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MINHAS PÉROLAS

sábado, 8 de setembro de 2012

FAZER AMOR: TÃO POBRE AMOR! ("Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal." — Friedrich Nietzsche)


Crônica

FAZER AMOR: TÃO POBRE AMOR! ("Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal." — Friedrich Nietzsche)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A expressão "fazer amor" é um eufemismo que serve, ironicamente, de disfarce para a "prática do sexo" e se revela, sobretudo, um indicador da hipocrisia e da falsa moralidade social. Numa tentativa de polarização, ouvimos discursos feministas afirmando: "as mulheres fazem amor e os homens, sexo," buscando uma nobreza de intenção. Contudo, ao defenderem sua liberdade, alegando que "ninguém manda em seu próprio coração," elas expõem uma contradição: se é amor, por que se esconde? Por que a pressa em se banhar, em "sorrir fazendo de conta que nada aconteceu," tratando o ápice do desejo como um ato protocolar, quase um trabalho qualquer?

Essa distinção superficial, frequentemente evocada para enobrecer a intenção feminina em contraste com o mero impulso masculino, apenas reforça a dificuldade social em encarar a natureza complexa do desejo. O que evitamos nomear é que, por trás do eufemismo, residem ao menos três categorias de envolvimento: o amor-paixão, a força indomável que arrebata sem promessas; o amor-compromisso, a aliança socialmente aceita, regida por contratos de fidelidade; e o amor-transação, onde a troca de prazer se dá pelo poder ou interesse, esvaziado de vínculo. Quando o coração se confunde, a verdade é que, na maioria das vezes, praticamos o último, mas desesperadamente o rotulamos de primeiro para mascarar o vazio da liberdade sem afeto.

É por essa razão que, na qualidade de cliente da vida e do prazer, recuso o fardo do "amor-compromisso" se o dinheiro compra o prazer do poder – que, no fim, é tudo que a paixão momentânea pode oferecer. A prisão social, causada pela falta de autonomia financeira ou emocional, é o que desvirtua os sentimentos mais puros. Só há saúde psicológica na autonomia, livre da exigência de fidelidade perpétua. "Fazer amor" torna-se, então, a fantasia absurda do puritanismo, algo que os ricos adquirem pronto, com todos os seus atributos. Afinal, o amor (verdadeiro) só dura em liberdade; o resto é compromisso e obrigação imposta, um "tão pobre amor," como diagnosticou Raul Seixas em "A Maçã."

A maior perversidade sexual reside no esforço para manter a aparência de quem nunca vive o desejo em sua plenitude, mas é essa hipocrisia ensinada que, infelizmente, mantém a roda social em movimento. No fundo, todos somos levados pela motivação ancestral de "crescei e multiplicai." O prazer do fazer amor e do praticar sexo se confundem quando a única mira é o lucro — seja ele o lucro biológico do orgasmo e da multiplicação, ou o lucro emocional da posse. "Passei a ocupar meus dias pensando sobre o que, afinal, é isso que todo mundo enche a boca pra chamar de amor" (Martha Medeiros). --/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/

Como seu professor de Sociologia, preparei algumas questões discursivas simples baseadas na leitura crítica que acabamos de fazer. O objetivo é que vocês articulem as ideias do texto com seus próprios conhecimentos sobre a sociedade e as relações humanas.

1 - Hipocrisia e Linguagem Social: O texto afirma que a expressão "fazer amor" é um eufemismo que serve como "indicador da hipocrisia e da falsa moralidade social." Explique, com base nas ideias do texto, como o uso de eufemismos pode mascarar ou reforçar a hipocrisia nas relações sociais e na discussão sobre sexualidade.

2 - Categorias de Envolvimento Afetivo: O autor distingue três categorias de envolvimento: "amor-paixão," "amor-compromisso" e "amor-transação." Com suas próprias palavras, defina brevemente cada uma dessas categorias e explique qual delas, segundo o texto, é a mais praticada, apesar de ser rotulada com o nome da primeira.

3 - Materialismo e Relações: Analise a frase do autor: "recuso o fardo do 'amor-compromisso' se o dinheiro compra o prazer do poder." Qual é a crítica sociológica implícita nessa afirmação sobre a influência do poder (econômico ou social) nas relações afetivas e na busca por autonomia?

4 - Puritanismo e Aparência Social: O texto menciona que "Fazer amor" se torna a "fantasia absurda do puritanismo" e critica o esforço em "manter a aparência." De que maneira a moralidade puritana, ou a hipocrisia social dela decorrente, interfere na expressão autêntica do desejo e na sexualidade em uma sociedade?

5 - A Visão do Sexo como "Lucro": O autor conclui questionando se "fazer amor ou sexo termina sendo a mesma coisa quando a única mira é o lucro." Discorra sobre a ideia de que o prazer pode ser interpretado como um tipo de "lucro" — seja ele biológico ("crescei e multiplicai") ou emocional (a "posse momentânea").

Feliz é quem sente amor. No mais íntimo do ser.

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