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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Comendo o Pão do Diabo: Uma Reflexão Sobre a Verdade ("O contrário de uma afirmação correta é uma afirmação falsa. Mas o contrário de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda." - Niels Bohr.)

 

  • Comendo o Pão do Diabo: Uma Reflexão Sobre a Verdade ("O contrário de uma afirmação correta é uma afirmação falsa. Mas o contrário de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda." - Niels Bohr.) 

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    A poeira da manhã ainda dançava nos tênues raios que invadiam a padaria, um santuário matinal de aromas e conversas sussurradas. O cheiro quente do pão fresco misturava-se ao vapor do café, criando uma atmosfera reconfortante, quase familiar. Ali, entre uma mordida e outra no meu pão com manteiga, uma conversa me fisgou como um anzol certeiro. Dois senhores, com a sabedoria acumulada em rugas profundas e mãos calejadas, debatiam com fervor sobre um tema espinhoso: a natureza da mentira e sua suposta origem divina.


    Um deles, com voz grave e o olhar perdido em algum ponto distante, lançou a questão no ar, como quem atira uma pedra em um lago calmo: “Deus Se fez Demônio para ser o pai da mentira, para que os que só falam a verdade continuem comendo o pão que o Diabo amassou?” A frase ecoou no ambiente, silenciando momentaneamente o burburinho matinal. A imagem era forte, quase chocante: Deus, a personificação do bem, transformado em arauto da mentira. Um paradoxo que me intrigou profundamente.


    Imediatamente, minha mente começou a trabalhar, buscando conexões e interpretações. Lembrei-me de antigas leituras sobre a dualidade humana, a eterna luta entre o bem e o mal que reside em cada um de nós. Pensei na metáfora do “pão que o Diabo amassou”, que representa as consequências amargas que, muitas vezes, aqueles que seguem a verdade precisam enfrentar em um mundo onde a mentira parece prosperar.


    Em um ímpeto, interrompi a conversa, sentindo a necessidade de expressar meu ponto de vista: “Eu digo que essa ideia de que Deus se fez demônio para ser o pai da mentira é uma reflexão provocativa e, de certa forma, paradoxal. Se tomarmos isso metaforicamente, talvez se refira à complexidade das escolhas humanas e à luta interna entre o bem e o mal. O 'pão que o Diabo amassou' pode simbolizar as consequências de viver na verdade em um mundo que, muitas vezes, favorece a mentira e a manipulação. No entanto, acredito que não podemos atribuir a Deus um papel negativo dessa forma, pois Ele é fonte de luz e verdade. A mentira, por sua vez, pertence à fragilidade humana, não divina.” Apesar de que, a passagem bíblica de Isaías 45:7 — 'Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas.' servir para justificar que Deus é mesmo o promotor da mentira quando lhe é conveniente. E quem mente é filho de Deus também em recuperação.


    A resposta veio em um tom carregado de incredulidade e bom humor: “CiFA, tu tá viajando, hein? Falar que Deus é o demônio pra justificar a mentira é tipo dizer que o capeta tá ali só fazendo favor pra gente. O povo que vive na mentira geralmente se dá bem, enquanto quem fala a verdade acaba se lascando. Mas colocar Deus nessa história... Sei não, hein, parece mais coisa de quem tá querendo entender o rolê errado!”


    A troca de ideias continuou, com argumentos e contra-argumentos que se cruzavam como as linhas de uma teia. A questão central, porém, permanecia em minha mente: qual a origem da mentira? Seria ela uma força externa, uma entidade demoníaca, ou uma manifestação da própria natureza humana?


    Naquela manhã, entre o aroma do café e o calor dos pães, percebi que a questão da mentira não era tão simples quanto parecia. Não se tratava apenas de um ato isolado, mas de um fenômeno complexo, enraizado nas relações humanas e nas estruturas sociais. A mentira se manifesta de diversas formas, desde as pequenas omissões até as grandes fraudes, e suas consequências podem ser devastadoras.


    Ao sair da padaria, com o sol já alto no céu, levei comigo não respostas definitivas, mas a certeza de que a busca pela verdade é um caminho árduo, repleto de desafios e contradições. Um caminho que exige reflexão constante, diálogo aberto e, acima de tudo, a coragem de enfrentar as próprias fragilidades. A imagem de Deus se fazendo demônio, embora chocante, me fez refletir sobre a complexidade do mundo e a importância de cultivarmos a verdade em nossos corações, mesmo quando o “pão que o Diabo amassou” parecer mais apetitoso. Que possamos escolher, a cada dia, o caminho da honestidade e da integridade, buscando construir um mundo onde a verdade seja o alicerce de nossas relações.


    ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

    Como um professor de sociologia do Ensino Médio, apresento 5 questões discursivas sobre o texto fornecido:

    1. O debate ocorrido na padaria levanta uma questão complexa sobre a origem da mentira. Quais as diferentes perspectivas apresentadas no texto sobre essa origem e como elas se relacionam com as noções de bem e mal?

    2. A expressão "pão que o Diabo amassou" é utilizada no texto como uma metáfora. Explique o significado dessa metáfora dentro do contexto da discussão sobre a verdade e a mentira.

    3. O texto aborda a dualidade humana, a luta interna entre o bem e o mal. De que forma essa dualidade se manifesta na questão da mentira, segundo as reflexões apresentadas?

    4. O autor do texto interrompe a conversa para apresentar seu ponto de vista. Qual a principal argumentação defendida por ele em relação à origem da mentira e como ele contrapõe a ideia de uma origem divina para a mesma?

    5. O texto conclui que a mentira é um fenômeno complexo, enraizado nas relações humanas e nas estruturas sociais. Como essa afirmação se relaciona com a ideia de que a busca pela verdade é um caminho árduo, repleto de desafios e contradições?

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