Em uma manhã outonal, enquanto folhas amareladas dançavam pelo pátio escolar, eu caminhava com minha pasta repleta de redações e o coração transbordando expectativas. Nem mesmo vinte anos lecionando Língua Portuguesa haviam diminuído meu entusiasmo pela arte das palavras. O corredor que levava à sala dos professores, embora fosse um campo minado de olhares e sussurros, não me impediu de prosseguir com aquela coleção de poemas dos alunos.
A proposta era simples: escrever poemas sobre amor. Em minha ingenuidade, esperava encontrar versos que ecoassem a profundidade de Santo Agostinho ou a genialidade de Fernando Pessoa. O que recebi, no entanto, foram frases soltas, sem métrica, sentimento ou qualquer vestígio de dedicação ao ofício poético. Como aceitar que um poema se resumisse a uma receita sem sabor, a uma repetição de frases rasas, desprovidas de vontade e esforço?
Foi na sala dos professores que cometi o que hoje considero meu erro mais doloroso: compartilhei minha frustração e algumas das produções dos alunos. A reação dos colegas assemelhou-se a um vendaval que arranca flores recém-plantadas. "Aceita como está", diziam uns. "É o que eles conseguem fazer, afinal, é o que pensam!", provocavam outros. Um burburinho tomou conta do ambiente, sugerindo que minhas expectativas e exigências eram excessivas.
As paredes da escola, outrora acolhedoras, começaram a ecoar histórias de traição. Descobri que alguns colegas incentivavam alunos a gravar minhas aulas, buscando deslizes como garimpeiros à procura de diamantes. Uma aluna, visivelmente instruída por terceiros, chegou a questionar minha formação acadêmica com um sorriso malicioso - pergunta que jamais surgiria espontaneamente.
A coordenação e direção, sempre à espreita nas portas das salas, pareciam mais empenhadas em apontar falhas dos professores do que em construir um ambiente propício ao aprendizado. O sistema educacional havia se transformado em uma fábrica de aprovações automáticas, onde buscar a excelência era visto como algo antiquado e excêntrico.
Penso em Fernando Pessoa, esse fingidor genial, e questiono: quantas vezes ele precisou transformar em verdade a dor que sentia ao criar? Refletindo sobre as palavras de Thomas Edison, compreendo que a genialidade nasce da resistência, da teimosia e, sobretudo, da paixão pelo que vale a pena. Talvez meu erro não esteja em exigir qualidade, mas em esperar que outros compartilhem dessa busca pela excelência.
Como ensinou Chico Xavier, às vezes a verdade pode ferir mais que uma doce mentira, mas é através dela que edificamos bases sólidas para o futuro. A arte de ensinar, assim como a poesia, demanda coragem - coragem para manter padrões elevados em um mundo que celebra a mediocridade, coragem para persistir quando todos ao redor parecem ter desistido.
Diante disso, como professor, vejo-me entre dois caminhos: conformar-me com o pouco ou persistir em acreditar no muito. Escolho resistir e não baixar meus padrões, transformando cada poema malescrito em oportunidade de ensino, cada crítica em força para minhas convicções. Afinal, não são as notas altas ou aprovações fáceis que transformarão a vida dos alunos, mas aquele momento singular em que descobrem sua capacidade de superação.
Assim, persisto em plantar sementes de excelência, mesmo em solo aparentemente infértil, alimentando a esperança de que um dia, um aluno me surpreenderá com um poema que diga tudo sem dizer nada - e então, o mundo transcenderá os limites da escola.
Com base na profunda reflexão do autor sobre o ensino e a busca pela excelência, proponho as seguintes questões para estimular um debate rico e crítico:
Qual a principal crítica do autor ao ambiente escolar atual?
Essa questão direciona os alunos a identificar os pontos centrais da insatisfação do professor com a educação.
Como as expectativas do professor em relação aos poemas dos alunos colidiram com a realidade da sala de aula?
A pergunta incentiva os alunos a refletir sobre a importância das expectativas e como elas podem influenciar o processo de ensino-aprendizagem.
Qual o papel da escola na formação de indivíduos críticos e criativos?
Essa questão leva os alunos a considerar a função da educação na sociedade e os valores que devem ser transmitidos.
Como a busca pela excelência pode ser conciliada com a necessidade de acolher as diferenças individuais dos alunos?
A pergunta incentiva os alunos a pensar sobre como equilibrar a exigência de qualidade com a valorização da diversidade.
Quais os desafios para construir uma educação que valorize a criatividade e a originalidade dos alunos?
Essa questão abre espaço para uma discussão mais ampla sobre os obstáculos que impedem a construção de uma educação mais significativa.
Observações:
Abordagem interdisciplinar: As questões incentivam os alunos a relacionar os conceitos sociológicos com conhecimentos de outras áreas, como literatura, psicologia e filosofia.
Crítica e reflexão: As perguntas estimulam os alunos a pensar criticamente sobre as informações apresentadas no texto e a construir suas próprias opiniões sobre o tema.
Diálogo e debate: As questões podem ser utilizadas como ponto de partida para debates em sala de aula, promovendo o respeito às diferentes perspectivas e a construção de um conhecimento coletivo.
Ao trabalhar com essas questões, é importante que o professor crie um ambiente seguro e acolhedor para que os alunos possam expressar suas ideias e opiniões de forma livre e respeitosa. A partir desse debate, é possível aprofundar a reflexão sobre temas como educação, criatividade, excelência e o papel do professor na sociedade.