"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(15) Para além de Deus e do Diabo: moralidade como projeto humano

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(15) Para além de Deus e do Diabo: moralidade como projeto humano

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A relação entre religião, moralidade e comportamento humano é um tema complexo e controverso, que envolve diversas perspectivas filosóficas, teológicas e éticas. Neste ensaio, pretendo analisar criticamente a ideia de que a religião é a única fonte de moralidade e que aqueles que a rejeitam estão condenados à perversidade e à corrupção. Em contrapartida, proponho uma visão mais inclusiva e compassiva, que reconhece a diversidade de crenças e valores morais na humanidade, e que enfatiza a importância da empatia, compreensão e respeito mútuo.

A ideia de que a religião é a única fonte de moralidade é baseada na crença de que há uma lei divina que determina o que é certo e o que é errado, e que essa lei deve ser obedecida por todos os seres humanos. Essa visão implica que aqueles que não seguem essa lei estão em rebelião contra Deus e são merecedores de castigo. Essa visão também pressupõe que há uma oposição entre os "cristãos" e os "homens do mundo", sendo estes últimos considerados como inimigos de Deus e da verdade.

Essa visão, porém, pode ser questionada por vários motivos. Em primeiro lugar, ela ignora o fato de que há diferentes religiões no mundo, cada uma com seus próprios conceitos de moralidade e de divindade. Como saber qual delas é a verdadeira? Como conciliar as divergências entre elas? Em segundo lugar, ela desconsidera o fato de que há muitas pessoas que não aderem a nenhuma religião específica, mas que se comportam de maneira ética e compassiva, seguindo princípios universais de justiça, solidariedade e dignidade humana. Como explicar a existência dessas pessoas? Em terceiro lugar, ela adota uma abordagem negativa e ameaçadora para promover a fé religiosa, baseada no medo da destruição e do julgamento final. Essa abordagem pode gerar angústia, culpa e intolerância, em vez de amor, perdão e reconciliação.

Diante disso, proponho uma visão mais inclusiva e compassiva, que reconhece que a moralidade não é exclusiva da religião, mas sim uma qualidade universal que pode ser encontrada em pessoas de todas as origens e crenças. Essa visão se baseia na ideia de que todos os seres humanos são criados à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27), e que portanto possuem uma consciência moral inata, capaz de discernir o bem do mal (Romanos 2:14-15). Essa visão também se inspira na mensagem de amor, perdão e reconciliação presente em muitas tradições religiosas, especialmente no cristianismo (Mateus 22:37-40; João 3:16; 1 João 4:7-21). Essa visão ainda se apoia na reflexão filosófica sobre a moralidade humana, que busca compreender sua origem, sua função e seus critérios racionais (Kant, Nietzsche, Feuerbach, etc.).

Concluo dizendo que é preciso reconhecendo que a moralidade não é exclusiva da religião, basta-nos promover valores universais de empatia e respeito mútuo. Essa perspectiva pode contribuir para uma convivência mais harmoniosa entre as pessoas, independentemente das suas crenças religiosas.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(14) O pecado é relativo?

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(14) O pecado é relativo?

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O pecado e a moralidade são conceitos que permeiam a história da humanidade e que suscitam diversas interpretações e debates. Neste ensaio, pretende-se analisar a visão apresentada no mundo evangélico, que parece adotar uma perspectiva bastante rígida e moralista sobre o pecado e a natureza humana, enfocando principalmente os comportamentos pecaminosos e sua suposta apreciação pelos pecadores. Em contrapartida, propõe-se uma abordagem mais aberta e ponderada, considerando o contexto e a evolução do pensamento moral e ético ao longo do tempo.

Em primeiro lugar, é fundamental reconhecer que as noções de pecado e moralidade variam amplamente entre diferentes culturas e épocas. O que é considerado pecado em uma sociedade pode não ser visto da mesma forma em outra. Além disso, a compreensão moderna da moralidade é influenciada por uma variedade de fatores, incluindo valores culturais, avanços na psicologia e na sociologia e uma compreensão mais ampla da complexidade da natureza humana. Como disse o filósofo Immanuel Kant: "A moralidade não é a doutrina de como nos tornamos felizes, mas de como nos tornamos dignos da felicidade" . Portanto, a moralidade não pode ser reduzida a uma lista de regras ou proibições, mas deve ser entendida como um princípio racional que orienta as ações humanas.

Em contraste com a ideia de que os pecadores "gostam" do pecado, muitos estudiosos argumentariam que os comportamentos que são rotulados como pecaminosos muitas vezes resultam de uma série de influências, incluindo ambiente, educação e circunstâncias individuais. É uma visão mais compassiva reconhecer que as pessoas podem cometer erros, mas isso não significa necessariamente que elas "gostam" do pecado. Como disse o apóstolo Paulo: "Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço" . Assim, devemos reconhecer que somos todos falíveis e sujeitos à tentação.

Além disso, o trabalho missionário dos religiosos focar excessivamente na condenação e no julgamento dos pecadores. No entanto, muitos sistemas éticos modernos enfatizam a importância do perdão, do entendimento e da empatia em relação às ações humanas. Em vez de demonizar os pecadores, é mais construtivo tentar compreender as razões por trás de seus comportamentos e oferecer apoio para ajudá-los a mudar. Como disse o filósofo Søren Kierkegaard: "O amor é tudo isso: perdoar o imperdoável" . E como disse Jesus Cristo: "Não julgueis para que não sejais julgados" .

Em conclusão, a compreensão do pecado e da moralidade é uma questão complexa e multifacetada, que não pode ser reduzida a uma visão rígida e moralista. Em vez disso, devemos adotar uma abordagem mais compreensiva e empática em relação às ações humanas, reconhecendo a diversidade de perspectivas e valores que moldam nossa compreensão da moralidade.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(13) Compaixão e Redenção: Uma Perspectiva Teológica sobre o Desvio

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(13) Compaixão e Redenção: Uma Perspectiva Teológica sobre o Desvio

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Os religiosos da atualidade enfocam a ameaça representada por indivíduos corruptos e ressaltam a importância da sabedoria e conhecimento para evitar desvios morais. No entanto, sob uma perspectiva teológica, é crucial analisar essa questão de modo mais amplo, considerando a necessidade de compaixão e redenção em nossa abordagem em relação aos desviados. Esta análise se baseia em princípios bíblicos e no pensamento de importantes filósofos religiosos.

A compreensão fundamental que devemos abraçar é que todos os seres humanos são passíveis de cometer erros e se desviar do caminho correto. Conforme as Escrituras nos ensinam, "pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Romanos 3:23). Portanto, em vez de julgar de forma rígida aqueles que se desviam, devemos lembrar das palavras de Jesus: "Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra" (João 8:7). Em nossa jornada espiritual, todos nós precisamos da graça e da misericórdia divina.

A ênfase na exclusão e no julgamento pode criar uma cultura religiosa que aliena os desviados em vez de conduzi-los de volta ao caminho da redenção. Em vez de rejeitar, devemos seguir o exemplo de Jesus, que acolheu pecadores e ateou a chama da redenção em seus corações. O apóstolo Paulo nos lembra: "O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio" (Gálatas 5:22-23). Esses atributos devem guiar nossa abordagem em relação aos que se desviam.

O cerne do evangelho é a mensagem de esperança e salvação para todos, independentemente de seus erros passados. Jesus afirmou: "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes" (Mateus 9:12). Devemos buscar ativamente maneiras de auxiliar aqueles que se desviaram a encontrar o caminho de volta para Deus. Esta atitude não apenas reflete o amor e a graça divina, mas também fortalece a comunidade religiosa, tornando-a um farol de esperança em um mundo necessitado.

Em nossa jornada teológica, é imperativo que reconheçamos nossa própria humanidade e vulnerabilidade ao erro. Ao adotarmos uma abordagem compassiva e redentora em relação aos desviados, refletimos os ensinamentos de Jesus e abrimos as portas da esperança e da salvação para todos os que buscam a redenção. Assim, consolidamos uma comunidade religiosa fundamentada na graça divina e na compaixão pelo próximo, seguindo o exemplo de Jesus Cristo.

domingo, 5 de novembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(12) A visão polarizada da humanidade: uma crítica teológica

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(12) A visão polarizada da humanidade: uma crítica teológica

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Os cristãos apresentam uma visão bastante polarizada da humanidade, dividindo-a em categorias de homens bons e maus, sábios e tolos, eleitos e réprobos. Essa abordagem, embora possa parecer simplista, levanta questões importantes sobre o discernimento e a discriminação pessoal. Neste ensaio, pretendo criticar essa visão sob uma perspectiva teológica, recorrendo a citações bíblicas e de grandes pensadores que apontam para uma compreensão mais complexa e dialógica da condição humana.

Em primeiro lugar, a ideia de que há uma divisão clara entre os filhos de Deus e os filhos do diabo, os eleitos e os réprobos, os nascidos de novo e os duas vezes mortos, é uma simplificação que ignora a diversidade de crenças, culturas e experiências humanas. Não há uma única religião ou moral que possa definir quem é bom ou mau, pois cada uma delas tem seus próprios critérios, dogmas e interpretações. Além disso, as religiões e as morais não são estáticas, mas mudam ao longo do tempo e do espaço, conforme as circunstâncias históricas e sociais. Como afirmou o filósofo francês Michel Foucault, "não há nada de absoluto no que diz respeito à moral" (Foucault, 1984, p. 287). A Bíblia também reconhece a complexidade da condição humana, ao afirmar que "todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus" (Romanos 3:23) e que "não há nenhum justo, nem um sequer" (Romanos 3:10). Portanto, não cabe ao homem julgar quem é bom ou mau, mas somente a Deus, que sonda os corações e conhece as intenções (1 Samuel 16:7).

Em segundo lugar, a ideia de que o homem mau se entrega pela sua boca perversa, que se contradiz, desdenha as coisas sagradas, critica a autoridade, menospreza os outros, elogia a si mesmo, presume que está certo, promove a vaidade e zomba das convenções, é uma generalização que desconsidera o contexto e o sentido das palavras. O que é perverso para uns pode ser justo para outros; o que é sagrado para uns pode ser profano para outros; o que é autoridade para uns pode ser opressão para outros; o que é menosprezo para uns pode ser crítica para outros; o que é elogio para uns pode ser reconhecimento para outros; o que é presunção para uns pode ser confiança para outros; o que é vaidade para uns pode ser autoestima para outros; o que é zombaria para uns pode ser humor para outros. Como disse o linguista brasileiro Marcos Bagno, "a língua não é um sistema fechado em si mesmo, mas um fenômeno social dinâmico" (Bagno, 2007, p. 17). A Bíblia também alerta para o perigo de julgar pelas aparências ou pelo falar dos homens, ao dizer que "o homem vê a face, mas o Senhor vê o coração" (1 Samuel 16:7) e que "nem tudo o que reluz é ouro" (Provérbios 27:21).

Em terceiro lugar, a ideia de que um homem sábio pode discernir e identificar homens maus, rejeitando-os e evitando-os, é uma atitude que impede o diálogo e a convivência entre as diferenças. Ao invés de marcar e isolar os homens maus, um homem sábio deveria buscar compreender as razões e as motivações por trás de suas ações, tentando estabelecer pontes de comunicação e cooperação. Ao invés de escolher o caminho da compreensão para sua vida solitária, um homem sábio deveria escolher o caminho da complexidade para sua vida compartilhada. Como propôs o sociólogo francês Edgar Morin, "a complexidade humana exige uma abordagem multidimensional e transdisciplinar" (Morin, 2005, p. 15). A Bíblia também incentiva a interação com os diferentes, ao ensinar que "o ferro afia o ferro, e o homem afia o seu companheiro" (Provérbios 27:17) e que "como o óleo e o perfume alegram o coração, assim o amigo encontra doçura no conselho cordial" (Provérbios 27:9).

Portanto, concluo que a visão polarizada da humanidade apresentada pelos evangélicos é insustentável sob uma perspectiva teológica, que leva em conta a complexidade humana e a relatividade dos valores. Não há uma dicotomia entre homens bons e maus, mas uma multiplicidade de nuances e contradições que caracterizam a condição humana. Não há uma única fonte de sabedoria ou conhecimento, mas uma diversidade de perspectivas e interpretações que enriquecem o pensamento humano. Não há um único caminho da verdade ou da salvação, mas uma variedade de trajetórias e experiências que desafiam o homem a se reinventar constantemente.

sábado, 4 de novembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(11) Sabedoria e ação na preservação espiritual




CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(11) Sabedoria e ação na preservação espiritual

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Os cristãos de modo geral ensinam a importância da discrição e compreensão na preservação da alma e da vida, destacando a visão bíblica desse conceito. Porém, é necessário examinar essa perspectiva teológica à luz de diferentes abordagens filosóficas e religiosas.

Em primeiro lugar, é inegável que a busca pela preservação da alma e do bem-estar espiritual é uma preocupação central em muitas tradições religiosas, incluindo o cristianismo. A Bíblia nos lembra que "a sabedoria é a coisa principal" (Provérbios 4:7) e que "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Salmo 111:10). Esses versículos enfatizam a importância do conhecimento espiritual e da sabedoria divina na jornada da alma.

Entretanto, a visão teológica não deve ser isolada das dimensões físicas e materiais da vida. Como observado pelo filósofo Sêneca, "Não é porque as coisas são difíceis que não ousamos; é porque não ousamos que elas são difíceis." Isso nos lembra que a busca pelo conhecimento espiritual e pela sabedoria também requer ações práticas e esforços físicos para enfrentar os desafios da vida.

Além disso, é importante reconhecer que diferentes culturas e tradições têm suas próprias interpretações sobre a alma e a busca pela preservação espiritual. Como disse Mahatma Gandhi: "A alma não se alimenta de fora para dentro, mas de dentro para fora." Essa perspectiva enfatiza a importância da auto-reflexão e da transformação interior na busca da alma.

Em suma, a preservação da alma é uma jornada complexa que não se limita à visão bíblica, mas que envolve aspectos espirituais, filosóficos e práticos. É fundamental reconhecer a diversidade de perspectivas e valorizar a busca individual por significado e propósito na vida, integrando a sabedoria espiritual com ações práticas e um entendimento mais amplo da existência humana.

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(10) Os Múltiplos Caminhos para o Sucesso: Além da Religião

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(10) Os Múltiplos Caminhos para o Sucesso: Além da Religião

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O autoconhecimento é uma das virtudes mais importantes para o ser humano, pois permite que ele se conheça, se aperfeiçoe e se realize. Muitas vezes, as pessoas buscam na religião uma forma de encontrar sentido e segurança para a sua vida, mas isso pode ser insuficiente ou até mesmo prejudicial, se não houver um trabalho interior de autoconhecimento. Neste ensaio, pretendo argumentar que o autoconhecimento eleva mais que rituais religiosos, usando como base algumas citações bíblicas e de grandes pensadores.

A Bíblia, que é a fonte sagrada de muitas religiões, já nos ensina sobre a importância do autoconhecimento. No livro de Provérbios, lemos: "Como águas profundas é o conselho no coração do homem; mas o homem de inteligência o trará para fora" (Provérbios 20:5). Isso significa que cada um de nós tem uma sabedoria interior que precisa ser acessada e manifestada. Também no livro de Salmos, encontramos: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno" (Salmos 139:23-24). Aqui, o salmista reconhece que só Deus pode ajudá-lo a se conhecer verdadeiramente e a se purificar de seus defeitos.

No entanto, a religião não é suficiente para garantir o autoconhecimento, se não houver um esforço pessoal de reflexão e transformação. Como disse o filósofo chinês Lao Tsé, “conhecer os outros é inteligência; conhecer a si mesmo é verdadeira sabedoria”. O autoconhecimento eleva mais que rituais religiosos, pois nos faz compreender quem somos, quais são nossos valores, nossos propósitos e nossos potenciais. Além disso, nos faz perceber nossas limitações, nossas fraquezas e nossas necessidades de mudança.

Seguir dogmas religiosos pode limitar nossa verdadeira realização, que vem de dentro. Como disse o psiquiatra Carl Jung, “seu dever é ser você mesmo, não uma imitação de alguém”. Cada um de nós tem uma vocação única e uma missão específica no mundo. Não podemos nos conformar com modelos impostos pela sociedade ou pela religião. Devemos buscar nossa autenticidade e nossa originalidade.

Os ensinamentos religiosos podem inspirar nossa busca pelo autoconhecimento, mas não devem ser o único critério para avaliar nossa vida. Como disse o poeta Fernando Pessoa, “o místico perfeito é o homem que se encanta com a vida”. Devemos valorizar a existência em si, não promessas além dela. Devemos aproveitar as oportunidades de crescimento que a vida nos oferece, sem nos prendermos a dogmas ou rituais que nos alienam da realidade.

Em conclusão, o autoconhecimento é uma virtude que nos eleva mais que rituais religiosos. Ele nos permite conhecer a nós mesmos e a Deus de forma mais profunda e verdadeira. Ele nos permite ser mais sábios, mais autênticos e mais realizados. Ele nos permite viver com mais sentido e segurança. Por isso, devemos cultivar o autoconhecimento como um caminho para a felicidade. Ninguém engana a si mesmo.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(9) Além da Sabedoria: Outras Trilhas para a Justiça e Equidade

 



CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(9) Além da Sabedoria: Outras Trilhas para a Justiça e Equidade

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é uma qualidade que muitas pessoas almejam, especialmente no contexto religioso. A Bíblia, por exemplo, afirma que "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Provérbios 9:10) e que "a sabedoria é melhor do que as armas de guerra" (Eclesiastes 9:18). Mas, será que a busca pela sabedoria é suficiente para garantir a justiça, o julgamento correto e a equidade na vida? Neste ensaio, argumentarei que a sabedoria não é o único caminho para alcançar essas virtudes, e que outras abordagens também devem ser consideradas.

Em primeiro lugar, é importante reconhecer que a sabedoria é uma ferramenta poderosa para orientar nossas ações e decisões. Como disse Sócrates, "o sábio sabe que nada sabe" (Platão, Apologia de Sócrates), ou seja, o sábio reconhece os limites do seu conhecimento e busca aprender mais. A sabedoria também nos ajuda a discernir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o justo e o injusto. Como disse Salomão, "a sabedoria dá força ao sábio mais do que dez governantes que haja na cidade" (Eclesiastes 7:19).

No entanto, a busca pela sabedoria não garante automaticamente a justiça, o julgamento correto ou a equidade em todas as situações. As pessoas podem possuir conhecimento e sabedoria, mas ainda assim fazer escolhas injustas e parciais. Por exemplo, os fariseus eram considerados sábios na lei de Deus, mas Jesus os criticou por serem hipócritas e negligenciarem "os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé" (Mateus 23:23). Portanto, a sabedoria não é suficiente para garantir a justiça, o julgamento correto ou a equidade.

Além disso, existem outras abordagens que também podem ser eficazes na promoção dessas virtudes. Por exemplo, a educação é uma forma importante de desenvolver uma compreensão mais profunda da justiça e do julgamento correto. Como disse Paulo Freire, "a educação é um ato político" (Pedagogia do Oprimido), ou seja, a educação pode ser usada para transformar a realidade social e combater as opressões. A empatia é outra forma de promover a justiça e a equidade. Como disse Dalai Lama, "se você quer que os outros sejam felizes, pratique a compaixão. Se você quer ser feliz, pratique a compaixão" (A Arte da Felicidade). A empatia nos ajuda a nos colocarmos no lugar dos outros e a respeitar suas diferenças. A reflexão crítica é mais uma forma de promover essas virtudes. Como disse René Descartes, "penso, logo existo" (Discurso do Método), ou seja, a reflexão crítica nos ajuda a questionar nossas crenças e valores e a buscar a verdade.

Em suma, embora a busca pela sabedoria seja uma jornada nobre e valiosa, ela não é o único caminho para alcançar a justiça, o julgamento correto e a equidade na vida. Outras abordagens também devem ser consideradas, envolvendo também a educação, a empatia e a reflexão crítica. Não devemos limitar nossa busca por essas virtudes a um único caminho, mas sim reconhecer a diversidade de abordagens que podem contribuir para um mundo mais justo e equitativo.