"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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domingo, 17 de novembro de 2024

Palavras ao Vento: Reflexões de um Escritor ("Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." — Clarice Lispector)

 

Palavras ao Vento: Reflexões de um Escritor ("Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." — Clarice Lispector)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Alguma vez você já se perguntou o que acontece com as palavras que escrevemos? Onde elas pousam, quais corações tocam e quais feridas abrem? Ao longo dos anos, como escritor, tenho refletido muito sobre a jornada das minhas palavras e sobre a complexa relação entre o autor e o leitor. Churchill certa vez disse: "Os cães nos olham de baixo, os gatos de cima, mas os porcos nos olham de igual para igual." Essa frase sempre me intrigou, e ao longo do tempo, ela ganhou novos contornos em minha própria experiência com a escrita.

Ontem, comecei a refletir sobre as diversas reações que recebi ao longo dos anos. Ao vasculhar minhas redes sociais e memórias digitais, deparei-me com um mosaico de opiniões e sentimentos. Foi durante uma tarde de contemplação que essa analogia de Churchill ganhou vida. Observando um gato no muro, mestre da indiferença graciosa, compreendi a complexidade das relações entre quem escreve e quem lê.

Ao longo dos anos, identifiquei três tipos distintos de leitores. O primeiro, representado por pessoas como Pedro, que dissecavam meus textos com precisão cirúrgica. Suas críticas, embora dolorosas, eram presentes valiosos disfarçados de desafios. Foram essas contestações que me fizeram evoluir, repensar e renascer como escritor. Além disso, havia aqueles que traziam apenas ruídos vazios, grunhidos travestidos de argumentos. Lembro-me particularmente de um comentário tão agressivo que me fez questionar se havia cometido algum crime ao escrever. Foi aí que aprendi, como dizia minha avó, que "nem todo café merece açúcar, nem toda provocação merece resposta." O silêncio, nestes casos, tornou-se minha resposta mais eloquente.

No entanto, entre esses extremos, navegam os indiferentes - um terceiro tipo. São como peões no tabuleiro da escrita, que passam por nossas palavras sem deixar rastros, nem marcas. Inicialmente, sua neutralidade incomodava, mas aprendi a vê-la como um convite para aprimorar minha arte de provocar reflexões.

Escrever transformou-se num jogo de xadrez com parceiros invisíveis, onde cada texto é um lance estratégico, cada resposta uma jogada, e cada silêncio uma manobra calculada. Não se trata mais de vencer ou perder, mas de manter a dignidade do jogo e a autenticidade das ideias. Como a rainha, que move-se livremente pelo tabuleiro, nossas palavras podem alcançar lugares inesperados e provocar reações diversas.

Como quem lança pérolas ao vento, aprendi que algumas palavras encontrarão solo fértil, enquanto outras podem cair na lama. Mas isso não diminui seu valor intrínseco. A coragem de continuar escrevendo, independentemente do destino de nossas palavras, é o que verdadeiramente importa.

A você, que chegou até aqui, deixo uma certeza nascida da experiência: não são os aplausos que nos fazem crescer, mas a coragem de permanecermos autênticos diante de todos os tipos de olhares - sejam eles vindos de cima, de baixo ou de igual para igual. Porque no fim, o verdadeiro diálogo acontece não apenas nas palavras trocadas, mas também nos silêncios escolhidos.


Com base na reflexão apresentada no texto, proponho as seguintes questões para estimular um debate aprofundado sobre a escrita, a comunicação e a relação entre autor e leitor:


Qual a importância da frase de Churchill para a reflexão do autor sobre a escrita e a relação com o leitor?

Esta questão direciona os alunos a analisar como a metáfora dos animais ajuda a compreender as diferentes formas de interação com o texto.


De que forma as críticas e os comentários negativos podem influenciar o processo criativo de um escritor?

A pergunta incentiva os alunos a refletir sobre a importância da recepção do público e como lidar com opiniões divergentes.


Qual o papel do silêncio na comunicação entre o escritor e o leitor?

Esta questão leva os alunos a considerar que a ausência de resposta também pode ser uma forma de comunicação e a refletir sobre o significado dos diferentes tipos de leitores.


Como a analogia do jogo de xadrez contribui para a compreensão da dinâmica entre autor e leitor?

A pergunta incentiva os alunos a analisar a escrita como uma atividade estratégica e a considerar os diferentes movimentos e reações envolvidos nesse processo.


Qual a importância da autenticidade na escrita e como ela se relaciona com a coragem de enfrentar diferentes tipos de reações?

Esta questão convida os alunos a refletir sobre o valor da originalidade e da honestidade na expressão de ideias e a importância de lidar com as diversas formas de recepção do público.


Observações:

Abordagem interdisciplinar: As questões podem ser relacionadas a outras disciplinas, como língua portuguesa, filosofia e psicologia, ampliando a perspectiva dos alunos.

Crítica e reflexão: As perguntas estimulam os alunos a pensar criticamente sobre as informações apresentadas no texto e a construir suas próprias opiniões.

Diálogo e debate: As questões podem ser utilizadas como ponto de partida para debates em sala de aula, promovendo o respeito às diferentes perspectivas e a construção de um conhecimento coletivo.

Ao trabalhar com essas questões, é importante que o professor crie um ambiente seguro e acolhedor para que os alunos possam expressar suas ideias e opiniões de forma livre e respeitosa. A partir desse debate, é possível aprofundar a reflexão sobre temas como comunicação, criatividade, identidade e a construção de significado.

sábado, 16 de novembro de 2024

ENTRE CICATRIZES E SORRISOS: MEIO SÉCULO DE REFLEXÕES (“Quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.” — Viktor E. Frankl)

 

ENTRE CICATRIZES E SORRISOS: MEIO SÉCULO DE REFLEXÕES (“Quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.” — Viktor E. Frankl)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Ontem, ao organizar uma velha caixa de fotografias, encontrei uma imagem que me transportou instantaneamente aos corredores do Colégio Santa Cruz. Há 50 anos, eu era conhecido como "o garoto dos óculos fundo de garrafa". As memórias emergiram como uma avalanche: os risos zombeteiros, os empurrões "acidentais", os cadernos rasgados.

Recordo-me especialmente de uma manhã de outono, quando Freira Coracy, minha professora de literatura, encontrou-me escondido na biblioteca durante o intervalo. Meus óculos haviam sido quebrados pela terceira vez naquele mês. Suas palavras, "As pessoas só têm poder sobre você quando você lhes concede esse poder", persistem em minha memória até hoje.

Naqueles tempos, eu oscilava entre duas vozes internas conflitantes: uma me incitava à reação violenta, impelindo-me a me tornar o opressor; a outra sugeria a invisibilidade, a completa anulação do meu ser. Em busca de soluções, recorri a diversos "especialistas em autoajuda" – meros vendedores de fórmulas mágicas que prometiam transformar-me em alguém "superior" aos meus algozes.

Foi durante uma tarde chuvosa, após mais uma humilhação, que experimentei minha epifania. Ao observar a pequena árvore no pátio, que se curvava com o vento mas mantinha-se firme, compreendi: não precisava me quebrar nem me tornar intransponível.

Atualmente, como educador, testemunho o mesmo drama se repetir em diferentes faces e histórias. Compreendi que a verdadeira força não reside em erguer muros, mas em construir pontes; não em gritar mais alto, mas em falar com firmeza e compaixão. A dignidade não pede licença para existir, ela simplesmente é.

A foto amarelada agora me arranca sorrisos. Aquele garoto dos óculos grossos transformou-se em um homem que aprendeu que sua luz não precisa diminuir para que outros brilhem. As cicatrizes do bullying converteram-se em marcas de uma lição valiosa: é possível ser gentil sem ser fraco, forte sem ser cruel.

Preservo essa imagem não como lembrança de dor, mas como testemunho de transformação. Ela me relembra, diariamente, que o antídoto contra o bullying não está em fórmulas mágicas ou extremos comportamentais, mas no delicado equilíbrio entre aceitar nossa humanidade e defender nossa dignidade.

A você, que talvez atravesse seu próprio inverno de solidão e intimidação, saiba que há primavera dentro de si. Não permita que as tempestades arranquem suas raízes. Curve-se se necessário, mas mantenha-se íntegro. Seu valor não reside no julgamento alheio, mas na verdade que carrega em seu coração.


1. Com base no texto, analise como as relações de poder e dominação se manifestam no ambiente escolar através do bullying e explique por que algumas pessoas se tornam alvos frequentes dessa prática.


2. De que forma a busca por "soluções mágicas" e extremos comportamentais pode prejudicar o desenvolvimento de uma resposta saudável ao bullying? Discuta a partir das experiências relatadas no texto.


3. O narrador menciona uma transformação em sua perspectiva sobre o bullying ao longo dos anos. Explique como essa mudança de visão reflete aspectos importantes da socialização e construção da identidade.


4. Considerando o papel atual do narrador como educador, discuta a importância das instituições de ensino na prevenção e combate ao bullying, relacionando com conceitos de cidadania e dignidade humana.


5. Analise criticamente como os diferentes tipos de violência escolar descritos no texto (física, psicológica e simbólica) podem impactar o desenvolvimento social e emocional dos indivíduos a longo prazo.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VII(20) “Infidelidade e Adultério: Uma Visão Além do Medo e da Culpa”

 

ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VII(20) “Infidelidade e Adultério: Uma Visão Além do Medo e da Culpa”

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A abordagem dos fanáticos religiosos sobre o adultério, apesar de embasada em princípios bíblicos, carece de uma análise mais contemporânea. Como Paulo Freire observou, "A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo". Portanto, um diálogo aberto e respeitoso, valorizando a individualidade e a liberdade de escolha de cada pessoa, é necessário.

Em primeiro lugar, a comparação entre o adultério e a relação com uma prostituta não considera a complexidade das relações interpessoais. Conforme diz Provérbios 14:12, "Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte". A análise psicológica sugere que as motivações para a infidelidade podem ser diversas e multifacetadas.

Além disso, a ênfase na punição divina pode ser interpretada como uma tentativa de manipulação emocional. Nas palavras de Sartre, "O homem está condenado a ser livre". Ao invocar o temor de Deus, a ideologia da igreja negligencia a importância do diálogo e do perdão.

Em uma sociedade cada vez mais plural, é fundamental adotar uma abordagem mais empática. Como diz Romanos 14:1, "Aceite o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos". Em vez de recorrer a conceitos morais rígidos, é necessário promover o diálogo aberto.

Portanto, é preciso repensar as narrativas tradicionais sobre o adultério, reconhecendo a complexidade das experiências humanas. Conforme 1 Coríntios 13:4-7 enfatiza, "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". Devemos buscar uma abordagem mais compassiva, que promova o respeito mútuo e o apoio mútuo nos relacionamentos.


Com base na reflexão apresentada no texto, proponho as seguintes questões para estimular um debate aprofundado sobre a abordagem religiosa do adultério e suas implicações sociais:


Qual a principal crítica do texto à abordagem tradicional da igreja sobre o adultério?

Esta questão direciona os alunos a identificar os pontos de divergência entre a visão religiosa e a perspectiva proposta pelo autor.


Como a comparação entre o adultério e a relação com uma prostituta simplifica a complexidade das relações humanas?

A pergunta incentiva os alunos a refletirem sobre as nuances das relações interpessoais e a importância de considerar diferentes perspectivas.


Qual o papel do medo da punição divina na manutenção das normas sociais relacionadas ao adultério?

Esta questão leva os alunos a analisarem o poder da religião na construção de valores e normas sociais.


Como a ideia de diálogo e respeito à individualidade pode contribuir para uma abordagem mais humana e compassiva sobre o adultério?

A pergunta incentiva os alunos a refletirem sobre a importância da empatia e da comunicação na construção de relações mais saudáveis.


De que forma os princípios bíblicos sobre amor e compaixão podem ser aplicados à discussão sobre o adultério?

Esta questão convida os alunos a reinterpretar textos religiosos à luz de uma perspectiva mais contemporânea e inclusiva.


Observações:

Abordagem interdisciplinar: As questões podem ser relacionadas a outras disciplinas, como filosofia, psicologia e história, ampliando a perspectiva dos alunos.

Crítica e reflexão: As perguntas estimulam os alunos a pensar criticamente sobre as informações apresentadas no texto e a construir suas próprias opiniões.

Diálogo e debate: As questões podem ser utilizadas como ponto de partida para debates em sala de aula, promovendo o respeito às diferentes perspectivas e a construção de um conhecimento coletivo.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Enfrentando a Violência: Educação como Pilar da Segurança (“A educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo.” — Paulo Freire)

 

Enfrentando a Violência: Educação como Pilar da Segurança (“A educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo.” — Paulo Freire)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A tragédia em Alexânia ecoou em meus ouvidos como um sino fúnebre, e a imagem do jovem, vítima da violência, me perseguiu por dias. A pergunta que não quer calar ecoava em minha mente: até quando teremos que conviver com essa barbárie? A defesa pessoal, tema tão debatido, ganhou contornos ainda mais nítidos diante desse cenário de horror.

As discussões acaloradas sobre o porte de armas por civis e a proposta de armar professores geraram debates intensos. De um lado, os defensores da liberdade individual e do direito de autodefesa argumentavam que "um cidadão armado seria capaz de deter um criminoso e salvar vidas". Do outro, os defensores dos direitos humanos alertavam para os riscos de "uma sociedade mais violenta, onde qualquer desentendimento poderia culminar em tragédia".

No entanto, a questão vai além da simples posse de armas. Ela nos leva a refletir sobre o papel da escola na formação do cidadão. A educação, para ser completa, precisa ir além da transmissão de conteúdos. Ela deve desenvolver nos alunos habilidades como o pensamento crítico, a resolução de problemas e a capacidade de tomar decisões. Além disso, ela deve fomentar o respeito à vida e aos direitos humanos.

Armar professores não é a solução para o problema da violência. A verdadeira segurança está na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos tenham oportunidades e onde a vida seja valorizada. A educação deve preparar o aluno para o mundo, incentivando o esforço, o mérito e a responsabilidade, em vez de criar uma realidade de condescendência e conformismo.

A crítica, aqui, não é ao acolhimento, mas à falta de exigência de responsabilidade. Dar algo a alguém sem pedir esforço em troca não fortalece, apenas acomoda. Em vez de incutir no aluno a noção de dignidade e responsabilidade, cria-se uma realidade onde se recebe sem mérito, se exige sem entrega. Essa distorção, em última análise, mina o verdadeiro papel da educação.

A educação que transforma é aquela que ensina o aluno a enfrentar o mundo, não a depender dele. Não se trata de armar escolas ou de criar cidadãos "blindados", mas de garantir que todos – alunos e professores – tenham o direito de viver e crescer com dignidade e segurança. É um equilíbrio delicado, e a cada dia, nesse teatro cotidiano que é a sala de aula, vamos ensaiando as respostas, entre erros e acertos.


Com base na profunda reflexão do autor sobre a educação e a violência, proponho as seguintes questões para estimular um debate rico e crítico:


Qual a principal relação estabelecida pelo autor entre a questão da defesa pessoal e o papel da educação?

Essa questão direciona os alunos a identificar a conexão entre a segurança individual e a formação do cidadão.


Quais os argumentos apresentados pelo autor a favor e contra a proposta de armar professores?

A pergunta incentiva os alunos a analisar os prós e contras dessa medida e a construir sua própria opinião.


Qual o papel da escola na formação de cidadãos conscientes e responsáveis?

Essa questão leva os alunos a refletir sobre a função da educação na sociedade e os valores que devem ser transmitidos.


Como a ideia de "dar sem exigir" pode influenciar o desenvolvimento dos alunos?

A pergunta incentiva os alunos a pensar sobre as consequências de uma educação que não exige esforço e responsabilidade.


Quais os desafios para construir uma educação que prepare os alunos para enfrentar os desafios da vida e contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária?

Essa questão abre espaço para uma discussão mais ampla sobre o futuro da educação e os caminhos para uma sociedade mais segura.


Observações:

Abordagem interdisciplinar: As questões incentivam os alunos a relacionar os conceitos sociológicos com conhecimentos de outras áreas, como filosofia, psicologia e política.

Crítica e reflexão: As perguntas estimulam os alunos a pensar criticamente sobre as informações apresentadas no texto e a construir suas próprias opiniões sobre o tema.

Diálogo e debate: As questões podem ser utilizadas como ponto de partida para debates em sala de aula, promovendo o respeito às diferentes perspectivas e a construção de um conhecimento coletivo.

Ao trabalhar com essas questões, é importante que o professor crie um ambiente seguro e acolhedor para que os alunos possam expressar suas ideias e opiniões de forma livre e respeitosa. A partir desse debate, é possível aprofundar a reflexão sobre temas como violência, educação, cidadania e os desafios da sociedade contemporânea. https://globoplay.globo.com/v/12397187/