"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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sábado, 17 de novembro de 2018

A JORNADA DE UM AVALIADO ("Enquanto tu não tiveres a autovalorização, maior será o desprezo contra ti." — João Alfredo Tchipilica)




A JORNADA DE UM AVALIADO ("Enquanto tu não tiveres a autovalorização, maior será o desprezo contra ti." — João Alfredo Tchipilica)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma sexta-feira, o dia em que as avaliações institucionais começaram. Eu já tinha me preparado para trabalhar no sábado, mas, pedindo a Deus meu perdão antecipado, decidi descansar como manda o mandamento, mesmo que fosse nos braços do capeta. As responsabilidades não podem ser transferidas para a segunda-feira, então... Nem sempre estou no controle das situações. Que venham as consequências a quem é de direito!

Comecei pedindo ajuda para abrir a página da avaliação funcional, pois demora muito! Lendo e refletindo nos quesitos, atribuí valor 10 por meu desempenho. Em todos, dez, nenhum zero, porque os itens de avaliação parecem me pedir ajuda! São tópicos culturais e técnicos, revigoraram a lembrança de minha rotina; detonam meus ânimos. Todavia, também foi possível me deixar envolver pela preguiça, o "ócio criativo", depois que tomei a atitude de não pensar demais, só sentir. Uma questão responde a outra. É princípio de bom senso, dê-me a nota que você deseja ter. A minha é dez.

Na vida, sempre dei mais atenção para quem eu amo, mas agora jamais me esquecerei de investir em mim mesmo. Simplesmente, não foi possível conciliar as duas coisas. "Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar." (Friedrich Nietzsche). Como posso amar o próximo se não amo a mim mesmo? Então preciso desenvolver minhas habilidades e trazer à tona todo o meu potencial justificando minha autoestima aflorada. Por isso, devo demonstrar meu amor por eles com outra intensidade!

Não é porque eu não tenho em meu currículo o mínimo necessário aos cargos que almejo que devo me sentir menos ser humano. Eu estou consciente de meus limites e potencialidades. Alguma aresta está me impedindo de progredir em alguns casos. Contudo, vou amadurecer e atender de fato as pessoas sem perder o equilíbrio! Aconselha-me Abraham Lincoln: "Não se preocupe quando não for reconhecido, mas se esforce para ser digno de reconhecimento."

Estou aproveitando o final de semana prolongado para abraçar com criatividade as demandas do trabalho, sempre disposto a contornar diferenças ideológicas, evidenciadas pela tensão na área comunicativa. Terei êxito. Mas, terei que voltar a atenção para mim mesmo e para minha aparência. Pois na avaliação institucional consta este item. Tenho que cuidar mais de meu corpo, minhas roupas, e sempre me apresentar bem quando for a alguma atividade social, desde passeio com amigos a jantares formais. Chegou meu momento de ser reconhecido por meu potencial ou narcisismo. Será se vale a pena?

Ao final desta jornada, percebo que a avaliação não é apenas um reflexo de meu desempenho, mas também um espelho de minha alma. A cada resposta, a cada nota, a cada reflexão, vejo um pouco mais de mim mesmo. E, no final, não importa se sou reconhecido por meu potencial ou narcisismo. O que realmente importa é que eu me reconheça em cada linha, em cada palavra, em cada nota. Porque, no final, a maior avaliação que podemos fazer é a de nós mesmos.


sábado, 10 de novembro de 2018

CIRCUNSPEÇÕES ("O tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções." (Martha Medeiros).




CIRCUNSPEÇÕES ("O tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções." (Martha Medeiros).

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Hoje acordei com uma tristeza inexplicável, uma sensibilidade aguda que me tornou introspectivo. Suspeito que seja eu, com as necessidades da minha alma, sofrendo os efeitos de alguma atitude impensada. Estou tentando equilibrar o espiritual e o emocional para amenizar o desconforto. Será que não mereço entender mais claramente a complexidade dos meus próprios sentimentos?

Estaria esse mal-estar relacionado aos males da alma ou a fragilidade da alma não é má? Talvez ela esteja procurando uma saída, uma cura, um subsídio. Será esta mais uma crise existencial do poeta que sou? Preciso de aconselhamento, um amigo, uma mão estendida. Em suma, quero algo além do material e do palpável: uma alma gêmea. Um motivo para o sofrimento com um lado bom!

Como disse o poeta Mario Quintana, "- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver! - Você é louco? - Não, sou poeta."

Diante desta instabilidade, preciso organizar minhas finanças. Estou na véspera da aposentadoria e preciso pensar em maneiras de estabelecer novos ganhos. Agora que as coisas estão tomando um novo rumo em minha vida, devo tratar de assuntos que se refiram a investimentos a médio e curto prazo.

Os comentários aqui no Facebook me alertam também quanto a uma fase delicada para a exposição de minha imagem. Um idoso não pode se expor assim abundantemente, o que pede uma postura reservada e financeiramente controlada. Então, vou tornar este momento em um motivo para contenção de gastos e questionamentos. O que foi acertado pode ser revisto, e algumas amizades distantes voltarão para isso. Tenho medo! "As amizades renovadas exigem mais cuidados do que aquelas que nunca foram interrompidas." (François La Rochefoucauld).

Na verdade, estou com o faro mais poderoso! Ótimo para expor um assunto difícil e delicado numa reunião de trabalho. Porque quando estou instável também estou forte e decidido. Meu segredo é que conto com a experiência das pessoas! E o meu futuro planejado parece estar ficando cada vez mais perto. Mesmo que minha rotina passe por algumas modificações, envolvendo mais tarefas e trabalhos, mas com certeza serão muito benéficas. "O que mata é envelhecer percebendo que teve uma vida de cautelas, baseadas em suposições frágeis que, se concretizadas, não passam de meros pedregulhos que caíram no seu caminho justamente por você ficar parado." (Matheus Lara).

E assim, nessa montanha-russa de emoções e reflexões, sigo meu caminho, buscando compreender a complexidade dos meus sentimentos, enfrentando os desafios da vida e da idade, e sempre aprendendo com as experiências. Afinal, a vida é uma jornada, e cada passo, cada decisão, cada crise existencial, faz parte dessa incrível aventura chamada vida.


sábado, 3 de novembro de 2018

A CONVERSÃO À DIREITA? ("Nos momentos de transição e crise, o grau de serenidade define os destinos..." — A.P. Abranches)






A CONVERSÃO À DIREITA? ("Nos momentos de transição e crise, o grau de serenidade define os destinos..." — A.P. Abranches)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Hoje, com a certeza do novo presidente da república brasileira, Messias, decidi desancorar o meu barco e deixá-lo correr livremente nos próximos anos. Estou disposto a dar uma ajudinha para que as mudanças se estabeleçam o mais rápido possível. Afinal, como se pode crescer sem o efeito da mudança?

Estou aberto para entender e aceitar os elogios dos ganhadores e a crítica dos perdedores, mas mantenho-me sempre atento aos que se aproximam querendo apenas impor e não trocar ideias. Preciso me afastar também dos mascarados do dragão vermelho, manifestantes que sorriem demais e gritam por permanência, mas só gritam, e este grito não acelera o crescimento. Como disse apropriadamente M.M.Soriano: "A personalidade do palhaço sai com água."
Até o médium Chico Xavier profetizara sobre este momento de clareza a respeito das pessoas e da comoção social, falando do futuro do Brasil. Estou cansado desta tal zona de conforto, o amor à flor da pele, e também não quero ser massa de manobra de sindicato algum, fazendo "lobby" por suas "honoris causas". "A esquerda é boa para duas coisas: organizar manifestações de rua e desorganizar a economia." (Humberto Castello Branco).
Logo "hoje", um dia de vitória, até que seria propício para eu viver a vida social e aproveitar ao máximo a companhia das pessoas comemorando nas ruas. Mas, é um dia de trabalho! Como posso aceitar convites e promover encontros com meu grupo? Ninguém disponível, todos estão trabalhando. Estaria eu pensando em parcerias? Estou lhes sugerindo os prazeres associados à comunicação no círculo pessoal, por termos interesses comuns: a mudança! Todavia, exatamente hoje, por estar mais aberto para as pessoas, complico-me! Pois estou sensível à reação de vocês. Meio desconfiado, tenho que me afastar de pessoas manipuladoras, aquelas que não assumem suas culpas.
Como antever este período de crescimento? Preciso melhorar meu cotidiano com atitudes mais sensatas. O Brasil será grande o quanto o for cada brasileiro. Enquanto estão dizendo que o regime político agora é ditadura. Eu racionalizo: sou o meu pior inimigo, tenho dentro de mim uma voz que é mais desejada do que a voz de Deus, ou qualquer anjo, ou mulher. A voz pode confortar e convencer-me contra qualquer ensino ou advertência. Esta voz está comigo vinte e quatro horas por dia e sempre me diz o que eu quero ouvir e acreditar. Isso me ajuda a tomar mais decisões. Eu estou deixando de ser otário! "Eu sou um experimento, nada certo, nada definido, tudo em estado de transição." (Tumblr). E minha transitividade é uma ditadura!
Em suma, a mudança é inevitável e necessária. É preciso estar aberto a ela, aceitá-la e adaptar-se a ela. Afinal, como disse Charles Darwin, "Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças."

sábado, 27 de outubro de 2018

INDOLÊNCIA ("A vida nos ensina que a grande malandragem é ser otário." — JBruno)




INDOLÊNCIA ("A vida nos ensina que a grande malandragem é ser otário." — JBruno)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em uma era onde a informação é abundante, percebo que cabelos brancos não indicam necessariamente sabedoria. Muitos idosos têm apenas idade e, infelizmente, muita ignorância. Como Manami Leticia Tamogami sabiamente disse: "A displicência agregada a suposições são armas da ignorância."

Os mais velhos continuam vivendo como se a internet não existisse, enquanto os jovens a usam principalmente para o lazer. Poucos são os que realmente aproveitam o grande objetivo da rede mundial de dados. Aos contribuintes, estudantes e pesquisadores, meus parabéns! No entanto, nem o encanto das novas tecnologias consegue tirar a massa do senso comum. Os desatualizados preservam seu arsenal de boatos, enquanto aqui na internet convivemos com um bombardeio de informações úteis e em velocidade incrível.

Para os avessos à tecnologia, impera a iniciativa da ignorância ou a estagnação. A pior coisa que podemos contemplar neste mundo é um tolo com iniciativa, por isso tem tanta gente vazia tentando aparecer. Como disse minha amiga Louise Gonçalves Rodrigues: "Nunca se teve tanta informação e tantas pessoas sem conhecimento!" Na verdade, amiga, poucos se interessam, pois a maioria deles acha uma perda de tempo ou não sabe manusear um computador.

Mas, será que a internet conseguiria estragar Albert Einstein, Thomas Edison, Salomão, Jesus Cristo, etc.? A tal juventude semi-analfabeta, a dita moderna, a "geração Nutella", tem preguiça de ler e selecionar o que é bom na net? E os aposentados têm preguiça até de ligar o computador. Eu os compreendo, não querem saber para não ter responsabilidade. Ler para quê, né? Isso faz qualquer um pensar, e pensar com um cérebro desordenado dói! Como confirma Eanes A. de Souza: "O comodismo nos faz covardes quando a mesmice é a indolência."

Quando um adolescente vai preencher uma ficha para emprego ou um curso qualquer, perguntam-lhe: "Qual é sua profissão?" E ele responde que é estudante! Mas, estudante é quem estuda! Ser aluno é outra coisa: basta estar matriculado em uma unidade escolar qualquer! Lá tem esse tipo, preso por iscas. E já analisou Vilma Galvão: "Não espere responsabilidades de quem nasceu para vadiagem!"


sábado, 20 de outubro de 2018

SÁBIA DIVERSIDADE ("Uma escola que não respeita a diversidade de seus funcionários, jamais respeitará a diferença de suas crianças." — Rafael de Oliveira Leme)




SÁBIA DIVERSIDADE ("Uma escola que não respeita a diversidade de seus funcionários, jamais respeitará a diferença de suas crianças." — Rafael de Oliveira Leme)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

"Em uma semana de altos e baixos, me encontro à mercê de acontecimentos macabros. Alguns são interessantes, outros... bem, só posso lamentar. A noite já caiu e ainda não consegui traçar planos estratégicos para enfrentar essa sequência maldita. Talvez devesse ler algum livro sobre comportamento humano, afinal, como disse Mahatma Gandhi, "A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos."

Estou repensando o que tem alimentado este sofrimento aviltante, na esperança de evitar que se alastre. Minha vida clama por restauração. Se for hora de me desapegar de um relacionamento difícil, não hesitarei. Suplico por boas oportunidades e me recuso a jogar a culpa em alguém.

Declaro aqui que faço o possível para estar sempre junto de pessoas, mesmo que não compartilhem dos meus ideais. Como disse Lya Luft, "Penso em ficar só, mas minha natureza pede diálogo e afeto". Mas, acredito na diversidade de ideais. Não podemos condená-los apenas por serem distintos. Quanto mais pessoas estiverem unidas em prol de um mesmo ideal, mais o mundo será viciado.

Agradeço ao interlocutor que me ofereceu um modelo diferente. "Diferente eu também sou, um pouco d'água mata a sede, e um calmante passa a dor". Agradeço também por discutir meu diálogo filosoficamente "desagradável". Como disse José Saramago, "O certo e o errado são apenas modos diferentes de entender nossa relação com os outros."

As energias associadas desmobilizam as coisas interessantes, mesmo que não nos promovam conflitos. Mas os conflitos e a competitividade nos elevam, pois nada é nocivo se soubermos nos posicionar de modo colaborativo. Aqui afirmo que estou sempre disposto a aprender com os que também aprendem. Como disse Sigmund Freud, "O estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores, não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los."

Portanto, encerro esta crônica com uma reflexão: a vida é uma jornada de aprendizado constante, onde cada experiência, por mais desafiadora que seja, nos oferece a oportunidade de crescer e evoluir. E, no final das contas, é isso que realmente importa."


sábado, 13 de outubro de 2018

TRANSLUCIDEZ: ENTRE O VOTO E O AMOR (“O amor é a força mais sutil do mundo.” - Mahatma Gandhi)



TRANSLUCIDEZ: ENTRE O VOTO E O AMOR (“O amor é a força mais sutil do mundo.” - Mahatma Gandhi)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era um domingo de sol, mas eu não sentia o calor. Sentia apenas o frio na barriga, a tensão no peito, a dúvida na mente. Era dia de votar, e eu não sabia em quem. Na verdade, eu sabia, mas não queria. Queria poder escolher outro candidato, outro partido, outra proposta. Queria poder escolher outro país, outro mundo, outra realidade.

Mas não podia. Tinha que encarar a urna, aquele monstro de metal que me olhava com indiferença, esperando que eu digitasse os números que selariam o meu destino. E o destino de milhões de brasileiros, que como eu, sofriam com a corrupção, a violência, a desigualdade. Que como eu, sonhavam com a liberdade, a justiça, a paz.

Respirei fundo, tomei coragem e fui. Entrei na fila, peguei o título, apresentei o documento. Caminhei até a cabine, apertei os botões, confirmei o voto. Saí aliviado, mas não satisfeito. Tinha cumprido o meu dever, mas não o meu desejo. Tinha votado no "menos pior", mas não no melhor. Tinha votado com a razão, mas não com o coração.

O coração, aliás, estava em crise. Não bastasse a angústia política, eu ainda tinha que lidar com a angústia amorosa. A pessoa que eu amava, que eu pensava que me amava, tinha votado no outro candidato. No candidato que eu detestava, que eu temia, que eu repudiava. Como era possível? Como podíamos ser tão diferentes? Como podíamos nos amar?

Tentamos conversar, argumentar, compreender. Mas era difícil. Cada um tinha seus motivos, suas crenças, suas convicções. Cada um tinha sua visão, sua opinião, sua posição. Cada um tinha seu direito, seu respeito, sua razão. Mas nenhum tinha a solução.

O segundo turno chegou, e com ele a decisão final. Eu votei no mesmo candidato, ela no outro. Eu torci, ela também. Eu sofri, ela também. No final, um ganhou, outro perdeu. Eu comemorei, ela chorou. Eu abracei, ela se afastou. Eu tentei, ela desistiu. Eu fiquei, ela partiu.

Foi duro, foi triste, foi cruel. Mas foi necessário. Percebi que o amor, por mais forte que fosse, não era suficiente. Era preciso ter afinidade, compatibilidade, reciprocidade. Era preciso ter diálogo, respeito, tolerância. Era preciso ter mais do que amor. Era preciso ter paz.

As eleições acabaram, mas a vida continuou. Os problemas persistiram, mas as soluções também. Os candidatos se foram, mas os cidadãos ficaram. O amor se foi, mas o coração ficou. E com ele, a esperança.

A esperança de que as coisas possam melhorar, de que as pessoas possam se unir, de que o país possa crescer. A esperança de que eu possa me reinventar, de que eu possa me abrir, de que eu possa me amar. A esperança de que eu possa encontrar alguém que me complete, que me apoie, que me aceite. Alguém que vote comigo, que sonhe comigo, que viva comigo.

As próximas eleições se aproximam, e com elas a oportunidade de fazer diferente, de fazer melhor, de fazer valer. A oportunidade de escolher com consciência, com responsabilidade, com coerência. A oportunidade de escolher com a razão e com o coração. A oportunidade de escolher o amor.


sábado, 6 de outubro de 2018

MELINDROSIDADE ("A caminhada é dura mas a graça de viver é levar a cruz como uma benção sem murmurar, sem melindre, sem julgar." — Helen Dias)




MELINDROSIDADE ("A caminhada é dura mas a graça de viver é levar a cruz como uma benção sem murmurar, sem melindre, sem julgar." — Helen Dias)

Por Claudeci Ferreira de Andrade


  1. Crônica

MELINDROSIDADE ("A caminhada é dura mas a graça de viver é levar a cruz como uma benção sem murmurar, sem melindre, sem julgar." — Helen Dias)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

             Numa manhã, enquanto a sala de aula se enchia de vozes e risos, meus olhos se fixaram numa aluna que sempre se destacava por sua discrição. Ela era uma estudante exemplar, mas havia algo em sua expressão que me intrigava. Decidi sugerir-lhe uma mudança, um toque de cor para realçar sua beleza natural. No dia seguinte, ela apareceu com um batom vermelho vivo que iluminava seu sorriso.

Compartilhei minha observação com a classe, elogiando não só o batom, mas também o enfeite em seus cabelos. Hoje, talvez, essa atitude possa ser vista como inapropriada, mas minha intenção era puramente estética. Aos 60 anos, meu interesse era apenas em apreciar a beleza das coisas.

              A arte de ensinar não deveria ser uma prática distante e neutra, mas uma doação de si mesmo. Li uma acusação contra um professor carismático que teria ultrapassado os limites da intimidade com suas alunas. Percebi que talvez houvesse uma conspiração contra ele, talvez por alunas insatisfeitas. Na universidade, todos são adultos, mas ainda assim, é preciso cautela.

O moralismo pode ajudar na disciplina, mas não é didático. Ensinar é um ato de amor e aprender é um ato de respeito. O maior problema na relação professor/aluno é a tensão constante, a falta de amizade. Infelizmente, nem sempre os limites são respeitados.

            Nesse caso, a aluna que eu havia elogiado reagiu de forma agressiva, exigindo respeito na frente de todos. Ela afirmou que não se maquiou por minha causa. Um dos presentes, vendo minha tristeza, tentou amenizar a situação. Não sei o que ela realmente pensou, mas talvez tenha se sentido envergonhada por parecer que estava dando importância ao professor. Portanto, talvez ela estivesse empoderada demais para tanta humildade requerida.

            Relatei, também, este fato, porque li aqui na internet a observação de um apresentador de TV dizendo que a educação está tão rara hoje em dia, que se formos educados com uma pessoa, ela acha que estamos "dando em cima" dela. E o excesso de proteção blinda a filtragem dos conhecimentos necessários, tornando-se vulgar.

             Aí lembrei-me de outro fato: eu era um dos bons alunos da professora Coraci, no 7º ano, 1973, quando me senti deveras honrado ao receber uma instrução muito particular. Ela me sugeriu que quando eu fosse tomar banho, lavasse as minhas orelhas por dentro, pois estavam sujas de cera. Observação dessa natureza ofenderia qualquer adolescente de hoje em qualquer escola. Ainda mais, vinda de um professor feio para uma aluna. Talvez, isso, tachassem-no até de bullying ou assédio. Porém, eu sou grato a minha professora, visto que até hoje, lembro-me dela no banheiro e lavo as minhas orelhas.

            O mal da educação é o alto grau de melindrosidade dos indivíduos. o Mundo estragou-se a si mesmo. As pessoas vivem armadas umas contra as outras em busca de indenização, e tudo ofende os vitimistas. Precisamos amar as pessoas, mas elas têm medo de ser amadas. Conselhos e elogios não devem ser dados mais. Machado de Assis disse: "Está morto: podemos elogiá-lo à vontade." Mas, por isso digo aos vivos, devemos prestar assessoria, quando for solicitado e cobrar por isso. O "Tio" da escola foi substituído pelo "profissional da educação", e a escola tornou-se um caos!


sábado, 29 de setembro de 2018

DEPRESSÃO OU DESASSOSSEGO ("Quando o modelo de vida leva a um esgotamento, é fundamental questionar se vale a pena continuar no mesmo caminho." — Mario Sergio Cortella)




DEPRESSÃO OU DESASSOSSEGO ("Quando o modelo de vida leva a um esgotamento, é fundamental questionar se vale a pena continuar no mesmo caminho." — Mario Sergio Cortella)

Por Claudeci Ferreira de Andrade 

Sempre gostei de escrever crônicas. De transformar as experiências cotidianas em relatos que mesclam humor, ironia, poesia e reflexão. De brincar com as palavras, criando imagens e sons que encantam os leitores. Mas hoje, confesso, estou sem inspiração. Talvez seja o cansaço de corrigir as provas dos meus alunos, ou a falta de uma boa noite de sono. Talvez seja o excesso de cafeína, ou a falta de um bom assunto. O fato é que me sinto vazio, sem nada de interessante para contar.

Olho para o celular, na esperança de encontrar alguma mensagem que me anime. Mas o que vejo é um daqueles textos motivacionais que circulam pelo Whatsapp, dizendo para eu não deixar que as pessoas negativas atrapalhem os meus sonhos. Penso em responder com um emoji de raiva, mas me contenho. Afinal, quem enviou deve ter boas intenções. Mas, sinceramente, esse tipo de frase não me ajuda em nada. Pelo contrário, me faz sentir ainda mais frustrado, como se eu fosse o único culpado por não realizar os meus desejos.

Respiro fundo e tento me acalmar. Sei que não adianta brigar com o mundo, nem me isolar em uma bolha de egoísmo. Sei que preciso conviver com as diferenças, aceitar as críticas, dialogar com os que pensam diferente de mim. Mas, às vezes, isso é tão difícil. Às vezes, eu gostaria de poder dizer tudo o que penso, sem me preocupar com as consequências. Às vezes, eu gostaria de poder ser eu mesmo, sem me adaptar às expectativas alheias. Às vezes, eu gostaria de poder ser livre, sem me sentir preso.

Olho para a carteira e vejo as cédulas que ganhei com o meu trabalho. Não são muitas, mas são honestas. Penso em como é duro ganhar dinheiro, e como é fácil gastá-lo. Penso em como é raro ser reconhecido, e como é comum ser explorado. Penso em como é difícil brilhar, e como é fácil ofuscar. Penso em como é tentador se achar melhor do que os outros, e como é difícil se colocar no lugar deles.

Olho para o relógio e vejo que o tempo passa rápido. Sinto uma pontada de ansiedade, pensando no que ainda tenho que fazer, no que ainda não fiz, no que talvez nunca faça. Sinto uma onda de estresse, pensando nos problemas que podem surgir, nas dificuldades que podem aumentar, nas oportunidades que podem escapar. Sinto uma falta de paz, pensando no que me preocupa, no que me angustia, no que me aflige. Mas, então, me lembro de que não adianta sofrer por antecipação, de que não posso controlar tudo, de que preciso confiar na vida.

Olho para o céu e vejo que a noite já cai. Sinto uma vontade de dormir, de descansar, de esquecer. Sinto uma necessidade de silêncio, de tranquilidade, de serenidade. Sinto uma esperança de sonhar, de renascer, de recomeçar. A crônica, que começou sem graça, termina com uma prece. Peço a Deus, aos anjos, aos santos, que me deem uma boa noite de sono. E que, amanhã, eu possa acordar com mais inspiração, mais alegria, mais amor. Porque, afinal, a vida é uma eterna crônica, que se renova a cada dia, com novas cores, novos sabores, novas emoções.