Coleção 14 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)
Por Claudeci Andrade
1 A crítica ao "mestre de português" expõe a tragédia de um tempo em que a ignorância se investe de autoridade e a falibilidade humana é usada como espetáculo. O erro, natural ao saber, vira munição para quem nada constrói; apenas deseja envergonhar. Não é busca por correção, mas vaidade ferida que prefere a humilhação à luz. É quando o julgamento deixa de ser ético para tornar-se vingança.
2 Quando o ensino se converte em espetáculo e o pedagogo em vendedor, a educação deixa de formar consciências para apenas cativar plateias. A "venda de ideias" substitui a busca pela verdade, e o brilho da performance ofusca a luz do pensamento. Nesse teatro, o saber se esvazia e o aluno desaprende a pensar.
3 Ao alimentar os pombos todos os dias, impede-se que aprendam a buscar o próprio sustento. Assim também é com o auxílio mal direcionado: sob a aparência de bondade, elimina-se o impulso vital da superação. O benfeitor, iludido, não percebe que perpetua a dependência ao invés de promover a liberdade.
4 Quando não precisam buscar alimento, os pombos esquecem como fazê-lo; e ocupam-se em jogos triviais, como mirar cabeças em voo. A fartura sem esforço gera não só passividade, mas um tipo de soberba lúdica. Também o ser humano, privado do desafio, tende à estagnação: troca o aprendizado pela distração e o esforço pela ilusão de controle.
5 Os que zombam da aula à noite saboreiam, pela manhã, um coffee break farto; não por mérito, mas pela sobra dos pseudocaridosos. Nesse teatro de aparências, a recompensa se afasta do esforço, e a caridade ostentada apenas reforça a desigualdade. A hipocrisia veste o luxo, enquanto o valor real segue desnutrido.
6 Só aprende quem quer aprender. Sem a vontade de viver melhor, o ensino se torna inútil, por mais bem-intencionado que seja. Obediência forçada não é virtude; é submissão sem consciência. O saber verdadeiro nasce da liberdade e do desejo, não da imposição.
7 Se Deus desmancha o que fez ou refaz o que desmanchou, a criação parece comédia; sem rumo e sem gravidade. Nesse vaivém divino, até a ressurreição soa incoerente: que sentido teria o retorno se o sacrifício foi o suicídio perfeito de Cristo? Um ato tão absoluto não combina com um Deus que hesita.
8 Só aprende quem quer; e querer nasce da necessidade de viver melhor. Onde não há esse desejo, o ensino imposto é inútil, pois obediência forçada não é virtude. Na escola pública, muitos alunos não buscam saber, mas lanche e aprovação fácil. A pandemia escancarou essa inversão: aulas suspensas, merenda garantida. Quando a função assistencial se sobrepõe à pedagógica, a escola deixa de formar mentes e passa a distribuir favores; e diplomas sem substância.
9 Agora sou eu quem escreve a redação sobre minhas férias, para mostrar que viajei e amenizar meus sentimentos de lesado. Pedir aos alunos que façam a redação sobre suas férias é proibido; a coordenadora considera o tema ultrapassado. Antigamente, eles competiam para mostrar quem desfrutou melhor. Mas hoje...
10 O sopro do saldo que baforo mal compensa o peso de longos anos letivos e o jugo imposto a distância. Aposentadoria é leite de onça; amarga ilusão de uma recompensa quase impossível, que escapa ao merecimento e reforça a precariedade do trabalhador esquecido.
11 Punir fabricantes por crimes cometidos com seus produtos é tão absurdo quanto exigir que professores refaçam a documentação dos alunos que reprovam por desinteresse. A verdadeira injustiça está em responsabilizar quem oferece recursos quando a falha reside no uso; ou na falta dele; por parte do receptor.
12 Para preservar a paz entre colegas, o professor usa a reprovação não como medida acadêmica, mas como escudo contra a inveja gerada por seu “recesso antecipado”. A justiça pedagógica cede espaço à estratégia de autoproteção em um ambiente de rivalidade velada.
13 A religião criou a angústia existencial ao ligar a morte a promessas e punições eternas, transformando a fé numa farsa que manipula ao negar a legítima opção do nada após a vida. Assim, aprisiona a liberdade do espírito em um teatro de esperanças e temores.
14 Protestar nas ruas, pedindo ao bandido para poupar a vida, é gesto ingênuo diante da violência irracional. A verdadeira paz, então, reside no silêncio, no jejum e na fuga; estratégias de retraimento diante de um mal que não se confronta, apenas se sobrevive.
15 A violência nasce do medo, e a vingança, longe de ser destrutiva, torna-se moeda de troca que encerra a perseguição. A paz, então, não é ausência de conflito, mas seu resultado; uma guerra onde “anjos matam réus” em nome de uma justiça utilitária e implacável.
16 Valorizar demais o parceiro é o prêmio fatal que conduz à traição. A lealdade torna-se castigo, e a amizade entre os traídos nasce da amarga solidariedade forjada na desilusão.
17 Antes a imperfeição da companhia do que a miséria da solidão absoluta. Mesmo mal acompanhado, o convívio é o filé mignon da vida; roer ossos sozinho é privar-se do essencial: a conexão humana.
18 Num mundo dito tolerante, ser “corneado” ultrapassa o sentido original: é condição universal. Traição e decepção são experiências inevitáveis, marcando a desilusão que todos compartilham; seja por parceiros, amigos, instituições ou o sistema.
19 A dor do insulto se ameniza ao reconhecer o agressor como louco. Dar-lhe importância seria loucura mútua; a sanidade reside em não levar a sério o que nasce da irracionalidade.
20 Evitar o esforço é rendição à inércia que atrofia corpo e mente. Melhor correr na chuva do que fugir dela; enfrentar a adversidade é o caminho para a vida, mesmo quando a força falta.
Por Claudeci Andrade
1 A crítica ao "mestre de português" expõe a tragédia de um tempo em que a ignorância se investe de autoridade e a falibilidade humana é usada como espetáculo. O erro, natural ao saber, vira munição para quem nada constrói; apenas deseja envergonhar. Não é busca por correção, mas vaidade ferida que prefere a humilhação à luz. É quando o julgamento deixa de ser ético para tornar-se vingança.
2 Quando o ensino se converte em espetáculo e o pedagogo em vendedor, a educação deixa de formar consciências para apenas cativar plateias. A "venda de ideias" substitui a busca pela verdade, e o brilho da performance ofusca a luz do pensamento. Nesse teatro, o saber se esvazia e o aluno desaprende a pensar.
3 Ao alimentar os pombos todos os dias, impede-se que aprendam a buscar o próprio sustento. Assim também é com o auxílio mal direcionado: sob a aparência de bondade, elimina-se o impulso vital da superação. O benfeitor, iludido, não percebe que perpetua a dependência ao invés de promover a liberdade.
4 Quando não precisam buscar alimento, os pombos esquecem como fazê-lo; e ocupam-se em jogos triviais, como mirar cabeças em voo. A fartura sem esforço gera não só passividade, mas um tipo de soberba lúdica. Também o ser humano, privado do desafio, tende à estagnação: troca o aprendizado pela distração e o esforço pela ilusão de controle.
5 Os que zombam da aula à noite saboreiam, pela manhã, um coffee break farto; não por mérito, mas pela sobra dos pseudocaridosos. Nesse teatro de aparências, a recompensa se afasta do esforço, e a caridade ostentada apenas reforça a desigualdade. A hipocrisia veste o luxo, enquanto o valor real segue desnutrido.
6 Só aprende quem quer aprender. Sem a vontade de viver melhor, o ensino se torna inútil, por mais bem-intencionado que seja. Obediência forçada não é virtude; é submissão sem consciência. O saber verdadeiro nasce da liberdade e do desejo, não da imposição.
7 Se Deus desmancha o que fez ou refaz o que desmanchou, a criação parece comédia; sem rumo e sem gravidade. Nesse vaivém divino, até a ressurreição soa incoerente: que sentido teria o retorno se o sacrifício foi o suicídio perfeito de Cristo? Um ato tão absoluto não combina com um Deus que hesita.
8 Só aprende quem quer; e querer nasce da necessidade de viver melhor. Onde não há esse desejo, o ensino imposto é inútil, pois obediência forçada não é virtude. Na escola pública, muitos alunos não buscam saber, mas lanche e aprovação fácil. A pandemia escancarou essa inversão: aulas suspensas, merenda garantida. Quando a função assistencial se sobrepõe à pedagógica, a escola deixa de formar mentes e passa a distribuir favores; e diplomas sem substância.
9 Agora sou eu quem escreve a redação sobre minhas férias, para mostrar que viajei e amenizar meus sentimentos de lesado. Pedir aos alunos que façam a redação sobre suas férias é proibido; a coordenadora considera o tema ultrapassado. Antigamente, eles competiam para mostrar quem desfrutou melhor. Mas hoje...
10 O sopro do saldo que baforo mal compensa o peso de longos anos letivos e o jugo imposto a distância. Aposentadoria é leite de onça; amarga ilusão de uma recompensa quase impossível, que escapa ao merecimento e reforça a precariedade do trabalhador esquecido.
11 Punir fabricantes por crimes cometidos com seus produtos é tão absurdo quanto exigir que professores refaçam a documentação dos alunos que reprovam por desinteresse. A verdadeira injustiça está em responsabilizar quem oferece recursos quando a falha reside no uso; ou na falta dele; por parte do receptor.
12 Para preservar a paz entre colegas, o professor usa a reprovação não como medida acadêmica, mas como escudo contra a inveja gerada por seu “recesso antecipado”. A justiça pedagógica cede espaço à estratégia de autoproteção em um ambiente de rivalidade velada.
13 A religião criou a angústia existencial ao ligar a morte a promessas e punições eternas, transformando a fé numa farsa que manipula ao negar a legítima opção do nada após a vida. Assim, aprisiona a liberdade do espírito em um teatro de esperanças e temores.
14 Protestar nas ruas, pedindo ao bandido para poupar a vida, é gesto ingênuo diante da violência irracional. A verdadeira paz, então, reside no silêncio, no jejum e na fuga; estratégias de retraimento diante de um mal que não se confronta, apenas se sobrevive.
15 A violência nasce do medo, e a vingança, longe de ser destrutiva, torna-se moeda de troca que encerra a perseguição. A paz, então, não é ausência de conflito, mas seu resultado; uma guerra onde “anjos matam réus” em nome de uma justiça utilitária e implacável.
16 Valorizar demais o parceiro é o prêmio fatal que conduz à traição. A lealdade torna-se castigo, e a amizade entre os traídos nasce da amarga solidariedade forjada na desilusão.
17 Antes a imperfeição da companhia do que a miséria da solidão absoluta. Mesmo mal acompanhado, o convívio é o filé mignon da vida; roer ossos sozinho é privar-se do essencial: a conexão humana.
18 Num mundo dito tolerante, ser “corneado” ultrapassa o sentido original: é condição universal. Traição e decepção são experiências inevitáveis, marcando a desilusão que todos compartilham; seja por parceiros, amigos, instituições ou o sistema.
19 A dor do insulto se ameniza ao reconhecer o agressor como louco. Dar-lhe importância seria loucura mútua; a sanidade reside em não levar a sério o que nasce da irracionalidade.
20 Evitar o esforço é rendição à inércia que atrofia corpo e mente. Melhor correr na chuva do que fugir dela; enfrentar a adversidade é o caminho para a vida, mesmo quando a força falta.







