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sábado, 18 de janeiro de 2025

O Apagão que Assombra as Salas de Aula ("Sem educação, estamos perdidos. Perdidos em um mundo de significados confusos e possibilidades incertas." - Tenzin Gyatso, 14º Dalai Lama)

 Crônica 


O Apagão que Assombra as Salas de Aula ("Sem educação, estamos perdidos. Perdidos em um mundo de significados confusos e possibilidades incertas." - Tenzin Gyatso, 14º Dalai Lama)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Nos corredores quase desertos das universidades, uma pergunta inquietante ecoa em silêncio: quem ousará, nos próximos anos, abraçar a missão de ensinar? Lembro-me vividamente do meu primeiro dia em sala de aula: o giz escorregava entre os dedos trêmulos, enquanto o peso das expectativas – as minhas e as alheias – parecia esmagador. Hoje, a escolha pela docência parece mais uma rota de fuga do que uma vocação.

As manchetes estampam um termo forte e cruel: “apagão de professores”. Não se trata de uma metáfora exagerada, mas de uma realidade que devora o futuro do país. Licenciaturas vazias, escolas desamparadas por falta de professores de matemática, física e português, e alunos que se formam – ou desistem – carregando lacunas que nenhum boletim é capaz de registrar. É um cenário desolador: salas abarrotadas, educadores exaustos e uma profissão que, em vez de ser o pilar da sociedade, luta para sobreviver ao desprestígio histórico.

Lembro-me de um amigo que abandonou o magistério. Suas palavras ainda ressoam como um eco amargo: “Não é pelo dinheiro”, ele dizia, embora os salários fossem evidentemente um problema. “É pelo vazio. Pela falta de apoio, pelo descaso.” Aquele brilho que antes iluminava seu olhar ao ver um aluno entender uma equação tornou-se uma sombra de desilusão. Hoje, ele segue em outra profissão. Quem pode culpá-lo? Cada um carrega o peso que consegue suportar.

A crise ganha contornos ainda mais graves nos rincões do Norte e Nordeste. Lá, mais da metade das aulas nos anos finais do ensino fundamental é ministrada por professores sem a formação adequada. Nas áreas rurais, a situação é ainda mais dramática: apenas um terço dos docentes possui a qualificação necessária. Para muitos jovens, o magistério não é mais uma escolha, mas uma última opção, distante de qualquer paixão ou ideal. E, entre os licenciados, apenas uma parcela ínfima ingressa na carreira.

Diante desse panorama sombrio, a “Bolsa Mais Professores” surge como uma tentativa de reparação. A proposta promete incentivos financeiros para atrair docentes às áreas mais necessitadas. No papel, é uma fagulha de esperança. Mas será que dinheiro, por si só, pode resgatar a dignidade perdida de ensinar? Salários melhores são essenciais, mas o desafio vai além. Como pode um professor prosperar em um sistema que o sufoca, negligencia sua formação e o desvaloriza constantemente?

Nas entrelinhas desse apagão, persiste uma centelha de esperança. É preciso compreender que educar não é um ato isolado; é uma construção coletiva. Não basta cobrar dos professores enquanto a sociedade ignora as condições em que vivem e trabalham. É necessário criar ambientes propícios para o ensino e a aprendizagem, onde o conhecimento seja a prioridade. Porque, no fundo, o apagão não é apenas de professores; é um apagão de valores, de sonhos e de futuro.

E assim sigo, ainda em sala de aula, alimentando a chama que um dia me trouxe até aqui. Cada aula ministrada e cada olhar curioso que me devolve um pouco de esperança são lembretes de que, apesar das adversidades, ainda há luz. Mas essa chama, frágil, precisa de cuidado, de alimento, de um esforço coletivo. Como sociedade, é hora de decidir: continuaremos nos contentando com palavras vazias em discursos oficiais ou agiremos para evitar que o futuro se perca na escuridão?


Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


1. O texto descreve um "apagão de professores". Quais as principais características desse fenômeno apontadas pelo autor?

2. Além da questão salarial, quais outros fatores contribuem para o abandono do magistério, segundo o relato do autor sobre seu amigo?

3. Como a crise do "apagão de professores" se manifesta nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, de acordo com o texto?

4. A "Bolsa Mais Professores" é apresentada como uma possível solução. Qual a crítica central do autor em relação a essa proposta?

5. Qual a principal mensagem do texto sobre a responsabilidade da sociedade diante da crise na educação?

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