"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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sexta-feira, 8 de setembro de 2023

CRÔNICA DE UMA SALA DE AULA ("O conhecimento limitado gera orgulho, mas o amplo conhecimento humildade. Assim como as espigas vazias se elevam arrogantemente ao céu, enquanto as cheias se curvam humildemente para a terra, de onde vêm." — Leonardo da Vinci

 


CRÔNICA DE UMA SALA DE AULA ("O conhecimento limitado gera orgulho, mas o amplo conhecimento humildade. Assim como as espigas vazias se elevam arrogantemente ao céu, enquanto as cheias se curvam humildemente para a terra, de onde vêm." — Leonardo da Vinci

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Foi naquela manhã de sol radiante que me vi imerso, mais uma vez, na complexa dinâmica de uma sala de aula. O cenário era uma pequena escola, onde o aprendizado e os desafios se entrelaçavam, criando uma trama intrigante e, por vezes, desoladora.

Naquele instante, percebi que minhas observações sobre a vida escolar eram mais do que meros apontamentos, mas profecias. Elas eram uma janela para o microcosmo de uma sociedade em formação, onde os alunos, como atores principais, desempenhavam seus papéis com inúmeras nuances.

Eu e os demais professores fraquejado com a indisciplina da tal sala de aula esperávamos que a coordenadora pedagógica fosse o fio condutor com soluções viáveis. Estávamos diante de uma trama desafiadora que muitas escolas enfrentam diariamente. Como lidar com alunos indisciplinados? Essa pergunta ecoava em minha mente enquanto eu observava meus alunos indisciplinados se movimentando e resistindo a aula, e eu inutilmente tentando manter a ordem na sala de aula: um palhaço ali na frente.

Dois dias depois, obedecendo o horário de aulas, retornei àquela sala, A primeira cena que testemunhei foi a mudança de lugar de três alunos, os mais indisciplinados. O gesto, aparentemente simples, escondia uma complexidade de emoções e conflitos. As cadeiras da frente da sala pareciam um atestado de sucesso; agora, um território conquistado pelo desrespeito.

Era como se a escola, ao mudar o aluno de lugar, estivesse emitindo um sinal claro: "Nós não sabemos como lidar com você, então vamos isolá-lo." Mas, ao mesmo tempo, essa ação também afetava os alunos disciplinados, que viam sua tranquilidade perturbada pelo intruso.

A sala de aula tornou-se um microcosmo de uma sociedade em constante transformação, onde as relações interpessoais, o poder e a autoridade se entrelaçavam. Os bons alunos, muitas vezes, eram estorvados pelas decisões que visavam conter a indisciplina. A busca pelo equilíbrio parecia um desafio hercúleo.

Posteriormente, em uma reunião de pais, uma mãe corajosa ergueu a voz em defesa de seu filho. Era uma professora também, ciente das questões didáticas e pedagógicas que, por vezes, eram negligenciadas pelos pedagogos que decidiam as mudanças. Seu filho era um bom menino que fora obrigado a ceder seu lugar da frente ir para um, no "fundão".

Fiquei perplexo ao saber que alguns dos professores, por vezes, pareciam seguir uma lógica que não era clara para mim. A maioria deles, ao que parecia, estava focada na gestão da disciplina a curto prazo, sem considerar as implicações a longo prazo.

Mudar um aluno de lugar ou de turma parecia uma solução imediata, mas as consequências para a coesão da classe e o desenvolvimento pessoal do próprio aluno eram frequentemente negligenciadas. Era como se o tempo presente ofuscasse o futuro.

Aquela mãe e seu filho saíram da sala dos professores com uma vitória aparente. Lágrimas de crocodilo haviam concordado, não como mãe, mas como professora com a decisão da maioria ali sugestionada pela direção disciplinar. Eu não podia deixar de imaginar as implicações morais daquela escolha.

Refletindo sobre tudo o que testemunhei, uma verdade se tornou clara para mim: nunca se resolve problemas relacionais e de indisciplina apenas mudando o desordeiro de lugar, sem antes tentar mudar o caráter. Aquela lição foi aprendida da maneira mais difícil por todos nós.

As salas de aula continuam sendo laboratórios de vida, onde as relações humanas são testadas e moldadas. Nesse microcosmo, é essencial que a educação não se restrinja apenas à disciplina acadêmica, mas também ao desenvolvimento moral e social.

Não podemos nivelar todos por baixo, sacrificando o potencial dos bons alunos em nome da acomodação. Cada aluno merece uma oportunidade de crescer e prosperar, e a educação deve ser um farol que guia a todos, não importando o quão tortuoso seja o caminho. Porém praticando e ensinado a justiça.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(27) Medo, angústia e sabedoria: uma reflexão teológico-filosófica.

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(27) Medo, angústia e sabedoria: uma reflexão teológico-filosófica.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O medo e a angústia são sentimentos universais, que acompanham o ser humano desde os primórdios da sua existência. Eles revelam a nossa fragilidade, a nossa finitude, a nossa dependência de fatores que escapam ao nosso controle. Muitas vezes, esses sentimentos são associados a uma punição divina, a um castigo por nossos pecados ou erros. Mas será que essa é uma visão correta? Será que Deus é um tirano que nos amedronta e nos aflige? Ou será que Ele é um Pai amoroso que nos convida à sabedoria?

A sabedoria é a capacidade de discernir o bem do mal, o certo do errado, o verdadeiro do falso. Ela não se confunde com o conhecimento, que é a mera acumulação de informações. A sabedoria implica em uma atitude crítica, reflexiva, ética e espiritual diante da realidade. Ela nos ajuda a enfrentar o medo e a angústia com coragem e esperança.

Mas como adquirir a sabedoria? Como desenvolver essa virtude tão necessária e tão rara? A resposta não é simples, mas podemos encontrar algumas pistas nas Escrituras Sagradas e nos grandes pensadores da humanidade. Por exemplo, Sócrates afirmava que “A verdadeira sabedoria está em reconhecer a própria ignorância.” e Platão dizia que “A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento.” Essas citações sugerem que a sabedoria requer humildade, reflexão e abertura para aprender com os outros. Como disse Rumi, o poeta persa, “A sabedoria não é o produto da escolaridade, mas a tentativa de vida por longos anos.”

Uma dessas pistas é reconhecer que o medo e a angústia não devem ser vistos como punições divinas, mas como parte da condição humana. Como disse Mahatma Gandhi, “não devemos temer o castigo pelos pecados, mas o pecado em si”. O pecado é a transgressão da lei de Deus, que é a lei do amor. O pecado nos afasta de Deus, de nós mesmos e dos outros. O pecado nos impede de ser felizes.

Outra pista é praticar a compaixão, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir o que ele sente, de sofrer com ele e de ajudá-lo. A compaixão é o oposto do egoísmo, da indiferença e da violência. A compaixão é o reflexo do amor de Deus por nós. Jesus Cristo nos ensinou: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5:44). Essa é uma lição difícil, mas essencial para a sabedoria.

Uma terceira pista é buscar o autoconhecimento, que é a capacidade de se conhecer profundamente, de reconhecer as próprias qualidades e defeitos, virtudes e vícios, potencialidades e limitações. O autoconhecimento nos leva à humildade, à sinceridade e à autenticidade. Ele nos liberta das ilusões, dos preconceitos e das falsas crenças. Ele nos permite crescer como pessoas. O filósofo Sócrates escreveu: “Uma vida sem exame não vale a pena ser vivida”. Devemos questionar dogmas e buscar respostas por nós mesmos.

Uma quarta pista é cultivar a empatia, que é a capacidade de se alegrar com a alegria do outro, de se entristecer com a tristeza do outro, de se solidarizar com o sofrimento do outro. A empatia é o oposto da inveja, da ironia e da crueldade. A empatia é o reflexo da bondade de Deus por nós. Ana Frank nos disse: “No final, o que realmente importa não é o que fizemos, mas como tratamos as pessoas”.

Portanto, rejeitemos a ideia de um Deus vingativo. Abracemos a compaixão. Examinemos nossos corações. E encontremos sabedoria dentro de nós mesmos.

domingo, 3 de setembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(26) A compaixão como expressão da sabedoria cristã

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(26) A compaixão como expressão da sabedoria cristã

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria cristã é a capacidade de discernir o que é bom, justo e agradável a Deus, tendo como base a revelação divina contida nas Escrituras Sagradas. No entanto, a sabedoria cristã não se limita a um conhecimento teórico ou dogmático, mas se manifesta também na prática do amor ao próximo. Neste ensaio, defendemos a tese de que a compaixão é uma expressão da sabedoria cristã, pois demonstra uma atitude de respeito, empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem. Essa atitude se opõe ao escárnio, que é uma forma de desprezo, ironia e zombaria para com aqueles que nos desagradam. Acreditamos que a compaixão é mais coerente com o ensino e o exemplo de Jesus Cristo, que demonstrou misericórdia e amor pelos pecadores, sem deixar de exortá-los à conversão e à santidade.

Para fundamentar a nossa tese, recorremos a alguns embasamentos teóricos, tanto bíblicos quanto filosóficos. No campo bíblico, citamos o mandamento de Jesus: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22:39). Esse mandamento resume toda a lei e os profetas, e implica em reconhecer o valor e a dignidade de cada pessoa, independentemente de suas falhas ou diferenças. Esse mandamento também implica em se colocar no lugar do outro, buscando compreender suas necessidades, sentimentos e motivações. Esse mandamento ainda implica em agir em favor do outro, procurando aliviar seu sofrimento, promover seu bem-estar e restaurar seu relacionamento com Deus.

No campo filosófico, citamos o pensamento de Mahatma Gandhi, que defendeu que "a não-violência e a verdade são inseparáveis". Segundo Gandhi, a não-violência é mais do que uma ausência de violência física ou verbal; é uma atitude de respeito e benevolência para com todos os seres vivos. A não-violência também exige uma busca pela verdade, que é mais do que uma conformidade com os fatos; é uma adesão aos princípios universais de justiça e amor. Portanto, para Gandhi, devemos agir com não-violência e verdade em todas as situações, mesmo diante dos nossos inimigos ou adversários.

Outro pensador filosófico que citamos é Nelson Mandela, que escreveu: "ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender". Com essa frase, Mandela mostrou que o ódio é um sentimento aprendido, fruto da ignorância e do preconceito. Mandela também mostrou que é possível desaprender o ódio, por meio da educação e do diálogo. Mandela foi um exemplo de perdão e reconciliação, ao liderar a transição pacífica da África do Sul do regime do apartheid para a democracia.

Em conclusão, propomos que a compaixão é uma expressão da sabedoria cristã, pois demonstra uma atitude de respeito, empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem. Essa atitude se baseia no mandamento de Jesus de amar o próximo como a si mesmo, e se apoia em alguns embasamentos teóricos, tanto bíblicos quanto filosóficos, que nos ajudam a entender melhor a realidade e a agir com bondade. Essa atitude nos convida a ser mais misericordiosos e menos escarnecedores, mais humildes e menos arrogantes, mais pacíficos e menos violentos. Essa atitude nos desafia a ser mais cristãos.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(25) A compreensão da condição humana como base para a ética cristã

 




CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(25) A compreensão da condição humana como base para a ética cristã

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A ética cristã é o conjunto de princípios e valores que orientam a conduta dos seguidores de Cristo, tendo como fundamento a revelação divina contida nas Escrituras Sagradas. No entanto, a aplicação desses princípios e valores nem sempre é fácil ou evidente, pois a vida humana é complexa e cheia de dilemas. Como devemos agir diante das situações que nos desafiam? Como devemos julgar as ações dos outros? Como devemos lidar com os nossos erros e os dos outros?

Neste ensaio, defendemos a tese de que a ética cristã deve ter como base uma perspectiva compreensiva da condição humana, que reconheça as limitações, as intenções e as circunstâncias das pessoas envolvidas em cada situação. Essa perspectiva se opõe à visão rígida e condenatória que alguns crentes fanáticos apresentam, que ignora a complexidade da realidade e se baseia em preconceitos e dogmas. Acreditamos que uma perspectiva compreensiva é mais coerente com o ensino e o exemplo de Jesus Cristo, que demonstrou misericórdia e amor pelos pecadores, sem deixar de exortá-los à conversão e à santidade.

Para fundamentar a nossa tese, recorremos a alguns embasamentos teóricos, tanto bíblicos quanto filosóficos. No campo bíblico, citamos o episódio em que Jesus salva uma mulher adúltera da lapidação, dizendo aos seus acusadores: "Quem dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a atirar pedra contra ela" (Jo 8:7). Com essa frase, Jesus mostra que ninguém tem o direito de julgar os outros com severidade, pois todos somos pecadores e carecemos da graça de Deus. Além disso, Jesus não condena a mulher, mas lhe diz: "Vai e não peques mais" (Jo 8:11). Com isso, Jesus mostra que é possível perdoar os erros dos outros, sem deixar de orientá-los para o caminho correto.

No campo filosófico, citamos o pensamento de Immanuel Kant, que defendeu que devemos julgar as ações pelas intenções que as motivam, e não pelos resultados que delas advêm. Segundo Kant, a intenção é o que determina o valor moral de uma ação, pois é o que revela a vontade do agente. Assim, uma ação é moralmente boa se for motivada pelo dever, isto é, pelo respeito à lei moral universal. Por outro lado, uma ação é moralmente má se for motivada por interesses egoístas ou contingentes. Portanto, para Kant, devemos avaliar as ações dos outros pela sua conformidade com a lei moral, mas também pela sua sinceridade com essa lei.

Outro pensador filosófico que citamos é Sócrates, que afirmou: "só sei que nada sei". Com essa frase, Sócrates expressou a sua consciência da própria ignorância, que o levou a buscar incessantemente o conhecimento da verdade. Sócrates reconhecia as suas limitações e as dos seus interlocutores, e por isso usava o método dialético para questionar as opiniões alheias e expor as suas contradições. Sócrates buscava a sabedoria com humildade e honestidade, sem se deixar levar pela vaidade ou pela arrogância.

Por fim, citamos Mahatma Gandhi, que disse: "o futuro depende daquilo que fazemos no presente". Com essa frase, Gandhi ressaltou a importância da responsabilidade individual e coletiva na construção de um mundo melhor. Gandhi defendia a não-violência como forma de resistir à opressão e promover a justiça. Gandhi acreditava que a mudança social começa pela mudança pessoal, e que devemos ser coerentes entre o que pensamos, dizemos e fazemos.

Em conclusão, propomos que a ética cristã deve ter como base uma perspectiva compreensiva da condição humana, que leve em conta as intenções, as circunstâncias e as limitações das pessoas envolvidas em cada situação. Essa perspectiva se baseia no ensino e no exemplo de Jesus Cristo, que demonstrou misericórdia e amor pelos pecadores, sem deixar de exortá-los à conversão e à santidade. Essa perspectiva também se apoia em alguns embasamentos teóricos, tanto bíblicos quanto filosóficos, que nos ajudam a entender melhor a realidade e a agir com sabedoria. Essa perspectiva nos convida a ser mais compreensivos e menos condenatórios, mais humildes e menos arrogantes, mais responsáveis e menos indiferentes. Essa perspectiva nos desafia a ser mais cristãos.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(24) Uma abordagem crítica sobre convites, oportunidades e verdades.

 




CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(24) Uma abordagem crítica sobre convites, oportunidades e verdades.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Este ensaio apresenta algumas ideias sobre como devemos lidar com os convites e oportunidades que surgem em nossa vida, bem como sobre o papel de Deus na revelação ou ocultação da verdade. Neste ensaio, pretendo analisar essas ideias sob uma perspectiva crítica, questionando alguns pressupostos e oferecendo algumas alternativas de interpretação. Para isso, utilizarei algumas citações bíblicas e de grandes pensadores que podem contribuir para o debate.

Os crestes em geral afirmam que devemos aceitar os convites e as oportunidades que nos são oferecidos, sem questioná-los, pois eles podem ser uma forma de Deus nos abençoar ou nos testar. No entanto, essa postura pode ser problemática, pois nem todos os convites e oportunidades são benéficos ou legítimos. Alguns podem ser armadilhas, enganos ou tentações que visam nos afastar do propósito de Deus para nossa vida. Por isso, é necessário ter discernimento para avaliar as intenções por trás dos convites e oportunidades, e para escolher aqueles que estão de acordo com a vontade de Deus.

A Bíblia nos ensina que o discernimento é uma dádiva de Deus, que Ele concede aos que O buscam com sinceridade e humildade. O rei Salomão, por exemplo, pediu a Deus sabedoria e entendimento para julgar o seu povo com justiça, e Deus lhe concedeu um coração sábio e prudente (1 Reis 3:9-12). O apóstolo Paulo também orou para que os cristãos de Filipos tivessem amor, conhecimento e discernimento, para que pudessem aprovar as coisas excelentes e ser sinceros e inculpáveis diante de Deus (Filipenses 1:9-10). O discernimento é essencial para distinguir entre o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o sensato e o insensato. Disse Martin Buber: "A verdade não está com os homens, mas entre os homens."

Além disso, a Bíblia nos orienta a buscar o conselho dos sábios, dos que têm experiência e conhecimento da palavra de Deus. O livro de Provérbios está repleto de instruções sobre como obter sabedoria e discernimento através da escuta atenta e da observação dos exemplos dos sábios (Provérbios 1:5-6; 18:15; 19:20). A sabedoria humana é limitada e falível, mas a sabedoria divina é perfeita e infalível. Por isso, devemos confiar em Deus e não em nossa própria inteligência (Provérbios 3:5-6).

Portanto, podemos concluir que os convites e as oportunidades devem ser aceitos com discernimento, não sem questionamento. Devemos pedir a Deus sabedoria e orientação para tomar as melhores decisões, e consultar os sábios que podem nos aconselhar. Assim, estaremos mais aptos a reconhecer as bênçãos de Deus e a evitar as ciladas do inimigo.

Neste ensaio também defendo que Deus esconde a verdade daqueles que O rejeitam, enviando-lhes ilusões para que creiam em mentiras. Essa seria uma forma de Deus castigar os ímpios e julgar os rebeldes. No entanto, essa ideia também pode ser questionada, pois implica em uma concepção estática e absoluta da verdade, que seria um privilégio exclusivo dos que creem em Deus. Uma concepção alternativa seria a de que a verdade é dinâmica e relativa, e que depende da busca e da descoberta de cada um. Confirma Friedrich Nietzsche: "Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas."

A filosofia nos ensina que a verdade é um conceito complexo e controverso, que tem sido objeto de reflexão e debate ao longo da história. Alguns filósofos defendem que a verdade é correspondente à realidade, ou seja, que uma afirmação é verdadeira se corresponde aos fatos. Outros defendem que a verdade é coerente com um sistema de crenças, ou seja, que uma afirmação é verdadeira se é consistente com outras afirmações aceitas como verdadeiras. Ainda outros defendem que a verdade é pragmática, ou seja, que uma afirmação é verdadeira se funciona na prática ou se tem consequências positivas. Protágoras já dizia: "O homem é a medida de todas as coisas."

A Bíblia também nos mostra que a verdade é um tema complexo e multifacetado, que envolve aspectos teológicos, morais, epistemológicos e existenciais. A Bíblia afirma que Deus é a fonte e o padrão da verdade, e que a sua palavra é a revelação da sua verdade (Salmos 119:160; João 17:17). A Bíblia também afirma que Jesus Cristo é a encarnação e a expressão da verdade de Deus, e que ele veio ao mundo para dar testemunho da verdade (João 1:14; 14:6-10; 18:37). A Bíblia ainda afirma que o Espírito Santo é o guia e o mestre da verdade, e que ele nos ensina e nos convence da verdade (João 14:26; 16:13).

No entanto, a Bíblia também reconhece que a verdade de Deus não é facilmente acessível ou compreensível para os seres humanos, que são limitados e pecadores. A Bíblia mostra que há mistérios e segredos que pertencem somente a Deus, e que ele revela ou oculta conforme a sua vontade (Deuteronômio 29:29; Romanos 11:33-36). A Bíblia também mostra que há falsos profetas e falsos mestres que distorcem ou negam a verdade de Deus, e que enganam ou seduzem muitas pessoas (Mateus 24:23-25; 2 Pedro 2:1-3). A Bíblia ainda mostra que há resistência e oposição à verdade de Deus por parte do mundo, da carne e do diabo, que tentam impedir ou perverter o conhecimento da verdade (Romanos 1:18-25; 2 Tessalonicenses 2:9-12; Apocalipse 12:9).

Portanto, podemos concluir que a verdade não é algo que Deus esconde ou envia como um castigo, mas algo que ele revela ou concede como uma graça. A verdade de Deus não é algo estático ou absoluto, mas algo dinâmico e relativo, que depende da relação pessoal e histórica entre Deus e os seres humanos. A busca pela verdade é um exercício constante de questionamento e descoberta, que envolve fé e razão, revelação e investigação, obediência e liberdade.

domingo, 27 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(23) Além dos Velhos Padrões

 




Ensaios

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(23) Além dos Velhos Padrões

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O chamado à sabedoria é um convite perene que enriquece a jornada daqueles em busca de conhecimento e discernimento. A personificação da Sabedoria nos conduz à aceitação de suas dádivas, prometendo honra, riqueza e vida àqueles que abraçam sua orientação (Provérbios 1:5). A progressão em direção à sabedoria requer a humilde admissão de nossas imperfeições e a disposição de aprender e crescer (Romanos 12:1-2; 1 Tessalonicenses 1:9).

A rejeição da insensatez em prol da sabedoria gera uma transformação vital. A figura alegórica da Sabedoria adverte sobre as dolorosas consequências que aguardam aqueles que subestimam sua oferta (Provérbios 1:20-32). Contudo, a mudança não se limita a abandonar velhos padrões; ela implica em abraçar novos princípios de sabedoria e retidão. A busca pela sabedoria não é um caminho solitário; envolve descartar o prejudicial e acolher o edificante (Romanos 12:1-2).

A personificação da sabedoria transmite a promessa de adquirir discernimento e orientação interna. O cerne da mensagem é evidente: a sabedoria traz salvação e aperfeiçoamento. Para além dessa personificação, é notável a relação com Cristo, em quem habita toda a sabedoria (Colossenses 2:3; 1 Coríntios 1:30). Jesus promete guiar e instruir aqueles que buscam a verdadeira sabedoria (Efésios 1:17-18; 3:14-19; Colossenses 1:9-11; 1 Coríntios 2:6-16).

A realidade é que muitos rejeitam a sabedoria e escolhem a ignorância, culminando em vidas desestruturadas e, possivelmente, em condenação eterna (Romanos 1:18-32; 2 Tessalonicenses 2:9-12). Ignorar o chamado à sabedoria acarreta consequências árduas (Provérbios 29:1). A figura alegórica da Sabedoria e o convite ao arrependimento demandam interpretação espiritual, apontando para uma mudança substancial e duradoura.

A busca pela sabedoria exige escolha consciente e perseverança. A convicção é uma oportunidade de transformação; resisti-la pode resultar em uma vida vazia e alheia a Deus. É um convite a se aproximar de Deus, pois a comunhão e a prática da sabedoria são recompensas inestimáveis.

Em síntese, o apelo à sabedoria é um chamado à transformação e enriquecimento. A busca por sabedoria e discernimento constitui uma escolha crucial, com implicações profundas e duradouras, tanto nesta existência quanto na eternidade. A decisão de acolher ou rejeitar a oferta de sabedoria moldará a jornada singular de cada indivíduo. Como expressou o filósofo Sócrates, "a verdadeira sabedoria está em reconhecer a própria ignorância".