"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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MINHAS PÉROLAS

domingo, 5 de janeiro de 2025

O ABC do Retrocesso ("A mediocridade não conhece nada além de si mesma; mas o talento reconhece instantaneamente o gênio." — Arthur Conan Doyle)

 

  • O ABC do Retrocesso ("A mediocridade não conhece nada além de si mesma; mas o talento reconhece instantaneamente o gênio." — Arthur Conan Doyle)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Ontem, enquanto organizava minha pasta de recortes antigos sobre educação, encontrei uma manchete de 1985 que celebrava o alto nível de exigência para a formação de professores em nosso país. O contraste com a notícia que li esta manhã no "Site PJ Media" quase me fez derramar o café.

    Na cozinha silenciosa de um domingo, refleti sobre os rumos da educação e recordei meus tempos de estudante. Lembrei-me da Dona Coraci, professora de matemática, que nos fazia decorar a tabuada, mas também nos ensinava a pensar. Da freira, Irmã Maria, que transformava a História em aventuras épicas. Eram mestres que dominavam seus conteúdos com a mesma precisão com que um cirurgião maneja seu bisturi.

    Agora, folheando as páginas do jornal eletrônico, deparo-me com a notícia de que, em Nova Jersey, professores não precisarão mais passar por testes básicos de competência. É como se decidíssemos que pilotos de avião não precisam mais provar que sabem pousar. Aqui no Brasil, também foi anunciada, no dia 22 de setembro, a Medida Provisória (MP) 746 da chamada ‘reforma’ do ensino médio. “A ideia do notório saber no magistério significa você dizer que todo mundo que conhece muito sobre uma determinada questão é um bom professor e, é claro, isso não é verdade”, afirmou a UBES. A justificativa? Faltam professores. Mas, desde quando quantidade se tornou mais importante que qualidade?

    Entre um gole e outro de café já frio, penso nos meus colegas professores mais jovens. Muitos são brilhantes, verdadeiros artesãos do conhecimento. Outros, porém, parecem ter caído de paraquedas na profissão, trazendo na bagagem mais ideologia do que conhecimento (ideologia de gênero, são ativistas e praticam a militância política).

    O relógio marca meio-dia e ainda me pego imaginando o futuro. Vejo salas de aula onde Shakespeare foi substituído por "hashtags", onde a tabuada perdeu espaço para "slogans", onde o pensamento crítico imbuído da verdade se rendeu ao pensamento único progressista. É como assistir a um naufrágio em câmera lenta, sabendo que há botes salva-vidas, mas optando por não usá-los.

    A tarde avança e, com ela, cresce minha inquietação. Não posso deixar de pensar nos Fundadores da Nação, que viam na educação sólida o alicerce de uma sociedade próspera. O que diriam eles ao ver que estamos trocando o ouro do conhecimento pelo chumbo da mediocridade?

    Ao final deste domingo reflexivo, imprimo e guardo o jornal junto aos recortes antigos. A história da educação que ali se desenha não é apenas uma crônica do presente, mas um alerta para o futuro. Porque, quando abrimos mão da excelência em nome da conveniência, não é apenas o ABC que fica pela metade – é todo o alfabeto do crescimento que se desfaz.

    https://pjmedia.com/catherinesalgado/2025/01/05/w-is-for-woke-nj-ditches-basic-literacy-test-for-teachers-n4935687

    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto apresentado:

    1. O autor compara a notícia atual sobre a dispensa de testes de competência para professores em Nova Jersey com uma manchete de 1985 que celebrava a alta exigência na formação docente. Qual a importância dessa comparação para a argumentação do texto?

    2. O autor evoca a memória de seus professores, Dona Coraci e Irmã Maria, para contrastar com a situação atual. Que características desses educadores são destacadas e qual o significado desse contraste no contexto da discussão sobre a qualidade do ensino?

    3. O texto menciona a Medida Provisória (MP) 746 e a crítica da UBES à ideia do "notório saber no magistério". Qual o ponto central da crítica da UBES e como ela se relaciona com a problemática da qualidade da formação docente abordada no texto?

    4. O autor expressa preocupação com a presença de "ideologia" em detrimento do "conhecimento" na formação de alguns professores. Como essa preocupação se manifesta na visão do autor sobre o futuro da educação e qual a sua crítica em relação a essa situação?

    5. Ao mencionar os "Fundadores da Nação", o autor estabelece uma conexão entre educação sólida e uma sociedade próspera. De que forma essa conexão reforça a crítica à flexibilização dos critérios para a formação de professores apresentada no texto?

    quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

    O Farol Apagado: A Decepção de uma Professora ("Conhecer o bem e não o praticar, eis o pior dos males." — Confúcio)

     

  • O Farol Apagado: A Decepção de uma Professora ("Conhecer o bem e não o praticar, eis o pior dos males." — Confúcio)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    O ano mal começava e a notícia, fria como a garoa de janeiro, me atingiu como um tapa. “Professora é demitida por pedir licença menstrual para viajar”. A manchete, por si só, já carregava um peso enorme, uma contradição gritante. Li a matéria com uma mistura de incredulidade e tristeza, tentando entender o que levara uma educadora a tal atitude. Aos poucos, a história se desenrolava, revelando uma sucessão de equívocos que culminaram na demissão de uma profissional de 45 anos.

    Lembro-me de ter pensado em meus próprios tempos de escola, nas professoras que me inspiraram, naquelas que dedicavam suas vidas ao ensino, mesmo diante das dificuldades. A figura do professor, para mim, sempre representou um farol, um guia na jornada do conhecimento. E, de repente, me deparo com essa notícia, quebrando essa imagem idealizada.

    A reportagem detalhava como a professora, ao longo de alguns anos, solicitou licenças médicas e trabalho remoto de forma fraudulenta, somando 23 pedidos, tudo para satisfazer um desejo incontrolável de viajar. Destinos nacionais, como Okinawa e Ishigaki, e internacionais, como Espanha e Austrália, foram os palcos dessas escapadas. A cada novo destino citado, um nó se formava na minha garganta. Como alguém que tem o privilégio de educar pode agir com tamanha falta de ética?

    As palavras da professora, “Eu sabia que era errado, mas não pude resistir à vontade de viajar”, ecoavam na minha mente. Uma confissão sincera, mas que não atenuava a gravidade do ato. A busca por prazer e aventura, mesmo que compreensível em certa medida, não justifica a quebra de confiança e o desrespeito à instituição.

    A notícia me levou a refletir sobre a fragilidade humana, sobre a constante luta entre o desejo e o dever. Quantas vezes nos vemos diante de tentações, de caminhos aparentemente mais fáceis, que nos afastam dos nossos princípios? A professora, em sua busca incessante por viagens, acabou se perdendo no labirinto das próprias escolhas.

    O caso dessa professora demitida não é apenas uma notícia sobre uma fraude. É um retrato da sociedade contemporânea, marcada pela busca incessante por satisfação imediata, pela relativização dos valores e pela dificuldade em lidar com as frustrações. Acredito que a educação, em seu sentido mais amplo, tem um papel fundamental na formação de cidadãos éticos e responsáveis. Não se trata apenas de transmitir conteúdos, mas de cultivar valores como honestidade, respeito e comprometimento.

    Ao concluir a leitura da notícia, uma sensação de melancolia me invadiu. A história dessa professora me lembrou da importância de mantermos nossos valores inabaláveis, mesmo diante das tentações. Que essa experiência sirva de aprendizado para todos nós, para que possamos refletir sobre nossas escolhas e priorizar a integridade em nossas vidas. Afinal, como disse um grande pensador, “A integridade dispensa regras”. Que possamos viver de acordo com essa máxima, construindo um mundo mais justo e honesto.

    https://portalmie.com/atualidade/2025/01/professora-e-demitida-por-pedir-licenca-menstrual-para-viajar/


    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto apresentado:


    1. A crônica relata a demissão de uma professora por solicitar licenças fraudulentas para viajar. De que forma esse caso individual reflete aspectos da sociedade contemporânea, segundo o autor?

    2. O autor menciona a "busca incessante por satisfação imediata" como uma característica da sociedade atual. Como essa busca se manifesta no caso da professora e quais as consequências dessa atitude?

    3. A figura do professor é apresentada como um "farol" e um "guia". De que maneira a atitude da professora contradiz essa imagem idealizada e qual o impacto dessa quebra de expectativa?

    4. A crônica aborda a "luta entre o desejo e o dever". Explique como esse conflito se manifesta na história da professora e como ele se relaciona com a questão da ética profissional.

    5. O autor conclui a crônica com a frase "A integridade dispensa regras". De que forma essa afirmação resume a mensagem central do texto e qual a sua relação com o papel da educação na formação dos indivíduos?

    ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VIII(2) “A Sabedoria é Realmente Acessível a Todos? Uma Perspectiva Crítica”

     Ensaio 



    ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VIII(2) “A Sabedoria é Realmente Acessível a Todos? Uma Perspectiva Crítica”

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    A visão de que a sabedoria é facilmente acessível a todos, comumente propagada por alguns crentes fervorosos, é um tema que merece uma análise crítica. Embora a ideia central pareça promover a democratização do conhecimento, existem várias nuances a serem consideradas.

    Primeiramente, é importante reconhecer que a noção de sabedoria é subjetiva e pode variar conforme diferentes perspectivas culturais e epistemológicas. Como afirma o filósofo contemporâneo Pierre Bourdieu, "O que é visto como conhecimento digno de ser transmitido é uma construção arbitrária de uma cultura particular, dependente das relações de poder dentro dessa cultura." Assim, a suposta universalidade da sabedoria pregada nos seminários bíblicos pode não ser tão abrangente quanto é frequentemente sugerido.

    Além disso, o acesso à educação formal e aos recursos intelectuais continua sendo um privilégio para muitos. Como observa a educadora bell hooks, "A educação dominante reforça a noção de uma voz única de autoridade." Essa voz tende a refletir as perspectivas de grupos hegemônicos, marginalizando outras formas de conhecimento. Portanto, a afirmação de que a sabedoria está igualmente disponível a todos é questionável.

    É crucial também considerar as barreiras socioeconômicas e culturais que dificultam o acesso de muitos indivíduos ao conhecimento e sua plena apropriação. Como aponta Pierre Bourdieu, "O capital cultural é um recurso que facilita o acesso a oportunidades educacionais e culturais, mas está desigualmente distribuído na sociedade."

    Em vez de recorrer a citações bíblicas ou a autores canônicos, podemos olhar para vozes contemporâneas que desafiam a noção de universalidade do conhecimento. O filósofo africano Achille Mbembe, por exemplo, afirma: "O conhecimento não é um objeto dado, mas uma prática corporificada, situada e performativa." Essa perspectiva destaca a importância de reconhecer os múltiplos caminhos para a sabedoria, além das tradições ocidentais dominantes.

    Outro ponto relevante é a relação entre sabedoria e poder. Como argumenta o teórico pós-colonial Edward Said, "O conhecimento é inseparável das operações de poder e dominação." Essa visão sugere que a disseminação da sabedoria pode estar vinculada a agendas e interesses específicos, em vez de ser verdadeiramente acessível a todos.

    Em suma, embora a ideia de uma sabedoria amplamente disponível seja atraente, é essencial adotar uma postura crítica ao examinar essa afirmação. Devemos reconhecer as complexidades e barreiras que moldam o acesso ao conhecimento, assim como as relações de poder que influenciam sua disseminação. Somente ao considerar essas nuances poderemos buscar caminhos mais equitativos e inclusivos para a sabedoria.


    ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

    1. Subjetividade e Universalidade da Sabedoria:

    a) Explique como a noção de sabedoria pode ser considerada subjetiva e dependente da cultura e da perspectiva individual.

    b) Discuta a crítica de Pierre Bourdieu à ideia de uma sabedoria universal, considerando as relações de poder presentes na construção do conhecimento.

    c) Analise como a suposta universalidade da sabedoria pregada em alguns contextos religiosos pode ser questionada à luz da diversidade cultural e epistemológica.

    2. Desigualdade no Acesso à Sabedoria:

    a) Quais são as principais barreiras que impedem o acesso universal à educação formal e aos recursos intelectuais?

    b) Como a desigualdade socioeconômica e a marginalização social podem afetar o acesso à sabedoria e ao conhecimento?

    c) Discuta o papel do Estado e da sociedade na promoção da democratização do conhecimento e na redução das desigualdades no acesso à educação.

    3. Barreiras Socioeconômicas e Culturais:

    a) Cite e explique as principais barreiras socioeconômicas e culturais que podem dificultar o acesso à sabedoria e ao conhecimento.

    b) Analise o conceito de "capital cultural" de Pierre Bourdieu e como ele pode influenciar as oportunidades educacionais e culturais dos indivíduos.

    c) Dê exemplos de iniciativas que visam superar as barreiras socioeconômicas e culturais no acesso à sabedoria e ao conhecimento.

    4. Vozes Contemporâneas e Diversidade Epistemológica:

    a) Apresente a crítica de Achille Mbembe à visão tradicional da sabedoria, destacando a importância da contextualização e da prática na construção do conhecimento.

    b) Explique a perspectiva de Edward Said sobre a relação entre conhecimento e poder, considerando como o saber pode ser utilizado para legitimar relações de dominação.

    c) Cite e explique outras perspectivas contemporâneas que desafiam a visão simplista da sabedoria e defendem a diversidade epistemológica.

    5. Reflexões e Proposições para o Futuro:

    a) Resuma as principais críticas à visão de que a sabedoria é facilmente acessível a todos.

    b) Quais são os desafios para a construção de uma sociedade mais justa e plural em relação ao acesso à sabedoria e ao conhecimento?

    c) Como você, como estudante, pode contribuir para a democratização do conhecimento e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva?

    segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

    Comendo o Pão do Diabo: Uma Reflexão Sobre a Verdade ("O contrário de uma afirmação correta é uma afirmação falsa. Mas o contrário de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda." - Niels Bohr.)

     

  • Comendo o Pão do Diabo: Uma Reflexão Sobre a Verdade ("O contrário de uma afirmação correta é uma afirmação falsa. Mas o contrário de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda." - Niels Bohr.) 

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    A poeira da manhã ainda dançava nos tênues raios que invadiam a padaria, um santuário matinal de aromas e conversas sussurradas. O cheiro quente do pão fresco misturava-se ao vapor do café, criando uma atmosfera reconfortante, quase familiar. Ali, entre uma mordida e outra no meu pão com manteiga, uma conversa me fisgou como um anzol certeiro. Dois senhores, com a sabedoria acumulada em rugas profundas e mãos calejadas, debatiam com fervor sobre um tema espinhoso: a natureza da mentira e sua suposta origem divina.


    Um deles, com voz grave e o olhar perdido em algum ponto distante, lançou a questão no ar, como quem atira uma pedra em um lago calmo: “Deus Se fez Demônio para ser o pai da mentira, para que os que só falam a verdade continuem comendo o pão que o Diabo amassou?” A frase ecoou no ambiente, silenciando momentaneamente o burburinho matinal. A imagem era forte, quase chocante: Deus, a personificação do bem, transformado em arauto da mentira. Um paradoxo que me intrigou profundamente.


    Imediatamente, minha mente começou a trabalhar, buscando conexões e interpretações. Lembrei-me de antigas leituras sobre a dualidade humana, a eterna luta entre o bem e o mal que reside em cada um de nós. Pensei na metáfora do “pão que o Diabo amassou”, que representa as consequências amargas que, muitas vezes, aqueles que seguem a verdade precisam enfrentar em um mundo onde a mentira parece prosperar.


    Em um ímpeto, interrompi a conversa, sentindo a necessidade de expressar meu ponto de vista: “Eu digo que essa ideia de que Deus se fez demônio para ser o pai da mentira é uma reflexão provocativa e, de certa forma, paradoxal. Se tomarmos isso metaforicamente, talvez se refira à complexidade das escolhas humanas e à luta interna entre o bem e o mal. O 'pão que o Diabo amassou' pode simbolizar as consequências de viver na verdade em um mundo que, muitas vezes, favorece a mentira e a manipulação. No entanto, acredito que não podemos atribuir a Deus um papel negativo dessa forma, pois Ele é fonte de luz e verdade. A mentira, por sua vez, pertence à fragilidade humana, não divina.” Apesar de que, a passagem bíblica de Isaías 45:7 — 'Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas.' servir para justificar que Deus é mesmo o promotor da mentira quando lhe é conveniente. E quem mente é filho de Deus também em recuperação.


    A resposta veio em um tom carregado de incredulidade e bom humor: “CiFA, tu tá viajando, hein? Falar que Deus é o demônio pra justificar a mentira é tipo dizer que o capeta tá ali só fazendo favor pra gente. O povo que vive na mentira geralmente se dá bem, enquanto quem fala a verdade acaba se lascando. Mas colocar Deus nessa história... Sei não, hein, parece mais coisa de quem tá querendo entender o rolê errado!”


    A troca de ideias continuou, com argumentos e contra-argumentos que se cruzavam como as linhas de uma teia. A questão central, porém, permanecia em minha mente: qual a origem da mentira? Seria ela uma força externa, uma entidade demoníaca, ou uma manifestação da própria natureza humana?


    Naquela manhã, entre o aroma do café e o calor dos pães, percebi que a questão da mentira não era tão simples quanto parecia. Não se tratava apenas de um ato isolado, mas de um fenômeno complexo, enraizado nas relações humanas e nas estruturas sociais. A mentira se manifesta de diversas formas, desde as pequenas omissões até as grandes fraudes, e suas consequências podem ser devastadoras.


    Ao sair da padaria, com o sol já alto no céu, levei comigo não respostas definitivas, mas a certeza de que a busca pela verdade é um caminho árduo, repleto de desafios e contradições. Um caminho que exige reflexão constante, diálogo aberto e, acima de tudo, a coragem de enfrentar as próprias fragilidades. A imagem de Deus se fazendo demônio, embora chocante, me fez refletir sobre a complexidade do mundo e a importância de cultivarmos a verdade em nossos corações, mesmo quando o “pão que o Diabo amassou” parecer mais apetitoso. Que possamos escolher, a cada dia, o caminho da honestidade e da integridade, buscando construir um mundo onde a verdade seja o alicerce de nossas relações.


    ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

    Como um professor de sociologia do Ensino Médio, apresento 5 questões discursivas sobre o texto fornecido:

    1. O debate ocorrido na padaria levanta uma questão complexa sobre a origem da mentira. Quais as diferentes perspectivas apresentadas no texto sobre essa origem e como elas se relacionam com as noções de bem e mal?

    2. A expressão "pão que o Diabo amassou" é utilizada no texto como uma metáfora. Explique o significado dessa metáfora dentro do contexto da discussão sobre a verdade e a mentira.

    3. O texto aborda a dualidade humana, a luta interna entre o bem e o mal. De que forma essa dualidade se manifesta na questão da mentira, segundo as reflexões apresentadas?

    4. O autor do texto interrompe a conversa para apresentar seu ponto de vista. Qual a principal argumentação defendida por ele em relação à origem da mentira e como ele contrapõe a ideia de uma origem divina para a mesma?

    5. O texto conclui que a mentira é um fenômeno complexo, enraizado nas relações humanas e nas estruturas sociais. Como essa afirmação se relaciona com a ideia de que a busca pela verdade é um caminho árduo, repleto de desafios e contradições?

    domingo, 29 de dezembro de 2024

    Lições de Truco: Memórias de um Professor Resiliente ("O professor medíocre conta. O bom professor explica. O professor superior demonstra. O grande professor inspira." — William Arthur Ward)

     Crônica 


    Lições de Truco: Memórias de um Professor Resiliente ("O professor medíocre conta. O bom professor explica. O professor superior demonstra. O grande professor inspira." — William Arthur Ward)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Outro dia, enquanto explicava a importância dos verbos irregulares, vi-me fazendo malabarismos com o giz numa mão e gesticulando energicamente com a outra, tal qual um maestro tentando reger uma orquestra desafinada. Na sala 616, o cenário era previsível: João dobrava aviõezinhos de papel, Maria postava selfies no Instagram, e um grupo ao fundo transformava a aula de português em um animado campeonato de truco.

    Duas décadas de magistério não me prepararam para essa metamorfose da educação. Se antes me dedicava à transmissão do conhecimento, hoje me tornei especialista em gestão de crises. Meu doutorado em Literatura converteu-se em um curso intensivo de negociação com adolescentes que transformam cada aula num festival de variedades.

    "Professor, só mais uma partidinha!", implora Pedro, suas cartas mal escondidas sob o caderno. Respiro fundo, recordando as palavras de Montapert sobre respeito e valores. Como, porém, falar de valores quando a própria sala de aula se tornou palco de resistência ao aprendizado?

    A cada tentativa de manter a ordem, equilibro-me na corda bamba do sistema educacional. De um lado, o compromisso com o conteúdo programático; do outro, uma geração aparentemente alérgica a qualquer estímulo que não brilhe numa tela de celular.

    Ontem, durante uma explicação sobre Machado de Assis, tive uma epifania: não estamos apenas perdendo a batalha contra a indisciplina - perdemos a guerra pela atenção e pelo interesse genuíno no conhecimento. Enquanto me equilibro entre educador e entertainer, vejo o verdadeiro propósito da educação escorrendo por entre os dedos como grãos de areia.

    Talvez, reflito ao contemplar as carteiras vazias após o sinal, a verdadeira lição não resida nos livros didáticos. Encontra-se na persistência diária de semear conhecimento em solo cada vez mais árido. Afinal, ser professor hoje transcende o ensino de conteúdo - é uma luta para manter acesa a chama da curiosidade num mundo onde o instantâneo e o superficial reinam absolutos.

    E amanhã? Bem, retornarei com meu giz e minha esperança teimosa, pois ainda acredito que, em algum momento, entre uma partida de truco e outra, redescobriremos juntos o valor transformador da educação.


    1. Como as mudanças tecnológicas e comportamentais das últimas décadas têm impactado a relação entre professor e aluno no ambiente escolar?


    2. De que maneira a valorização do imediatismo e do entretenimento pela sociedade contemporânea afeta o processo de ensino-aprendizagem?


    3. Analise criticamente como a transformação do papel do professor - de transmissor de conhecimento para gestor de crises - reflete mudanças sociais mais amplas em nossa sociedade.


    4. Em que medida a resistência ao aprendizado observada em sala de aula pode ser considerada um reflexo de valores sociais contemporâneos?


    5. Como o conflito entre o compromisso com o conteúdo programático e as novas demandas comportamentais dos alunos representa um desafio para o sistema educacional brasileiro?