"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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terça-feira, 26 de setembro de 2023

LIÇÕES INESPERADAS NA SALA DE AULA (“O homem nasce livre, mas por toda parte encontra-se acorrentado” — Jean-Jacques Rousseau)

 



LIÇÕES INESPERADAS NA SALA DE AULA (“O homem nasce livre, mas por toda parte encontra-se acorrentado” — Jean-Jacques Rousseau)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Eu sempre adorei dar aulas de sociologia, mas confesso que às vezes me sentia um pouco frustrado com a falta de interesse dos meus alunos. Parecia que eles não se importavam com as questões que eu tentava levantar, com as teorias que eu tentava explicar, com as reflexões que eu tentava provocar. Eles só queriam passar de ano, sem se preocupar em aprender de verdade.

Mas tudo mudou naquele dia. Naquela manhã de sol que inundava a sala de aula do primeiro ano "G" do Ensino Médio, as mentes dos alunos estavam mergulhadas em um profundo debate sobre a teoria de Rousseau. O tópico da discussão era a premissa de que o homem nasce puro e a sociedade o corrompe. Afinal, é na sala de aula que as sementes do conhecimento são plantadas, e naquela ocasião, o solo da mente dos jovens estava fértil para novas ideias.

Lembro-me de ter citado um provérbio da Bíblia que afirma: "Ensina a criança no caminho que deve andar e, quando for velha, não se desviará dele." Era um argumento a favor da influência da sociedade sobre o indivíduo, uma tentativa de demonstrar que o filósofo Rousseau não condenava a degeneração, mas sim a composição da experiência social que molda cada um de nós.

Contudo, como acontece muitas vezes na vida, uma simples palavra mal interpretada pode desencadear uma reviravolta inesperada. Já no finalzinho daquela aula, fui afrontado por uma aluna que tinha ouvido de outra colega que eu havia afirmado que "todos os indivíduos criados por avós não prestavam". Disse ela: "Eu fui criada por minha avó, então eu não presto?" Sim, eu tinha usado esse ditado popular para reforçar a ideia que não ajuda muito na educação da criança quando as normas são muito frouxas. "No estado em que já se encontram as coisas, um homem abandonado a si mesmo desde o nascimento entre os outros seria o mais desfigurado de todos." Essa era uma citação do próprio Rousseau, mas ela não sabia disso.

A ironia da situação é que a suposta "valentona" estava presente na sala o tempo todo, sem observar a discussão conversando e bagunçando. No entanto, a faísca que incendiaria nosso debate não veio dela, mas sim de outra aluna, que, apesar de não nutrir simpatia nem por mim, nem pela "valentona", sentiu a necessidade de nos colocar em lados opostos da contenda. Ela só serviu de boca maldita, mas foi usada para nosso bem!

A partir daquele momento, a sala de aula se transformou em um palco inesperado para um embate de argumentos e emoções. A discussão evoluiu para um debate acalorado, onde cada palavra, cada gesto, era um passo na dança complexa das ideias.

Fui pego de surpresa, não apenas pelo calor do momento, mas pela profundidade das reflexões que emergiram daquele conflito aparentemente trivial. Fiquei impressionado com a paixão que os jovens demonstraram ao discutir suas origens, suas experiências familiares e as influências que moldaram suas visões de mundo.

Aos poucos, as tensões se dissiparam e o debate se transformou em um diálogo sincero. Percebi que ali, naquela sala de aula, não só estava eu ensinando, mas também aprendendo. A juventude, com sua vivacidade e ânsia por compreender o mundo, tinha me proporcionado uma lição valiosa: a importância de ouvir, de entender as perspectivas alheias e de reconhecer a complexidade das experiências individuais.

Naquele dia, eu saí da escola com uma sensação de gratidão e admiração pelos meus alunos. Eles tinham me mostrado que a sociologia não era apenas uma matéria escolar, mas uma forma de olhar para a vida, de questionar as verdades impostas, de buscar o sentido das coisas. Eles tinham me mostrado que a sala de aula era um espaço de aprendizado mútuo, de troca de saberes, de construção de conhecimento.

Naquele dia, eu aprendi que a crônica não era apenas um gênero literário, mas uma forma de narrar o cotidiano, de captar os detalhes, de revelar as emoções. Eles tinham me inspirado a escrever esta crônica, que você acabou de ler. Eles tinham me ensinado que o homem nasce puro e a sociedade o transforma. Mas não necessariamente para pior. Às vezes, para melhor. Rousseau tinha razão.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(30) A Busca Pela Sabedoria Divina e Humana: Uma Análise Equilibrada

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(30) A Busca Pela Sabedoria Divina e Humana: Uma Análise Equilibrada

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A busca incessante pela sabedoria tem sido um ideal humano ao longo da história. Questionamentos acerca da origem e da natureza da sabedoria, sua relação com a fé e a razão, bem como suas implicações para a vida, têm instigado debates e reflexões profundas. Neste ensaio, exploraremos a perspectiva da sabedoria divina e humana, considerando tanto os ensinamentos bíblicos quanto os argumentos filosóficos.

No contexto das Escrituras, a Bíblia surge como uma fonte de sabedoria divina. Por meio de relatos, leis, profecias e provérbios, ela oferece orientações fundamentais para a conduta humana. Tiago 3:17, por exemplo, apresenta uma caracterização abrangente da sabedoria divina como algo "puro, pacífico, moderado, tratável, cheio de misericórdia e de bons frutos". Essa sabedoria é tida como um dom de Deus, concedido àqueles que O temem e O obedecem, refletindo a relação entre fé e sabedoria (Salmos 111:10).

Contudo, a Bíblia também adverte sobre a falsa sabedoria e os riscos da rejeição da palavra de Deus. Esse aspecto sugere a necessidade de discernimento na busca pela sabedoria, pois nem toda busca é edificante ou virtuosa. É aqui que a filosofia encontra seu espaço.

A filosofia, por sua vez, se apresenta como uma busca pela sabedoria baseada na razão e na reflexão. Filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles, entre outros, exploraram questões fundamentais da existência humana e da realidade, buscando entender os princípios subjacentes ao universo. A filosofia reconhece os limites da razão, abrindo espaço para a humildade intelectual.

Em busca de um equilíbrio, a postura de Agostinho e Tomás de Aquino emerge como uma perspectiva interessante. Eles procuraram harmonizar a sabedoria bíblica com a filosofia, argumentando que tanto a fé quanto a razão derivam da mesma fonte divina. Isso sugere que a busca pela sabedoria não precisa ser uma escolha exclusiva entre fé e razão, mas uma jornada que permite a integração desses elementos.

Em conclusão, a busca pela sabedoria divina e humana não precisa ser um embate entre duas perspectivas divergentes. A sabedoria divina oferece princípios morais sólidos e esperança, enquanto a busca pela sabedoria humana traz uma compreensão ampliada do mundo e da sociedade. Ao considerarmos ambas as fontes de sabedoria e abraçarmos a humildade intelectual, podemos encontrar um caminho de equilíbrio que nos leva a uma compreensão mais profunda da existência e da verdade. Como Sócrates nos lembra, a verdadeira sabedoria reside na consciência da nossa limitação. E assim, ao abraçarmos tanto a fé quanto a razão, podemos nos aproximar de uma compreensão mais plena da sabedoria que permeia nossa jornada humana.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

JUSTIÇAMENTO, LINCHAMENTO E JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS ("Linchamento, recrimino! Elimina-se um ladrão, criam-se dezenas de assassinos". — ⁠José Roberto Cercal)

 


JUSTIÇAMENTO, LINCHAMENTO E JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS ("Linchamento, recrimino! Elimina-se um ladrão, criam-se dezenas de assassinos". — ⁠José Roberto Cercal)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Eu estava animado para dar a minha aula de sociologia naquele terceiro ano do Ensino Médio sobre um tema polêmico: o justiçamento, ou seja, a prática de fazer justiça com as próprias mãos, sem respeitar o devido processo legal. Um assunto que pode cair no Enem. Por isso preparei uma apresentação baseada em um autor que defendia que os linchadores também eram criminosos, pois violavam os direitos humanos e a ordem social. E esperava uma discussão produtiva e respeitosa com os meus alunos, mas me deparei com uma situação constrangedora.

Uma aluna, que parecia entediada e desinteressada, levantou a cabeça somente para me contradizer. Ela disse, com uma voz firme e desafiadora, que estupradores deviam morrer, e que quem os matava estava fazendo um favor à sociedade. Ela não quis ouvir nenhum argumento contrário, nem se importou com as outras opiniões da turma. Ela simplesmente impôs a sua visão, como se fosse a única verdade absoluta.

Nesse caso, fiquei sem reação. Não sabia como lidar com aquela situação. Se eu concordasse com ela, estaria indo contra os princípios da minha disciplina e da minha ética profissional. Se eu discordasse dela, estaria arriscando ser acusado de apoiar e defender estupradores. Naquele momento me senti encurralado, sem saída. Contudo, não tinha mais condições de continuar a minha aula, apenas me calei e sentei à mesa para dar visto nos cadernos.

Depois daquela situação, perguntei-me como uma aluna tão jovem e inteligente podia ter uma opinião tão radical e intolerante. Será que ela tinha alguma experiência traumática que a fez pensar assim? Será que ela tinha sido influenciada por alguma ideologia ou grupo extremista? Será que ela tinha consciência das consequências do seu pensamento?

Eu fiquei triste e preocupado, poderia ser só uma demonstração de aversão a minha pessoa. Nisso percebi que o meu papel de educador era muito mais difícil do que eu imaginava. Eu não podia simplesmente transmitir conhecimentos e conceitos. Eu tinha que formar cidadãos críticos e conscientes, capazes de dialogar e respeitar as diferenças. Eu tinha que mostrar aos meus alunos que a justiça não se faz com violência, mas com razão e direito. Espero que eles lembre disso na redação do Enem.

Espero, também, que um dia essa aluna possa mudar de opinião, ou pelo menos se abrir para ouvir outras perspectivas. E que ela possa entender que o justiçamento é uma forma de barbárie, que só gera mais ódio e vingança. Que entenda o valor da vida humana, em todas as suas formas e manifestações.

domingo, 17 de setembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(29) O conhecimento e o temor do Senhor: uma análise crítica

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(29) O conhecimento e o temor do Senhor: uma análise crítica

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O conhecimento e o temor do Senhor são dois conceitos que aparecem frequentemente na Bíblia e na tradição cristã. Muitas vezes, eles são apresentados como virtudes que devem ser buscadas pelos fiéis, pois trazem benefícios espirituais e materiais. No entanto, é importante analisar esses conceitos de maneira crítica, considerando outros enfoques e perspectivas.

A compreensão do conhecimento não deve ser limitada apenas à visão religiosa. O conhecimento abrange uma ampla gama de áreas, incluindo ciência, artes e humanidades. Ignorar o conhecimento secular pode limitar o desenvolvimento humano e a compreensão do mundo ao nosso redor. A ciência e a educação são essenciais para avançar na sociedade e melhorar as condições de vida. Como disse Francis Bacon, um dos fundadores do método científico, "o conhecimento é em si mesmo um poder". Portanto, o conhecimento deve ser valorizado como um instrumento de transformação social e não como uma ameaça à fé.

Além disso, a noção de temor do Senhor pode ser interpretada de maneira mais ampla. O temor pode ser visto como respeito e admiração por forças maiores do universo, não necessariamente ligado a uma entidade divina específica. Essa reverência pode ser aplicada à natureza, à humanidade e a princípios éticos que promovam a harmonia e a cooperação. Como disse Albert Einstein, um dos maiores cientistas da história, "o mais belo sentimento que podemos experimentar é o mistério. É a fonte de toda arte e ciência verdadeiras". Consequentemente, o temor deve ser entendido como uma atitude de humildade e curiosidade diante do desconhecido e não como um sentimento de medo ou submissão.

Ao considerar as referências bíblicas, é importante lembrar que a Bíblia é uma obra interpretativa e sujeita a diferentes perspectivas. Enquanto algumas passagens podem sugerir consequências negativas para a rejeição da sabedoria divina, também é possível adotar uma abordagem mais inclusiva, que valorize o respeito mútuo e o entendimento. Como disse Paulo Freire, um dos maiores educadores brasileiros, "a educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática". Logo, a educação deve ser um espaço de diálogo e reflexão crítica sobre as diversas formas de conhecimento e crença.

Por conseguinte, é vital reconhecer a importância do conhecimento secular, bem como a diversidade de crenças e interpretações religiosas. Uma abordagem crítica e analítica permite explorar diversas perspectivas e promover um diálogo construtivo em busca de uma sociedade mais justa e inclusiva.

domingo, 10 de setembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(28) Amigos ou Inimigos? Uma Análise Crítica da Visão Egoísta da Amizade

 




CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(28) Amigos ou Inimigos? Uma Análise Crítica da Visão Egoísta da Amizade

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A amizade é um valor fundamental para a vida humana, mas nem sempre é compreendida em sua plenitude. Alguns podem ver os amigos como uma fonte de problemas ou de gastos desnecessários, motivados pelo orgulho ou pelo impulso. No entanto, essa visão é simplista e ignora os benefícios da amizade sincera, que se baseia na confiança, na reciprocidade e no sacrifício mútuo. Neste ensaio, pretendo defender que a amizade é uma virtude que deve ser cultivada com sabedoria, sem medo de prejuízos materiais ou morais.

A ideia de que os amigos representam um perigo financeiro por conta de orgulho ou impulso é fruto de uma concepção egoísta e individualista da vida. Quem pensa assim não entende o verdadeiro significado da amizade, que é uma relação de afeto, de apoio e de crescimento mútuo. Como disse o filósofo Aristóteles, "a amizade é uma virtude ou implica a virtude, e é além disso extremamente necessária para a vida" (ÉTICA A NICÔMACO, Livro VIII). Sem amigos, o homem se torna solitário, triste e incompleto.

A visão do texto também ignora que a verdadeira amizade se baseia em confiança e reciprocidade. Os amigos não são pessoas que nos exploram ou nos manipulam, mas sim que nos acompanham e nos ajudam nas dificuldades. Como afirma Mario Sergio Cortella, “amigo de verdade é aquele que caminha conosco, lado a lado, ombro a ombro. Não à frente, puxando nem atrás, empurrando” (FELICIDADE AUTHÊNTICA, 2010, p. 67). Os amigos são parceiros de jornada, que compartilham sonhos e desafios.

Além disso, os riscos citados podem ser evitados com planejamento e maturidade. Não se trata de gastar mais do que se pode ou de se exibir para os amigos, mas sim de saber equilibrar as necessidades e os desejos. O filósofo romano Cícero dizia: "A amizade não pode ser exercida com arrogância nem com orgulho" (LÉLIO - DIÁLOGO SOBRE A AMIZADE, 44 a.C.). Cabe ao homem prudente ponderar suas ações e respeitar seus limites.

Não se deve temer a amizade sincera por medo de prejuízos materiais. Pelo contrário, deve-se valorizar a amizade como um bem maior do que qualquer riqueza. Como disse Jesus Cristo, “ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida pelos seus amigos” (JOÃO 15:13). O verdadeiro amigo está disposto ao sacrifício mútuo, pois sabe que o amor é mais forte do que a morte.

Portanto, reduzir a amizade a cálculos egoístas é desvirtuar seu significado. Devemos cultivar nossos relacionamentos com sabedoria, mas sem desconfiança ou individualismo. Pois como disse o poeta John Donne, “nenhum homem é uma ilha” (MEDITAÇÃO XVII). Somos seres sociais que precisam uns dos outros para viver plenamente.

sábado, 9 de setembro de 2023

LIVRE-ARBÍTRIO OU DESTINO: UMA CRÔNICA SOBRE A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA. ("O mesmo sol que derrete a manteiga endurece o barro")

 


Crônicas

LIVRE-ARBÍTRIO OU DESTINO: UMA CRÔNICA SOBRE A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA. ("O mesmo sol que derrete a manteiga endurece o barro")

Por Claudeci Ferreira de andrade

Eu sempre me perguntei sobre o livre-arbítrio. Será que nós realmente temos o poder de escolher o nosso destino, ou será que tudo já está escrito nas estrelas? Será que somos os deuses da nossa própria vida, ou será que somos apenas marionetes nas mãos de um ser superior?

Eu lembro que, quando eu era criança, eu adorava ler histórias de aventura e fantasia, onde os heróis enfrentavam perigos e desafios para cumprir uma profecia ou um destino. Eu ficava fascinado com a ideia de que alguém pudesse saber o futuro, e que houvesse um plano maior por trás de tudo. Eu sonhava em ser um desses heróis, e em ter uma missão especial na vida.

Mas, conforme eu fui crescendo, eu fui percebendo que a vida não era tão simples assim. Eu vi que as pessoas tinham que lidar com problemas e dificuldades, que nem sempre tinham as mesmas oportunidades e chances, e que nem sempre conseguiam alcançar seus objetivos e sonhos. Eu vi que as escolhas que fazíamos tinham consequências, às vezes boas, às vezes ruins, e que nem sempre podíamos controlar tudo o que acontecia conosco.

Eu comecei a questionar se o livre-arbítrio era mesmo uma realidade, ou se era apenas uma ilusão. Será que nós realmente podíamos mudar o nosso futuro com as nossas decisões e ações, ou será que ele já estava determinado desde o início? Será que havia algum sentido ou propósito na vida, ou será que ela era apenas uma sucessão de eventos aleatórios e sem significado?

Eu busquei respostas em diferentes fontes: na filosofia, na religião, na ciência, na arte. Eu encontrei diferentes pontos de vista, diferentes argumentos, diferentes evidências. Mas, nenhuma delas me convenceu completamente. Nenhuma delas me deu a certeza absoluta que eu procurava.

Eu me dei conta de que talvez não houvesse uma resposta definitiva para essa questão. Talvez o livre-arbítrio e o destino fossem duas faces da mesma moeda, duas formas de ver a mesma realidade. Talvez cada um de nós tivesse um papel a desempenhar na vida, mas também tivesse a liberdade de escolher como desempenhá-lo. Talvez cada um de nós tivesse um futuro predestinado, mas também tivesse a possibilidade de modificá-lo.

Eu aprendi a aceitar essa ambiguidade, essa incerteza. Eu aprendi a viver com essa dúvida, essa curiosidade. Eu aprendi a valorizar cada momento da vida, cada experiência, cada escolha. Eu aprendi a ver cada situação como uma oportunidade, uma lição, uma prova.

Eu não sei se o livre-arbítrio existe ou não. Eu não sei se o destino existe ou não. Eu não sei se Deus existe ou não. Mas eu sei que eu existo. E eu sei que eu tenho uma voz. E eu sei que eu posso usá-la para expressar os meus pensamentos, os meus sentimentos, os meus sonhos.

E é isso que eu faço agora. Eu escrevo esta crônica para compartilhar com vocês a minha reflexão sobre o livre-arbítrio e o destino. Eu espero que ela possa inspirar vocês a também refletirem sobre esses temas. E eu espero que ela possa mostrar para vocês que a vida é um mistério maravilhoso, cheio de surpresas e possibilidades.

E vocês? O que vocês pensam sobre o livre-arbítrio e o destino? O que vocês escolhem fazer com as suas vidas? O que vocês esperam do futuro?

Eu adoraria saber as suas opiniões.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

CRÔNICA DE UMA SALA DE AULA ("O conhecimento limitado gera orgulho, mas o amplo conhecimento humildade. Assim como as espigas vazias se elevam arrogantemente ao céu, enquanto as cheias se curvam humildemente para a terra, de onde vêm." — Leonardo da Vinci

 


CRÔNICA DE UMA SALA DE AULA ("O conhecimento limitado gera orgulho, mas o amplo conhecimento humildade. Assim como as espigas vazias se elevam arrogantemente ao céu, enquanto as cheias se curvam humildemente para a terra, de onde vêm." — Leonardo da Vinci

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Foi naquela manhã de sol radiante que me vi imerso, mais uma vez, na complexa dinâmica de uma sala de aula. O cenário era uma pequena escola, onde o aprendizado e os desafios se entrelaçavam, criando uma trama intrigante e, por vezes, desoladora.

Naquele instante, percebi que minhas observações sobre a vida escolar eram mais do que meros apontamentos, mas profecias. Elas eram uma janela para o microcosmo de uma sociedade em formação, onde os alunos, como atores principais, desempenhavam seus papéis com inúmeras nuances.

Eu e os demais professores fraquejado com a indisciplina da tal sala de aula esperávamos que a coordenadora pedagógica fosse o fio condutor com soluções viáveis. Estávamos diante de uma trama desafiadora que muitas escolas enfrentam diariamente. Como lidar com alunos indisciplinados? Essa pergunta ecoava em minha mente enquanto eu observava meus alunos indisciplinados se movimentando e resistindo a aula, e eu inutilmente tentando manter a ordem na sala de aula: um palhaço ali na frente.

Dois dias depois, obedecendo o horário de aulas, retornei àquela sala, A primeira cena que testemunhei foi a mudança de lugar de três alunos, os mais indisciplinados. O gesto, aparentemente simples, escondia uma complexidade de emoções e conflitos. As cadeiras da frente da sala pareciam um atestado de sucesso; agora, um território conquistado pelo desrespeito.

Era como se a escola, ao mudar o aluno de lugar, estivesse emitindo um sinal claro: "Nós não sabemos como lidar com você, então vamos isolá-lo." Mas, ao mesmo tempo, essa ação também afetava os alunos disciplinados, que viam sua tranquilidade perturbada pelo intruso.

A sala de aula tornou-se um microcosmo de uma sociedade em constante transformação, onde as relações interpessoais, o poder e a autoridade se entrelaçavam. Os bons alunos, muitas vezes, eram estorvados pelas decisões que visavam conter a indisciplina. A busca pelo equilíbrio parecia um desafio hercúleo.

Posteriormente, em uma reunião de pais, uma mãe corajosa ergueu a voz em defesa de seu filho. Era uma professora também, ciente das questões didáticas e pedagógicas que, por vezes, eram negligenciadas pelos pedagogos que decidiam as mudanças. Seu filho era um bom menino que fora obrigado a ceder seu lugar da frente ir para um, no "fundão".

Fiquei perplexo ao saber que alguns dos professores, por vezes, pareciam seguir uma lógica que não era clara para mim. A maioria deles, ao que parecia, estava focada na gestão da disciplina a curto prazo, sem considerar as implicações a longo prazo.

Mudar um aluno de lugar ou de turma parecia uma solução imediata, mas as consequências para a coesão da classe e o desenvolvimento pessoal do próprio aluno eram frequentemente negligenciadas. Era como se o tempo presente ofuscasse o futuro.

Aquela mãe e seu filho saíram da sala dos professores com uma vitória aparente. Lágrimas de crocodilo haviam concordado, não como mãe, mas como professora com a decisão da maioria ali sugestionada pela direção disciplinar. Eu não podia deixar de imaginar as implicações morais daquela escolha.

Refletindo sobre tudo o que testemunhei, uma verdade se tornou clara para mim: nunca se resolve problemas relacionais e de indisciplina apenas mudando o desordeiro de lugar, sem antes tentar mudar o caráter. Aquela lição foi aprendida da maneira mais difícil por todos nós.

As salas de aula continuam sendo laboratórios de vida, onde as relações humanas são testadas e moldadas. Nesse microcosmo, é essencial que a educação não se restrinja apenas à disciplina acadêmica, mas também ao desenvolvimento moral e social.

Não podemos nivelar todos por baixo, sacrificando o potencial dos bons alunos em nome da acomodação. Cada aluno merece uma oportunidade de crescer e prosperar, e a educação deve ser um farol que guia a todos, não importando o quão tortuoso seja o caminho. Porém praticando e ensinado a justiça.