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segunda-feira, 29 de junho de 2009

A REVOLTA DO LIXO ( Todo profissional tem que se submeter a reciclagens)












CRÔNICA

A REVOLTA DO LIXO ( Todo profissional tem que se submeter a reciclagens)

Por Claudeci Ferreiera de Andrade

          Foi uma desilusão, assim como um golpe profundo em minha própria carne, ouvir de um professor que me parecia sábio, senhor das palavras e fluente orador: — “Se recicla lixo e não professor”! Esta foi a reação dele, após uma sugestão minha, feita a todos os presentes naquela reunião de planejamento na qual, com muito respeito e consideração, falei: — “sugiro a realização de um curso para nos reciclarmos ...” Eu tinha boa consciência do emprego da palavra “reciclar”, queria dizer apenas: atualização de conhecimentos, reaproveitamento de material usado, nesse caso, a nossa experiência.
          Depois, muito depois, a ferida ardeu novamente, como uma gastrite recidiva, ouvi de um coordenador pedagogo, em uma outra reunião de professores, a sua justificativa por não ter votado em um tal candidato a prefeito porque ouvira no discurso dele a proposta de reciclar a educação. Esse coordenador finalizou sua inútil indignação, dizendo: — “ele está pensando que somos lixo, pois eu não sou lixo”.
          Ontem voltei a pensar nisso ao retirar o lixo do meu escritório; foi difícil considerar o que era lixo e o que não era. Ali, estavam bons textos, porém desatualizados: Jornais, revistas e correspondências em geral que fizeram de mim o que sou hoje. Fiquei, muito tempo, olhando para aquele monte de lixo com a sensação de que eu estava rejeitando um pedaço de mim. Depois de tudo pronto, por último, amassei a folha que estava em minha mão, dei-lhe a forma de uma bola, era um rascunho qualquer. Lançei-a no monte de lixo, ela então rolou e se distanciou o máximo que podia, tomei-a novamente e repeti a ação por quatro vezes e obtive a mesma reação rebelde, pareceu-me que queria me dar uma lição! Decidi não queimá-la, larguei à sua vontade, assim como se faz com uma criança malcriada. Depois de tudo tinha ali cinza e lixo, considerando que cinza não é lixo; lixo era aquela parte, ou melhor, aquela bola de papel amassado que se recusou a sofrer o processo da combustão transformadora.
          Ausentei-me daquela cena um novo ser e com um novo conceito de reciclagem de professor: submetem-se, ao processo incendiário do saber, os que ainda têm algo a dar; lixo que não quer ser lixo não se recicla. Que valor tem a Salvação para quem não se reconhece corrompido? Somente alguém que esteve perdido pode saber o que significa ser achado!

Encaminhamento de percepção

 1- Segundo o texto, todo lixo é reciclável, sob a ação prurificadora e transformadora do fogo, mesmo que a intenção seja apenas produzir cinza. Justifique essa indispensável ação considerando o valor da cinza.
 2-No texto há uma preocupação a respeito do termo reciclagem.O que você acha desse preconceito morfológico e semântico em tempos de despreconceituação?
 3-Por que se ofenderia um professor, consciente da necessidade de aperfeiçoamento, por ser chamado para um curso de reciclagem?
 4-Qual é a relação da “bola de papel” com um profissional que se recusa ao processo da purificação daquilo que ainda lhe resta de bom, e o que se extrai de bom na revolta dela?
 5-Se você fosse fazer uma reciclagem de si mesmo como um todo (físico, mental e espiritual), o que constaria em sua lista de lixo rebelde?
 6- Sabemos que a reciclagem de papel, plástico, vidro, alumínio, etc., é importante para a natureza. Que benefício trará à natureza a reciclagem das pessoas no bom sentido?
 7-Faça uma ilustração para a crônica que acabou de ler.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 03/07/2009
Código do texto: T1681009

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