Nos Bastidores da Segurança Escolar ("Não podemos resolver problemas pensando da mesma forma que os criamos." — Albert Einstein)
Nos anos em que caminhei pelo chão da escola, aprendi que nem tudo o que reluz é ouro, e nem toda promessa se cumpre. Ultimamente, tenho assistido a um espetáculo peculiar: uma encenação bem-intencionada, mas que ignora o enredo da vida real. Trata-se da tentativa do Ministério da Educação de enfrentar o bullying com seminários e protocolos — um esforço que, de longe, parece avanço, mas de perto se revela frágil, como quem tenta consertar uma lona rasgada com fita adesiva.
A proposta de transformar a proteção escolar em uma coleção de guias rápidos e normativas me faz refletir. Como afirma a socióloga Vera Candau (2008), “não basta despejar conteúdo nas mentes jovens; a escola precisa ser um espaço onde a convivência se exercite em democracia e crítica.” No entanto, o que vejo é a burocratização do cuidado: prioriza-se o gerenciamento das consequências, enquanto se evita encarar as causas profundas da violência. É como se a solução estivesse nos manuais, não no cerne do problema.
A insistência em medidas técnicas e checklists obscurece uma verdade desconfortável, aquilo que Jesse Souza (2019) chama de “violência simbólica estrutural”. Ela se manifesta de forma invisível, mas concreta: na desigualdade que oprime, no racismo entranhado nas estruturas institucionais, nas hierarquias de poder que silenciam e desumanizam. Enfrentar o bullying exige mais que seguir protocolos; é preciso encarar de frente as omissões da escola e a exclusão afetiva que atinge professores e alunos com a mesma força.
Lembro-me do alívio que senti quando a Lei nº 13.935/2019 anunciou a chegada de psicólogos e assistentes sociais às escolas. Pensei: “Agora sim, um respiro!”. Mas a realidade, como sempre, mostrou-se teimosa. Sem condições materiais, vínculos duradouros e valorização efetiva desses profissionais, suas ações se tornam meros paliativos. Daniel Cara (2023), referência em políticas educacionais, foi direto ao ponto: “Nenhuma política pública se sustenta sem investimento real e sem escuta dos que vivem o chão da escola.” E não há como discordar.
No fim das contas, proteger verdadeiramente a escola exige mais do que eventos pontuais ou discursos em datas comemorativas. É preciso coragem institucional para rever a lógica meritocrática que adoece, desmontar relações autoritárias que sufocam e romper com silêncios que perpetuam a injustiça. Só assim a escola deixará de ser um palco de segurança encenada para se tornar, de fato, um refúgio real.
Que sejamos, como sociedade, capazes de ouvir o chão da escola — e tenhamos a ousadia de transformá-la no que ela sempre deveria ter sido: um lugar de acolhimento e florescimento, não de protocolos vazios.
https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2025/junho/mec-promove-seminario-de-enfrentamento-ao-bullying (Acessado em 04/06/2025)
Minha crônica oferece uma análise crítica profunda sobre a ineficácia das políticas educacionais que buscam combater o bullying de forma superficial, negligenciando as causas estruturais da violência e a complexidade do ambiente escolar. Com base nessas ideias, elaborei 5 questões discursivas para aprofundar a discussão sociológica.
1 - A crônica descreve a tentativa do MEC de combater o bullying com "seminários e protocolos" como uma "encenação bem-intencionada, mas que ignora o enredo da vida real". De uma perspectiva sociológica, como a burocratização das políticas públicas pode levar à ineficácia e ao distanciamento entre as intenções governamentais e a realidade vivenciada no "chão da escola"?
2 - O texto aborda a "violência simbólica estrutural" de Jesse Souza (2019), manifestada em desigualdade, racismo e hierarquias de poder. Discuta como a Sociologia da Educação compreende essas formas de violência invisíveis, e de que maneira elas podem contribuir para a ocorrência do bullying e outras manifestações de violência nas escolas.
3 - A crônica destaca a importância da Lei nº 13.935/2019, mas ressalta que, sem "condições materiais, vínculos duradouros e valorização efetiva", a atuação de psicólogos e assistentes sociais se torna "paliativa". Como a Sociologia do Trabalho e das Profissões analisa a precarização do trabalho desses profissionais e como essa condição afeta a qualidade e o impacto de suas intervenções no ambiente escolar?
4 - O autor enfatiza a necessidade de "coragem institucional para rever a lógica meritocrática, desmontar relações autoritárias e romper com silêncios que perpetuam a injustiça". Como a Sociologia das Organizações e a Sociologia do Conflito podem explicar a resistência das instituições a essas mudanças profundas e qual o papel do diálogo e da escuta na superação desses obstáculos?
5 - A crônica conclui que a escola só se tornará um "refúgio real" quando deixar de ser um "palco de segurança encenada". Analise, sob a ótica da Sociologia da Cidadania e dos Direitos Humanos, o que significa construir uma escola que seja, de fato, um espaço de acolhimento e florescimento, e quais são os desafios para transformar essa visão em realidade no contexto educacional brasileiro.