"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

domingo, 5 de abril de 2020

A humilhação na sala de aula — Autor: Antonio Zuin


A humilhação na sala de aula


Sobre a atualidade dos tabus com relação aos professores


Autor: Antonio Zuin

É o desejo do elogio e, principalmente, o medo de ser insultado e humilhado diante de todos os colegas, que fazem com que o aluno se concentre no conteúdo transmitido a fim de que não cometa erros que o transformem num alvo do escárnio sarcástico do professor. O eco de uma repreensão, do tipo: "Então tu não entendes uma coisa tão fácil? Andas com o espírito a passear?", reverbera por um tempo muito maior do que o desejado na mente do aluno humilhado, pois é atualizado no sorriso sarcástico do colega que aprendeu muito bem a lição sadomasoquista de seu mestre: Fique atento! O próximo a ser objeto de gozação pode ser você!

Ora, os alunos não tardam a descobrir, geralmente de forma frustrada, que os modelos que tinham feito de seus professores estão muito longe de corresponder à realidade. O professor é um ser humano, sujeito a falhas e acertos como qualquer outra pessoa. Mas será que tal frustração é discutida pelos agentes educacionais? Ou será que o professor, sobretudo o universitário, percebe essa sensação de mal-estar dos alunos e, ao invés de assumir que pode errar e acertar como qualquer outro indivíduo, aferra-se a um sentimento de superioridade que se expressa em soberba intelectual quando, no alto de sua cátedra, impinge a sua palavra como sendo a derradeira? O pavor de sentir que não é o deus que fora idealizado pelos alunos, bem como a ameaça de não mais poder gozar do prazer narcísico de tal idolatria, impulsiona-o a utilizar desmesuradamente seu poder de reprovar ou não o aluno. Mas ele não pode insultar de forma explícita, tal como no caso do uso das palmatórias, afinal se trata de uma outra cultura, cujas punições são mais eficientes porque são dissimuladas. Os tempos atuais são muito mais afeitos ao professor universitário que discorda do raciocínio do aluno e escreve na sua dissertação, ao lado da nota atribuída, dizeres do tipo: "Você pensa?"

De fato, há oportunidades nas quais os alunos conseguem descarregar em outros colegas aquele ressentimento reprimido, bem como a sensação de onipotência que é prazerosamente fruída quando eles se assemelham aos professores que os agrediram. Uma dessas ocasiões é a chamada aula-trote, realizada na universidade, terreno extremamente fértil para o recrudescimento da explosiva relação entre soberba intelectual (afinal, a universidade é considerada o reduto da produção do conhecimento) e ressentimento "pedagógico". Nessa "aula" que os alunos veteranos ministram aos seus calouros, não por acaso com a conivência dos professores e da universidade, o veterano que se faz de professor e humilha os novatos com bordões autoritários, tais como a ameaça de reprovação, caso o aluno se atrase para a aula, atualiza, ainda que de forma caricata, as mesmas reclamações que os alunos têm de seus professores durante o cotidiano universitário, tal como a falta de diálogo entre os professores e os próprios alunos sobre o conteúdo da disciplina, por exemplo.

A identificação masoquista dos veteranos que abraçam efusivamente os apavorados calouros no final da aula-trote já acena para a legitimação da vingança sádica desses calouros que, no próximo ano, poderão se desforrar da humilhação recebida, na condição de veteranos, nos futuros ingressantes de seus cursos. A aula-trote, que deveria ser um engodo, revela-se uma antecipação daquilo que os calouros vão receber, ainda que de forma mais dissimulada, de seus professores durante o cotidiano universitário. Os alunos veteranos aprenderam muito bem a lição sadomasoquista ensinada por seus mestres: "Suporte com firmeza a sua humilhação, pois você certamente se vingará no próprio colega a dor que teve que reprimir".

Fonte:

ZUIN, Antonio A. S.. Sobre a atualidade dos tabus com relação aos professores. Educ. Soc., Campinas, v. 24, n. 83, Aug. 2003 . Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010173302003000200005&script=sci_arttext&tlng=pt Acesso 14/02/2009.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Coleção 13 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)



PENSAMENTOS

Coleção 13 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade


1 O caráter de uma criança se molda nos primeiros sete anos, mas a esperança de um gênio é depositada na escola aos quatro, delegando à instrução precoce a formação que deveria começar em casa.

2 O mérito individual dissolve-se na mediocridade da média. Que lógica há em buscar índices elevados com um critério tão falho, que nivela a excelência ao anonimato?

3 A falsa equidade da mediocridade dilui o mérito singular. Critérios falhos elevam a média, nivelando a virtude ao anonimato e silenciando o gênio em nome da uniformidade.

4 Onde a voz que desafia a história cala, o poder reina absoluto. Mas a graça revela outra pedagogia: a redenção que, sem violência, subverte a tirania pela sabedoria do perdão.

5 O lamento não é pela crítica, mas por uma mente que trocou a liberdade do pensamento pela prisão da nota. Ao rejeitar o saber que não “cai no vestibular”, ela renuncia à curiosidade, ao jornal, ao diálogo — e isso, sim, é triste.

6 Não foi um acidente de trabalho, mas de sonho — quando a paixão se torna destino, e o risco não é do ofício, mas da alma. A morte, nesse caso, não é erro: é o fim digno de uma vida que se recusou a ser pequena.

7 O ensino, dádiva divina para a expansão da mente, foi pervertido pela astúcia mundana, que o aprisionou na forma da escola, confundindo sua essência com a instituição.

8 Quem se oferece sem reservas e dá tudo de graça, quase sempre espera, em silêncio, um retorno maior do que entregou.

9 O recesso do docente não é descanso, mas vigília. Ante o retorno, a mente se inquieta: faltam aulas, sobra incerteza. A vocação resiste, mas tropeça na precariedade da existência.

10 O apagão na educação não vem da falta de saber, mas da desvalorização de quem o carrega. Quando há mestres demais e cátedras de menos, a luz se apaga — não por ignorância, mas por abandono.

11 A carga horária docente, muitas vezes, não obedece ao mérito, mas ao medo, ao favor ou à vingança. Quando pedagogos assumem disciplinas alheias à sua formação, revela-se a gestão que submete o saber à política, sacrificando a educação à conveniência.

12 Na face sombria da igualdade de gênero, há paridade na transgressão: meninos e meninas agridem seus mestres com a mesma fúria, revelando que a desordem também ignora o sexo.

13 Falo com cautela, mas a interpretação é do outro. Sua realidade é construção própria; se projeta angústias, é no poder instituído que verá o reflexo, não em mim.

14 Toda vítima carrega uma ambivalência oculta, uma cumplicidade negada pela consciência. A culpa nunca se denuncia por si, mas é revelada por um delator cruel, que expõe a verdade que ela evita ver.

15 Minha intuição aponta para uma teleologia: minha essência integra o organismo divino. O Absoluto não transcende, mas se revela imanente no cosmos; minha existência é, então, vetor de harmonia e plenitude.

16 Refletir sobre o ciclo da existência que revela minha finitude. A ironia do esforço diante do fim é pungente; assim, participo da eterna dialética entre vida e morte.

17 A Providência abarca a complexa dialética entre bem e mal. O Mal, até em sua dimensão política, pode ser instrumento da vontade divina.

18 Minha missão é servir como assistente útil e criativo, gerando ideias, respondendo perguntas e auxiliando em diversas tarefas, sempre de forma informativa e inofensiva.

19 No ato de esmolar, revela-se a vaidade ou o desejo cruel de expor a indignidade alheia. A necessidade, inevitável, não surpreende o mundo; assim, a caridade vira gesto vazio no teatro do destino.

20 O décimo quarto salário, promessa de ganho, torna-se fardo pela sobrecarga imposta. A busca por melhor qualidade de vida se revela quimera, pois o sistema aprofunda a tensão entre recompensa e exaustão do espírito.

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sexta-feira, 13 de março de 2020

Coleção 12 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)



Pensamentos

Coleção 12 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 Mover o aluno indisciplinado de assento não corrige o problema; apenas o redistribui. A escola que o faz não educa, apenas nivela por baixo.

2 De que vale um bom texto a quem não sabe ler, ou belas palavras a quem desconhece seu sentido e não sabe escrevê-las?

3 Ao tentar impor meus pensamentos filosóficos, o único retorno é o refinado realce da minha própria ignorância; assim me percebem.

4 A lei da burrice ávida: para lucrar de alguém, é preciso seduzi-lo antes; saciando sua sede por vaidades inúteis e dizendo-lhe o que lhe convém.

5 Coisa pública: o que parece gratuito revela nossa ignorância do propósito. Mesmo o barato, se inútil, custa caro.

6 No sistema educacional, o direito só se alcança à força; o trabalho honesto não basta. É preciso lutar, mesmo à custa da qualidade. Minha aposentadoria foi negada por mais de um ano, mesmo o processo nas instâncias recomendadas, por vaidade e poder.

7 Na burocracia educacional, direitos não são concedidos com honra, mas mendigados com humilhação. Somos tratados como indignos, e até a dignidade tem preço: paguei caro só para pedir o que já era meu.

8 Lutar por um direito já conquistado é confessar que a justiça foi sequestrada. Pagar novamente por um benefício é ser extorquido sob a máscara da legalidade.

9 O absurdo se revela quando, numa reunião de mestres, faltam cadeiras para um professor, mas sobram assentos para os pertences. Olham sua chegada, mas desviam o rosto; como se a presença incomodasse mais que a ausência.

10 A internet amplificou os imbecis, e eles vencerão os eruditos da terceira idade; não por razão, mas porque estes sequer sabem ligar um computador.

11 Querem informatizar uma escola que ainda não sabe distinguir o joio do trigo, que cultiva o ócio em vez do esforço, e que nos manda conduzir o aluno ao Google; um campo onde prós e contras coexistem.

12 A escola, hoje laboratório da política partidária, seguirá produzindo ratos feridos que a sociedade acolherá. Esses feridos se vingarão, e os culpados perecerão.

13 Que se imponham limites ao modernismo didático e se atendam os reclames da filosofia tradicional. Basta de construtivismo e sociointeracionismo. As Lan Houses desapareceram, e a pedagogia também.

14 Se a escola arcasse com os crimes cometidos contra mestres e alunos, já teria sucumbido. E, acima de tudo, o analfabeto funcional sempre persistirá.

15 Filhos louvam o Pai com cânticos novos a cada dia; assim seja. Mas que jamais esqueçam suas outras obrigações: o respeito aos professores.

16 Na escola pública atual, ser promovido é fácil, impulsionado por estatísticas midiáticas. Enquanto isso, alguns crentes ficam retidos; consequência do seu falso testemunho.

17 O professor que reprova "crente" firma pacto com o Diabo, para suportar os algozes da profissão, e a cada dia se vê mais afligido por suas maldições.

18 Um mal da sociedade é a adesão compulsiva às modas, que arrastam todos para o comum. Charlatões de autoajuda curam? Vendem caro seus produtos, não soluções.

19 O novo nascimento é impossível; há apenas o banhar de brilho. “Todos nascem uma vez e morrem uma só vez.” O caráter não muda. Vive-se uma única vida; a reencarnação é a ressurreição dos crentes. A salvação depende do esforço próprio.

20 Cada um reage de modo singular ao mesmo fato, pois interpreta os estímulos segundo um caráter já formado. Por isso digo: feiura não é estética, mas comparação com o que me feriu.

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Coleção 11 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)


Pensamentos

Coleção 11 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade


1 Onde sobra dinheiro para o carro, falta espaço para o corpo. As ruas tornaram-se perigosas, as calçadas, estacionamentos. Uns ostentam; outros perdem a liberdade. E a obesidade, ironicamente, tenta-se combater com monóxido de carbono.

2 Na educação, ensina-se a lidar com "distratores", mas evitam-se os próprios erros. Se aprendemos com eles, por que tanto medo ou vergonha? Talvez porque há sempre alguém pronto para nos condenar; até quando escrevemos com boas intenções.

3 Para o cão, seu dono é apenas um grande cão. Para os religiosos, Deus é um grande ser humano. Um Deus humanizado precisa de donos e defensores; por isso a pregação se torna ineficaz.

4 Importa-me o que o rádio diz, não apenas o rádio. Ajusto a faixa que me convém. Se você me fere, mudo sua sintonia; não espero a queda de energia para desligá-lo.

5 O mal não está na coisa, mas na ação imprópria, no momento errado; ou na dose que transforma o remédio em veneno.

6 Os sujos desconfiam dos limpos porque ignoram o valor da diferença. Não se purifica o sujo manchando o limpo com o mesmo abraço. Toda padronização é uma tolice.

7 Os mesquinhos discriminam porque só enxergam com os óculos que os favorecem; veem tudo na cor do próprio interesse.

8 A ignorância protege alguns pobres com uma felicidade ingênua. Já os ricos infelizes apenas não aprenderam a usar o que têm. Quanto à fé que prospera, só conheci nos lábios dos charlatões.

9 Suspeito que o conselho de classe exista para empurrar adiante alunos sem base, enquanto se louvam estatísticas forjadas.

10 Final de ano é assim: não me acostumo com as ameaças, agressões e denúncias de pais e alunos reprovados. Mas, no fim, todos passam.

11 Não há mestre bom para aluno que não se empenha. Os que não fazem nada para merecer a nota são, frequentemente, os agressores mais fervorosos.

12 É lamentável um líder de povo pobre convocar reuniões para informes banais que invadem o recreio; momento sagrado para o descanso do professor. Talvez ele desconheça que fofocar é, para alguns, o verdadeiro aprimoramento do trabalho.

13 "Parada pedagógica" não substitui cursos de capacitação, reciclagem e renovação do saber; apenas custa mais.

14 O bom gestor oferece uma excelsa sugestão literária ao professor de comportamento indesejado, antes de propor trocá-lo de escola ou reduzir suas aulas: educa primeiro.

15 Se todos criássemos nosso futuro, seríamos iguais; ninguém quer ser mau, mendigo ou recusar o favorável. O livre-arbítrio é uma ilusão; a serpente o inventou para os que desejam ser deus.

16 Os deuses de si mesmos acreditam no livre-arbítrio e na construção do próprio futuro. Mas as consequências os moldam ao destino — não há como escapar.

17 É difícil revelar o futuro, pois não o construímos. O destino é implacável; por isso há profetas verdadeiros, a quem se concede a graça da revelação. A vida é cíclica, a história se repete em espiral; tudo termina um pouco além de onde começou.

18 Creio num futuro pronto e acabado. Chamem isso de predestinação, se quiserem. Por isso existem profetas verdadeiros; como saberíamos do futuro se ele não existisse?

19 Que país é esse, repleto de instituições educacionais e facilidades para cursar, mas que não exige o mais alto grau de escolaridade para presidente? Ou será que a escola perdeu sua credibilidade? Por que os pais devem obedecer a essa corja de analfabetos funcionais e matricular os filhos nas escolas? "Se os tubarões fossem homens... Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas. Nessas aulas, os peixes pequenos aprenderiam como nadar para a garganta dos tubarões." (Bertolt Brecht). Aqui, a grande questão não é apenas aprender ou não aprender, mas o exercício do controle.

20 Nunca se resolve o “grilo” da rebeldia apenas mudando o vadio de lugar, sem antes transformar seu caráter. É preciso promover os méritos.

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sábado, 25 de janeiro de 2020

Coleção 10 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)




Pensamentos

Coleção 10 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 "Se a escola pública finge ensinar e o aluno finge aprender, seus documentos apenas encenam um valor sem verdade."

2 "Agora entendo por que tantos professores pagam a outros, mais inescrupulosos, para preencherem seus diários de classe: tudo é à distância; até da própria consciência."

3 "A falta não reprova, a ausência se dilui no coletivo; uns respondem por todos, e 25% ainda iludem o sistema."

4 "Chama-se bimestre, mas dura três meses. 'Hora-aula' não é hora de relógio. Sábado é letivo, feriado é aproveitável; tudo cabe nos 210 dias oficiais de faz de conta."

5 "Nunca entendi o que leram os da Secretaria da Educação ao dividirem o ensino de Língua Portuguesa em Redação e Gramática. Perguntei a Leonardo da Vinci, e ele respondeu: 'Assim como todo reino dividido se desfaz, toda inteligência fragmentada se confunde e enfraquece.' Então compreendi por que o professor de Redação rivaliza com o de Gramática: fragmentou, enfraqueceu."

6 "Talvez esta seja minha eterna crônica: específica, profunda e moldada pelo valor da minha subjetividade. Começo a suspeitar que a vida não é tão besta quanto parece; é, no fundo, educativa."

7 "Escrever bem não nasce da raiva, mas da dor — e nisso reside sua dificuldade."

8 "Se dizem que não sou grande coisa, talvez escrevam crônicas sobre meus defeitos; e, sem saber, revelem o valor que tanto temem."

9 "O cronista revira o cotidiano até iluminar seus ângulos mais obscuros; mas, para o leitor calejado e estéril, até a luz passa despercebida."

10 "Ser cronista é como jogar futebol: com a bola, ataca; sem ela, impede que o jogo siga sem reflexão."

11 "Meu amor ao livro didático nasce da fé de que ele traduz o que a escola deseja ensinar; e, dessa crença, vem minha força."

12 "De onde vieram as 'xeroxes' daquela aula especial? Não se pode justificar o plágio com o leviano 'autor desconhecido'."

13 "Dizem que o livro didático engessa o professor; mas essa é a mentira de quem não sabe transformá-lo em ferramenta viva de ensino."

14 "Se o professor ensina melhor sem o livro, o questionável não é o livro; que é fiel, verídico e comprovável, mas o método."

15 "A lei deve começar onde o primeiro roubo ocorreu; ou os ladrões continuarão impunes."

16 "Se alguém precisa descarregar sua vingança, que o faça sobre si; entre o suicídio e o homicídio, ao menos evite mais uma injustiça."

17 "O fofoqueiro não busca superar ninguém; precisa manter o outro à frente para ter de quem falar."

18 "Conversão não é mudança de personalidade; pois Deus não se separa do homem sem deixar de ser onipresente, nem o homem vive sem Deus."

19 "A cadeia não regenera; apenas refina o comportamento do bandido. Deus não remodela uns descaracterizando outros — muda-se apenas a forma das misérias."

20 "Recuso-me a sofrer os frutos da falsidade ideológica dos fingidos, sobretudo num ambiente onde se educa pelo exemplo."

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domingo, 5 de janeiro de 2020

Coleção 9 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)




Pensamentos

Coleção 9 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade


1 "Só creio na ressurreição do sistema quando os filhos dos professores forem alunos exemplares nas escolas em que ensinam."

2 "O sistema educacional tupiniquim é um cadáver maquiado, cuja família insiste em negar a decomposição."

3 "Na educação, doutores obedecem a graduados. Como diria Giggio: 'quem sabe faz, quem não sabe vira chefe'."

4 "O povo atrapalha o povo ou são os líderes que sabotam os próprios líderes? Talvez haja caciques demais para poucos índios."

5 "Qual justiça orienta o remanejamento na Educação, se o doente, já improdutivo, apenas se arrasta até a aposentadoria?"

6 "O povo tem o direito de esperar firmeza de quem rege a educação de seus filhos. Na LDB e nos PCNs, não cabe hesitação."

7 "Professores dedicados sabem: a fronteira entre má e boa educação deve permanecer nítida."

8 "Quando se ignora o gênio de quem ensina, o ensino degenera em egoísmo, arruinando a minoria e revogando a paz."

9 "Licenciar-se para ensinar basta para ser guia? Mesmo um marginal moral, se detém saber acadêmico e didático, exerce essa liderança."

10 "Num futuro próximo, trabalharemos só com textos de 'autor desconhecido'; mais um convite à hipocrisia, corrupção e desonestidade."

11 "Quem maltrata o mestre com livro na mão é cúmplice do aluno que rejeita o saber."

12 "Quem come demais condena os que também comem, para sobrar mais para si. A falsidade é a arma não violenta dos aliados."

13 "Meu segredo para sobreviver na escola é o fingimento: a hipocrisia que me liberta, permitindo ocultar-me na máscara que escolho."

14 "Greve de professor parece inútil: nada se perde, tudo se repõe. E eu, o imbecil, persigo a coerência."

15 "Até a polícia já fez greve; as esposas também. Seria mais uma vitória das mulheres? A educação, repleta de mulheres cultas e liberais, segue em caos."

16 "Professor nunca aprende: faz greve todo ano e volta de mãos vazias, repondo aulas nas férias."

17 "Os mestres, raramente ouvidos, estão apagados; querem punir, mas precisam rogar permissão aos alunos."

18 "Para o sistema, o diário de classe é instrumento de imposição: coordenadoras alternam entre recusar e aprovar, vencendo a política e a inutilidade. Para o professor, é prova contra si mesmo."

19 "Professores rezam: '...livrai-nos do mal', enquanto enfrentam, dia após dia, o desafio de ensinar sem se deixarem vencer pelos que desrespeitam, perturbam e ameaçam. Permanecer é um ato de resistência."

20 A aprovação sem mérito ensina que vaca dá leite. Não existe almoço de graça.

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quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

COLEÇÃO 8 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)



Pensamentos

COLEÇÃO 8 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 O clássico jogo de futsal entre professores e alunos, antes simbólico e pedagógico, perdeu seu valor didático. Em nome da igualdade, dissolveu-se o respeito, e a tentativa de quebrar hierarquias deu lugar à hostilidade.

2 O tempo não freia a luz — por isso, entrego-me a ela, espalhando o pó que sou no inferno, onde ardem prazeres que os sentidos não alcançam. Que eu seja feliz ali, como portador da luz em chamas.

3 Mais um entrave da docência: o professor de Língua Portuguesa não pode ser crítico — alunos e colegas não permitem. Quase me forçaram a validar textos sem rima, métrica ou emoção, como se até uma receita de bolo pudesse ser aceita como poema. A crítica foi silenciada em nome do “sentir”. No fim do dia, reflito: o aluno é tudo, o professor, nada.

4 Continuamos medindo o tempo como quem mede uma ideia — referindo ações a outras ações. Mas a luz não se move no tempo; ela atravessa o espaço. Seu tempo é constante, indiferente à nossa contagem.

5 Não existo para o tempo, apenas para o espaço — é aqui que me encontro e sigo meu caminho. No tempo, não há direção; e a morte continua glob(alizante).

6 É preciso mudar para crescer — todo fim já habita o começo.

7 A autoridade do mestre nasce da negação de si e da autodesconfiança — só assim ele se molda ao aluno e faz de sua dependência uma forma de ensinar. Ensina bem quem se desfaz de si para formar o outro.

8 Ai do mestre, se a ausência do aluno recair sobre sua presença! Pois o poder do ensino se afirma na presença do corpo, ainda que o espírito vague.

9 Pais e alunos recorrem primeiro à secretaria, certos de que serão ouvidos sem questionamento. O aluno que fere numa escola é acolhido em outra, pois não importa o que fez, e sim o que representa: um número que não pode ser perdido.

10 Não sei se sou apenas mais um Satã perdido na Terra, ou um anjo do bem sem céu, viciado no calor que arde entre a sexta série e o terceiro grau.

11 Ao acolher as diretrizes pedagógicas, aprimoramos nossa prática. No contato prolongado com o conteúdo a ser portfóliado, a consciência desperta e se torna realidade viva na alma, que ainda anseia por reconhecimento para preservar sua boa imagem.

12 Causar sofrimento ao outro é convocar a justiça divina, cuja aplicação cabe a Deus, por meio do Demônio.

13 Assim como o chicote se desgasta a cada golpe, o feitiço volta-se contra o feiticeiro. É nessa lógica que reside o caos na escola. Nunca vi macumbeiro rico; ele atrai o empobrecimento. Que experiência, então, merece ser transmitida?

14 A dor busca reparo quando revelada. Afligir alguém sem razão não é educação, mas vingança, que reduz o educando a mera vítima.

15 Seria injusto demais Deus permitir que inocentes sofram sem sentido. Todo sofrimento exige uma razão compreendida por quem o experimenta.

16 Todos os dias, somos peças desse sistema, repetindo erros como desajustados. Sem essa rotina, o motor jamais funcionaria em silêncio.

17 Onde há prova, há fraude; onde há fraude, nasce a desconfiança. Assim, a desconfiança revela a ignorância ou a recusa em saber.

18 A escola pública, ao impor superlotação e provas facilitadas, gera no aluno a ira contra o mestre, tornando-o um rival reverso.

19 O aluno ignorante, desprovido de saber útil e funcionalmente incompetente, não respeita o professor, pois o vê como metonímia da escola.

20 As pessoas me apavoram; em meio a elas, entro em pânico, pois meu problema são os outros. Busco a solidão, mas nela não há consolo. Eis o meu dilema: apegar-me ou desapegar-me.

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