio para os justos, mas para os pecadores (Mc 2:17). Ele não se isolou do mundo, mas se envolveu com as pessoas, com suas dores, suas necessidades, seus anseios. Ele não rejeitou os que eram marginalizados pela sociedade, mas os acolheu com compaixão e misericórdia. Ele não condenou os que erravam, mas os perdoou e os chamou ao arrependimento. Ele não se conformou com o mal, mas o combateu com a verdade e a justiça. Ele foi o exemplo perfeito de como um cristão deve se relacionar com o mundo.

Em terceiro lugar, é preciso entender que Deus nos chamou para sermos sal da terra e luz do mundo (Mt 5:13-14), ou seja, para influenciarmos positivamente a sociedade com os valores do reino de Deus. Não podemos nos omitir diante das injustiças, das opressões, das violências, das mentiras que assolam o mundo. Não podemos nos calar diante das falsas doutrinas, das heresias, das idolatrias que desviam as pessoas de Deus. Não podemos nos acomodar diante das tentações, dos pecados, das corrupções que nos afastam de Deus. Temos que ser agentes de transformação, de beleza, de restauração. Temos que ser testemunhas da esperança, da fé, do amor.

Portanto, evitar os tolos e os pecadores não é uma atitude cristã. Pelo contrário, é uma atitude farisaica, hipócrita e egoísta. Como disse o teólogo Dietrich Bonhoeffer: "A igreja não é apenas chamada a estar entre os fracos; ela pertence a eles incondicionalmente" [1]. E como disse o escritor CS Lewis: "O cristão não pensa que Deus nos amará porque somos bons; mas que Deus nos fará bons porque ele nos ama" [2]. Que possamos seguir esses exemplos e cumprir a nossa missão no mundo.

Referências:

[1] Bonhoeffer, D. Discipulado. São Leopoldo: Sinodal/EST; Petrópolis: Vozes; São Paulo: Fonte Editorial; Londrina: Descoberta Editora; Belo Horizonte: Editora Ultimato; Curitiba: Editora Encontrão; Recife: Editora Betel Brasileiro; Brasília: Editora Palavra; Rio de Janeiro: Editora Batista Regular; São Paulo: Editora Cristã Unida; São Paulo: Editora

[2] Lewis, C.S. Mere Christianity. London: HarperCollins, 2002.

Nenhum comentário: