"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 2 de janeiro de 2010

Salário Gordo, Professor Magro (Demagogos prometem o 14º salário para o trabalhador da educação, mas qual professor não prever o sabor da sobrecarga de trabalho! )


Crônica

SALÁRIO GORDO, PROFESSOR MAGRO (Décimo quarto salário para Professor ?)

sábado, 2 de janeiro de 2010
Claudeci Ferreira de Andrade

          "O piso salarial do magistério foi reajustado em 13,01%  em janeiro de 2015, conforme determina o artigo 5º da Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008. O valor do piso para  2015 é de R$ 1.917,78."  http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=21042&Itemid=382 (acessado em 08/08/2015).

        Esta notícia me assustou muito, o que deveria ser mais um motivo de gratidão pode ser pesaroso, porque toda vez que dão um aumento salarial para a categoria, aumentam-nos o trabalho, os encargos de previdência e plano de saúde e os dias letivos (209). Se pedissem para fazermos, como hora extra, qualquer coisa significativa que de fato melhorasse a educação pública brasileira, vá lá! Mas, não me tragam mais portfólio para fazer, caderninho de planejamento, diário de classe enfeitado e mais relatórios de aluno, fichas cadastrais, atas das reuniões e das festividades, sábados considerados letivos, futilidades mil para embeber meu precioso tempo de estudo. Sei lá mais o que poderão inventar como se já não bastasse que: “A jornada de trabalho do professor não se restringe ao âmbito da sala de aula, ela extrapola o sistema escolar e se estende para o reduto doméstico; muitas vezes, invadindo o silêncio das madrugadas e também, ocupando o tempo dos finais de semana, reservado para o repouso.” O entre aspas não é nenhuma novidade, pelo contrário é a “via crucis” do professor, mas não são palavras de qualquer um, servem para dar credibilidade a esta crônica, são palavras de Ricardo Jorge Silveira Gomes. (Professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Especialista em Metodologia do Ensino (UFPE) e Mestre em Formação de Educadores pela Universidade Independente de Lisboa).
        Então,  aumentam-nos o salário, aumentam-nos o estresse e aumentam nossa fama de que professor não lê, é lógico, em que circunstâncias arranjaremos tempo para ler? Na hora de dormir, para reduzir mais ainda nossas  5 horas choradas de sono por noite?  Outros mais demagogos prometem o 14º salário para o trabalhador da educação, mas qual professor não prever o  sabor da sobrecarga de trabalho! Deviam, sim, fazer uma mágica para aumentar nossa qualidade de vida.
        O labirinto é desconhecido. Desculpem-me se lhes faço parar para perguntar, no papel de colega, se conseguem ver alguma saída! E não me digam o que disse o outro que sabia a saída, deu-me as coordenadas, mas depois de seguir suas instruções, eu descubro que ainda estou perdido.
        Nesta educação, a multidão de conselheiro é grande e o caminho pela vida continua incerto.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 02/01/2010
Código do texto: T2006907


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
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domingo, 27 de dezembro de 2009

Professor, Meio do Sistema (“A inveja é assim tão magra e pálida porque morde e não come.”)




CRÔNICA

Professor, Meio do Sistema (“A inveja é assim tão magra e pálida porque morde e não come.”)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Sentado na varanda de casa, aproveitando meu breve recesso, ouço uma reportagem na Rádio CBN sobre a nova lei contra crimes na internet. O entrevistado, indignado, faz uma comparação que me intriga: "Imagine penalizar o fabricante de um carro porque um ladrão o usou para roubar!" Esta metáfora ecoa em minha mente, levando-me a refletir sobre meu próprio "mundinho educacional".

Como um professor pode ser responsabilizado pelo fracasso de alunos descomprometidos? É como se eu fosse obrigado a reescrever a história por não ter conseguido que todos os personagens tivessem um final feliz. Lembro-me do ano passado, quando decidi ser mais rigoroso, deixando vinte por cento dos alunos em recuperação. O resultado? Fui chamado de "burro" e "sadomasoquista" pelos colegas. Ironicamente, nos anos anteriores, quando aprovava todos diretamente, era taxado de "frouxo". Parece que não há como agradar a todos neste jogo educacional.

As palavras de Ventania, de quem sou fã, ecoam em minha mente: "Estou aqui sentado na beira da estrada. Fazendo uma fogueirinha. Enrolando uma palhinha. Escrevendo essas linhas. Vendo o caminhão passar." Sinto-me como ele, observando o mundo passar, enquanto lido com meus dilemas internos.

A recuperação paralela se tornou mais um teatro no grande espetáculo da educação. Como recuperar em três dias o que não se aprendeu em um ano? É um "faz-de-conta" institucionalizado, onde notas são maquiadas e conteúdos são esquecidos. Sou forçado a deixar alguns "gatos pingados" em recuperação para silenciar os colegas invejosos que não suportam me ver em recesso antecipado.

A inveja, como diria Francisco Quevedo, é "tão magra e pálida porque morde e não come." Eles observam meu recesso antecipado com olhos famintos, sem perceber o peso que carrego. Sinto-me o elemento mais ordinário da natureza, forçado a pagar uma dívida que não contraí.

Reflito sobre o sistema que nos aprisiona - alunos, professores e sociedade - em um ciclo vicioso de expectativas irreais e resultados fabricados. Talvez seja hora de repensar não apenas nossas práticas, mas todo o conceito de educação e avaliação.

Como diria Ventania, gostaria que meus "chinelos fossem de pneu", para aguentar a caminhada árdua que se apresenta. Mas, neste ritmo, temo que minha jornada possa ser mais curta do que imaginava.

Enquanto o sol se põe no horizonte, concluo que ser professor é mais do que ensinar conteúdos. É ser resiliente, é questionar, é buscar um equilíbrio impossível entre o ideal e o real. A verdadeira nobreza do magistério reside na capacidade de resistir e persistir, mesmo quando tudo parece conspirar contra.

E assim, entre críticas injustas e dilemas éticos, sigo minha jornada nessa montanha-russa emocional que é a educação. Acredito que ainda podemos fazer a diferença, um aluno de cada vez, mesmo que o sistema pareça trabalhar contra nós. Afinal, é nessa luta diária que encontramos nosso propósito e nossa força como educadores.

Questões Discursivas:

1. O texto apresenta uma crítica contundente ao sistema educacional, expondo as contradições e desafios enfrentados pelos professores no dia a dia. Através da metáfora do "fabricante de carros" e da reflexão sobre a recuperação paralela, o autor questiona a responsabilidade atribuída aos educadores pelo fracasso escolar. De que forma o autor critica a cultura de culpabilização do professor e defende uma visão mais crítica do papel da educação?

2. O autor se compara ao personagem "Ventania" de uma música e utiliza a metáfora dos "chinelos de pneu" para expressar sua resiliência e persistência na profissão docente. Como essas referências contribuem para a construção de uma imagem complexa e multifacetada do professor, que vai além da figura do mero transmissor de conhecimento?

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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Referenciais Arruinados (Disse a Mídia: A Escola/Família/Igreja atualmente é um pedaço inflamado da sociedade)




CRÔNICA


Referenciais Arruinados (Disse a Mídia: A Escola/Família/Igreja atualmente é um pedaço inflamado da sociedade)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           
As evidências de que a escola deixou de ser um ambiente plenamente seguro tornaram-se inquietantes. Casos de agressões, abusos, roubos e outras formas de violência mostram que seus muros já não conseguem conter a turbulência social que os atravessa. A frequência desses episódios, cada vez maior, transforma a escola — antes vista como símbolo de proteção e formação ética — em um espaço vulnerável, que exige atenção constante de pais e responsáveis.

Tradicionalmente, acreditava-se que o lar e a escola compunham os dois refúgios essenciais de qualquer criança. Contudo, essa lógica tem se fragilizado. No ambiente doméstico, muitas vezes não há adultos disponíveis para supervisionar, e figuras supostamente confiáveis — como vizinhos, padrastos ou conhecidos — acabam protagonizando episódios trágicos. Situações extremas de violência intrafamiliar revelam a precariedade de um espaço que, em teoria, deveria garantir acolhimento e cuidado.

A gravidade aumenta quando, além dos riscos presentes em casa, surgem ameaças também no trajeto ou nas dependências escolares. Famílias se veem obrigadas a recorrer a delegacias, institutos médico-legais e órgãos de proteção para buscar vestígios de agressões sofridas por seus filhos. Nesse contexto, cresce o sentimento de impotência, acompanhado da dolorosa impressão de ter falhado na missão de proteger aqueles que mais amam.

A mídia, por sua vez, exerce um papel ambíguo. Ao divulgar repetidamente tragédias envolvendo a escola, a família ou instituições religiosas, molda percepções sociais e alimenta desconfianças generalizadas. Embora cumpra a função de denunciar problemas reais, muitas vezes se vale de um sensacionalismo que obscurece nuances, amplifica temores e contribui para o descrédito de estruturas que, apesar de enfraquecidas, ainda constituem pilares fundamentais da convivência humana.

Diante desse cenário de incertezas, torna-se inevitável refletir sobre o futuro da sociedade. Crises, abusos e sucessivas catástrofes sociais parecem anunciar o colapso de valores, mas também despertam o desejo de transformação. Talvez apenas uma renovação social profunda — capaz de restaurar a confiança nas instituições e reconstruir vínculos comunitários — consiga silenciar o discurso do medo e abrir caminho para uma convivência mais justa e segura.

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Assumindo meu papel de professor de Sociologia, elaborei 5 questões discursivas que exploram os principais conceitos do texto. O objetivo dessas perguntas é fazer com que os alunos identifiquem os fenômenos sociais descritos (violência institucional, papel da mídia, crise de confiança) e desenvolvam uma interpretação crítica baseada na leitura.

Questão 1 O texto inicia afirmando que a escola deixou de ser um "ambiente plenamente seguro". Segundo o primeiro parágrafo, o que mudou na relação entre os muros da escola e a sociedade externa, transformando esse espaço antes visto como símbolo de proteção?

Questão 2 Tradicionalmente, a sociologia e o senso comum viam o lar como um refúgio. De acordo com o segundo parágrafo, quais fatores contribuíram para a "fragilização" dessa lógica, tornando o ambiente doméstico, muitas vezes, um local de risco?

Questão 3 O texto descreve o impacto emocional e prático sobre as famílias diante da violência (tanto escolar quanto doméstica). Que sentimento predomina entre os pais segundo o autor e a quais tipos de instituições eles se veem obrigados a recorrer nesse cenário?

Questão 4 A mídia é descrita no texto como tendo um "papel ambíguo" (ou seja, que tem dois lados). Explique, com base na leitura, quais são os dois efeitos contraditórios que a cobertura midiática de tragédias provoca na sociedade.

Questão 5 No parágrafo de conclusão, o autor sugere que a crise atual pode despertar um desejo de transformação. Segundo o texto, o que é necessário acontecer socialmente para "silenciar o discurso do medo" e garantir uma convivência mais justa?


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A UTILIDADE DA IGNORÂNCIA: A Inquietação da Lucidez ("Nunca encontrei uma pessoa tão ignorante que não pudesse ter aprendido algo com a sua ignorância." — Galileu Galilei)



Crônica


A UTILIDADE DA IGNORÂNCIA: A Inquietação da Lucidez ("Nunca encontrei uma pessoa tão ignorante que não pudesse ter aprendido algo com a sua ignorância." — Galileu Galilei)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A ignorância, por mais paradoxal que pareça, pode ser uma fonte de felicidade imediata. Quem pouco sabe vive surpreendendo-se a cada instante, reencontrando o novo no que já viu inúmeras vezes. Nesse sentido, reconheço que a ignorância também me beneficia: ao admitir que não sou detentor de todo o conhecimento, permaneço consciente da minha própria necessidade de aprender. Se Sócrates afirmava nada saber, eu vou além: não sei sequer se realmente sei alguma coisa.

Essa limitação humana revela que tanto o excesso de sabedoria quanto o excesso de justiça podem se converter em formas de desequilíbrio. O conhecimento absoluto seria tão nocivo quanto a completa ignorância, pois ambos impedem a percepção clara da própria condição. A consciência de que há sempre mais a compreender impede a soberba intelectual e mantém viva a inquietação que move a busca pelo sentido e pelo saber.

Mesmo diante desse cenário, há quem associe o mal — como mencionado em Isaías 45:7 — não apenas à dor, mas também a uma espécie de estímulo à felicidade. Sócrates defendia que o bem está no saber e o mal na ignorância; contudo, o ignorante vive anestesiado no presente, tropeçando sem perceber. Já o sábio, atento às ameaças que atravessam o tempo, carrega o peso de enxergar o que muitos preferem não ver.

Entre a paz ilusória da inconsciência e o desconforto de saber que quase nada se sabe, escolho a lucidez inquieta. Prefiro a aflição das incertezas, mesmo que ela me obrigue a escolher com cuidado onde piso, a me deixar conduzir pela falsa serenidade da escuridão total. Posso desconhecer o destino final para onde sigo, mas mantenho a clareza do terreno que sustenta meus passos — e é essa consciência que me impede de caminhar às cegas.


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Com base na minha profunda reflexão sobre a ignorância, o conhecimento e a lucidez, preparei 5 questões discursivas simples. Elas abordam a perspectiva filosófica da busca pelo saber, o paradoxo da ignorância e a função da dúvida na vida social e individual.

1 - O Paradoxo da Ignorância e Felicidade: O texto afirma que a ignorância pode ser uma fonte de "felicidade imediata" e surpreendente. Explique o que o autor quer dizer com o paradoxo da ignorância (a ignorância como fonte de satisfação). Em termos sociológicos, como essa "felicidade imediata" pode se relacionar com a falta de consciência crítica sobre a realidade social?

2 - O Saber como Desequilíbrio (Soberba Intelectual): O texto argumenta que tanto a ignorância total quanto o "excesso de sabedoria" podem levar ao desequilíbrio e impedir a "percepção clara da própria condição". Discuta como a consciência da limitação humana ("não sou detentor de todo o conhecimento") atua como um freio contra a soberba intelectual. Qual o papel da dúvida e da inquietação na manutenção da busca pelo conhecimento, segundo o texto?

3 - Sócrates e o Peso do Sábio: O texto contrapõe o "ignorante" (anestesiado no presente) ao "sábio" (que carrega o peso de enxergar o que muitos preferem não ver), citando a máxima socrática. Compare as consequências da ignorância e da sabedoria para o indivíduo, de acordo com o texto. Por que o conhecimento, embora valorizado por Sócrates, pode trazer um "peso" ou "desconforto" para o sábio na interação com o mundo?

4 - Escolha pela Lucidez Inquieta: O autor opta pela "lucidez inquieta" em detrimento da "paz ilusória da inconsciência". Defina a lucidez inquieta conforme descrita no texto. Por que o autor prefere a "aflição das incertezas" à "falsa serenidade produzida pela escuridão total", e como essa escolha se relaciona com a autonomia do pensamento?

5 - A Consciência e o "Caminhar às Cegas": O texto encerra com a ideia de que manter a "clareza do terreno que sustenta meus passos" é o que impede o autor de "caminhar às cegas". Interprete o significado de "caminhar às cegas" no contexto da busca pelo sentido da vida ou do conhecimento. Como a consciência da própria limitação (a ignorância benéfica) garante que a jornada do indivíduo não seja completamente desorientada?

domingo, 13 de dezembro de 2009

A Última Lição da Professora Loudinha (...Recebe-se como salário a morte pelo mal que se faz, e paga-se com a vida o bem que se vive)





CRÔNICA

A Última Lição da Professora Loudinha (...Recebe-se como salário a morte pelo mal que se faz, e paga-se com a vida o bem que se vive)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

De que valeram tantas capacitações, "cursos e mais cursos", a dedicação integral ao trabalho de sessenta horas-aula, todos os salários guardados e os bons propósitos para o futuro? Ela acreditava estar conquistando mais vida, mas foi a morte que, silenciosa, a conquistou repentinamente.

Ah, a ironia brutal de trocar a substância da vida por sua acumulação vazia! De que adiantaram os diplomas, se o tempo — o recurso mais irrecuperável — foi alienado em favor de um futuro que jamais chegou? A dedicação, que deveria ser o pedestal das conquistas, transformou-se em altar de sacrifício, onde os bons propósitos se dissolveram na exaustão. A morte, disfarçada de rotina e dever, foi sendo conquistada a cada manhã de estresse e a cada noite de correria. A vida, que se acreditava prolongar por meio de bônus e planos ambiciosos, foi ceifada pela pressa, deixando apenas a pergunta cortante: por que tanta urgência em construir algo tão sólido, se o próprio alicerce — o presente — foi negligenciado? Talvez tenha sido envenenada por aqueles que viviam às suas custas, movidos pela ganância ou pelo medo de perder a "mamata".

O mundo desmoronava ao seu redor, mas ela continuava assistindo aos "pobres", sempre ocupada demais com os necessitados. Embora não perdesse uma chance de lucrar mais, sequer movimentava a própria conta bancária — era sua irmã quem o fazia. Esse detalhe, aparentemente banal, chamava a atenção de todos para o essencial. E, afinal, em que as obras de caridade a ajudaram? Ah, os caridosos também morrem e deixam apenas a boa imagem — um espelho para nossa reflexão. Mas, se todos pensassem assim, quem estenderia a mão ao próximo?

Ela quis assegurar o futuro sem compreender o sentido do presente. Sua despretensão de si mesma revelou uma falta de consagração à própria vida. Quem sabe, se tivesse vivido com mais gratidão, a vida lhe agradecesse também. Deixou-nos apenas saudades, pois o prolongamento e a intensidade da vida ainda eram possíveis. Foi cedo demais.

Quando se deixou enfeitiçar pelo “romantismo” de ser cada dia melhor, já vivia em profunda desarmonia com a realidade que a cercava. No entanto, a morte não poderia ser o resultado de um simples sonho. Penso agora na Professora "Lourdinha" — e me desculpem se o lado emocional fala mais alto. Qual de nós, alunos, nunca a desrespeitou, e agora a homenageamos? Só não sabemos se celebramos a sua vida ou a sua morte. Existirá mesmo uma lei infalível de causa e efeito? Será que a colega de trabalho que a chamou de salafrária lamenta, agora, ter tido parte em sua despedida?

O livro de Ageu, na Bíblia, nos exorta a considerar o passado e a não sermos irracionais ao analisar o que realmente acontece. Quando fazemos do presente o centro da vida, conquistamos um futuro naturalmente coroado com uma morte serena. Ela, minha doce professora, que tanto me ensinou, deixou-me esta última e mais profunda lição: "Recebe-se como salário a morte pelo mal que se faz, e paga-se com a vida o bem que se vive."

Não creio em ressurreição, mas vivo como se houvesse, pois o que vier será lucro. Que bom seria, se houvesse ressurreição, para que eu pudesse rever minha "Lourdinha"!


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Este texto é um excelente ponto de partida para refletirmos sobre as instituições sociais, a ética do trabalho na sociedade capitalista e o sentido da existência. O autor (ou narrador) usa a morte da Professora "Lourdinha" para fazer uma crítica poderosa aos nossos valores. Vamos usar as ideias apresentadas para formular questões discursivas simples. Lembrem-se de basear suas respostas nos conceitos sociológicos que estudamos, como alienação, valor-trabalho e instituições.


1. Alienação e o Sentido do Tempo

O texto questiona a dedicação de "sessenta horas-aula" e a acumulação de bens, afirmando que o tempo — "o recurso mais irrecuperável" — foi "alienado em favor de um futuro que jamais chegou". Com base nas ideias de alienação do trabalho, explique como a Professora Lourdinha, ao priorizar o futuro e o acúmulo, negligenciou o presente e qual foi a "ironia brutal" desse sacrifício.

2. Ética do Trabalho e o Sacrifício Profissional

O autor descreve a dedicação ao trabalho como um "altar de sacrifício" e a morte como algo "disfarçado de rotina e dever". Discuta como a ética protestante do trabalho (conceito weberiano) pode, em sua versão moderna, levar ao excesso de trabalho e ao esgotamento, transformando a dedicação em uma forma de autodestruição, em vez de realização.

3. A Instituição da Caridade e a Crítica ao Altruísmo

Apesar de ser uma pessoa caridosa ("ocupada demais com os necessitados"), o autor questiona: "E, afinal, em que as obras de caridade a ajudaram?" Analise sociologicamente a crítica implícita do narrador sobre o papel da caridade. Em que medida a caridade pode ser vista como uma tentativa individual de resolver problemas estruturais, enquanto o indivíduo negligencia sua própria vida?

4. Moralidade, Julgamento Social e Hipocrisia

O texto aborda o desrespeito dos alunos e o ataque da colega de trabalho ("salafrária"), em contraste com a homenagem póstuma. Discuta a hipocrisia e o julgamento moral presente nas relações sociais, utilizando o exemplo da Professora Lourdinha. Por que a sociedade frequentemente só reconhece o valor de um indivíduo após sua morte, esquecendo-se dos conflitos e desrespeitos ocorridos em vida?

5. Lei de Causa e Efeito versus Determinismo Social

O autor reflete sobre a "lei infalível de causa e efeito" e cita a lição: "paga-se com a vida o bem que se vive". Embora o texto utilize uma linguagem moral/religiosa, interprete esta lição sob uma lente sociológica. De que forma o resultado da vida de Lourdinha (morte prematura por estresse, apesar do bem que fazia) pode ser lido como uma consequência social da pressão institucional e não apenas como um destino individual?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

UM CORDEL DE LOURDINHA (Para a perpétua memória)




POEMA

UM CORDEL DE LOURDINHA (Para a perpétua memória)


Adalgisa Maria Viana

Maria de Lourdes Viana
24 de setembro nasceu,
Só nos deu alegria
Até que faleceu.

Ela era muito bela
De um coração exemplar,
Ajudava todo mundo
Sem nada em troca cobrar.

Os anos foram se passando
Para Verdelândia mudou,
Foi naquele lugar
Que nosso pai nos deixou.

Ela ainda bem novinha
Dos irmãos ajudou cuidar,
Sempre de cabeça erguida
Não gostava de reclamar.

Logo em seguida
Ela começou a trabalhar,
Com o pouco dinheiro que tinha
O seu lote quis comprar.

Dizem todos que a conheceram
Que por aonde ela passava,
Era amor e alegria
Que Maria de Lourdes deixava.

Quando alguém a maltratava
E eu ia lhe falar,
Ela com um sorriso lindo
Colocava-me a pensar

Ela sorrindo dizia
Vamos aprender perdoar,
Às vezes, para esta pessoa
Não teve ninguém para ajudar.

Gleides e ela diziam nossos pais
Juntos de Deus eles estão,
Por isso estamos bem
Pois eles seguram em nossas mãos.

Quando alguém tinha pena dela
Também não gostava,
Pois o que era para ser
Ela mesma suportava.

Dizia que Deus
Dá o sofrimento para passar,
Somente aquele tanto
Que podemos suportar

Um dia ela me falou
Com um sorriso lindinho,
Se não souber perdoar
De que vale esse mundinho.

Também ela me falava
Que tudo tem solução,
Que o amor dela era eterno
Para familiares, amigos e irmãos.


Quando mudei para Goiânia
Na minha casa sempre vinha passear,
Só que ela estava triste
E eu não conseguia ajudar.

Depois de algum tempo
Irmã Mires ela conheceu,
Foi quem ajudou imensamente
E o problema desapareceu.

Com a  ajuda da Mires
Para Barro Alto se mudou,
Na casa de boa gente
No convento a colocou.

Um dia lá em Curvelo
Ela de ser freira se cansou,
Bateu em retira
E para Goiânia voltou.

Depois se mudou para Senador Canedo
Para de dois sobrinhos cuidar,
Pois eles estavam crescidos
E precisavam trabalhar.

Ela não media esforço
Para família ajudar,
Mesmo se fosse impossível
Ajudava sem cessar

Ela gostava muito
De andar e trabalhar,
Sempre arrumava um tempinho
Para da saúde cuidar.

Comida era saudável
Tinha medo de adoecer,
Por isso ela classificava
O que devia comer.

Era tão responsável
Que nem namorado arrumou,
Só começou namorar
Quando o Claudeci encontrou.

Que Claudeci era um amor
Para mim ela dizia,
Qual era o destino deles
Somente a Deus pertencia.

Quando ela estava com ele
Sentia-se protegida,
Dizia que ele era o anjo
Que Deus colocou em sua vida.

Um dia com uma dorzinha
Lá no Canedo internou,
Só não sabia que aquele hospital
O seu triste fim traçou.

Ela ficou internada
Até naquele dia,
E sentiu que se não fugisse
No matadouro morria.

Ela ligou para Gleides
E disse que tinha fugido,
Porque se ficasse lá
Em breve teria morrido.

Então ela fugiu
E uma ambulância a procurou,
Só que ela escondeu
E para lá não mais voltou.

Correu para o São Salvador
Onde ela foi bem tratada,
Só que do hospital matador
Ela saiu infectada.

Ela pagou com a vida
Para outras vidas salvar,
Vamos ver que providência
A justiça vai tomar.

Eu deixo aqui meu recado
Não sei se vão entender,
Se eu maltratasse a Maria de Lourdes
No velório eu não ia aparecer.

Aqui deixo meu abraço
Para minha irmãzinha querida,
Que partiu desse mundo
Despedindo desta vida.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 10/12/2009
Código do texto: T1971507


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domingo, 6 de dezembro de 2009

ABORDAGEM




FRASE

ABORDAGEM

O fraco tem força na multidão, o dissimulado na solidão
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 06/12/2009
Código do texto: T1963085

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