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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

A Era da Inocência Digital ("Nem tudo que reluz é ouro." - Provérbio popular)

 

  • A Era da Inocência Digital ("Nem tudo que reluz é ouro." - Provérbio popular)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Navegando pelas redes sociais outro dia, deparei-me com uma cena que me gelou a espinha: uma criança, não mais que doze anos, exibia maços de notas de cem reais enquanto proclamava sua independência do sistema educacional. "Ganho mais que meus professores!", vangloriava-se ela, com a ingenuidade de quem ainda não aprendeu o verdadeiro valor das coisas.

    O algoritmo, esse maestro invisível de nossas vidas digitais, começou então a me mostrar um universo paralelo habitado por pequenos "empreendedores". Crianças que trocaram a magia do recreio pela ansiedade das métricas, que substituíram as brincadeiras no parque por *lives* sobre marketing digital. "Fature 100 mil em 30 dias!", prometem elas, enquanto seus dedos pequenos deslizam sobre telas de smartphones últimos modelos.

    Uma investigação mais profunda revela um padrão perturbador: plataformas como Kiwify, Cakto e Kirvano servem de palco para esse teatro do absurdo, onde crianças são transformadas em garotos-propaganda de uma fantasia perigosa. Os erros de português parecem propositais, como se a falta de educação formal fosse um distintivo de autenticidade. Algumas até aparecem ao lado dos pais, que sorriem orgulhosos dessa nova forma de exploração infantil.

    Por trás das cortinas digitais, descobri uma engenhosa máquina de ilusões. Os cursos vendidos por essas crianças são, na verdade, ministrados por adultos que as instruem inclusive sobre como burlar as regras das plataformas que proíbem menores de idade. É um ciclo perverso onde crianças são usadas para vender sonhos impossíveis a outras crianças.

    Os especialistas são unânimes em seus alertas: pediatras falam sobre adultização precoce e problemas psiquiátricos; advogados apontam as ilegalidades do trabalho infantil disfarçado; psicólogos preveem as consequências dessa exposição prematura. Mas quem está ouvindo? O barulho das notificações e o tilintar virtual das moedas parecem mais sedutores que qualquer advertência.

    Lembro-me da minha própria infância, quando nossos sonhos de riqueza não passavam de encontrar um tesouro enterrado no quintal ou ganhar na rifa da escola. Hoje, vejo essas crianças presas em uma corrida frenética por *likes* e seguidores, medindo seu valor em métricas e conversões. A educação formal, aquela que ensina não apenas conteúdos, mas valores e pensamento crítico, é ridicularizada como um caminho para a pobreza.

    O mais triste é perceber que estamos criando uma geração que pode nunca conhecer o valor do conhecimento construído tijolo por tijolo, da satisfação de uma descoberta após horas de estudo, da riqueza que existe nas trocas verdadeiras entre alunos e professores. Em vez disso, oferecemos a eles um atalho ilusório, pavimentado com promessas vazias e números fantasiosos.

    Fecho as redes sociais e me pergunto: que sociedade estamos construindo quando permitimos que nossas crianças acreditem que estudar é perda de tempo? A maior pobreza não está em seguir o caminho tradicional da educação, mas em trocar o desenvolvimento integral por um punhado de curtidas e uma conta bancária temporariamente rechonchuda. A verdadeira riqueza da infância não pode ser medida em reais por hora, nem pode ser comprada com qualquer curso milagroso. Ela está nas descobertas diárias, nas amizades construídas no pátio da escola, nas dúvidas que nos fazem crescer, no tempo lento e precioso do aprender. Essa é uma lição que nenhum algoritmo pode ensinar.


    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas sobre os temas principais do texto, no formato de pergunta simples:


    1. De que forma o texto descreve a relação entre as crianças que atuam no marketing digital e o sistema educacional tradicional?

    2. Quais as críticas apresentadas no texto em relação ao papel das plataformas digitais como Kiwify, Cakto e Kirvano nesse contexto?

    3. Segundo o texto, quais as possíveis consequências negativas para o desenvolvimento das crianças envolvidas com o marketing digital precoce?

    4. Como o texto contrapõe a busca por sucesso rápido e financeiro com a importância da educação formal e do desenvolvimento integral da infância?

    5. Qual a reflexão central proposta pelo autor sobre a sociedade que permite que crianças acreditem que estudar é perda de tempo?

    O Contracheque e o Pudor ("A educação custa dinheiro. Mas, então, custa menos que uma nação ignorante." – W.E.B. Du Bois)

     Crônica 


    O Contracheque e o Pudor ("A educação custa dinheiro. Mas, então, custa menos que uma nação ignorante." – W.E.B. Du Bois)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Naquela manhã abafada, a Escola Raimundo Nonato seguia sua rotina habitual. As crianças corriam pelo pátio, enquanto os professores, acostumados à algazarra, preparavam as aulas. Nesse cenário de aparente normalidade, um episódio insólito transformou um dia comum em notícia de escândalo.

    O professor Chico, carinhosamente apelidado de “Amanchu” pelos alunos, era um ícone de popularidade. As crianças adoravam suas aulas de português, repletas de histórias criativas, e os pais admiravam seu empenho em garantir o aprendizado de todos. Chico era daqueles professores que sabiam o nome de cada aluno e se interessavam por seus sonhos. Por isso, ninguém poderia imaginar que o homem conhecido por sua didática e carisma teria seu nome envolvido em uma acusação tão controversa.

    Na sala dos professores, o alvoroço começou quando a diretora, com semblante tenso, pediu silêncio. Um pai acabara de chegar à escola com uma queixa grave: seu filho, Juliano, voltara para casa em estado de choque após presenciar algo “inapropriado” durante a aula. Diante do relato, a diretora prontamente iniciou uma averiguação.

    Chico, com olhar confuso e postura calma, confirmou o ocorrido: “Abri minha bolsa, tirei o contracheque e mostrei. Não pensei que fosse causar todo esse problema.” O contracheque exibia o valor de 875 reais, um salário que muitos considerariam insuficiente para a dedicação exigida pela profissão.

    No entanto, o impacto foi inesperado. Segundo testemunhas, uma das crianças desmaiou ao ouvir o valor. A imagem de um educador tão respeitado apresentando algo tão "desconcertante" ganhou proporções de escândalo. Indignados, os pais consideraram o ato um atentado à inocência dos pequenos. "Como explicar isso para uma criança? Que tipo de exemplo ele está dando?", reclamou Maurício Seixas, pai de Juliano.

    A polícia foi acionada e Chico foi conduzido à delegacia, onde recebeu voz de prisão por “atentado gravíssimo ao pudor”. A acusação, por mais absurda que parecesse a alguns, encontrou eco em outros, que viam na atitude do professor uma quebra de confiança, antiética. Pressionado pela repercussão, o Ministério da Educação cassou a licença do educador.

    Ao revisitar o caso, pergunto-me: em que momento deixamos de enxergar o verdadeiro valor de quem ensina? Chico foi punido por escancarar, sem filtro, uma dura realidade: a desvalorização do professor. Sua atitude pode ter sido mal calculada, mas carregava um grito silencioso por dignidade.

    Ao fim, restam perguntas que ecoam: quem deve proteger a inocência de quem? As crianças foram de fato vítimas, ou o verdadeiro atentado ao pudor foi outro, maior e mais crônico? É irônico pensar que o professor, cuja função é iluminar mentes, foi preso por tentar mostrar o peso que carrega.

    Assim, concluo com a reflexão de que o silêncio nem sempre é sinal de prudência. Às vezes, é o maior erro. Que Chico tenha sua voz ouvida e que, um dia, as verdades difíceis não precisem mais ser escândalo, mas o início de uma mudança.


    https://www.instagram.com/reel/DEdGIGGyBnE/?igsh=amthNW1lOGh4cTV6&fbclid=IwY2xjawHshe5leHRuA2FlbQIxMAABHXS1vgqa8QooPiU7kffqgNU8A3998bb85Hhjfyt4_CBNiaIA2La22bHjxQ_aem_RcMm0KfCPZLiSHCFhWyOaQ


    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


    1. Qual o impacto da exposição do contracheque do professor Chico na comunidade escolar, segundo o texto?

    2. De que forma o texto relaciona a atitude do professor Chico com a questão da valorização dos profissionais da educação?

    3. Como o texto aborda a dualidade entre a aparente normalidade do cotidiano escolar e a ocorrência de um evento considerado escandaloso?

    4. O texto utiliza a expressão “atentado gravíssimo ao pudor” para descrever a acusação contra o professor Chico. Qual a sua interpretação sobre o uso dessa expressão no contexto apresentado?

    5. Segundo o texto, qual a relação entre o silêncio e a necessidade de mudança em relação à situação dos professores?

    domingo, 5 de janeiro de 2025

    O ABC do Retrocesso ("A mediocridade não conhece nada além de si mesma; mas o talento reconhece instantaneamente o gênio." — Arthur Conan Doyle)

     

  • O ABC do Retrocesso ("A mediocridade não conhece nada além de si mesma; mas o talento reconhece instantaneamente o gênio." — Arthur Conan Doyle)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Ontem, enquanto organizava minha pasta de recortes antigos sobre educação, encontrei uma manchete de 1985 que celebrava o alto nível de exigência para a formação de professores em nosso país. O contraste com a notícia que li esta manhã no "Site PJ Media" quase me fez derramar o café.

    Na cozinha silenciosa de um domingo, refleti sobre os rumos da educação e recordei meus tempos de estudante. Lembrei-me da Dona Coraci, professora de matemática, que nos fazia decorar a tabuada, mas também nos ensinava a pensar. Da freira, Irmã Maria, que transformava a História em aventuras épicas. Eram mestres que dominavam seus conteúdos com a mesma precisão com que um cirurgião maneja seu bisturi.

    Agora, folheando as páginas do jornal eletrônico, deparo-me com a notícia de que, em Nova Jersey, professores não precisarão mais passar por testes básicos de competência. É como se decidíssemos que pilotos de avião não precisam mais provar que sabem pousar. Aqui no Brasil, também foi anunciada, no dia 22 de setembro, a Medida Provisória (MP) 746 da chamada ‘reforma’ do ensino médio. “A ideia do notório saber no magistério significa você dizer que todo mundo que conhece muito sobre uma determinada questão é um bom professor e, é claro, isso não é verdade”, afirmou a UBES. A justificativa? Faltam professores. Mas, desde quando quantidade se tornou mais importante que qualidade?

    Entre um gole e outro de café já frio, penso nos meus colegas professores mais jovens. Muitos são brilhantes, verdadeiros artesãos do conhecimento. Outros, porém, parecem ter caído de paraquedas na profissão, trazendo na bagagem mais ideologia do que conhecimento (ideologia de gênero, são ativistas e praticam a militância política).

    O relógio marca meio-dia e ainda me pego imaginando o futuro. Vejo salas de aula onde Shakespeare foi substituído por "hashtags", onde a tabuada perdeu espaço para "slogans", onde o pensamento crítico imbuído da verdade se rendeu ao pensamento único progressista. É como assistir a um naufrágio em câmera lenta, sabendo que há botes salva-vidas, mas optando por não usá-los.

    A tarde avança e, com ela, cresce minha inquietação. Não posso deixar de pensar nos Fundadores da Nação, que viam na educação sólida o alicerce de uma sociedade próspera. O que diriam eles ao ver que estamos trocando o ouro do conhecimento pelo chumbo da mediocridade?

    Ao final deste domingo reflexivo, imprimo e guardo o jornal junto aos recortes antigos. A história da educação que ali se desenha não é apenas uma crônica do presente, mas um alerta para o futuro. Porque, quando abrimos mão da excelência em nome da conveniência, não é apenas o ABC que fica pela metade – é todo o alfabeto do crescimento que se desfaz.

    https://pjmedia.com/catherinesalgado/2025/01/05/w-is-for-woke-nj-ditches-basic-literacy-test-for-teachers-n4935687

    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto apresentado:

    1. O autor compara a notícia atual sobre a dispensa de testes de competência para professores em Nova Jersey com uma manchete de 1985 que celebrava a alta exigência na formação docente. Qual a importância dessa comparação para a argumentação do texto?

    2. O autor evoca a memória de seus professores, Dona Coraci e Irmã Maria, para contrastar com a situação atual. Que características desses educadores são destacadas e qual o significado desse contraste no contexto da discussão sobre a qualidade do ensino?

    3. O texto menciona a Medida Provisória (MP) 746 e a crítica da UBES à ideia do "notório saber no magistério". Qual o ponto central da crítica da UBES e como ela se relaciona com a problemática da qualidade da formação docente abordada no texto?

    4. O autor expressa preocupação com a presença de "ideologia" em detrimento do "conhecimento" na formação de alguns professores. Como essa preocupação se manifesta na visão do autor sobre o futuro da educação e qual a sua crítica em relação a essa situação?

    5. Ao mencionar os "Fundadores da Nação", o autor estabelece uma conexão entre educação sólida e uma sociedade próspera. De que forma essa conexão reforça a crítica à flexibilização dos critérios para a formação de professores apresentada no texto?

    quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

    O Farol Apagado: A Decepção de uma Professora ("Conhecer o bem e não o praticar, eis o pior dos males." — Confúcio)

     

  • O Farol Apagado: A Decepção de uma Professora ("Conhecer o bem e não o praticar, eis o pior dos males." — Confúcio)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    O ano mal começava e a notícia, fria como a garoa de janeiro, me atingiu como um tapa. “Professora é demitida por pedir licença menstrual para viajar”. A manchete, por si só, já carregava um peso enorme, uma contradição gritante. Li a matéria com uma mistura de incredulidade e tristeza, tentando entender o que levara uma educadora a tal atitude. Aos poucos, a história se desenrolava, revelando uma sucessão de equívocos que culminaram na demissão de uma profissional de 45 anos.

    Lembro-me de ter pensado em meus próprios tempos de escola, nas professoras que me inspiraram, naquelas que dedicavam suas vidas ao ensino, mesmo diante das dificuldades. A figura do professor, para mim, sempre representou um farol, um guia na jornada do conhecimento. E, de repente, me deparo com essa notícia, quebrando essa imagem idealizada.

    A reportagem detalhava como a professora, ao longo de alguns anos, solicitou licenças médicas e trabalho remoto de forma fraudulenta, somando 23 pedidos, tudo para satisfazer um desejo incontrolável de viajar. Destinos nacionais, como Okinawa e Ishigaki, e internacionais, como Espanha e Austrália, foram os palcos dessas escapadas. A cada novo destino citado, um nó se formava na minha garganta. Como alguém que tem o privilégio de educar pode agir com tamanha falta de ética?

    As palavras da professora, “Eu sabia que era errado, mas não pude resistir à vontade de viajar”, ecoavam na minha mente. Uma confissão sincera, mas que não atenuava a gravidade do ato. A busca por prazer e aventura, mesmo que compreensível em certa medida, não justifica a quebra de confiança e o desrespeito à instituição.

    A notícia me levou a refletir sobre a fragilidade humana, sobre a constante luta entre o desejo e o dever. Quantas vezes nos vemos diante de tentações, de caminhos aparentemente mais fáceis, que nos afastam dos nossos princípios? A professora, em sua busca incessante por viagens, acabou se perdendo no labirinto das próprias escolhas.

    O caso dessa professora demitida não é apenas uma notícia sobre uma fraude. É um retrato da sociedade contemporânea, marcada pela busca incessante por satisfação imediata, pela relativização dos valores e pela dificuldade em lidar com as frustrações. Acredito que a educação, em seu sentido mais amplo, tem um papel fundamental na formação de cidadãos éticos e responsáveis. Não se trata apenas de transmitir conteúdos, mas de cultivar valores como honestidade, respeito e comprometimento.

    Ao concluir a leitura da notícia, uma sensação de melancolia me invadiu. A história dessa professora me lembrou da importância de mantermos nossos valores inabaláveis, mesmo diante das tentações. Que essa experiência sirva de aprendizado para todos nós, para que possamos refletir sobre nossas escolhas e priorizar a integridade em nossas vidas. Afinal, como disse um grande pensador, “A integridade dispensa regras”. Que possamos viver de acordo com essa máxima, construindo um mundo mais justo e honesto.

    https://portalmie.com/atualidade/2025/01/professora-e-demitida-por-pedir-licenca-menstrual-para-viajar/


    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto apresentado:


    1. A crônica relata a demissão de uma professora por solicitar licenças fraudulentas para viajar. De que forma esse caso individual reflete aspectos da sociedade contemporânea, segundo o autor?

    2. O autor menciona a "busca incessante por satisfação imediata" como uma característica da sociedade atual. Como essa busca se manifesta no caso da professora e quais as consequências dessa atitude?

    3. A figura do professor é apresentada como um "farol" e um "guia". De que maneira a atitude da professora contradiz essa imagem idealizada e qual o impacto dessa quebra de expectativa?

    4. A crônica aborda a "luta entre o desejo e o dever". Explique como esse conflito se manifesta na história da professora e como ele se relaciona com a questão da ética profissional.

    5. O autor conclui a crônica com a frase "A integridade dispensa regras". De que forma essa afirmação resume a mensagem central do texto e qual a sua relação com o papel da educação na formação dos indivíduos?

    ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VIII(2) “A Sabedoria é Realmente Acessível a Todos? Uma Perspectiva Crítica”

     Ensaio 



    ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VIII(2) “A Sabedoria é Realmente Acessível a Todos? Uma Perspectiva Crítica”

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    A visão de que a sabedoria é facilmente acessível a todos, comumente propagada por alguns crentes fervorosos, é um tema que merece uma análise crítica. Embora a ideia central pareça promover a democratização do conhecimento, existem várias nuances a serem consideradas.

    Primeiramente, é importante reconhecer que a noção de sabedoria é subjetiva e pode variar conforme diferentes perspectivas culturais e epistemológicas. Como afirma o filósofo contemporâneo Pierre Bourdieu, "O que é visto como conhecimento digno de ser transmitido é uma construção arbitrária de uma cultura particular, dependente das relações de poder dentro dessa cultura." Assim, a suposta universalidade da sabedoria pregada nos seminários bíblicos pode não ser tão abrangente quanto é frequentemente sugerido.

    Além disso, o acesso à educação formal e aos recursos intelectuais continua sendo um privilégio para muitos. Como observa a educadora bell hooks, "A educação dominante reforça a noção de uma voz única de autoridade." Essa voz tende a refletir as perspectivas de grupos hegemônicos, marginalizando outras formas de conhecimento. Portanto, a afirmação de que a sabedoria está igualmente disponível a todos é questionável.

    É crucial também considerar as barreiras socioeconômicas e culturais que dificultam o acesso de muitos indivíduos ao conhecimento e sua plena apropriação. Como aponta Pierre Bourdieu, "O capital cultural é um recurso que facilita o acesso a oportunidades educacionais e culturais, mas está desigualmente distribuído na sociedade."

    Em vez de recorrer a citações bíblicas ou a autores canônicos, podemos olhar para vozes contemporâneas que desafiam a noção de universalidade do conhecimento. O filósofo africano Achille Mbembe, por exemplo, afirma: "O conhecimento não é um objeto dado, mas uma prática corporificada, situada e performativa." Essa perspectiva destaca a importância de reconhecer os múltiplos caminhos para a sabedoria, além das tradições ocidentais dominantes.

    Outro ponto relevante é a relação entre sabedoria e poder. Como argumenta o teórico pós-colonial Edward Said, "O conhecimento é inseparável das operações de poder e dominação." Essa visão sugere que a disseminação da sabedoria pode estar vinculada a agendas e interesses específicos, em vez de ser verdadeiramente acessível a todos.

    Em suma, embora a ideia de uma sabedoria amplamente disponível seja atraente, é essencial adotar uma postura crítica ao examinar essa afirmação. Devemos reconhecer as complexidades e barreiras que moldam o acesso ao conhecimento, assim como as relações de poder que influenciam sua disseminação. Somente ao considerar essas nuances poderemos buscar caminhos mais equitativos e inclusivos para a sabedoria.


    ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

    1. Subjetividade e Universalidade da Sabedoria:

    a) Explique como a noção de sabedoria pode ser considerada subjetiva e dependente da cultura e da perspectiva individual.

    b) Discuta a crítica de Pierre Bourdieu à ideia de uma sabedoria universal, considerando as relações de poder presentes na construção do conhecimento.

    c) Analise como a suposta universalidade da sabedoria pregada em alguns contextos religiosos pode ser questionada à luz da diversidade cultural e epistemológica.

    2. Desigualdade no Acesso à Sabedoria:

    a) Quais são as principais barreiras que impedem o acesso universal à educação formal e aos recursos intelectuais?

    b) Como a desigualdade socioeconômica e a marginalização social podem afetar o acesso à sabedoria e ao conhecimento?

    c) Discuta o papel do Estado e da sociedade na promoção da democratização do conhecimento e na redução das desigualdades no acesso à educação.

    3. Barreiras Socioeconômicas e Culturais:

    a) Cite e explique as principais barreiras socioeconômicas e culturais que podem dificultar o acesso à sabedoria e ao conhecimento.

    b) Analise o conceito de "capital cultural" de Pierre Bourdieu e como ele pode influenciar as oportunidades educacionais e culturais dos indivíduos.

    c) Dê exemplos de iniciativas que visam superar as barreiras socioeconômicas e culturais no acesso à sabedoria e ao conhecimento.

    4. Vozes Contemporâneas e Diversidade Epistemológica:

    a) Apresente a crítica de Achille Mbembe à visão tradicional da sabedoria, destacando a importância da contextualização e da prática na construção do conhecimento.

    b) Explique a perspectiva de Edward Said sobre a relação entre conhecimento e poder, considerando como o saber pode ser utilizado para legitimar relações de dominação.

    c) Cite e explique outras perspectivas contemporâneas que desafiam a visão simplista da sabedoria e defendem a diversidade epistemológica.

    5. Reflexões e Proposições para o Futuro:

    a) Resuma as principais críticas à visão de que a sabedoria é facilmente acessível a todos.

    b) Quais são os desafios para a construção de uma sociedade mais justa e plural em relação ao acesso à sabedoria e ao conhecimento?

    c) Como você, como estudante, pode contribuir para a democratização do conhecimento e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva?