"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Socorro, estão a matar a escola pública!

 


Paulo Neves
Não admira que faltem professores de matemática e de outras disciplinas. Há dezenas de anos que os professores são alvo de campanhas que os apresentam como um grupo de previligiados que não faz nada - Miguel Sousa Tavares classificou-os como "os inúteis mais bem pagos do país" num comentário na TVI (citei de memória) - e que a profissão se degrada, cada vez com mais exigências e menos retorno. Como resultado temos uma classe profissional envelhecida e sem grandes atrativos para os jovens. Na próxima década grande parte dos professores atualmente no quadro vai-se reformar e vai ser MUITO difícil substituí-los. As faltas de professores vão ser cada vez mais.

Fui professor de matemática durante 9 anos. Troquei por uma carreira na informática. É muito mais fácil ensinar computadores, não há tanto trabalho extra - testes, reuniões, informações para os pais, problemas com alunos que faltam a mais, etc., e é mais bem pago. Andam a matar a escola pública há mais de 30 anos, não é só de agora.

sábado, 6 de novembro de 2021

Coleção 56 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 56 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 “A verdadeira força não está em negar os impulsos, mas em administrá-los com consciência, transformando a vulnerabilidade em estratégia e o prazer em instrumento de poder.”

2 “Negar a autoria é mais que roubar palavras: é violar a essência criativa, assassinando simbolicamente o próprio criador.”

3 "Ao inverter a responsabilidade da comunicação e absolver o autor de qualquer falha, essa lógica transforma o leitor em réu permanente da interpretação, instaurando uma relação autoritária e elitista onde não há diálogo, mas apenas a supremacia inflexível da escrita sobre a leitura."

4 "Ao sacralizar a autoria e rejeitar a secularização das obras pelo tempo, esse pensamento transforma o domínio público em ilusão jurídica, sustentando que toda criação permanece ligada eternamente ao seu autor e sob a guarda do divino."

5 "A verdadeira imortalidade literária nasce da renúncia à posse: ao transformar a cópia em multiplicação e o plágio em perpetuação, o autor sobrevive não pela proteção restritiva, mas pela circulação infinita de sua obra nos outros."

6 "Na ordem natural, predador e presa cumprem seu papel sem moral, e toda captura ou fuga revela-se libertação: a vida e a morte são apenas facetas inevitáveis de um ciclo maior."

7 "Ao usar a generosidade presente para compensar a desonestidade passada, transforma-se a moral em transação, e a aprovação social torna-se mercadoria negociável. E viva o 'Job'".

8 "O medo nas relações de gênero migrou de corpo, mas não de função: enquanto antes as mulheres desviavam o olhar para se proteger, hoje muitos homens recuam, refletindo uma inversão de poder que mantém a tensão social intacta."

9 "Na sala de aula, a desconfiança mútua transformou o ensino num cabo-de-guerra: medo e autoproteção substituem a confiança, e o conhecimento se desconecta da vida prática."

10 "Ao priorizar resultados mensuráveis sobre direitos, a crítica à inclusão transforma a diversidade em obstáculo e a educação em instrumento utilitarista, ignorando seu potencial de enriquecer a experiência de todos os alunos."

11 A escola merece desacatos, para aprender ser seletiva e eficaz, pois alunos indisciplinados, ela só os troca de sala, submetendo os mesmos professores às mesmas situações vexativas.

12 "Ao tratar estudantes como ‘salvos’ ou ‘perdidos’ e ver comportamentos negativos como contágio inevitável, essa lógica transforma a educação em segregação, priorizando proteção sobre inclusão e perpetuando desigualdades sob pretexto de qualidade."

13 "Ao tratar a delinquência como vírus inevitável e declarar que 'pau torto não tem consciência', essa lógica nega a transformação pessoal, justificando exclusão e punição extrema sob pretexto de fatalismo biológico."

14 "Ao contrastar pecados finitos com punição eterna, essa crítica revela o inferno como voraz devorador da existência, questionando se a justiça divina prioriza vingança ou educação moral."

15 "A dor é singular e incomunicável: julgar o sofrimento alheio sem considerar sua totalidade experiencial é ignorar a complexidade única de cada consciência."

16 "Ao separar dignidade pessoal de uso comercial do corpo, essa lógica tenta conciliar agência feminina e mercantilização, revelando a tensão entre autonomia real e pressões sociais internalizadas."

17 "O ventilador, egoísta e seletivo, revela como até a conveniência cotidiana reproduz desigualdades, privilegiando poucos à custa do bem-estar coletivo."

18 "Quando a escola o abandona, o professor abandona a si mesmo: a aposentadoria deixa de ser conquista e se torna fragmentação existencial, refletindo a fusão inseparável entre vocação e identidade."

19 "No ambiente escolar, a cordialidade se dissolve diante do custo pessoal; 'todos nos amam se for de graça', revelando que afeto aparente é moeda social que evapora quando exige sacrifício real."

20 "Se o Diabo é apenas 'forma de Deus agir', então culpá-lo pelas adversidades equivale a condenar a própria divindade, dissolvendo o bem e o mal numa única responsabilidade cósmica."

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terça-feira, 26 de outubro de 2021

Coleção 55 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 55 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 "A evangelização invasiva no Ensino Religioso transforma até o simples gesto de tocar música no celular em missão sagrada, onde o silêncio é visto como ameaça demoníaca; ironicamente, foi a própria pandemia, ao saturar o uso da tecnologia, que fez muitos se cansarem do mesmo aparelho que defendiam como instrumento divino."

2 "A recusa em carregar o livro revela a mesma indisciplina que leva os alunos a abandonar a sala em tumulto, movidos não pelo saber, mas pela pressa de alcançar o lanche."

3 "Mais nocivo que a frivolidade de alguns alunos é a presença vazia daquele que, embora se vista de estudante, carece de propósito e do verdadeiro espírito de aprendizagem."

4 "A inveja leva o aluno a destruir o que cobiça no professor, vandalizando e furtando, mas recusando o aprendizado que o elevaria; é um desejo estéril, que fere o outro sem jamais nutrir quem o sente."

5 "A verdadeira relação entre mestre e discípulo não se limita à transmissão do saber, mas floresce na emulação, onde o aluno imita e rivaliza, buscando superar o professor pelo zelo da excelência."

6 "Ao impor o desejo e a vida sem escolha, a natureza revela não a benevolência, mas a face de um Deus que se mostra cruel em sua ordem."

7 "A educação não se realiza pela coerção, mas pela sedução, e a verdadeira virtude do coordenador e do professor está menos em formar opiniões do que em dominar o ambiente onde o saber floresce."

8 "Afasto-me de grupos que tentam impor-me rótulos de ódio, pois as carapuças que projetam pertencem mais a eles do que a mim."

9 "Se o professor é o hospedeiro que nunca se esgota, em minha ironia deixo de nutrir e passo a destilar veneno, assumindo a repulsa que os alunos projetam em mim."

10 "Nem todo doente é marginal, mas todo marginal vive doente; sua transgressão é sintoma de um mal interior que, cedo ou tarde, lhe cobra o preço do sofrimento que inflige aos outro."

11 "O destino é inexorável: recebemos a vida que nos cabe, e, se pudéssemos escolher, a escolheríamos mil vezes, pois o caminho que trilhamos é único e perfeito para nós."

12 "Ser humano exige inteligência e imaginação; tentar ser Deus exige apenas ignorância e violência."

13 "Em vez de tentar salvar Deus das críticas, o homem deveria cuidar de assuntos mais sérios, pois o divino não precisa de nossa defesa diante de quem apenas ladra."

14 "Deus protege pássaros e lírios com mais cuidado do que os homens, pois a ordem natural sobrevive enquanto a vida humana se expõe à tragédia."

15 "A greve dos professores terminou em fracasso: duplamente penalizados, seus sacrifícios não foram atendidos, revelando a burrice dos deuses."

16 "Os alunos desprezam a disciplina da escola ao descobrir um mundo de prazeres fáceis, preferindo a ilusão do pão e do circo à realidade do esforço."

17 "A escola formal ensina o bom aluno a ser fraco; a escola da vida ensina o astuto a prosperar."

18 "Ensinar castelos de pedra desafia a natureza, que prefere castelos de areia; efêmeros, flexíveis e moldados pelo vento."

19 "A violência escolar nasce da resistência à verdade imposta, pois os alunos habitam um mundo de desejo e imaginação que se choca com a realidade que a escola insiste em impor."

20 "A polarização na escola impede formar cidadãos: enquanto ideólogos e militantes disputam a atenção, os patriotas permanecem silenciados, e a vaidade até no bem atrasa a ação necessária."

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domingo, 24 de outubro de 2021

A PANDEMIA QUE LIBERTA ("Pragas servem para libertar a alma e reconhecer que a cura é Deus." — Carlos Monteiro)

 


A PANDEMIA QUE LIBERTA ("Pragas servem para libertar a alma e reconhecer que a cura é Deus." — Carlos Monteiro)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Acordei hoje pensando nas pragas do Egito. Não sei explicar esse repentino interesse bíblico — talvez seja a febre do isolamento, talvez o noticiário, que a cada dia mais se assemelha a uma narrativa apocalíptica. As dez pragas enviadas para dobrar a teimosia de Faraó voltaram a me fascinar como na infância, quando ouvia essas histórias nas aulas de escola dominical.


Saí para a varanda do meu apartamento — este cativeiro voluntário do século XXI — e observei a cidade como quem contempla um Egito contemporâneo. No oitavo mês da pandemia, as ruas pareciam enfim aceitar sua nova condição. Máscaras coloridas balançavam nos rostos como penduricalhos modernos; álcool em gel, nas entradas dos estabelecimentos, surgia como pequenas fontes purificadoras.
— "Quantas pragas mais serão necessárias para nossa libertação?" — murmurei para o café que esfriava entre minhas mãos. No Apocalipse, são sete, e a sétima é derramada no ar — deve ser vírus (Apocalipse 16:17). Os conselheiros de Faraó admitiram que as pragas haviam destruído a nação (Êx 10:7). Com a morte do primogênito em cada casa, os egípcios suplicaram a Israel que partisse. E assim Israel "emprestou" a riqueza de toda a nação, sem jamais devolvê-la (Êx 12:35-36). Em nome da pobreza, em breve, homens escravos dos ricos saquearão suas lojas. Chamamos isso de vingança divina.
Ontem, na reunião virtual da escola onde leciono, discutíamos o retorno às aulas presenciais. Professores e diretores, cada um em seu quadrado digital, debatiam como se nossas palavras pudessem construir uma ponte segura de volta à normalidade. O diretor, com aquele tom de quem já tomou sua decisão antes mesmo do encontro, falava dos protocolos de segurança como se fossem tábuas da lei recém-descidas do Sinai.
— O hibridismo educacional já não nos serve mais — declarou ele, ajustando a gravata que usava mesmo em casa, talvez para manter algum vestígio de autoridade nestes tempos líquidos. — Os pais clamam pelo retorno total.
"Clamam", pensei. Como os israelitas clamaram pelas carnes do Egito, esquecendo-se rapidamente do que significava a verdadeira liberdade. Curiosa a escolha do verbo. Clamar — tão bíblico, para uma discussão tão mundana. Analisando a atitude dos libertos no deserto, muitos clamaram pelas carnes do Egito; e então o Libertador lhes proveu codornizes. Sempre o fará, para que morram felizes. Não creio que seja apenas pelo lanche da cantina ou pelos bolos das festinhas comemorativas. Mas o vírus sabe esperar, entretido, quando eles comem próximos uns dos outros, sem máscara.
— Mas... e a variante Delta? — perguntou Marta, professora de biologia, sempre atenta às evidências científicas.
Vi o diretor suspirar — aquele suspiro digital, pixelizado.
— Os protocolos funcionam, Marta. E temos que pensar no psicológico dos alunos, na merenda, na socialização...
Ah, a merenda. As codornizes no deserto, pensei, com ironia. O pão e o circo que sempre nos mantiveram dóceis. Pergunto-me se a preocupação é realmente com o bem-estar dos alunos, ou se o objetivo é aplacar os pais, exaustos por manterem os filhos em casa. Preocupa-me o fato de que, como prova do retorno à normalidade, eliminaram as aulas síncronas. Parece que o “caixote” já não serve mais, está pequeno. Mas o espírito da multidão de Moisés continua presente. Será que, em todas as circunstâncias, o "pão e o circo" sempre cegam?
O mais curioso, porém, foi o final da reunião. Paulo, o supervisor sempre tão silencioso, tomou a palavra para falar sobre "colaboração comunitária" — um elegante eufemismo para o que reconheci imediatamente como uma política de denúncia.
— Precisamos que todos sejam vigilantes quanto ao cumprimento dos protocolos. Qualquer desvio deve ser reportado imediatamente à direção.
Imaginei crianças denunciando colegas por abaixarem a máscara para respirar melhor no intervalo, pais relatando professores que ousaram tomar café na sala dos professores, funcionários vigiando uns aos outros como sentinelas de uma guerra invisível. Consta que, na sétima pandemia do mundo, o denuncismo reaparece com força. Apesar de o vírus "Delta Plus" não ser a última versão do coronavírus, as medidas de prevenção continuam as mesmas.
A indústria do denuncismo é extremamente eficiente — e não dispensa fofoqueiros inconsequentes. Denunciar é uma voz fácil na boca do fraco. Na Bíblia, é mexericar. Quando o inapto tenta derrubar os que estão acima, é um pedido cruel de ajuda. Patrão que se apoia em informantes é vítima deles! O denunciante também se vinga do seu superior, entregando-o ao inimigo, jogando um contra o outro para se livrar das consequências. E, afinal, amigo não denuncia amigo!
Lembrei-me, então, de um versículo que minha avó sempre repetia: — "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai." Quantos fariseus modernos surgirão desta crise, brandindo suas máscaras e frascos de álcool em gel como símbolos de uma virtude que, na verdade, é apenas medo disfarçado de civismo?
Foi aí que percebi a ironia mais profunda: as pragas do Egito foram enviadas para libertar um povo, mas as nossas parecem nos aprisionar cada vez mais — não apenas em nossas casas, mas num sistema de desconfiança mútua, de vigilância constante, de uma nova normalidade que normaliza o medo do outro. O justo é aquele que faz justiça! Nem mesmo a igreja — que deveria existir para impedir que os pobres matem os ricos — consegue conter a violência. E quem poderá explicar a dignidade dos poderes invertidos? No Brasil, prefeitos e governadores, em sua maioria, não respeitam as ordens do presidente da república, mas ainda assim vomitam lições contraditórias de patriotismo e cidadania.
Não me entendam mal. O vírus é real, e a prevenção, necessária. Mas quando transformamos o outro em ameaça, quando cultivamos a delação como virtude, e quando nossa sobrevivência parece depender de nossa capacidade de desconfiar, algo fundamental se perde. Talvez seja isso que me incomoda na história bíblica das pragas — elas salvaram um povo, mas a que custo? Quantos inocentes pereceram para que outros fossem livres?
Terminei meu café já frio e voltei para dentro. Na mesa, meu plano de aula inacabado me aguardava. Como ensinar história em tempos em que o presente é tão incerto? Como falar de liberdade quando o medo nos consome? Ou... já não há mais verdade que nos liberte?
Talvez a verdadeira praga não seja o vírus, mas o que ele revela sobre nós — nossa fragilidade, nosso egoísmo, nossa disposição de abandonar o outro quando o barco ameaça afundar. Ou talvez, e é nisso que prefiro acreditar, esta seja apenas mais uma travessia do deserto, um tempo de provação antes da terra prometida.
Enquanto isso, mantenho minhas mãos erguidas, como aqueles que sustentavam os braços de Moisés na batalha contra Amaleque: "...Um homem que juntamente com Arão sustentava as mãos de Moisés em Refidim" (Êx 17.10). Não por cansaço, mas por esperança. Não por obrigação, mas por escolha. E se algum dia você me vir baixar os braços, por favor, não me denuncie. Apenas ajude-me a erguê-los novamente.
Porque, no fim, o que nos salvará não serão as pragas, mas a compaixão que sobreviver a elas.


Como um bom professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas e simples, baseando-me nas ideias principais do texto apresentado:


1. O autor inicia o texto fazendo uma analogia entre a pandemia de COVID-19 e as pragas do Egito. De que maneira essa comparação pode nos ajudar a compreender sociologicamente o impacto de grandes crises na sociedade e na mentalidade coletiva?

2. A discussão sobre o retorno às aulas presenciais na reunião virtual da escola revela diferentes perspectivas e preocupações. Quais são os principais argumentos apresentados no texto e como eles refletem as tensões e prioridades da sociedade em relação à educação durante a pandemia?

3. O autor critica a política de "colaboração comunitária" que ele interpreta como uma "política de denúncia". Sob uma perspectiva sociológica, quais são os potenciais efeitos negativos de uma cultura de vigilância e denúncia nas relações sociais e na construção da confiança dentro de uma comunidade?

4. A reflexão sobre os "fariseus modernos" que brandem máscaras e álcool em gel como símbolos de virtude levanta uma questão sobre a superficialidade de algumas demonstrações de civismo. Como a sociologia analisa a relação entre comportamento individual, normas sociais e a construção de identidades em momentos de crise?

5. Ao final do texto, o autor questiona se a verdadeira praga não seria o que a pandemia revela sobre a sociedade, como fragilidade e egoísmo. De que maneira a sociologia estuda os impactos de eventos como a pandemia nas estruturas sociais, nos valores e nos comportamentos humanos, e quais possíveis lições podemos extrair dessa reflexão?

SEQUELA DO "DISTANCIAMENTO" (“A nossa oração e o nosso clamor devem ser sempre do tamanho do choro do mundo”. — Pr. Cpl. Moacir J Laurentino)

 


SEQUELA DO "DISTANCIAMENTO" (“A nossa oração e o nosso clamor devem ser sempre do tamanho do choro do mundo”. — Pr. Cpl. Moacir J Laurentino)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A brisa matinal invade meu apartamento, trazendo consigo o aroma inconfundível do café recém-passado. O domingo desperta com uma quietude que ecoa dentro de mim, revelando a solidão que insiste em permanecer. As distrações da rotina já não preenchem o vazio; a alma, desprotegida, anseia por um colo, por um olhar que enxergue além das aparências, por um ouvido que saiba escutar sem pressa de responder.


Hoje, decido baixar a guarda e abrir as portas do meu coração. A você, leitor, confio meus anseios e essa busca incessante por conexões que transcendam a superficialidade dos encontros casuais. Caminhar pelas ruas da cidade, antes um ato solitário, transforma-se agora no desejo de compartilhar experiências, dividir o peso — e a beleza — do existir. Conversas que fluem sem esforço, aprendizados que se entrelaçam, um porto seguro onde a alma possa, enfim, descansar.
A solidão, essa visitante indesejada, escancara minha vulnerabilidade. Há uma necessidade latente de afeto — de um abraço que acolha sem exigir palavras, de um olhar que compreenda sem precisar de explicações. Anseio por um colo de "mãe de leite", esse símbolo primitivo de nutrição emocional e cuidado genuíno. E a frase de Adriana Bacelar Lima ressoa em meus pensamentos: "Se o clamor de uma alma indo para o inferno não nos faz repensar no que estamos fazendo do evangelho, é inútil a nossa crença que estamos salvos." Um lembrete pungente de que a fé sem empatia é vã, de que o amor só faz sentido quando se estende ao outro.
A vida ensina, ainda que de maneira dura, a valorizar os laços que são verdadeiros. Com o tempo, percebo que a inteligência que realmente importa não está nos livros, mas na capacidade de amar, de se conectar, de construir pontes em vez de erguer muros. Nunca fui pai — talvez por medo de deixar de ser filho, de perder a segurança do afeto familiar. Mas, neste domingo, sou apenas alguém que sente falta de um colo, de um refúgio onde possa repousar as inquietações.
Que este desabafo seja um convite à reflexão. Que possamos enxergar a vulnerabilidade não como fraqueza, mas como coragem de sermos quem somos. Que a solidão nos ensine a importância do encontro. E que, no fim, a maior inteligência que possamos cultivar seja o amor — esse gesto simples, mas revolucionário, de cuidar do outro sem esperar nada em troca.


5 questões discursivas baseadas no texto, explorando as ideias principais e provocando reflexões sociológicas:


1. A solidão na sociedade contemporânea: O texto aborda a solidão como uma experiência comum, mesmo em meio à vida urbana. Como a sociologia pode analisar as causas e consequências da solidão na sociedade contemporânea, considerando fatores como individualismo, tecnologia e mudanças nas relações sociais?

2. A busca por conexões autênticas: O texto expressa o desejo de conexões que transcendam a superficialidade. Como a sociologia pode analisar as diferentes formas de relacionamento na sociedade atual, e como a busca por autenticidade e significado influencia essas relações?

3. A importância da empatia e do cuidado: O texto destaca a necessidade de afeto, compreensão e cuidado genuíno. Como a sociologia pode analisar o papel da empatia e do cuidado na construção de relações sociais saudáveis, e como esses valores podem ser promovidos na sociedade?

4. A relação entre fé e ação social: A citação de Adriana Bacelar Lima questiona a fé sem empatia. Como a sociologia pode analisar a relação entre religião, ética e ação social, e como as crenças religiosas influenciam o comportamento individual e coletivo?

5. A vulnerabilidade como força: O texto propõe uma visão da vulnerabilidade como coragem. Como a sociologia pode analisar a construção social das emoções e como a vulnerabilidade pode ser vista como uma forma de resistência e transformação social?

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sábado, 9 de outubro de 2021

Coleção 54 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 



Pensamentos

Coleção 54 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 “Quando o casamento deixou de ser refúgio econômico e a mulher assumiu a liderança e o sustento do lar, a ordem familiar inverteu-se, e, sob o comando materno e infantil, tornou-se uma estrutura frágil, fadada à ruína.”

2 “O destino revela-se no talento inato, e cumprir a vida é apenas obedecer à vocação que a natureza já nos impôs.”

3 “A verdadeira vitória que é salvar a própria vida, não se conquista pela beleza, mas pela escolha inabalável de agir com retidão.”

4 “Se a família é o bem maior e, ao mesmo tempo, o fracasso unido, então toda cura da sociedade só pode nascer de dentro dela, pois é em seu núcleo que germina tanto a doença quanto a esperança de redenção.”

5 “Quando a chefe chama de inteligente aquele a quem tudo aponta como errado, o elogio revela menos apreço que vaidade: ou afirma sua própria superioridade, ou reduz a inteligência alheia a um erro bem articulado.”

6 “Vivemos como suicidas às prestações: a própria vida nos corrói lentamente, e só a ironia de enterrar os vivos parece garantir que a morte ocorra no lugar que lhe caberia.”

7 “A felicidade não é deste mundo; permanecer aqui é abraçar a experiência terrena, onde o prazer não conduz a lugar algum e apenas o real dá sentido à vida.”

8 “A chamada homofobia ironiza a recusa à diversidade sexual, ignorando que a própria biologia oferece caminhos do prazer masculino que contradizem a uniformidade que se pretende impor.”

9 “A exclusão do velho garante-lhe identidade própria, mas seu único vigor reconhecido é o da denúncia; ironicamente, resta perguntar se repetir a paternidade lhes daria licença para transgredir.”

10 “Ser homem hetero sexual, ainda que feio e pobre, cumpre os desígnios de Deus e lhe confere o direito de envelhecer sem o castigo injusto da solidão, como Sodoma e Gomorra lembram: até na destruição, a convivência sadia de alguns deve ser preservada.”

11 “A verdadeira beleza reside na originalidade natural: alterar hormônios ou a aparência do corpo é adultério químico e prostituição estética, uma traição à ordem que distingue e equilibra homens e mulheres.”

12 “O homem belo não se mede pela masculinidade tradicional, mas pela graça angelical e efeminada; quanto mais próximo do ideal andrógino, maior seu desejo e valor perante todos os parceiros.”

13 “Aprender é escolha individual: o estudante é patrão de si mesmo, guiando sua própria evolução e, ao ensinar, inverte a hierarquia tradicional da escola.”

14 “Eventos escolares só têm valor quando refletem conquistas reais; se nada há a exibir, a solução não é cancelar, mas criar resultados dignos de serem mostrados.”

15 “Na caverna escolar, os alunos acorrentados pelo uniforme rejeitam a luz do conhecimento e ameaçam o filósofo que os quer libertar; assim, ensinar torna-se sacrifício, e o esforço pela verdade encontra apenas a resistência da ignorância.”

16 “A obsessão por não ofender gera discriminação inversa: o hipersensível cria distância, e a sociedade responde com silêncio, transformando a proteção em solidão.”

17 “Onde homens e mulheres convivem lado a lado, os pecados da carne são inevitáveis; como pardais no telhado, a procriação, sagrada na natureza, é corrompida pela lascívia humana.”

18 “A pontualidade no trabalho torna-se tormento: cumprir horários rigorosamente faz-me questionar se sou eu a servir ao tempo do empregador ou ele a explorar o meu.”

19 “O poder excessivo da mulher destrói o casamento, e mesmo que não o destrua, a punição social do machista que o afirma prova, indiretamente, a força destrutiva da autoridade mal empregada.”

20 “O ventilador barulhento que gira apenas para um, por desforra, mostra como o egoísmo cria custo-benefício injusto: o incômodo é coletivo, o benefício, exclusivo.”

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