"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

O Sinal Silencioso no Bolso: Reflexões sobre a Era Digital na Escola (“Educar não é cortar asas, mas sim orientar o voo” — de Aisha Linda)

 

  • O Sinal Silencioso no Bolso: Reflexões sobre a Era Digital na Escola (“Educar não é cortar asas, mas sim orientar o voo” — de Aisha Linda)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    O tempo em que o recreio era um festival de gritos, corridas e bolinhas de papel amassado ficou para trás. Hoje, os corredores das escolas estão imersos em um silêncio denso, pontuado apenas pelos suaves cliques das telas de celular. O aparelho, antes um objeto de luxo, tornou-se uma extensão do corpo, onipresente em todos os momentos, inclusive nas salas de aula. Esse novo cenário levou à aprovação de uma lei que proíbe o uso de celulares nas escolas brasileiras a partir de 2025. Uma medida recebida com um misto de alívio e ceticismo, gerando intensos debates sobre sua real eficácia.

    Na prática, a proibição vai além de um simples decreto. Ela surge como uma tentativa de resgatar o foco perdido e de devolver aos alunos a capacidade de concentração e interação face a face, além de reduzir os danos psicológicos provocados pelo uso excessivo de telas. No entanto, sua implementação tem se mostrado desafiadora. Em algumas escolas, como a Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, o processo segue um caminho de tentativa e erro, sem um plano claro para a adaptação. A vice-diretora, Manuela, expressou sua preocupação ao afirmar que “cada instituição tem uma realidade distinta”, e a questão não se resolve apenas com a proibição.

    A resistência dos alunos é palpável. Mesmo com a medida em vigor, muitos escondem seus celulares debaixo da carteira ou mantêm os aparelhos discretos durante a aula, dificultando o controle. Gabriel, um aluno de 16 anos, argumenta que o celular é uma ferramenta essencial para a socialização. No entanto, o que muitos não percebem é que o celular, muitas vezes, impede a socialização genuína, criando barreiras invisíveis entre os estudantes e o momento presente.

    Em escolas particulares, como o Colégio Porto Seguro, onde a proibição de celulares já existia antes da lei, a experiência tem sido mais positiva. A diretora Meire Nocito relata que a instituição criou espaços para interação social, como o “detox digital” nas sextas-feiras, onde os alunos deixam os celulares de lado para participar de atividades recreativas. Esse gesto, que partiu dos próprios estudantes, reflete uma busca por resgatar o contato humano e reconectar-se com o que realmente importa: o diálogo, o esporte e a arte.

    A conversa que li da Camila Bruzzi, do movimento “Desconecta”, destaca outro ponto crucial: a falsa sensação de controle dos pais, que insistem na necessidade de os filhos portarem celulares “para emergências”. Camila argumenta que, em caso de crise, a comunicação pode ser feita diretamente com a escola, sem a necessidade de um aparelho pessoal. Ela sugere que a disciplina digital precisa vir de casa, com os pais alinhando-se às escolas para promover uma educação responsável sobre o uso das telas.

    A nova lei, embora importante, não é a solução definitiva. A verdadeira mudança deve vir da conscientização sobre o uso equilibrado da tecnologia e da implementação de práticas pedagógicas que incentivem o foco e o desenvolvimento mental dos alunos. O uso excessivo de celulares afeta a capacidade de reflexão e acelera a busca por prazer imediato, prejudicando as habilidades cognitivas e a saúde mental dos jovens.

    O caminho para uma transformação real exige um esforço coletivo, que envolva escolas, famílias e alunos. A proibição dos celulares nas escolas não é uma questão de controle rígido, mas sim de ensinar aos estudantes a importância de se desconectar para se reconectar com o conhecimento e com a vivência plena do presente. Os celulares, longe de serem vilões, são apenas mais uma ferramenta. A questão está em como os usamos, e não em proibi-los completamente. O silêncio que preenche os corredores das escolas pode, enfim, ser preenchido pelas vozes da juventude, vibrantes e presentes, quando o contato humano for, novamente, o verdadeiro protagonista.


    Como professor de sociologia do Ensino Médio, proponho as seguintes cinco questões discursivas sobre o texto apresentado:


    1. O texto descreve uma mudança no ambiente escolar, caracterizada pela substituição das interações presenciais pelo uso de celulares. Quais as principais características dessa mudança e como ela impacta o cotidiano escolar, segundo o texto?


    2. A partir da leitura, explique a relação entre a proibição do uso de celulares nas escolas e a busca por resgatar o foco e a interação face a face entre os alunos. Quais os desafios apontados para a implementação dessa proibição?


    3. O texto apresenta diferentes perspectivas sobre o uso de celulares no ambiente escolar: a dos alunos, a dos professores, a da direção das escolas e a dos pais. Descreva brevemente cada uma dessas perspectivas, destacando os principais argumentos de cada grupo.


    4. O texto menciona o “detox digital” como uma estratégia adotada por algumas escolas. Explique o que é essa estratégia e como ela se relaciona com a proposta de um uso mais equilibrado da tecnologia no ambiente escolar.


    5. Segundo o texto, a proibição do uso de celulares nas escolas é suficiente para resolver os problemas relacionados ao uso excessivo da tecnologia pelos jovens? Justifique sua resposta com argumentos presentes no texto.

    quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

    A Educação, Entre as Ruínas ("A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo." – Nelson Mandela)

     Crônica


    A Educação, Entre as Ruínas ("A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo." – Nelson Mandela)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Na vastidão de um país continental como o Brasil, a educação, que um dia foi um farol de esperança e ascensão social, encontra-se agora em leito de enfermidade. Em 2025, completarei 31 anos dedicados ao magistério, desde o ensino fundamental até o ensino médio. Não são apenas anos acumulados, mas vivências, cicatrizes e, acima de tudo, a persistente crença de que a educação tem o poder de transformar o destino de uma nação. Contudo, a realidade que se apresenta, ano após ano, insiste em contradizer essa convicção.

    A educação brasileira, longe das promessas dos discursos oficiais e das estatísticas manipuladas, revela-se uma farsa, com exceções raras, mas honrosas, em algumas escolas espalhadas pelo país. Conhecer as entranhas de uma escola pública, mergulhar em seu cotidiano, é deparar-se com uma realidade aterradora. A qualidade, antes questionável, agora declina a passos largos em direção a um abismo que parecia intransponível. O que um dia imaginei como motor de transformação social, vejo hoje ser moldado e deformado pela própria sociedade, com seus males sendo arrastados para dentro das escolas.

    Como professor, sou testemunha da invasão de “metodologias inovadoras” propostas por aqueles que jamais pisaram em uma sala de aula da educação básica. A “pedagogia da panelinha”, exaltada por teóricos distantes da realidade, revela um dos maiores desafios: a ausência de uma política pública de Estado para a educação, substituída por políticas de governo que são reféns da indisciplina generalizada, da violência, do tráfico e do abandono. A falta de professores, antes impensável em certas regiões, tornou-se uma triste constante. O que vemos, então, é um faz de contas, onde pouco se ensina e, consequentemente, quase nada se aprende. O discurso governamental, no entanto, insiste na falácia de que “a educação vai bem”, numa tentativa vã de tapar o sol com a peneira.

    Escrevo esta crônica não com a ilusão de que minhas palavras chegarão aos ouvidos do presidente e dos governadores eleitos, mas como um grito de indignação e um apelo à mudança. É um desabafo, sim, mas também um ato de resistência. A educação não pode ser tratada como um mero implemento de governo, manipulada por números e estatísticas. Precisamos alcançar resultados que se traduzam na vida das pessoas, por meio de conquistas humanas e vivências coletivas significativas. Devemos combater a indisciplina com ações efetivas, valorizar a carreira docente, tornar o ambiente escolar um espaço propício ao aprendizado e, acima de tudo, resgatar a crença na escola como um meio de crescimento humano e social.

    Enquanto isso, a descrença popular ecoa: “Mais uma crônica que ninguém lê… Eles lá no poder não querem saber de salário de professor, estão ocupados demais com seus privilégios.” Há uma amargura compreensível nessa voz, o eco do abandono sentido por tantos professores que, exaustos, acabam por “largar de mão”. A realidade é dura: falta professor, falta respeito, falta tudo. E o futuro, sob a ótica de muitos, prenuncia tempos ainda mais sombrios.

    Por isso, conclamo os senhores governantes a um gesto concreto: escolham uma escola em um bairro periférico, onde pulsa a realidade da imensa maioria das escolas brasileiras, e ministrem aulas durante um mês. E, se não for pedir demais, que seus salários, durante esse período, sejam equiparados aos de um professor. Quem sabe, assim, vocês comecem a entender, na prática, o que é a educação brasileira e, consequentemente, busquem soluções eficazes. Não se trata de cinismo, mas de um último ato de fé na transformação. Porque eu, como professor, me recuso a desistir da educação, mesmo que a sociedade, em muitos momentos, pareça ter desistido de nós. Que possamos, juntos, encarar os desafios de frente, sem subterfúgios ou maquiagens, buscando um futuro onde a educação seja, de fato, um instrumento de libertação e progresso.


    Aqui estão 5 questões discursivas, no formato de pergunta simples, elaboradas como um professor de sociologia do Ensino Médio faria, abordando os temas principais do texto:


    1. O texto descreve a educação brasileira como uma "farsa". Quais argumentos o autor utiliza para sustentar essa afirmação?


    2. De acordo com o autor, qual a relação entre as "metodologias inovadoras" e a realidade das escolas de educação básica no Brasil?


    3. O autor menciona a ausência de uma "política pública de Estado" para a educação. Qual a diferença entre uma política de Estado e uma política de governo, e por que essa distinção é importante para a melhoria da educação?


    4. O texto aborda a descrença popular em relação à capacidade do sistema educacional de promover mudanças. Como essa descrença se manifesta e qual a relação dela com a situação dos professores?


    5. O autor propõe um gesto concreto aos governantes. Qual é essa proposta e qual o objetivo por trás dela?

    quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

    ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VIII(1) “Sabedoria Além do Gênero: Uma Perspectiva Contemporânea”

     Ensaio 


    ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VIII(1) “Sabedoria Além do Gênero: Uma Perspectiva Contemporânea”

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    A sabedoria, frequentemente personificada como uma mulher no livro bíblico de Provérbios, é um conceito que merece uma análise mais contemporânea e lógica. Como afirmou Bertrand Russell, "A sabedoria não é produto de um gênero, mas sim a compreensão profunda da realidade e a capacidade de tomar decisões ponderadas." Essa definição nos leva a considerar que a sabedoria transcende gêneros e formas físicas, consistindo em um conjunto de habilidades e conhecimentos adquiridos por meio do estudo, da experiência e da reflexão crítica.

    Nesse sentido, Carl Sagan apontou que "A sabedoria é filha da integridade intelectual. Devemos ter a coragem de admirar a verdade, por mais ofensiva que possa ser." Tal afirmação reforça a ideia de que a busca pela sabedoria exige honestidade intelectual e a disposição para confrontar ideias e fatos, mesmo que desafiem nossas crenças. A sabedoria, portanto, não é um conceito estático ou imutável; ela evolui à medida que nossa compreensão do mundo e de nós mesmos se expande. Como bem definiu Neil deGrasse Tyson, "A sabedoria é a habilidade de pensar e agir utilizando conhecimento, experiência, compreensão, senso comum e insight."

    Em vez de recorrer a personificações bíblicas, torna-se mais produtivo buscar exemplos de sabedoria em líderes visionários, cientistas brilhantes e filósofos perspicazes. Albert Einstein, cuja compreensão revolucionária da física expandiu os limites do conhecimento humano, declarou: "A sabedoria não é um produto da erudição, mas sim da capacidade de pensar coisas simples com clareza." Essa perspectiva destaca a importância da clareza de pensamento e da capacidade de síntese na busca pela sabedoria.

    Em conclusão, embora a personificação da sabedoria como uma mulher possa ter ressonância poética, trata-se de uma abordagem limitada e ultrapassada. A verdadeira sabedoria é uma busca contínua por conhecimento, discernimento e compreensão do mundo ao nosso redor, transcendendo gêneros e formas físicas. Como Confúcio sabiamente observou, "A sabedoria é vê-la de múltiplos ângulos, aprender com todos e, assim, obter a visão mais abrangente possível."


    1. Como Bertrand Russell define sabedoria e de que forma essa definição se distancia da personificação bíblica apresentada no texto?


    2. Segundo Carl Sagan, qual a relação entre sabedoria e integridade intelectual, e por que a busca pela verdade é um elemento essencial para a sabedoria?


    3. De acordo com Neil deGrasse Tyson, quais elementos compõem a sabedoria e como essa definição se relaciona com a ideia de que a sabedoria é um conceito dinâmico?


    4. O texto sugere a busca por exemplos de sabedoria em figuras como líderes, cientistas e filósofos. Como a citação de Albert Einstein contribui para essa perspectiva, e qual a importância da clareza de pensamento nesse contexto?


    5. Qual a conclusão principal do texto sobre a natureza da sabedoria, e como a citação de Confúcio reforça essa ideia central?

    terça-feira, 17 de dezembro de 2024

    ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VII(27) “A Sexualidade na Era do Consentimento: Um Desafio à Moralidade Evangélica”

     Ensaio 


    ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VII(27) “A Sexualidade na Era do Consentimento: Um Desafio à Moralidade Evangélica”

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    O presente ensaio aborda a questão da sexualidade humana e a postura de alguns segmentos evangélicos em relação a ela.

    A visão moralista e repressiva de certos grupos evangélicos, que rotulam o "sexo casual" como um caminho para a "morte" e o "inferno", representa uma simplificação prejudicial das complexas e diversas experiências humanas. Como Paulo escreveu em 1 Coríntios 6:12, "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não deixarei que nada me domine".

    Estudos contemporâneos nos campos da psicologia e da sexologia desafiam essa perspectiva, demonstrando que relações consensuais e responsáveis não oferecem, necessariamente, um risco à saúde mental ou física dos envolvidos. Como observou Shere Hite, o sexo casual pode ser uma experiência positiva, "desde que ocorra com consentimento mútuo e medidas de proteção adequadas".

    Michel Foucault, por sua vez, criticou a imposição de normas rígidas sobre a moralidade sexual, argumentando que a sexualidade é uma construção histórica sujeita a mudanças e variações culturais. Conforme suas palavras, "Não há uma única verdade absoluta sobre o assunto".

    Bell hooks ressalta a necessidade de promover o amor-próprio e o respeito mútuo em qualquer relação, enfatizando a importância de cultivar uma autoestima genuína que possibilite o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis. Essa abordagem inclusiva e amorosa contrasta diretamente com a culpabilização e o medo frequentemente associados à sexualidade por certos grupos religiosos.

    Diante disso, torna-se crucial adotar uma educação sexual abrangente, que promova o conhecimento, o consentimento e a prática responsável para todas as pessoas. Como defende Tânia Navarro Swain, uma abordagem plural e desconstruída da sexualidade é fundamental para o desenvolvimento integral dos indivíduos e da sociedade.

    Nesse contexto, é necessário repensar as narrativas moralistas e repressivas sobre a sexualidade, priorizando uma visão mais inclusiva e respeitosa das diversas experiências humanas. Como disse Jesus em João 8:7, "Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela".


    1. Como a visão de alguns grupos evangélicos sobre o "sexo casual" se contrapõe à compreensão de estudos contemporâneos da psicologia e sexologia sobre relações consensuais e responsáveis?


    2. De acordo com Michel Foucault, de que forma a sexualidade pode ser entendida como uma construção histórica e cultural?


    3. Qual a importância do amor-próprio e do respeito mútuo nas relações, segundo Bell hooks, e como essa perspectiva se diferencia da abordagem de alguns grupos religiosos em relação à sexualidade?


    4. Qual a defesa de Tânia Navarro Swain sobre a importância de uma educação sexual abrangente e uma abordagem plural da sexualidade para o desenvolvimento individual e social?


    5. Como a passagem bíblica de João 8:7, "Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela", se relaciona com a necessidade de repensar narrativas moralistas e repressivas sobre a sexualidade?


    segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

    Confraternização: Um Retrato Fragmentado ("A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais." — Arthur Schopenhauer)

     

    Confraternização: Um Retrato Fragmentado ("A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais." — Arthur Schopenhauer)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Mais um dezembro se aproximava, e com ele, o ritual anual das confraternizações escolares. Sempre me pergunto por que insistimos nesse teatro de falsa aproximação, onde a proximidade parece mais uma encenação do que um genuíno encontro.


    Cheguei cedo ao salão, observando os detalhes que normalmente passam despercebidos. Um gatinho vadio transitava entre as mesas, fascinado pelo aroma de comida, talvez mais sincero em sua curiosidade do que muitos dos presentes. Seu olhar despreocupado me fez sorrir - que liberdade a dele, sem protocolos, sem máscaras sociais.


    Os grupos se formavam como sempre: ilhas de afinidade, territórios demarcados por risadas compartilhadas e histórias íntimas. Aqueles que durante o ano mal trocam olhares agora fingiam intimidade, num jogo social que me provocava um misto de ironia e desconforto.


    A música ao vivo ribombava, transformando qualquer tentativa de diálogo em um exercício quase impossível de comunicação. Gritos próximos aos ouvidos, gestos exagerados, sorrisos forçados - o espetáculo da falsa confraternização estava completo.


    Meu interesse real ali resumia-se a um único objetivo: encontrar minha namorada. Quando finalmente chegou, já no momento da distribuição dos panetones - presente protocolar que simbolizava mais uma formalidade do que genuína generosidade - percebi que ela estava completamente absorvida em seu próprio grupo.


    A cena me revelou algo: estamos sempre mais próximos de nossa "patota" do que gostaríamos de admitir. Mesmo em momentos que deveriam nos unir, continuamos fragmentados, ilhados em nossas próprias bolhas de convivência.


    Decidi partir antes do final. Não por grosseria, mas por uma necessidade quase visceral de preservar minha autenticidade. Deixei para trás o panetone intacto, símbolo perfeito daquele encontro: algo aparentemente doce, mas na essência, absolutamente insosso.


    Ao sair, o gatinho ainda perambulava, alheio a toda artificialidade. Talvez ele fosse o único ali verdadeiramente livre.


    Nas entrelinhas dessa confraternização, o que realmente se comemorava? O fim de mais um ano letivo ou nossa capacidade de fingir conexões que raramente existem?


    A vida continua, e amanhã seremos novamente colegas - próximos fisicamente, distantes essencialmente.


    Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que estimulam a reflexão sobre os temas abordados, com foco na sociologia das relações interpessoais e do trabalho:


    1. O autor descreve a confraternização escolar como um "teatro de falsa aproximação". Quais elementos do texto sustentam essa afirmação e como eles se relacionam com as dinâmicas sociais presentes no ambiente escolar?

    2. O gatinho é utilizado como metáfora. Qual o significado dessa figura e como ela se contrapõe à postura dos humanos presentes na confraternização?

    3. O texto aborda a questão da formação de grupos e das relações interpessoais no ambiente de trabalho. Como essas dinâmicas podem influenciar o clima organizacional e a produtividade?

    4. A busca por autenticidade é um tema recorrente no texto. De que forma a busca por essa autenticidade pode entrar em conflito com as expectativas sociais e profissionais?

    5. O autor questiona o sentido das confraternizações escolares. Quais os benefícios e os desafios de promover eventos desse tipo em um ambiente escolar?