"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

domingo, 9 de janeiro de 2022

Coleção 63 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 63 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 Um ciclo disfuncional se repete: alunos fogem, professores cedem, coordenadores patrulham, e todos se culpam; enquanto o verdadeiro problema, a perda de sentido e autoridade na educação, permanece intacto.

2 Há escolas que vestem uniformes de virtude, mas apenas as que educam para a consciência e o saber despem a aparência e formam o essencial.

3 A escola fracassa quando perde o poder de inspirar, pois na era da informação o aluno busca sozinho o que o mestre deixou de ensinar.

4 A verdadeira divindade reside no mistério: um Deus incognoscível, sem emoções, cuja essência soberana contém tudo, e nada deixa existir fora de si.

5 A rebeldia dos impotentes é o disfarce do ressentimento: incapaz de agir, escandaliza para existir.

6 Quando o respeito cede lugar à intimidade, o vínculo pedagógico se corrompe: o elogio vira suspeita, e o mérito, motivo de ciúme.

7 Quem provoca o poder de que depende revela ignorância do próprio interesse: deseja proteção enquanto semeia o conflito que a nega.

8 Até o inimigo serve ao sábio: seus rumores alertam, suas falhas instruem, e sua hostilidade se converte em estratégia reversa.

9 A opressão se reflete: quem sofre a humilhação aprende a infligi-la, perpetuando o ciclo da dor.

10 A violência prolongada devora a consciência: quem luta sem fim torna-se predador de corpos e almas, reflexo sombrio da própria brutalidade.

11 Regras escolares vazias formam fraqueza, não aprendizado; enquanto coordenadores preservam cargos, os alunos pagam o preço da indiferença.

12 O tempo devora vitórias e inimigos, e nenhuma recompensa celestial resta ao que inevitavelmente perece.

13 A inatividade compulsória corrói a alma: mesmo diante de conquistas almejadas, a ausência de luta e o tempo inevitável tornam toda segurança ilusória.

14 Não lamento a falta de inimigos, mas a impotência da idade diante da juventude, onde o tempo torna a luta injusta e desleal.

15 Mesmo em paz, a alma anseia pelo combate; a felicidade exige adversários, mas a idade torna-os ausentes, deixando apenas a melancolia do desejo não saciado.

16 Aqueles que buscam intimidação em gestos fúteis, cumprimentar com aperto de mão com muita força, ignoram que o divino zela pelos seus, e a soberba se volta contra si mesma.

17 O tempo elimina adversários antes de envelhecerem, e a paz tardia deixa, em mim, apenas sonhos vazios onde o combate já não é possível.

18 Rogar pela queda dos inimigos torna-se inútil, quando o tempo cumpre seu papel, revelando que a minha própria senilidade é a punição mais irônica e desnecessária.

19 Dar nota máxima a um texto ilegível é a ironia suprema: supondo que talvez contenha sabedoria alienígena, e a culpa do incomunicável recai sobre o avaliador.

20 Enquanto uns perseguem ilusões, outros educam para a realidade; cada qual revela, em ação, a essência que carrega.

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Coleção 62 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)


 

Coleção 62 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 “Quem tenta espantar os urubus sem largar a carniça não luta contra a traição, mas contra si mesmo; pois o verdadeiro inferno não é ser traído, e sim permanecer preso ao que já apodreceu por medo de se libertar.”

2 “Quando o valor do professor depende do sucesso material de seus ex-alunos, a educação deixa de ser vocação e torna-se espelho de um sistema que mede o humano pelo lucro, fazendo da docência uma gangorra onde a autoestima oscila conforme o mercado.”

3 “Quando pais sem preparo tornam-se juízes dos professores e a escola se curva ao medo das denúncias, a educação se prostitui à conveniência, trocando a autoridade pelo aplauso e sacrificando o saber no altar da clientela.”

4 “Quando o professor percebe que relatar indisciplinas apenas cria dossiês contra si mesmo, o silêncio se torna defesa e a burocracia, paradoxalmente, transforma quem denuncia em suspeito, revelando a perversidade de um sistema que protege a instituição e não o educador.”

5 “Quando a escola transforma ‘apoio’ em chantagem e obriga o professor a assinar sua própria culpa para proteger a instituição, a traição institucional se disfarça de orientação, revelando um sistema que pune quem mantém a ordem e premia quem a viola.”

6 “Quem nasce para servir, oferecendo aos outros o que deveria conquistar, transforma generosidade em armadilha e vê a própria dedicação ser usada para sua derrota, revelando a crueldade de um mundo que confunde altruísmo com fraqueza.”

7 “Se a graça divina absolve antes mesmo da transgressão e Deus é imensurável para ser ofendido, então o pecado deixa de existir, revelando que toda moralidade teológica pode ser lida como construção humana para controlar e doutrinar.”

8 “Quando a escola se curva a famílias que promovem valores antissociais e transforma a pedagogia em diplomacia covarde, a obrigação de matrícula é usada como pretexto para apaziguar clientes, sacrificando profissionalismo e ética em nome da conveniência institucional.”

9 “Quando escolas proíbem celulares enquanto professores e alunos permanecem analfabetos digitais, a tecnologia deixa de ser ferramenta pedagógica e torna-se espelho de hipocrisia institucional e abandono formativo.”

10 “Quando a necessidade de ostentação em redes sociais faz o pobre sacrificar o essencial, a lógica do consumismo transforma lazer em dívida, e validação digital em moeda que não paga a vida real.”

11 “Quem mata seu inimigo transforma a vítima em carrasco interior, e descobre que a violência não destrói a inimizade, apenas a internaliza, provando que só a paz gera paz.”

12 “O cuidado com o bem público nasce do sentimento de pertencimento, mas a privatização escolar nos ensina que quando tudo tem dono, a sociedade perde voz, e a verdadeira civilidade depende de engajamento consciente, não de rituais vazios.”

13 “Quem tenta governar com cuidado para não pisar nos pequenos logo se vê pisoteado pelos maiores, revelando a dificuldade de exercer poder sem se tornar vulnerável à opressão.”

14 “Se na terra já não tenho dignidade e no céu ninguém entra por mérito, então prefiro o inferno: ao menos lá estarei por merecimento próprio, com a consciência limpa de ter conquistado a justiça que me coube; pois viver de Graça é viver do mérito alheio.”

15 “A crença no livre-arbítrio eleva o homem à condição de deus, ironicamente celebrando a vitória de Lúcifer, e anula a autoridade de qualquer profeta sobre o futuro.”

16 “Viajar fragmenta o eu: deixamos pedaços pelo caminho, e ao voltar só conseguimos recompor parcialmente aquilo que se perdeu irreversivelmente.”

17 “O sucesso profissional não depende do curso que fazemos, mas do talento inato que a natureza nos concede e da dedicação àquilo em que naturalmente nos destacamos.”Claudeci Ferreira de Andrade

18 “Escolho distanciar-me, reconhecendo que a participação nem sempre é minha responsabilidade, e que preservar-me é um ato de consciência.”

19 “O ser humano não é seu corpo, mas a essência que irradia do cérebro; mesmo isolado fisicamente, o cérebro mantém a identidade e o destino, enquanto o corpo é apenas um amontoado de bactérias conectadas.”

20 “Todo prazer diminui a potência momentaneamente; nenhum impulso abrupto é pecado, mas apenas preparação para o próximo êxtase.”

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domingo, 2 de janeiro de 2022

O DESRESPEITO TEM PREÇO ALTO ("Se a igualdade entre os homens - que busco e desejo - for o desrespeito ao ser humano, fugirei dela". — Graciliano Ramos)

 


O DESRESPEITO TEM PREÇO ALTO ("Se a igualdade entre os homens - que busco e desejo - for o desrespeito ao ser humano, fugirei dela". — Graciliano Ramos)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Acordei com a chuva batendo forte na janela, como se o céu quisesse lavar não apenas as ruas, mas também os restos mal varridos do ano anterior. Era o primeiro dia de 2025 e, sinceramente, o futuro não me parecia novo — apenas mais molhado. Do lado de fora, a enxurrada arrastava folhas, garrafas, sacolas e memórias velhas. Tudo o que não presta sempre resiste mais do que deveria.

Senti um aperto no peito. Não era apenas o clima. Era o tempo. Como se os ponteiros do relógio me empurrassem para dentro de um ano que eu não pedi, um calendário que me foi imposto como sentença. Havia algo de sombrio naquele dia — algo que, em silêncio, me dizia que o mundo não seria gentil desta vez. Nem com seus filhos, nem com seus fantasmas.

Vi, no meio da água turva, três patinhos pretos deslizando pela calçada alagada. Três. “Dois patinhos na lagoa”, diz o ditado popular para se referir ao número 22. Mas agora eram três. Sinal de que o tempo havia avançado, ainda que o país parecesse girar em círculos. Eles estavam ali, serenos, indiferentes à tempestade. Diferente de mim, que buscava abrigo até dentro de mim mesmo.

Talvez fossem urubus disfarçados, pensei. Ou talvez eu estivesse vendo tudo de forma simbólica demais. Mas, depois de sobreviver a pragas, pandemias, políticos e promessas não cumpridas, a gente se acostuma a decifrar o mundo por metáforas. A natureza — essa velha senhora de humores imprevisíveis — já não aceita mais nossas desculpas. Desmatamos, queimamos, fingimos não ver. E agora ela responde — não com fúria, mas com justiça.

Lá fora, o novo governo prometia mudança. Mudança. Palavra que já me soa como slogan de campanha. O povo queria reforma, mas esqueceu de se reformar primeiro. Atiraram pedras na corrupção, mas mantiveram a janela da própria casa aberta. E, no fundo, é sempre assim: enquanto uns rezam por redenção, outros negociam com o caos.

A humanidade brinca de herói armado, como se a violência fosse encenação. Mas quem aponta uma arma sem intenção de atirar esquece que há sempre alguém do outro lado disposto a revidar. Já nos roubaram o ouro, o voto e a esperança. E a história nos sussurra: ferido, o povo volta. Volta para cobrar.

No fim da tarde, a chuva cessou, mas o céu permaneceu cinza. Os patinhos haviam sumido — como tudo que é passageiro. Restava apenas o silêncio: espesso, denso, necessário.

Enquanto eu fechava a janela, entendi que o medo de recomeçar é só o eco daquilo que ficou mal resolvido. E recomeçar exige mais do que força: exige coragem para olhar o mundo como ele é — e, ainda assim, escolher continuar.

Talvez o verdadeiro milagre seja seguir em frente, mesmo quando tudo diz para parar. Porque viver, neste planeta ferido, é um ato de resistência. E crer na mudança, mesmo que ela venha devagar, é um ato de fé.


Com base na crônica apresentada, elaborei cinco questões discursivas que exploram seus temas principais sob uma perspectiva sociológica:


O narrador afirma que "o povo queria reforma, mas esqueceu de se reformar primeiro". Discuta como essa ideia se relaciona com o conceito de transformação social, considerando a relação entre mudanças institucionais e mudanças de consciência individual.


A crônica utiliza a metáfora da chuva e da enxurrada que "arrasta o que não presta". Explique como fenômenos naturais podem ser interpretados sociologicamente como expressões simbólicas de processos de purificação ou renovação social.


O texto menciona que "Já nos roubaram o ouro, o voto e a esperança". Analise como essa afirmação reflete a percepção de traumas históricos coletivos e sua influência na formação da identidade social brasileira.


"A humanidade brinca de herói armado, como se a violência fosse encenação." A partir dessa frase, reflita sobre como a banalização da violência e sua representação na sociedade contemporânea afetam as relações sociais.


Na conclusão, o narrador afirma que "viver, neste planeta ferido, é um ato de resistência." Discuta como o conceito sociológico de resistência pode ser aplicado às formas de enfrentamento das crises ambientais e sociais mencionadas no texto.

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sábado, 1 de janeiro de 2022

Coleção 61 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 61 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 A inspiração do autor não se apaga por falta de vocação, mas pelas cicatrizes de um ensinar que se fez ato de resistência.

2 O professor teme a visita dos pais, pois a sombra da nota zero converte o aprender em vigilância e o diálogo em campo de confronto.

3 Critico o sábado letivo por expor a incoerência de um sistema que, ao planejar em excesso o supletivo, esquece a própria essência da síntese.

4 O professor, certo de sua competência, vê sua autoconfiança vacilar ao reconhecer-se nas fragilidades dos alunos e, ao ser questionado por uma aluna sobre sua formação, tem sua credibilidade silenciosamente colocada à prova.

5 O celular nas mãos dos alunos torna-se um instrumento de vigilância disfarçada que mais sabota do que promove o aprendizado.

6 Se os professores renunciarem ao compromisso e às virtudes sociais, tornar-se-ão servos de uma nova escravidão moral, formando os próprios algozes que os condenarão.

7 A educação formal fracassa em sua promessa de libertação ao formar indivíduos que, após anos de estudo, continuam cativos da ignorância funcional e da servidão econômica.

8 Os zumbis representam os que, corroídos pela inveja, alimentam-se da vitalidade alheia para manter viva a própria miséria.

9 O mal se autodestrói, mas antes de ruir força o bem a seus extremos, sustentando o desequilíbrio até que o pêndulo cesse e a harmonia retorne.

10 Reconheço-me como um cronista desvairado, que converte banalidades em crítica e medianos em heróis, costurando carapuças estreitas demais para cabeças que raramente pensam.

11 A primeira falha deveria ensinar o recuo, mas o homem, iludido pela sorte, persiste e descobre, tarde demais, que a certeza nasce do erro repetido.

12 Quem persegue a justiça em excesso aprisiona-se aos próprios critérios, pois até a conduta mais irrepreensível deixa rastros que podem virar prova contra si.

13 O sistema obriga um representante das minorias a falar incoerentemente em nome da igualdade, uma prática que escraviza e enfraquece, pois a falsidade dessa representação é sempre efêmera.

14 A mediocridade se alastra quando não contida, pois os hábitos expõem nossas fraquezas; o problema não é senti-las, mas a incapacidade de escondê-las.

15 Explico meu alto salário pela escassez de minhas qualidades, sustentando que o que é raro e valioso é justamente o que mais se ausenta.

16 Abandonei as "Palavras Cruzadas" nas aulas após críticas e acusações de malandragem, concluindo que quem ignora os méritos de um método vê toda inovação como ameaça, mas, no fim, os críticos se neutralizam; “cobra engole cobra”.

17 Comparo-me a Balaão, percebendo que, ao criticar a Educação, acabo por abençoá-la involuntariamente, e identifico-me com a jumenta falante, que intercede pelo bem enquanto sofre para se calar, questionando a ausência de um protetor.

18 O pensamento envenenado pelo ressentimento gera planos de vingança que inevitavelmente se voltam contra o próprio arquiteto, pois a obsessão vindicativa corrompe a razão e transforma o planejador em vítima de sua própria máquina de destruição.

19 Estudantes retribuem a infantilização institucional com omissão calculada: quando a escola os reduz a estereótipos no Dia do Estudante, eles respondem no Dia dos Professores negando homenagens, devolvendo silenciosa e criticamente a mesma condescendência que receberam.

20 O prazer é condição ontológica da vida humana; criminalizá-lo equivale a criminalizar a própria existência, e religiões mercantilizadas que impõem culpa transformam a corporalidade em instrumento de controle e lucro.

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domingo, 19 de dezembro de 2021

Coleção 60 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 60 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 "A verdadeira identidade surge quando as máscaras sociais desmoronam; o descontrole expõe não uma essência imutável, mas o paradoxo da persona, revelando que tanto o eu controlado quanto o descontrolado são construções passageiras de uma subjetividade multifacetada."

2 "O verdadeiro caráter se revela na fidelidade às promessas, pois a volubilidade imediatista, embora vantajosa, corrói a integridade e compromete a confiança que sustenta a vida em comum."

3 "No amor contemporâneo, a performance destrói o sentimento genuíno, deixando relações 'sem coração, cegas e sem dente', e corroendo a capacidade coletiva de amar autenticamente."

4 "Existo, logo penso e sinto; nenhuma repulsa alheia pode negar a legitimidade incondicional de minha existência, mesmo que caminhe na contramão da norma."

5 "O professor envelhecido se vê humilhado e desprotegido, impotente como Eliseu sem ursas, revelando que a autoridade pedagógica hoje se esgota quando respeito e experiência se tornam alvo de escárnio."

6 "Ao acumular repulsa imaginada e transferir culpa ao sistema, a persona se vitimiza e se absolve, revelando como ambientes tóxicos deformam identidades e obscurecem a responsabilidade sobre escolhas adaptativas."

7 "Professores mantêm rigidez e crueldade, mas perderam o monopólio sobre a violência; o respeito não desapareceu por excesso ou ausência de disciplina, mas porque a autoridade baseada no terror vertical colapsou, revelando que submissão nunca foi respeito genuíno."

8 É "velho tarado": Eles me ameaçam condenar por aquilo que mais gostam e veneram, a falsa alegria de "Ficar". Aos guardiões da cortina de fumaça, minhas despedidas com lamentos pela minha disfunção erétil de 65 anos de idade.

9 "Pais seletivamente exigentes 'vomitam' culpas sobre professores, que absorvem e regurgitam saber contaminado, revelando como ciclos de hipocrisia e transferência de responsabilidades corroem a dignidade pedagógica e distorcem o ensino."

10 "Quando respeito se torna moeda de troca hierárquica, a autoridade pedagógica se corrompe em retaliação proporcional, transformando a sala de aula em arena onde ninguém realmente merece respeito."

11 "Quando a sirene e os comandos administrativos transformam o descanso docente em desconforto estratégico, a escola revela como protocolos e espaços podem disciplinar e desvalorizar professores, mesmo sob aparência de organização."

12 "Quando estudantes se engajam apenas em atividades esportivas, a escola revela contradições: promove seletividade utilitarista e desvaloriza vocações práticas, expondo que o desinteresse nem sempre é falta de empenho, mas inadequação entre currículo e talentos diversos."

13 "Ao aceitar reproduzir a vulgaridade da sociedade, a escola abdica de sua função civilizatória, transformando-se de agente de mudança em fornecedora passiva de futilidades, cúmplice da própria decadência que deveria combater."

14 "Sob o olhar microscópico da consciência moral, toda ação parece destrutiva, e quem busca inocência absoluta se torna vítima de sua própria paralisia, lembrando que pisadas maiores sempre nos sobrepõem."

15 "Quem instiga a violência descobre que brincar com conflitos sempre contamina: se permanece perto, suja-se com o dano alheio; se foge, mancha-se com a vergonha da covardia."

16 "Talvez Davi tenha sido impedido de construir o templo não por guerras, mas porque seus amores, intensos e humanos, não atingiam o ágape exigido para a morada divina, revelando que proximidade emocional nem sempre se traduz em vocação sagrada."

17 "Ao interpretar riqueza e pobreza como retribuição divina proporcional, naturaliza-se a desigualdade, transformando injustiça estrutural em mérito moral e convertendo Deus em executor automático de privilégios e punições que historicamente são humanos."

18 "Na visão maniqueísta, 'os de Deus'; íntegros, autênticos e éticos, contrastam com cúmplices do mal, cuja ausência de retidão promete autodestruição; contudo, a história demonstra que alianças criminosas frequentemente resistem, revelando que a moralidade não garante a dissolução do mal."

19 "Com a abolição da férula, a violência não desapareceu: migrou verticalmente para horizontal, transformando a escola de espaço formativo em arena onde todos batem em todos, revelando que a ordem sem agressão institucionalizada permanece impossível de conceber."

20 "Ao culpar os 'retardatários' pela estagnação educacional, transforma-se vítimas de exclusão estrutural em parasitas, naturalizando desigualdade e substituindo a responsabilidade institucional por darwinismo social disfarçado de pragmatismo."

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sábado, 11 de dezembro de 2021

Coleção 59 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 59 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 O segredo da existência está em compreender que toda violação das leis da natureza desperta forças que buscam restabelecer o equilíbrio; pois viver é participar do eterno movimento de ruptura e cura que sustenta o universo.

2 Compreender a pobreza requer vivê-la: ao doar-se até o limite, o benfeitor descobre que, na escassez extrema, a necessidade sufoca a gratidão e transforma o amparo em ingratidão.

3 Não é preciso vingar-se, pois a própria natureza exerce sua justiça, renovando-se e equilibrando-se ao alternar seus predadores no eterno ciclo da vida.

4 O discurso social evoluiu de simples fofoca a instrumento de manipulação: o que antes era boato, hoje é mensagem calculada, em que o ouvinte vira delator e a palavra se converte em prova; enquanto inimigos, paradoxalmente aliados, se unem para punir a vítima.

5 A intenção de executar as aulas de greve revela um viés meramente punitivo e financeiro, com cheiro de multa, já que a tabela oficial de "reposição" preocupa-se apenas com a quantidade de horas perdidas, sem assegurar nem mensurar a qualidade pedagógica do que se pretende repor.

6 Diante do suicídio iminente, surgiu uma desistência serena, guiada por uma razão libertadora e profundamente íntima: a descoberta de um egoísmo essencial, capaz de transformar cada dia em um milagre de autovalorização. Assim, viver passou a ser um gesto de afirmação do eu; e qualquer suicídio futuro, se vier, pertencerá apenas ao domínio do amor absoluto e altruísta.

7 A Páscoa revela que até o sacrifício supremo pode conter um traço de egoísmo elevado, pois o verdadeiro sentido da vida é a afirmação do eu; e a humildade, em sua forma mais sutil, é apenas o egoísmo refinado de quem busca, na abnegação, uma vitória que poucos ousariam conquistar.

8 As ações de ajuda ao próximo nascem, muitas vezes, de motivações egoístas, fazendo da própria religião uma sofisticada estratégia de autoexaltação, onde a fé se converte em uma verdadeira Comunhão de Autoculto.

9 A autoestima pode ser vista como a exaltação do ego, marcada pelo desejo intenso de reconhecimento e pela supervalorização da própria importância, uma inclinação atribuída a Lúcifer, desafiando a ideia de que tal filosofia é necessariamente pessimista.

10 O temor surge diante da possibilidade de o indivíduo perceber sua própria divindade, tornando Deus supérfluo, ou, ao contrário, de falhar em abraçar sua plenitude, transformando-se em um Demônio aos olhos do Ser Supremo.

11 O egoísmo é o vestígio positivo de Deus no ser humano, a valorização absoluta de sua exclusividade; assim, indagar-se sobre a própria identidade ("quem sou eu?") é um ato natural e inocente, cuja resposta se resume à afirmação da individualidade ("eu sou fulano de tal").

12 Um aluno que se mostra ineficaz e "bravio" em sala, mesmo diante de um livro, pode revelar-se excelente no pátio, desde que receba as ferramentas certas e alguém capaz de orientar e canalizar seu potencial.

13 A escola mantém, de forma velada, um interesse na perpetuação do analfabetismo, pois é essa carência que assegura sua relevância. Ao mesmo tempo, os bons alunos, ao aprenderem rapidamente e não retornarem para compartilhar o conhecimento, inadvertidamente reforçam o ciclo de dependência do sistema educacional.

14 O estudante novato, ao chegar no segundo bimestre, tende a se agrupar com colegas de perfil semelhante no fundo da sala, onde os comportamentos se tornam homogêneos. Para revelar sua verdadeira identidade, basta que me faça uma pergunta; e sua essência se mostrará.

15 A leitura deve ser valorizada, pois um leitor inspira outros a ler. Embora o escritor seja inteligente e o leitor sábio, ambos vivem sob a desigualdade múltipla causada pelas limitações e tolices impostas por um sistema que deliberadamente emburrece.

16 O menor não alcança o maior, e da incapacidade nasce a opressão, revelada em líderes que perpetuam deficiências sistêmicas, punindo aqueles que ignoram a diversidade de talentos e destinos.

17 Quem examina meus registros deve conhecer minhas obras por completo e negociar com meu círculo, pois só o tempo, em seu curso cíclico, revelará as provas; e é por isso que busco desafios extraordinários.

18 A discriminação contra o idoso é a mais grave, pois além de ser considerado inútil, carrega os fantasmas de sua própria história, revelando até a falha em ser perverso o suficiente para merecer o desprezo social.

19 As cicatrizes existem para nos lembrar da dor, pois é a memória do sofrimento que alimenta o desejo constante de cura, deste e de todos os males que ainda virão.

20 Não se pode deixar de cativar o outro, pois é essa conexão que dá sentido à vida; o perdão revela afeto, enquanto o desinteresse é, paradoxalmente, um convite à permanência.

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