"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

MINHAS PÉROLAS

Será se o povo atrapalha o povo ou os líderes atrapalham os líderes? Isso é, no caso de haver muito cacique para pouco índio.
Claudeci Ferreira de Andrade

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

O Contracheque e o Pudor ("A educação custa dinheiro. Mas, então, custa menos que uma nação ignorante." – W.E.B. Du Bois)

 Crônica 


O Contracheque e o Pudor ("A educação custa dinheiro. Mas, então, custa menos que uma nação ignorante." – W.E.B. Du Bois)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquela manhã abafada, a Escola Raimundo Nonato seguia sua rotina habitual. As crianças corriam pelo pátio, enquanto os professores, acostumados à algazarra, preparavam as aulas. Nesse cenário de aparente normalidade, um episódio insólito transformou um dia comum em notícia de escândalo.

O professor Chico, carinhosamente apelidado de “Amanchu” pelos alunos, era um ícone de popularidade. As crianças adoravam suas aulas de português, repletas de histórias criativas, e os pais admiravam seu empenho em garantir o aprendizado de todos. Chico era daqueles professores que sabiam o nome de cada aluno e se interessavam por seus sonhos. Por isso, ninguém poderia imaginar que o homem conhecido por sua didática e carisma teria seu nome envolvido em uma acusação tão controversa.

Na sala dos professores, o alvoroço começou quando a diretora, com semblante tenso, pediu silêncio. Um pai acabara de chegar à escola com uma queixa grave: seu filho, Juliano, voltara para casa em estado de choque após presenciar algo “inapropriado” durante a aula. Diante do relato, a diretora prontamente iniciou uma averiguação.

Chico, com olhar confuso e postura calma, confirmou o ocorrido: “Abri minha bolsa, tirei o contracheque e mostrei. Não pensei que fosse causar todo esse problema.” O contracheque exibia o valor de 875 reais, um salário que muitos considerariam insuficiente para a dedicação exigida pela profissão.

No entanto, o impacto foi inesperado. Segundo testemunhas, uma das crianças desmaiou ao ouvir o valor. A imagem de um educador tão respeitado apresentando algo tão "desconcertante" ganhou proporções de escândalo. Indignados, os pais consideraram o ato um atentado à inocência dos pequenos. "Como explicar isso para uma criança? Que tipo de exemplo ele está dando?", reclamou Maurício Seixas, pai de Juliano.

A polícia foi acionada e Chico foi conduzido à delegacia, onde recebeu voz de prisão por “atentado gravíssimo ao pudor”. A acusação, por mais absurda que parecesse a alguns, encontrou eco em outros, que viam na atitude do professor uma quebra de confiança, antiética. Pressionado pela repercussão, o Ministério da Educação cassou a licença do educador.

Ao revisitar o caso, pergunto-me: em que momento deixamos de enxergar o verdadeiro valor de quem ensina? Chico foi punido por escancarar, sem filtro, uma dura realidade: a desvalorização do professor. Sua atitude pode ter sido mal calculada, mas carregava um grito silencioso por dignidade.

Ao fim, restam perguntas que ecoam: quem deve proteger a inocência de quem? As crianças foram de fato vítimas, ou o verdadeiro atentado ao pudor foi outro, maior e mais crônico? É irônico pensar que o professor, cuja função é iluminar mentes, foi preso por tentar mostrar o peso que carrega.

Assim, concluo com a reflexão de que o silêncio nem sempre é sinal de prudência. Às vezes, é o maior erro. Que Chico tenha sua voz ouvida e que, um dia, as verdades difíceis não precisem mais ser escândalo, mas o início de uma mudança.


https://www.instagram.com/reel/DEdGIGGyBnE/?igsh=amthNW1lOGh4cTV6&fbclid=IwY2xjawHshe5leHRuA2FlbQIxMAABHXS1vgqa8QooPiU7kffqgNU8A3998bb85Hhjfyt4_CBNiaIA2La22bHjxQ_aem_RcMm0KfCPZLiSHCFhWyOaQ


Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


1. Qual o impacto da exposição do contracheque do professor Chico na comunidade escolar, segundo o texto?

2. De que forma o texto relaciona a atitude do professor Chico com a questão da valorização dos profissionais da educação?

3. Como o texto aborda a dualidade entre a aparente normalidade do cotidiano escolar e a ocorrência de um evento considerado escandaloso?

4. O texto utiliza a expressão “atentado gravíssimo ao pudor” para descrever a acusação contra o professor Chico. Qual a sua interpretação sobre o uso dessa expressão no contexto apresentado?

5. Segundo o texto, qual a relação entre o silêncio e a necessidade de mudança em relação à situação dos professores?

Nenhum comentário: