A Educação, Entre as Ruínas ("A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo." – Nelson Mandela)
Na vastidão de um país continental como o Brasil, a educação, que um dia foi um farol de esperança e ascensão social, encontra-se agora em leito de enfermidade. Em 2025, completarei 31 anos dedicados ao magistério, desde o ensino fundamental até o ensino médio. Não são apenas anos acumulados, mas vivências, cicatrizes e, acima de tudo, a persistente crença de que a educação tem o poder de transformar o destino de uma nação. Contudo, a realidade que se apresenta, ano após ano, insiste em contradizer essa convicção.
A educação brasileira, longe das promessas dos discursos oficiais e das estatísticas manipuladas, revela-se uma farsa, com exceções raras, mas honrosas, em algumas escolas espalhadas pelo país. Conhecer as entranhas de uma escola pública, mergulhar em seu cotidiano, é deparar-se com uma realidade aterradora. A qualidade, antes questionável, agora declina a passos largos em direção a um abismo que parecia intransponível. O que um dia imaginei como motor de transformação social, vejo hoje ser moldado e deformado pela própria sociedade, com seus males sendo arrastados para dentro das escolas.
Como professor, sou testemunha da invasão de “metodologias inovadoras” propostas por aqueles que jamais pisaram em uma sala de aula da educação básica. A “pedagogia da panelinha”, exaltada por teóricos distantes da realidade, revela um dos maiores desafios: a ausência de uma política pública de Estado para a educação, substituída por políticas de governo que são reféns da indisciplina generalizada, da violência, do tráfico e do abandono. A falta de professores, antes impensável em certas regiões, tornou-se uma triste constante. O que vemos, então, é um faz de contas, onde pouco se ensina e, consequentemente, quase nada se aprende. O discurso governamental, no entanto, insiste na falácia de que “a educação vai bem”, numa tentativa vã de tapar o sol com a peneira.
Escrevo esta crônica não com a ilusão de que minhas palavras chegarão aos ouvidos do presidente e dos governadores eleitos, mas como um grito de indignação e um apelo à mudança. É um desabafo, sim, mas também um ato de resistência. A educação não pode ser tratada como um mero implemento de governo, manipulada por números e estatísticas. Precisamos alcançar resultados que se traduzam na vida das pessoas, por meio de conquistas humanas e vivências coletivas significativas. Devemos combater a indisciplina com ações efetivas, valorizar a carreira docente, tornar o ambiente escolar um espaço propício ao aprendizado e, acima de tudo, resgatar a crença na escola como um meio de crescimento humano e social.
Enquanto isso, a descrença popular ecoa: “Mais uma crônica que ninguém lê… Eles lá no poder não querem saber de salário de professor, estão ocupados demais com seus privilégios.” Há uma amargura compreensível nessa voz, o eco do abandono sentido por tantos professores que, exaustos, acabam por “largar de mão”. A realidade é dura: falta professor, falta respeito, falta tudo. E o futuro, sob a ótica de muitos, prenuncia tempos ainda mais sombrios.
Por isso, conclamo os senhores governantes a um gesto concreto: escolham uma escola em um bairro periférico, onde pulsa a realidade da imensa maioria das escolas brasileiras, e ministrem aulas durante um mês. E, se não for pedir demais, que seus salários, durante esse período, sejam equiparados aos de um professor. Quem sabe, assim, vocês comecem a entender, na prática, o que é a educação brasileira e, consequentemente, busquem soluções eficazes. Não se trata de cinismo, mas de um último ato de fé na transformação. Porque eu, como professor, me recuso a desistir da educação, mesmo que a sociedade, em muitos momentos, pareça ter desistido de nós. Que possamos, juntos, encarar os desafios de frente, sem subterfúgios ou maquiagens, buscando um futuro onde a educação seja, de fato, um instrumento de libertação e progresso.
Aqui estão 5 questões discursivas, no formato de pergunta simples, elaboradas como um professor de sociologia do Ensino Médio faria, abordando os temas principais do texto:
1. O texto descreve a educação brasileira como uma "farsa". Quais argumentos o autor utiliza para sustentar essa afirmação?
2. De acordo com o autor, qual a relação entre as "metodologias inovadoras" e a realidade das escolas de educação básica no Brasil?
3. O autor menciona a ausência de uma "política pública de Estado" para a educação. Qual a diferença entre uma política de Estado e uma política de governo, e por que essa distinção é importante para a melhoria da educação?
4. O texto aborda a descrença popular em relação à capacidade do sistema educacional de promover mudanças. Como essa descrença se manifesta e qual a relação dela com a situação dos professores?
5. O autor propõe um gesto concreto aos governantes. Qual é essa proposta e qual o objetivo por trás dela?
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