CRÔNICA
FORTE NA MULTIDÃO, DISSIMULADO NA SOLIDÃO
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Naquele ritual macabro, eram crescentes as agressões verbais à figura impassível do professor e abundantes as comparações humilhantes entre eles ("bullying" total). Os que não fizeram nada para merecer a nota que precisavam, eram os agressores mais acirrados que motivavam os outros, até mesmo os que tinham o suficiente para ser promovido praguejavam-me por notas melhores. A cena arremetia à situação de um animalzinho indefeso, acuado por muitos cães ferozes, dependurado em um galho seco de uma pequena árvore, a vítima prestes a cair nas garras das feras transtornadas, treme.
Depois do “conselho de classe”, muitos daqueles desrespeitadores de nota insuficiente, também, em outras disciplinas e que para ter o direito de participar da recuperação especial, foram ajudados por voto de professor sensível demais ou medroso demais, alguém teria que ajudá-los. Mas, que ovelhas dóceis, pós conselho, quando me abordavam em particular ao pedir um trabalho extra para se livrarem da reprovação definitiva! O interessante é que vinham de um a um, disfarçando-se de estudante, como se houvesse uma amizade respeitosa e confidencial. (O fraco tem força na multidão, o dissimulado na solidão – Claudeko)!
Como diz a Bíblia: “Quem ajuda o tolo terá que ajudá-lo novamente", eu acrescentaria: em meio as mesmas circunstâncias. É assim em todo o final dos anos, mas ainda não me acostumei com tantas ameaças, agressões, denúncias e acusações de pais e alunos reprovados. Que castiguem o conselho pelo menos, diluindo a minha culpa, e não guarde tudo para a entrega de boletins.
Será se o Conselho de Classe só serviria para empurrar alunos incompetentes sem condições de avançar nos estudos com suas próprias "pernas"? Um professor, que dá aula em escolas estaduais há oito anos e não quis se identificar, confessou-me que sempre recebe as mesmas orientações.
— "Tem que dar nota para o aluno, tem que empurrar o aluno, porque se segurar, não vai adiantar nada. Alguns diretores disseram que a vida ensina" - disse-me desatinado.
Então eu pergunto: um pai bem intencionado não poderia assistir a um conselho de classe colaborativamente?
Por que a escola mascara tanto a vontade exagerada de promover o aluno, e finge que o elevado número de aprovação é espontâneo? Fui obrigado a facilitar demais para derrubar o índice de reprovação naquela classe, para zero por cento, afinal minha disciplina é filosofia: “não reprova”.
O animalzinho indefeso caiu na boca das feras, "quebraram meu galho". Entrei em férias mais cedo. Ironicamente confortante! ""Perigo e prazer dão no mesmo galho."
(Provérbio Escocês). A força do alunado é aprovada,derrubando o professor.Promissora didática dos que exploram vantagens!A fonte de felicidade de uns,a desgraça de outros.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 06/12/2009
Código do texto: T1963059
Código do texto: T1963059
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Comentários
Um comentário:
Professor esta escola você
~e ja sabe os alunos fazem o que quer porque o mais importante para muitos é a nota so no fim do ano que ele se interessar... valeu abraços
Thiago Alves
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