"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 25 de janeiro de 2025

O Silêncio Ensurdecedor: Uma Crônica da Violência nas Escolas("O silêncio dos bons é tão perigoso quanto a maldade dos maus." - Martin Luther King Jr.)

 

  • O Silêncio Ensurdecedor: Uma Crônica da Violência nas Escolas("O silêncio dos bons é tão perigoso quanto a maldade dos maus." - Martin Luther King Jr.)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    A notícia me atingiu como um golpe, deixando-me sem ar, atordoado. Mais um tiroteio em uma escola nos Estados Unidos, mais uma tragédia que parecia se arrastar pelos noticiários. Desta vez, o cenário foi a Antioch High School, em Nashville, e a data, 22 de janeiro de 2025, se fixou em minha memória com a frieza de um registro policial. A repetição dessas tragédias, a banalização da violência, tornava tudo ainda mais angustiante. Lembro-me de ter lido a notícia pela primeira vez na tela fria do celular. A manchete era concisa, brutal: "Aluno mata uma pessoa a tiros e fere outra em escola nos EUA". A frieza das palavras contrastava com a violência que elas evocavam: um jovem, armado com uma pistola, abrindo fogo na cafeteria da escola – um espaço que deveria ser de convívio e partilha, mas que, naquela manhã, foi transformado em um cenário de horror.

    As informações chegavam aos poucos, como estilhaços de uma bomba. Uma aluna morta, outra ferida. O agressor, um adolescente de 17 anos, cometendo suicídio logo em seguida. O silêncio ensurdecedor que se abateu sobre a escola após os disparos, o pânico nos olhos dos sobreviventes, a dor dilacerante das famílias – tudo isso me invadiu como um filme de terror em plena luz do dia. Naquela manhã gélida de Nashville, os corredores escolares guardavam um segredo trágico que transformaria vidas para sempre. As paredes da escola Antioch, testemunhas silenciosas de tantas histórias juvenis, viram-se subitamente invadidas pelo terror.

    Lembro-me de quando os espaços educacionais representavam segurança, um santuário de conhecimento e formação cidadã. Hoje, são campos de batalha imprevisíveis, onde a inocência se despedaça em segundos. Um disparo. Depois, outro. O silêncio ensurdecedor que se segue é mais doloroso que qualquer barulho. Uma vida interrompida, outra ferida – cicatrizes que ultrapassam a superfície da pele. Quantas histórias não seriam mais contadas? Quantos sonhos se perderam naquele momento fugaz de desespero? As estatísticas transformam-se em rostos, em nomes, em famílias destroçadas.

    As autoridades locais, em suas entrevistas coletivas, tentavam controlar a situação, fornecer informações precisas e acalmar a população. Mas como acalmar um país que vive sob o constante medo da violência armada em suas escolas? Como consolar pais que perderam seus filhos em um local que deveria ser sinônimo de segurança e aprendizado? A notícia me transportou para março de 2023, quando outra tragédia assolou Nashville, na Covenant School. Três crianças de apenas nove anos e três adultos foram brutalmente assassinados por um ex-aluno. A lembrança daquele episódio, ainda tão recente, intensificou o sentimento de impotência e revolta.

    A cada novo tiroteio, a mesma pergunta ecoa em minha mente: até quando? Até quando teremos que conviver com essa violência absurda em nossos espaços de ensino? Até quando crianças e adolescentes terão seus sonhos interrompidos por balas perdidas, ou pior, por atos premeditados de violência? A escola, que deveria ser um santuário, tornou-se palco de nossa mais profunda falha social. Não são apenas tiros que ferem, mas o descaso, a invisibilidade dos jovens em suas dores mais profundas. O medo se instala nos corredores, nas salas de aula, nos refeitórios. A confiança se esvai, dando lugar à paranoia.

    Penso nas famílias enlutadas, na dor irreparável da perda. Penso nos sobreviventes, marcados para sempre pela experiência traumática. Penso na sociedade, que assiste, impotente, a essa escalada de violência. Ao final, restam as perguntas que ninguém ousa responder: quando conseguiremos transformar essa realidade? Quando a educação será, de fato, um ato de amor e não de sobrevivência? Esta crônica não busca respostas fáceis, nem soluções mágicas. É um grito de indignação, um lamento pela perda da inocência, um apelo por um futuro onde as escolas sejam, de fato, espaços de paz e aprendizado. Que o eco desses disparos não se perca no tempo, mas sirva de alerta para que possamos construir um mundo mais justo e seguro para nossas crianças e jovens. Um mundo onde a escola seja sinônimo de vida, e não de morte.


    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


    1. De que forma a repetição de tiroteios em escolas, como o descrito na Antioch High School, impacta a percepção da sociedade sobre o ambiente escolar?

    2. O texto contrasta a imagem idealizada da escola como "santuário" com a realidade da violência. Quais elementos textuais reforçam esse contraste?

    3. Além da violência física dos disparos, o autor aponta para outras formas de violência presentes no contexto dos tiroteios escolares. Quais são elas?

    4. Como o texto aborda o impacto dos tiroteios nas famílias das vítimas e na sociedade como um todo?

    5. Qual o principal apelo do autor ao final da crônica e como ele se relaciona com a problemática da violência nas escolas?

    segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

    Uma Crônica do Vocabulário Carcerário na Escola ("As palavras são carregadas de força; o modo como as usamos pode mudar o mundo." — William Shakespeare)

     Crônica 



    Uma Crônica do Vocabulário Carcerário na Escola ("As palavras são carregadas de força; o modo como as usamos pode mudar o mundo." — William Shakespeare)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    O incômodo começou com uma observação casual, daquelas que grudam na mente como um chiclete velho. Alguém comentou que chamar um aluno de "presidiário" seria uma ofensa grave, e com razão. A palavra evoca imagens de privação de liberdade, transgressão e punição. No entanto, uma constatação perturbadora me assaltou: o próprio vocabulário escolar, sem que percebêssemos, vinha se impregnando de termos que remetem ao universo carcerário. Seria uma profecia velada sobre o futuro de tantos jovens que, mal formados, saem das escolas? A pergunta me assombrou, e comecei a prestar mais atenção nas palavras que ecoavam pelos corredores e salas de aula.

    Outro dia, em meio a uma dessas conversas despretensiosas na sala dos professores, me peguei refletindo sobre as palavras que usamos cotidianamente no ambiente escolar. Foi então que percebi algo perturbador: nossa linguagem educacional carrega um peso institucional que mais lembra um sistema prisional do que um espaço de aprendizagem e desenvolvimento. Lembro-me do meu primeiro dia como professor, há quinze anos. Na época, ingênuo, não havia notado como cada termo que aprendia a usar carregava uma sutil, mas significativa, carga semântica.

    Hoje, ao ouvir "domínio de classe", não posso deixar de pensar em contenção, em vez de mediação do conhecimento. Quando alguém menciona "grade curricular", visualizo barras de ferro em vez de caminhos de aprendizagem. O "Coordenador de turno" poderia facilmente ser confundido com um agente penitenciário, supervisionando seus turnos de vigilância. A "Delegacia de ensino" soa mais como um local de punição do que um centro de apoio educacional. Até mesmo nosso querido "recreio" — palavra que deveria evocar alegria e liberdade — parece um momento controlado de "banho de sol".

    As "estratégias" que desenvolvemos soam como táticas de guerra, não como caminhos para o conhecimento. As "paradas pedagógicas" mais parecem momentos de inspeção do que encontros para compartilhar experiências. E o que dizer do "boletim", esse documento que marca e classifica nossos alunos como se fossem fichas em um arquivo criminal? O "uniforme", que deveria representar identidade e pertencimento, muitas vezes se torna uma marca de padronização forçada. A "mochila", que poderia ser vista como um baú de tesouros do conhecimento, vira uma bagagem pesada de obrigações.

    Confesso que essa revelação me deixou inquieto. Como educador, sempre busquei criar um ambiente acolhedor e estimulante, mas nossa própria linguagem parece conspirar contra esse objetivo. Será que não estamos, inconscientemente, preparando nossos alunos para um futuro de conformidade e submissão, em vez de criatividade e autonomia? Talvez seja hora de revolucionarmos nosso vocabulário escolar. Imagino um lugar onde tenhamos "encontros de sabedoria" em vez de aulas, "círculos de crescimento" em vez de turmas, "jardins de ideias" em vez de salas de aula. Um espaço onde cada palavra inspire liberdade, crescimento e possibilidades infinitas. Afinal, as palavras que escolhemos moldam não apenas nossa percepção da realidade, mas também o futuro que construímos. E eu ainda acredito que a escola deve ser um portal para a liberdade, não um ensaio para o cárcere.


    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


    1. Qual a principal analogia apresentada no texto e como ela é desenvolvida ao longo da narrativa?

    2. De que maneira o autor relaciona o vocabulário escolar com a ideia de um sistema prisional? Cite exemplos dados no texto.

    3. Segundo o autor, qual o impacto da linguagem utilizada no ambiente escolar sobre a formação dos alunos?

    4. O autor propõe uma "revolução no vocabulário escolar". Quais exemplos de substituições ele sugere e qual o objetivo dessas mudanças?

    5. Em sua conclusão, qual a visão ideal de escola defendida pelo autor e como ela se contrapõe à analogia com o cárcere?

    sábado, 18 de janeiro de 2025

    O Apagão que Assombra as Salas de Aula ("Sem educação, estamos perdidos. Perdidos em um mundo de significados confusos e possibilidades incertas." - Tenzin Gyatso, 14º Dalai Lama)

     Crônica 


    O Apagão que Assombra as Salas de Aula ("Sem educação, estamos perdidos. Perdidos em um mundo de significados confusos e possibilidades incertas." - Tenzin Gyatso, 14º Dalai Lama)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Nos corredores quase desertos das universidades, uma pergunta inquietante ecoa em silêncio: quem ousará, nos próximos anos, abraçar a missão de ensinar? Lembro-me vividamente do meu primeiro dia em sala de aula: o giz escorregava entre os dedos trêmulos, enquanto o peso das expectativas – as minhas e as alheias – parecia esmagador. Hoje, a escolha pela docência parece mais uma rota de fuga do que uma vocação.

    As manchetes estampam um termo forte e cruel: “apagão de professores”. Não se trata de uma metáfora exagerada, mas de uma realidade que devora o futuro do país. Licenciaturas vazias, escolas desamparadas por falta de professores de matemática, física e português, e alunos que se formam – ou desistem – carregando lacunas que nenhum boletim é capaz de registrar. É um cenário desolador: salas abarrotadas, educadores exaustos e uma profissão que, em vez de ser o pilar da sociedade, luta para sobreviver ao desprestígio histórico.

    Lembro-me de um amigo que abandonou o magistério. Suas palavras ainda ressoam como um eco amargo: “Não é pelo dinheiro”, ele dizia, embora os salários fossem evidentemente um problema. “É pelo vazio. Pela falta de apoio, pelo descaso.” Aquele brilho que antes iluminava seu olhar ao ver um aluno entender uma equação tornou-se uma sombra de desilusão. Hoje, ele segue em outra profissão. Quem pode culpá-lo? Cada um carrega o peso que consegue suportar.

    A crise ganha contornos ainda mais graves nos rincões do Norte e Nordeste. Lá, mais da metade das aulas nos anos finais do ensino fundamental é ministrada por professores sem a formação adequada. Nas áreas rurais, a situação é ainda mais dramática: apenas um terço dos docentes possui a qualificação necessária. Para muitos jovens, o magistério não é mais uma escolha, mas uma última opção, distante de qualquer paixão ou ideal. E, entre os licenciados, apenas uma parcela ínfima ingressa na carreira.

    Diante desse panorama sombrio, a “Bolsa Mais Professores” surge como uma tentativa de reparação. A proposta promete incentivos financeiros para atrair docentes às áreas mais necessitadas. No papel, é uma fagulha de esperança. Mas será que dinheiro, por si só, pode resgatar a dignidade perdida de ensinar? Salários melhores são essenciais, mas o desafio vai além. Como pode um professor prosperar em um sistema que o sufoca, negligencia sua formação e o desvaloriza constantemente?

    Nas entrelinhas desse apagão, persiste uma centelha de esperança. É preciso compreender que educar não é um ato isolado; é uma construção coletiva. Não basta cobrar dos professores enquanto a sociedade ignora as condições em que vivem e trabalham. É necessário criar ambientes propícios para o ensino e a aprendizagem, onde o conhecimento seja a prioridade. Porque, no fundo, o apagão não é apenas de professores; é um apagão de valores, de sonhos e de futuro.

    E assim sigo, ainda em sala de aula, alimentando a chama que um dia me trouxe até aqui. Cada aula ministrada e cada olhar curioso que me devolve um pouco de esperança são lembretes de que, apesar das adversidades, ainda há luz. Mas essa chama, frágil, precisa de cuidado, de alimento, de um esforço coletivo. Como sociedade, é hora de decidir: continuaremos nos contentando com palavras vazias em discursos oficiais ou agiremos para evitar que o futuro se perca na escuridão?


    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


    1. O texto descreve um "apagão de professores". Quais as principais características desse fenômeno apontadas pelo autor?

    2. Além da questão salarial, quais outros fatores contribuem para o abandono do magistério, segundo o relato do autor sobre seu amigo?

    3. Como a crise do "apagão de professores" se manifesta nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, de acordo com o texto?

    4. A "Bolsa Mais Professores" é apresentada como uma possível solução. Qual a crítica central do autor em relação a essa proposta?

    5. Qual a principal mensagem do texto sobre a responsabilidade da sociedade diante da crise na educação?

    segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

    A Reprovação na Educação: Entre o Desafio e a Necessidade de Avaliação ("A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre todo o futuro." - Barão de Holbach)

     Crônica 


    A Reprovação na Educação: Entre o Desafio e a Necessidade de Avaliação ("A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre todo o futuro." - Barão de Holbach)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    A manhã desta segunda-feira trouxe consigo uma reflexão que tem reverberado nas últimas semanas, especialmente após a entrevista da secretária de Educação do Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira, à Rádio Gaúcha. Em um contexto educacional turbulento, dois temas chamaram minha atenção: a progressão parcial e a proibição do uso de celulares nas escolas. Ambas as questões vêm suscitando intensos debates sobre os rumos da educação, revelando um profundo dilema entre manter tradições pedagógicas e adotar novas abordagens.

    A recente portaria, que autoriza a progressão de alunos com até quatro matérias pendentes, gerou divisões entre os educadores e a sociedade. A ideia de permitir que um aluno avance mesmo sem ter dominado completamente o conteúdo das disciplinas parece contraditória à lógica pedagógica tradicional, que sempre usou a reprovação como forma de garantir que o aluno estivesse preparado para o próximo ciclo. No entanto, a secretária Raquel Teixeira defende que, ao invés de impulsionar o aprendizado, a reprovação frequentemente leva à defasagem do aluno, distanciando-o ainda mais do conhecimento e aumentando o risco de evasão escolar. “Reprovação não é alternativa para aprendizagem”, disse ela, trazendo à tona uma nova forma de encarar a educação.

    Contudo, a crítica à aprovação automática como medida educacional deve ser feita com cautela. A evasão escolar, muitas vezes associada à retenção, é igualmente um reflexo de uma falta de exigência nas escolas, onde se busca evitar o confronto com a dificuldade em nome de uma falsa aprovação. A solução para a evasão escolar não reside na eliminação da reprovação, mas na construção de um sistema de ensino mais eficaz, que desafie o aluno de maneira adequada e o prepare para os desafios acadêmicos e profissionais. Ao invés de adotar uma abordagem permissiva, é crucial que o professor e o conselho de classe assumam a responsabilidade de proporcionar uma avaliação que garanta o domínio do conteúdo e o real aprendizado do aluno.

    A autonomia dos educadores deve ser levada a sério, mas com a consciência de que a reprovação precisa ser considerada como parte de um processo educacional rigoroso e que, ao mesmo tempo, favoreça o crescimento do aluno. O papel do professor vai além da simples aplicação de conteúdos; é também o de garantir que os alunos avancem com as competências necessárias para enfrentar os próximos desafios da vida acadêmica e profissional. Assim, a reprovação, longe de ser uma punição, deve ser vista como um instrumento de reflexão e um alerta para que o aluno busque alcançar seu verdadeiro potencial.

    Dessa forma, ao equilibrar a responsabilidade do professor, o apoio institucional e a exigência necessária, podemos construir um sistema de ensino que, ao invés de suavizar as dificuldades, promove o verdadeiro aprendizado, preparando os alunos para um futuro mais sólido e consciente.


    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


    1. Quais os dois temas centrais abordados no texto que têm gerado debates no contexto educacional?

    2. De acordo com a secretária Raquel Teixeira, qual o efeito da reprovação no processo de aprendizagem dos alunos?

    3. Segundo o autor do texto, qual a relação entre a evasão escolar e a falta de exigência nas escolas?

    4. Qual a importância da autonomia dos educadores e do conselho de classe no processo de avaliação dos alunos, segundo o texto?

    5. Em síntese, qual a proposta do texto para a construção de um sistema de ensino mais eficaz?

    domingo, 12 de janeiro de 2025

    De Mozart ao Pole Dance: Uma Crônica de Absurdos Educacionais ("A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida." – Oscar Wilde)

     



  • De Mozart ao Pole Dance: Uma Crônica de Absurdos Educacionais ("A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida." – Oscar Wilde)
  • Enquanto folheava antigas fotos de excursões escolares, deparei-me com uma notícia que quase me fez engasgar com o café. Vinte anos dedicados à educação me deram a falsa impressão de já ter visto de tudo. Ledo engano. A história da Hart Middle School, em Detroit, provou que o universo educacional ainda reserva doses cavalares de surrealismo.

    A cena, digna de um roteiro de comédia bizarra, começa com um passeio escolar aparentemente convencional: uma manhã de novembro em Michigan, alunos do sexto ano e a promessa de um encontro com a Orquestra Sinfônica de Detroit. Mozart, Beethoven, a beleza da música clássica. Tudo dentro dos conformes, um programa educativo e culturalmente enriquecedor. Mas a calmaria sinfônica logo daria lugar a um ritmo bem mais… peculiar.

    Após a apresentação, a fome apertou, e o destino escolhido para o almoço foi a Niki's Pizza. Um clássico dos passeios escolares. O problema surgiu quando a pizzaria se mostrou pequena demais para acomodar todos os estudantes. E foi nesse exato momento, em que a lógica e o bom senso tiraram férias, que alguém – cuja identidade permanece um mistério nebuloso – teve a infeliz ideia de transferir parte da turma para o “estabelecimento irmão” ao lado: o Niki's Lounge. Uma boate. Sim, uma casa noturna, com direito a luz baixa, decoração temática e, claro, os inevitáveis pole dancing, descritos pelo gerente como “meras decorações”.

    A imagem dos adolescentes, em plena fase de descobertas e experimentações, entrando em uma boate, interagindo com os postes metálicos sob o olhar atento (ou não) dos responsáveis, é simplesmente inacreditável. Imagino a cena: a curiosidade infantil em contraste com o ambiente adulto, as câmeras do Projeto Green Light Detroit registrando cada movimento, e os policiais, provavelmente, divididos entre a perplexidade e o tédio de monitorar uma situação tão atípica.

    O que mais me intriga, além do absurdo da situação em si, é a reação subsequente. A postura do distrito escolar, que inicialmente se recusou a comentar o caso, soa como uma tentativa desesperada de abafar o escândalo. As opiniões divididas entre os pais, alguns indignados e outros aparentemente indiferentes, revelam uma preocupante banalização do ocorrido.

    Em duas décadas de magistério, testemunhei diversas situações inusitadas em passeios escolares: ônibus quebrando na estrada, piqueniques arruinados pela chuva, crianças passando mal no aquário. Mas nada, absolutamente nada, se compara a essa incursão involuntária ao mundo da dança vertical.

    Esse acontecimento me leva a refletir sobre a fragilidade de nossas diretrizes para excursões escolares e a necessidade urgente de revisá-las. No mínimo, deveríamos assegurar que as pizzarias parceiras tenham capacidade para receber nossos alunos, evitando soluções “criativas” como a que resultou nesse episódio lamentável. Afinal, a distância entre Mozart e o pole dance, como essa crônica demonstra, é assustadoramente curta. E, principalmente, me faz questionar: onde, afinal, nossos filhos estão sendo levados em nome da “experiência educacional”? Onde está o limite entre a aventura e o completo absurdo?


    https://pjmedia.com/lincolnbrown/2023/01/11/middle-school-field-trip-pole-dancing-what-could-go-wrong-n1660953?fbclid=IwY2xjawHwj75leHRuA2FlbQIxMAABHVCB6SZQL22L75O2CAlUrA2ipp2AiB6K36-S8ZexKTzBdfZguNA0qKhYqg_aem_oyAoB8xrDgdiPpHkDy1aJA


    Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


    1. Qual o evento central narrado na crônica e o que o torna tão surpreendente para o narrador, um educador com vinte anos de experiência?

    2. De que forma o texto descreve a sequência de eventos que levaram os alunos do sexto ano a uma boate durante um passeio escolar?

    3. Segundo o autor, qual a principal crítica em relação à reação do distrito escolar e de alguns pais diante do ocorrido?

    4. Além do aspecto inusitado da situação, que reflexões o autor propõe sobre as diretrizes para excursões escolares?

    5. Qual a principal questão levantada pelo autor ao final da crônica sobre as "experiências educacionais" oferecidas aos alunos?