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MINHAS PÉROLAS

sexta-feira, 18 de julho de 2025

A Semente da Desobediência (“A mais perigosa das doutrinas é aquela que deseduca sob o pretexto de libertar.” — G. K. Chesterton)

 


A Semente da Desobediência (“A mais perigosa das doutrinas é aquela que deseduca sob o pretexto de libertar.” — G. K. Chesterton)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Apresento-me: sou Claudeci F. de Andrade, licenciado em Magistério e Língua Portuguesa. Ao longo de 30 anos dedicados à educação, estudei o comportamento das escolas, das famílias e procurei compreender, em profundidade, os meus alunos. Não trago fórmulas mágicas, mas convido você, leitor, a prestar atenção ao que tenho a dizer.


A gente percebe que algo se rompeu quando o olhar de um filho já não nos vê como antes. Aquele brilho de admiração vai se apagando aos poucos, até ser substituído por uma expressão fria, quase desafiadora. No início, pensamos que se trata apenas de uma fase, uma turbulência passageira. Mas, com o tempo, percebemos: algo mudou — e talvez nunca mais volte a ser como antes.


Lembro claramente do dia em que minha filha, ainda pequena, me fitou com firmeza e corrigiu uma fala minha. Não com respeito, mas com a certeza arrogante de quem acredita estar do lado certo da história. Foi como se eu me tornasse, ali, um obstáculo entre ela e a "verdade" que lhe haviam ensinado. A partir daquele instante, algo me inquietou. E, ao investigar a origem daquela postura, descobri que não se tratava apenas de um caso isolado — era o reflexo de uma geração inteira.


Paulo Freire. Seu nome está em quase todo mural escolar, estampado em cartazes, reverenciado em cursos de formação docente, celebrado como o “patrono da educação brasileira”. Mas, por trás da imagem lírica que o envolve, seu legado deixou marcas profundas — e nem sempre virtuosas.


O primeiro desvio foi contra a própria noção de autoridade. Seu método, ao contrário do que muitos pensam, não tinha como essência a alfabetização, mas uma proposta de transformação social. O aluno, antes aprendiz, foi promovido a agente político. O “opressor” deixou de ser um conceito abstrato e ganhou formas concretas: o pai que exigia limites, o professor que cobrava disciplina, o patrão que oferecia trabalho. A disciplina passou a ser tratada como opressão. O erro, relativizado, virou “leitura alternativa da realidade”.


O segundo engano foi a substituição do conhecimento pelo ativismo. O conteúdo sólido, a memória, a ordem, a beleza do saber foram descartados em nome da militância. Entraram em cena cartilhas ideológicas, palavras de ordem, slogans prontos. A sala de aula se transformou em trincheira ideológica. Vi isso de perto nas universidades: por motivos ínfimos, surgem abaixo-assinados para afastar professores; acusações frágeis são encampadas com entusiasmo por alunos que se sentem legitimados pela pedagogia do confronto. O resultado está à vista: jovens que mal conseguem escrever um parágrafo com clareza, mas repetem discursos sobre “machismo estrutural” e “racismo sistêmico” com impressionante convicção.


E então vem a terceira e talvez mais silenciosa consequência: a desconfiança em relação à família. A pedagogia freiriana ensinou que o lar faz parte do problema. O espaço que antes era de afeto, orientação e construção moral passou a ser julgado e questionado. A escola se arrogou o papel de agente redentor, e os filhos, ensinados a resistir, passaram a confrontar os próprios pais, desacreditando tudo o que vem de casa. E nós, no meio disso, seguimos tentando amar, educar e proteger — mesmo quando somos tratados como inimigos.


Ainda assim, é preciso reconhecer que algumas propostas pedagógicas modernas, inclusive aquelas influenciadas por Freire, trouxeram avanços inegáveis, como a valorização da escuta ativa do aluno e a busca por uma educação mais participativa. Há contextos em que o estímulo ao pensamento crítico resultou em jovens mais conscientes e engajados. No entanto, quando esse impulso descola-se do conteúdo e da responsabilidade formativa, corre-se o risco de produzir discursos vazios, sem profundidade intelectual ou domínio linguístico. Não se trata de negar todas as contribuições, mas de refletir sobre os excessos e distorções que esvaziam o propósito educativo. Uma crítica construtiva precisa reconhecer o mérito onde há mérito, para então apontar, com ainda mais legitimidade, os desvios que tanto têm comprometido a autoridade dos pais, a dignidade dos professores e o próprio processo de aprendizagem.


O mais doloroso de tudo é constatar que, sob o verniz de tanta teoria libertadora, restou apenas um vazio. Filhos órfãos de pais vivos. Professores desacreditados. E um país que se orgulha de ter aprendido a ler, mas esqueceu de ensinar a compreender, sentir e respeitar.

Se esta crônica tocou em algo dentro de você, talvez ainda haja tempo de abrir os olhos. Antes que o último elo se quebre. Porque, uma vez rompido, ele nunca mais volta a ser como antes.


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Abaixo estão "5 questões discursivas e simples", elaboradas com base no texto fornecido, adequadas ao nível do "Ensino Médio", e alinhadas à disciplina de "Sociologia" — promovendo reflexão crítica e construção de argumentos com base no conteúdo:

✅1. Segundo o autor, como a visão dos filhos em relação aos pais mudou ao longo do tempo? O que isso pode revelar sobre transformações sociais e culturais recentes?

➡ Objetivo: levar o aluno a refletir sobre mudanças nas dinâmicas familiares e o papel da educação no comportamento dos jovens.

✅ 2. O texto menciona Paulo Freire como uma figura central na transformação da educação. Qual a principal crítica feita ao seu legado? Você concorda com essa crítica? Por quê?

➡ Objetivo: estimular a análise crítica de ideias pedagógicas e fomentar o debate sobre diferentes modelos de ensino.

✅ 3. A crônica afirma que o ativismo político passou a substituir o conteúdo nas escolas e universidades. Você acredita que é possível equilibrar engajamento social e formação intelectual? Explique.

➡ Objetivo: promover reflexão sobre o papel da escola na formação cidadã e no desenvolvimento do conhecimento.

✅ 4. O autor fala da perda da autoridade dos pais e professores. Em sua opinião, a autoridade é sempre algo negativo? Como podemos diferenciar autoridade de autoritarismo?

➡ Objetivo: estimular a compreensão de conceitos sociológicos fundamentais, como autoridade, poder e disciplina.

✅ 5. No final do texto, o autor propõe uma crítica mais equilibrada: reconhecer méritos e apontar excessos. Por que esse tipo de abordagem pode ser mais eficaz em debates sociais e educacionais?

➡ Objetivo: incentivar a prática da argumentação construtiva e do diálogo em meio a diferentes visões de mundo.

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