"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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segunda-feira, 29 de junho de 2009

BONÉ ANALFABETO (“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas/ As margens que o comprimem.” Bertolt Brecht)













Crônica

BONÉ ANALFABETO (“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas/ As margens que o comprimem."Bertolt Brecht)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           Era meu primeiro dia de aula naquela Unidade Escolar. Cheguei cedo para conhecer meus colegas de trabalho, e encontrei-os em reunião com a diretora na sala dos professores. Tratavam das normas para o bom andamento dos trabalhos daquele ano; uma delas falava da proibição do uso do Boné nas dependências da escola. Perguntei o porquê, e me falaram tudo que eu já tinha ouvido nas outras escolas em que trabalhara. O que eles não sabiam ainda era a história do Luzito do sexto ano, da última escola em que eu tivera atuado. Ele foi mandado de volta para casa na primeira semana de aula, com a expressa recomendação que só entraria na escola, no dia seguinte, acompanhado do pai. Foi o melhor argumento que eu já ouvi contra a proibição do uso do boné na escola. Aconteceu assim na sala da diretora:

           — Senhor Ignácio, chamamo-no para fazer-lhe ciente do mau comportamento do seu filho na escola; ele só poderá continuar nessa escola se obedecer o regimento. – Disse a diretora arrogantemente.
           — Meu filho, o que você fez dessa vez? – Perguntou o pai virando-se para o filho encolhido em um canto da sala.
          — Sabe, pai, é aquele boné do meu time, que ganhei de presente do Davi, no “amigo secreto”, no final do ano passado. Eu queria mostrar para ele, que também estuda aqui, a estima que tenho pelo presente que ele me deu, mas fique tranquilo, papai, não vou usá-lo mais.
           — É assim mesmo, meu filho, não faça como eu que nunca mais voltei à escola porque me recusei a tirar o boné, ou melhor, não me convenceram a tirá-lo. Naquela ocasião, levaram-me a um conselho de professores e disseram-me que no boné se escondia drogas. Mas, se eu usasse e/ou traficasse, esconderia em um outro lugar qualquer, menos no boné que os colegas arrancariam de surpresa facilmente. Disseram-me que ele disfarçava meu cochilo na hora da aula. Isso era absurdo, pois estava ali para estudar, e quem não percebe alguém, cochilando usando ou não viseira? Disseram-me ainda que não fazia parte do uniforme, mas como rejeitar uma peça de vestuário se a escola não tinha um uniforme obrigatório? Já os professores de Ciências diziam-me que o boné abafava a cabeça e o suar amolecia os cabelos e os fazia cair, mas as novas descobertas dizem que a calvície é hereditária não tendo nada a ver com uso de boné. Por último, disseram-me que o emblema estampado no boné excitava provocações impetuosas, estimulando à violência. Eu não entendia. Hoje entendo que a maior violência sofrida por mim foi cometida pela própria escola, e não foi por causa daquele boné somente! Mas, por tantas outras incompetências dos que fazem o Regimento Interno. Estudei só até a quinta série! Depois que acabou minha adolescência, deixei de usar aquele boné que tampava as espinhas horrorosas de minha testa, porém não pude mais estudar, tive que trabalhar para sustentar vocês. Por isso, meu filho, não me arranje mais problema. Continue seus estudos e não traga nunca mais seu boné para escola; você tem o rosto lindo, sua testa se parece com a de sua mãe!
           Lamentei muito não ter podido contar minha experiência naquela reunião, temi parecer “mal na fita”, ou melhor, não queria comprometer meu futuro, pois todos os demais ali estavam unânimes com o Regimento Interno da Unidade Escolar. Apenas concordei também. Que me desculpem os intrépidos!
Encaminhamento de percepção

 1-Comente a velha proibição ao uso de boné nas dependências da escola. Que influência tem essa medida no processo ensino/aprendizagem?
 2-Como professor, você não se oporia às normas infundadas de sua escola em nome de sua reputação?
 3-Que contribuição os pais prestariam à escola se adotassem o comportamento do pai Ignácio?
 4-Até que ponto a escola tem culpa no alto índice de evasão escolar?
 5-Segundo o senhor Ignácio, a proibição arbitrária do uso do boné
na escola foi uma violência praticada a ele. Que outros tipos de violência a escola está praticando aos seus alunos sem perceber?
 6-Você já vivenciou algum fato em que o uso do boné atrapalhou o bom andamento escolar?
 7-Faça uma ilustração para crônica que acabou de ler.
 8-Relacione com o texto o pensamento de Bertold Brechet: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas/ As margens que o comprimem.”

Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 06/07/2009
Código do texto: T1684696

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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UMA ROSA QUASE ALGUÉM (Crianças reclamando de maus-tratos)




















Crônica

UMA ROSA QUASE ALGUÉM (Crianças reclamando de maus-tratos)

Claudeci Ferreira de Andrade


           Eu sou uma Rosa, daquelas feita com carinho. Não me considero artificial e apesar de nascida de uma gravidez planejada, levaram-me para ornamentar uma mesa que, bem à vista, no melhor local do salão, faria jus a apreciação de um conviva refinado. Afinal, era o aniversário do subsecretário de Educação. Uma celebridade! Então pensei que, naquele bem trabalhado arranjo, por horas, daria minha contribuição para somar às motivações de quem já está acostumado com fortes emoções.
Chegavam-se de dois em dois, quando não de três ou quatro; sentavam-se aqui e acolá nas mesas próximas, tão próximas que dava para ouvir elogios sem medida aos arranjos das outras rosas; no entanto, nenhum para mim. Não compreendia. Será que não tinha saído do jeito encomendado? Talvez, se eu fosse de outra cor! Mas, não era, fazer o quê! Oba, uma professora estava vindo em minha direção! Estava sem companhia. Era uma senhora loura, tinha os olhos claros, estava bem trajada; que perfume! Como gostaria que ela me acariciasse, só assim o cheiro de suas mãos passaria para minhas pétalas de tecido comum, então me aproximaria mais de uma posição social da qual é digna uma rosa de verdade. Por que estava sozinha? Comportamento estranho para uma festa de professores! Mas deixei que viesse; iria presenteá-la com minha maciez, e não havia melhor presente numa noite como aquela do que uma rosa para uma rosa. Com certeza queria minha companhia! — Se se sentar nesta mesa, vou fazê-la feliz com minha graciosidade — dizia eu em meu coração infantil.
Sentou-se finalmente, e olhava freneticamente para os lados. Tudo foi um sonho! Antes mesmo que eu pudesse ver o aniversariante, ou melhor, antes de começar a programação, senti suas mãos de súbito me agarrarem com força brutal e me enfiaram em sua bolsa surrada de couro áspero, sem dó, como se estivesse roubando alguma coisa. Não se importou em me deformar. Será que ela não gostou de meu aspecto? E o pior, os componentes da mesa vizinha viram e nem chamaram sua atenção. Será que ninguém se engraçou por mim? Ou sou mais uma vítima dos comportamentos de etiqueta!? Dos que veem e fazem de conta que não viram, dos que roubam e fazem de conta que não foram eles, dos que fingem que ensinam enquanto outros fingem que aprendem? Ai! Que dor! E não pude nem gritar.
Fui condenada ao regime do inferno, não pude nem ornamentar uma estante empoeirada, num lugar reservado de sua casa, porque ela achava que não era seguro. Por isso me eliminou no fogo do quintal deste mundo, para não deixar vestígio. Agora falo, como uma alma despetalada, a você que só me escuta: tenha cuidado com os que cobiçam suas virtudes sem medir consequências para usufruí-las, meu mal foi ser bela e acalentar objetivos nobres.
Encaminhamento de percepção
1– Como as motivações podem fabricar as emoções? Dê exemplos:
2– O autor insinua que a Rosa é uma criança em idade escolar, culpando o sistema educacional por seu fracasso social, como legitimar essa leitura?
3– Essa senhora de “fino trato” não correspondeu com as expectativas. Qual deveria ser seu comportamento enquanto professora?
4– Qual foi o pecado dessa bela rosa?
5– É normal alguém carregar um arranjo no final da festa. Por que se faria isso bem no início?
6-Faça uma ilustração para crônica que acabou de ler.
7– Em que parte do texto resvala no social?
(Claudeci Ferreira de Andrade, pós-graduado – Língua Portuguesa; professor – Gramática e Redação/Senador Canedo; funcionário público)
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 05/07/2009
Código do texto: T1683146

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O SÁBIO MEDO DE UM TOLO MEDO (O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo. Léon Tolstoi)















Crônica

O SÁBIO MEDO DE UM TOLO MEDO (O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo. Léon Tolstoi)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

  Claudeci Ferreira de Andrade


             Com a barbárie do mundo, até a escola, em nossos dias, nos causa medo, a começar por alguns termos próprios de seu meio, como: Delegacia de Ensino, Grade Curricular, Chefe de Departamento, Parada Pedagógica, Ronda de inspetor; até a violência praticada a seu patrimônio e ameaças externas de invasão. Que tipo de segurança nos ensina um agente escolar amedrontado?
          Estávamos em três funcionários da Secretaria de Educação: eu, o professor Cláudio e o motorista. Saímos para fazer um trabalho de monitoramento ao Ensino Noturno, com um certo medo de não darmos conta das três visitas em tempo hábil; já passava das vinte e uma horas, e aquela ainda seria a segunda visita da noite, quando o motorista disse:
          — Pronto, chegamos!
           Pulamos para fora da Kômbi como quem não sentia nenhum tipo de medo e rapidamente estávamos batendo no portão. De repente, a cinquenta metros dali, alguém gritou de uma forma indistinguível; era o guarda motivado por um tolo medo, tentando fazer o seu melhor:
            — Quem são você?§ºª£%$#@!
          — Ele falou blá blá bláááaa? – Perguntou o Cláudio, com os olhos arregalados para mim.
          — Venha nos atender, rapaz. – Berrei com tal competência que fiz meu chefe franzir a testa.
          — Não, vão embora, senão chamo a polícia. – O guarda continuou impertinente, gritando de longe.
           Eu, com um sábio medo da situação agravar-se, sugeri ao Cláudio que apelasse para a sua autoridade, pois estávamos representando a Secretaria de Educação, embora parecêssemos sem...!
           Então, já nervoso, meu chefe, de forma um tanto mais desprezível, por não saber mais o que fazer, esbaforiu.   — Nós somos da Secretáriiiiiiiiiiiia.
           — Não tem ninguém da secretaria aqui, nããããããooo. – Insistiu o guarda no mesmo tom.
         — Então vem assinar nosso relatório aqui. – Ordenou o comissário da inspeção.
           Afinal de contas, simultaneamente  ao ouvir esse último apelo do Cláudio, o guarda, em fração de segundo, viu a possibilidade da secretaria referida por nós ser a Secretaria de Educação e não a secretaria da escola. À vista disso, deslocou-se, ainda meio precavido, à nossa direção. Apesar de ter se desculpado muito, deixou claro que o sábio medo de perder o emprego era maior do que o tolo medo de perder a vida. Por último gaguejou suas palavras finais:
          — Se fosse onze horas, eu não colocaria nem a minha cabeça aqui fora!
          Aquela foi uma noite proveitosa para mim. Ao chegar em casa, depois de contar o acontecido, como uma história de vida digna de ser escrita, finalizei à minha esposa, dizendo que tinha um sábio medo do tolo medo de amedrontar quem lesse um texto assim. Ela confortou-me, assegurando que todos os seres têm medo, mas só os sábios transformam sua coragem em medo, enquanto os tolos transformam o seu medo em coragem. Citou ainda o pensamento de Léon Tolstoi: "O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo."
         Então entendi que os sábios dignificam a morte temendo a vida, mas os tolos estragam a vida temendo a morte. Os sábios temem a luz por esta lhes negar as trevas, e os tolos temem as trevas por estas lhes negarem a luz. Portanto, o medo é uma condição intelectual ou emocional, virtude de quem sabe usufruí-lo. É uma condição intelectual para os evoluídos, aqueles que sempre reagem cantando, orando e encarando os problemas de frente, e, emocional para os retrógrados, aqueles que reagem falando sem parar, sem pensar e chorando muito quando a morte aparece para eles.

Encaminhamento de percepção:

  1-Em que momento o guarda mostrou-se tolo, e qual é a participação educativa de um guarda noturno na vida da escola?
 2-Explique o sentido do título: “Sábio medo de um tolo medo”;
 3-Com que segurança ensinará um professor amedrontado?
 4-Em que momento os dois professores demonstraram tolice?
 5-Se você fosse o guarda, qual seria sua atitude diante desse fato? Você se deixava levar por um sábio medo ou um tolo medo?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 04/07/2009
Código do texto: T1681649


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A REVOLTA DO LIXO ( Todo profissional tem que se submeter a reciclagens)












CRÔNICA

A REVOLTA DO LIXO ( Todo profissional tem que se submeter a reciclagens)

Por Claudeci Ferreiera de Andrade

          Foi uma desilusão, assim como um golpe profundo em minha própria carne, ouvir de um professor que me parecia sábio, senhor das palavras e fluente orador: — “Se recicla lixo e não professor”! Esta foi a reação dele, após uma sugestão minha, feita a todos os presentes naquela reunião de planejamento na qual, com muito respeito e consideração, falei: — “sugiro a realização de um curso para nos reciclarmos ...” Eu tinha boa consciência do emprego da palavra “reciclar”, queria dizer apenas: atualização de conhecimentos, reaproveitamento de material usado, nesse caso, a nossa experiência.
          Depois, muito depois, a ferida ardeu novamente, como uma gastrite recidiva, ouvi de um coordenador pedagogo, em uma outra reunião de professores, a sua justificativa por não ter votado em um tal candidato a prefeito porque ouvira no discurso dele a proposta de reciclar a educação. Esse coordenador finalizou sua inútil indignação, dizendo: — “ele está pensando que somos lixo, pois eu não sou lixo”.
          Ontem voltei a pensar nisso ao retirar o lixo do meu escritório; foi difícil considerar o que era lixo e o que não era. Ali, estavam bons textos, porém desatualizados: Jornais, revistas e correspondências em geral que fizeram de mim o que sou hoje. Fiquei, muito tempo, olhando para aquele monte de lixo com a sensação de que eu estava rejeitando um pedaço de mim. Depois de tudo pronto, por último, amassei a folha que estava em minha mão, dei-lhe a forma de uma bola, era um rascunho qualquer. Lançei-a no monte de lixo, ela então rolou e se distanciou o máximo que podia, tomei-a novamente e repeti a ação por quatro vezes e obtive a mesma reação rebelde, pareceu-me que queria me dar uma lição! Decidi não queimá-la, larguei à sua vontade, assim como se faz com uma criança malcriada. Depois de tudo tinha ali cinza e lixo, considerando que cinza não é lixo; lixo era aquela parte, ou melhor, aquela bola de papel amassado que se recusou a sofrer o processo da combustão transformadora.
          Ausentei-me daquela cena um novo ser e com um novo conceito de reciclagem de professor: submetem-se, ao processo incendiário do saber, os que ainda têm algo a dar; lixo que não quer ser lixo não se recicla. Que valor tem a Salvação para quem não se reconhece corrompido? Somente alguém que esteve perdido pode saber o que significa ser achado!

Encaminhamento de percepção

 1- Segundo o texto, todo lixo é reciclável, sob a ação prurificadora e transformadora do fogo, mesmo que a intenção seja apenas produzir cinza. Justifique essa indispensável ação considerando o valor da cinza.
 2-No texto há uma preocupação a respeito do termo reciclagem.O que você acha desse preconceito morfológico e semântico em tempos de despreconceituação?
 3-Por que se ofenderia um professor, consciente da necessidade de aperfeiçoamento, por ser chamado para um curso de reciclagem?
 4-Qual é a relação da “bola de papel” com um profissional que se recusa ao processo da purificação daquilo que ainda lhe resta de bom, e o que se extrai de bom na revolta dela?
 5-Se você fosse fazer uma reciclagem de si mesmo como um todo (físico, mental e espiritual), o que constaria em sua lista de lixo rebelde?
 6- Sabemos que a reciclagem de papel, plástico, vidro, alumínio, etc., é importante para a natureza. Que benefício trará à natureza a reciclagem das pessoas no bom sentido?
 7-Faça uma ilustração para a crônica que acabou de ler.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 03/07/2009
Código do texto: T1681009

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ALIENADO DUMA ESCOLA QUALQUER ( Um trabalho competente ornamenta o prédio escolar)

























CRÔNICA

ALIENADO DUMA ESCOLA QUALQUER ( Um trabalho competente ornamenta o prédio escolar)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          No tempo de meus avós, quando eles ainda estudavam, não era assim! Contavam-me que os alunos das escolinhas rurais prestavam sua lealdade ao programa de ensino (conteúdos adequados à realidade do aluno), bem como reverenciavam aos seus professores mais que à estrutura física do prédio escolar, pois quase sempre era precária. Mas hoje, tenho ouvido pais “moderninhos” dizerem: “meu filho é da escola fulano, ou beltrano, ou cicrano”. Esse esnobismo levou-me a concluir que é sempre um problema sério quando os pais se deixam atrair mais pela estrutura física e pela fachada da escola, ou seja, pelo prédio e sua localização, do que por um programa de ensino coerente e bons professores; ou quando são divididos em sua lealdade diante das obrigações reais da sociedade; ou quando estimulam seus filhos a se empenharem em competições por status e louvor da parte dos colegas, ao invés de estimularem-nos a participar de grupos de estudos para ajudar os que têm dificuldade, preferindo ainda a admiração e a adesão fúteis e tolas a tudo que entra na moda, ao invés do comportamento acadêmico necessário.
          O deus deste século, que é a presunção, cega de modo completo a mente dos adolescentes em relação ao que é de fato necessário. Claro está que se precisa de um pouco de vaidade e magnificência que se pode, como alunos diferenciados, adquirir. O poder de pensar alienadamente, a habilidade de zombar das grandes questões, o domínio dos neologismos e gírias – tudo deve ser adquirido. Mas, sobre tudo isso, deve estar a coerência plenamente revelada por alguém que frequenta uma escola de verdade, que prioriza os conteúdos adequados à sua realidade  ante às formas elitizadas.
          Falando em escola de verdade, a falsa é aquela que promove mais o uniforme e o luxo dos seus alunos, do que o saber para um viver de qualidade. Ela geralmente prefere estimular sua clientela a entregar a mensalidade em dia, do que a estimular ao bom senso. Nela, o amor ao reconhecimento corre em competição com o enfadar-se do conhecimento. É nesse processo que os professores são a medida da escola toda; são aqueles que desejam os aplausos dos alunos, o que não é necessariamente um erro. É parte de nossas necessidades básicas de aceitação. É claro que não devemos ser indiferentes a aprovação pessoal, mas essa deve estar subordinada à responsabilidade da realização competente do trabalho pedagógico. Fazer de nosso grande objetivo na vida agradar a alunos, por meramente agradá-los, ou garantir favores, ao invés do cumprimento do nobre dever, é indigno de nós como mestres, sendo também uma escolha fatal.
          Não é bom que ganhemos a concorrência com os colegas em nossos desejos egoístas. Existir para ser útil ao próximo, muitas vezes, requer que fechemos nossos olhos e ouvidos aos aplausos dos demais. Se queremos viver genuíno magistério, temos de nos haver com esta questão de autoestima. Todos nós ansiamos pela pobre opinião dos homens, desde que esta nos aprove. Por isso, a tentação de procurar honrarias da comunidade escolar está tão perto de todos nós, professores, pais e alunos, que deve merecer cuidadosa consideração.
          De todos os fatores que determinam nossa posição como professor, pais e alunos, o que realmente importa é a estima que alcançamos da parte do trabalho responsável e do comprometimento com o produzir.
 

Encaminhamento de percepção

 1-Você estudaria em uma escola só pela fama? Conceitue uma boa escola.
 2-Quem tem mais valor: um professor bem estabelecido na profissão ou um prédio bem estruturado e conservado?
 3-Como a presunção pode cegar a mente para o necessário?
 4-Quem deve ganhar na competição entre o amor ao reconhecimento e o transmitir com responsabilidade o conhecimento?
 5-Por que a tentação de procurar honra não deve ser ignorada?
 6-Até que ponto o professor coopera com o prestígio da escola?
 7- Faça uma ilustração para a crônica que acabou de ler.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 02/07/2009
Código do texto: T1678108


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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