"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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terça-feira, 30 de junho de 2009

RECREIO INTERDISCIPLINAR (Conhecendo minhas medidas e limitações, reafirmo que gastar mais do que ganho é mera “burrice”.)




Crônica

RECREIO INTERDISCIPLINAR (Conhecendo minhas medidas e limitações, reafirmo que gastar mais do que ganho é mera “burrice”.)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Certa vez, participei de uma conversa muito instrutiva na sala dos professores do Colégio Estadual Porfírio de Sousa. Começou quando, a professora de Língua Portuguesa perguntou ao professor de matemática:

           — Por que você escolheu matemática?

          — Porque a matemática é, já em si, divina – disse ele com um sorriso angelical – mesmo antes de ser representada pelos números, os seus signos abstratos já davam ao homem usufruto mensurável da existência. Então, essa ciência que trata das medidas, agora representada pelos algarismos, facilitou aos humanos suas relações, dando-lhes a oportunidade de representar as noções de quantidade e qualidade; promoveu o desenvolvimento dos seus raciocínios e tão necessariamente facilitou-lhes a justiça.

          A linguista, meio sem jeito, procurando fazer valer seu raciocínio, escolheu as palavras certas para mostrar seu aspecto de visão, mas não conseguiu senão mostrar sua arrogância, dizendo:

          — A matemática é muito fácil, aquelas fórmulas engessadas subestimam minha inteligência. Bastando-me decorar algumas delas e a tudo se resolve. Com a linguagem, sou criativa, pois nunca estou pronta e acabada, assim me posiciono como um ser vivo e atuante, transformo e sou transformada.

          O professor de Física, quase não conseguia esperar o momento certo de falar, entrou de supetão na conversa, dizendo:

          — O homem não saberia posicionar-se, como tal, no tempo e no espaço, sem os conhecimentos matemáticos, enfim, sem as noções exatas de quantidade e qualidade. Os valores das porções dão-lhe qualidade de vida, volvendo-o para o caminho do meio, isto é, o caminho do equilíbrio. Assim há maior aceitação das variedades, das formas, dos volumes e dos pesos universais. Também, fazendo do homem a parte ativa em todas as grandezas.

          — Isto tem a ver com as ciências humanas e não com as exatas! – Insiste a professora de língua.

          Nisso o professor de Ciências já estava com sua contribuição elaborada “na ponta da língua”.

          — Eu, como professor de Ciências, admito que a Matemática seja a Ciência das Ciências, entre os infindáveis benefícios prestados ao homem como um ser evolutivo, traz-lhe oportunidade para desenvolver o seu raciocínio sincrônico e diacrônico. É comprovado nos humanos que o exercício físico e mental promove-lhes desenvolvimento vital e dar-lhes tonicidade em todas as áreas e são muitas as vantagens neste aspecto. Quanto mais racional o homem, maior sua diferença dos outros seres e mais semelhante a seu Criador.

          — Por falar em Criador, eu gostaria de dizer que a Bíblia está cheia de números – levantou-se o professor de Ensino Religioso – números bem empregados nas relações proféticas. É como diz o princípio moral da Lei Divina: não se pode usar “dois pesos e duas medidas em um julgamento”, então o justo faz uso da matemática para ser honesto e merecer a aprovação do Céu e o bem-estar da consciência. Deus também Se utiliza dos números, a Seu modo, para mostrar Sua justiça, portanto devemos fazer o mesmo para com nossos semelhantes.

          A professora que abriu o debate fechou o mesmo com uma fala extremamente finalizadora:

          — Preciso ir para a sala, nosso recreio acabou, porém quero dizer uma última coisa a vocês: sem a linguagem, vocês não teriam se expressado tão bem!

          A sirene soou, e eles foram cada um para a sua sala. Fiquei só, naquele local, por alguns minutos a mais, enquanto o diretor chegava, no entanto o suficiente para eu refletir: por que fiquei calado o tempo todo se sou da mesma área da professora!?

          Não demorei muito para entender: o homem é exatamente o que ele calcula dele mesmo, e eu não sou diferente, conhecendo minhas medidas e limitações, reafirmo que gastar mais do que se ganha é mera “burrice”.

Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 11/08/2009
Código do texto: T1748238

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DESABAFO DE UM EX-TUTOR (Experimentei a separação de meus ideais)




Crônica

DESABAFO DE UM EX-TUTOR (Experimentei a separação de meus ideais)

Claudeci Ferreira de Andrade

          Estas foram minhas primeiras palavras, logo depois que recebi o veredicto de exoneração do cargo: apoio técnico pedagógico; Ou melhor, escorraçado da fiscalização e condenado à sala de aula, feliz, como se isso não equivalesse: “sair do espeto e cair na brasa” ou fazer “voltar o cachorro ao seu vômito”: — “De vidraça a estilingue.”

           Porém confesso, foram palavras que constituíram um angustioso clamor de terrível agonia. Experimentei a separação de meus ideais, ocasionando-me, como se fosse, a “segunda morte”. É quase impossível fazer você compreender o que suportei: – vou me ater aqui apenas no conveniente.
          Uma ilustração bastante adequada seria a de um marido que ama ternamente a sua esposa e acredita que ela também o ama. Chega, porém, o tempo em que, por alguma razão, ele começa a duvidar desse amor. A vida perde, então, o significado para ele. Isso constitui um dos motivos por que a “educação” é tão “poderosa” e “admirável”. Servimos a homens que nos amam, e só não podemos estar certos, a esse respeito, é de que o façam, “aconteça o que acontecer”.

          Depois de tudo, fiquei como alguém suspenso sobre uma cruz, numa verdadeira luta para decidir que rumo tomar, veio-me um certo pensamento: – “O Colégio João Carneiro dos Santos é a Terra Prometida”. Em primeiro lugar, eu sabia que ao fazer esta escolha, estaria separando-me de mim mesmo. Sempre o chamei de purgatório.

          Quando cheguei lá, diante do ponto temido, não pude olhar além dos portais da sepultura de mesmice. Agora, tudo que preciso é ter fé, simples fé, apenas. Excluiu-se-me a sensação do amor e da presença dos que se diziam amigos. Na verdade, meus irmãos permaneceram ao lado de minha cruz, mas eu não os conhecia. Não pude vê-los ou sentir a presença deles. Foi, então, que proferi as palavras deste texto. Eu não tinha o direito de crer que meus chefes amavam-me, pois me tornara uma ameaça para eles uma vez que cresci. No entanto, tudo estaria perdido se eu não mantivesse a fé no plano de Deus. Às vezes, levo as pessoas a crerem que caí no momento em que me fragilizei, mas afirmo: preferi ser eu mesmo.

          Hoje ninguém pode avaliar a alegria que sinto, conduzindo meus alunos à competência linguística, ao raciocínio lógico e a questionar o sistema educacional público. Temos de crer que a “coisa” vai melhorar independente dos que foram postos para nos dirigir. Quão grande é a necessidade que temos hoje de estudar, estudar e estudar!   Os que ocuparão as páginas dos bons livros são os que creem de maneira constante e firme, os que se constituem o supremo assunto de crescimento social.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 10/08/2009
Código do texto: T1746396

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Os diplomas não falam ( O que vale mais é a teoria ou a prática?)




Crônica

Os diplomas não falam ( O que vale mais é a teoria ou a prática?)

terça-feira, 30 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade

          Entre o trabalho e a diversão, fui assistir a uma Colação de Grau no Centro de Cultura e Convenções; uma noite de gala! Era mais uma do curso de Pedagogia da UEG no Regime Parcelado. Em meio os sons pesados e luzes coloridas, ainda pude perceber a disposição dos formandos com suas borlas, distribuídos numa organização quase perfeita. Digo, quase perfeita, porque não me absorveu todo o espírito, sair mentalmente em reflexão para as questões de dignidade humana.
           Então, nesse entusiasmo, comecei a ouvir vozes sublimares, entorpecendo-me como se projetado para fora de mim mesmo, e naquele ambiente onírico, todos estavam apontando o dedo para mim, e com vozes ecoantes em unissonância, ordenavam-me:
           — “Pense por um momento em seus colegas, eles estão obtendo um título da Universidade. Seus intelectos brilhantes dominam a história, filosofia, ciências, liderança e políticas. Eles se sentem, então, preparados para tirar o homem da ignorância e salvar o sistema educacional; com toda erudição, com todos os seus diplomas”.
           Devido aos gritos ufanos do auditório verdadeiro, estalou-me a alma e, de súbito, uma voz real de admiração quebra minha transcendência:
          — Isto é um terrível êxtase para eles, seus parentes e para mim, também!
           Assim percebi que estava só no delírio. Acordei do torpor! A responsabilidade tinha me chamado de volta para o plano terráqueo: o efetivo. Com toda a probabilidade, eu não mereceria estar ali, naquele auditório de gala, não fossem as lições de humildade aprendidas, de minha mãe, durante os primeiros doze anos de minha vida.  Mas, ainda estou na escola da abnegação. Como professor, a sociedade quer que eu tivesse aprendido o que ela precisa; assim não sei o que fiz. Por tantos anos, a “CONSTÂNCIA” foi minha professora pessoal. E só depois de tanto tempo, descobri que os meus diplomas são unicamente obras de arte, não me ensinaram a pensar e agir corretamente, portanto desconsidere meu enojamento nesta crônica inútil. Mas, insisto em dizer que os diplomas deveriam ser o galardão merecido de quem já faz tanto tempo que presta um serviço dedicado à sociedade, a cuidar dos filhos dos outros.
           No final de tudo, saí daquele santuário em busca de uma comprovação para me confortar com a certeza de que não estava “maluco”, e à primeira pessoa, das mais novas graduadas, que encontrei, pedi para ver seu diploma, mas ela me mostrou um canudo vazio, feito com um papel em branco, dizendo-me:
          — o verdadeiro diploma vem depois.
            É assim mesmo, teremos que estudar e praticar para fazer jus ao diploma que conquistamos. Porém, é em situações similares a essa, que damos vazão a pergunta: O que vale mais é a teoria ou a prática? 
http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/max-gehringer/2013/05/23/O-QUE-VALE-MAIS-TEORIA-OU-PRATICA.htm
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 08/08/2009
Código do texto: T1743293


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LEVANTE-SE! (mas quem vai começar a nova forma de ser aluno?)




Crônica

LEVANTE-SE! (mas quem vai começar a nova forma de ser aluno?)

terça-feira, 30 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade

          Alguém já tentara colocar um cadáver em pé, mas desistiu dizendo: “falta alguma coisa por dentro”. O clamor da sociedade é: “dar-me uma educação pública boa!” O clamor do professor é: “permita-me ensinar!” Quando o aluno se postula como estudante, aberto à aprendizagem; as modificações no sistema são inevitáveis.
           Se o atual modelo de aluno inverter seu foco, e procurar beber das aulas o conhecimento em vez de apenas calcular notas, nunca irar a bancarrota, mesmo nestes anos de crise educacional e apagão pedagógico. Por meio de diligente estudo nos livros, alunos poderão ser vinculados à classe culta. Com certeza, Ocorrerá uma metamorfose no ensino público. O novo aluno resulta numa escola nova. Nas cinzas do velho aluno é enterrado o velho professor, o velho sistema. O mercado de trabalho dá ênfase ao cidadão competente, oferece concursos para empregá-lo: novos métodos, novas tecnologias, nova linguagem, novo..., novo..., e novo...; mas quem vai começar a nova forma de ser aluno?
           Entrei para substituir uma professora de Língua Portuguesa, no colégio em que trabalho atualmente, pois a mesma usufruía de um contrato provisório. Logo na minha primeira semana de aula, numa turma de 2º ano do Ensino Médio, apresentaram-me a representante de classe, quando solicitei alguém para devolver umas redações corrigidas a seus respectivos donos. Porém, tinham algumas não identificadas, foi quando a surpreendi, induzindo a um colega, que não tinha cumprido a tarefa, para tomar posse de uma daquelas, sem nome, e reivindicar sua nota. Descobrindo esta avidez por mera nota, como se aquilo fosse novidade para mim, facilitei muito no primeiro bimestre a fim de que todos tirassem boa nota com intenção de agradá-los.
           Agora no segundo bimestre, ninguém quer assistir minhas aulas, isto é, tornaram-se piores alunos, eles têm suprimento de nota e creem que agora podem brincar um pouco mais. O que falta para o “cadáver ficar em pé” não é nota, é a influência de quem passou por uma renovação mental, de propósito e valores, é o conhecimento. Isto, sim, constitui-se o maior legado a favor dos clamantes por um bom sistema educacional público brasileiro.


Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 07/08/2009
Código do texto: T1742272



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FREQUÊNCIA REPROVADA (Dar o peixe frito sem ensinar pescar não ama)



Crônica

FREQUÊNCIA REPROVADA (Quem dá o peixe frito sem ensinar pescar não ama)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma vez, um professor que acreditava na transformação genuína do indivíduo comum em cidadão de bem através da educação. Eu era esse professor, e esta é a minha história.

Cidão, um dos meus alunos, era provavelmente o mais pobre entre eles. No entanto, ele se uniu à escola com um objetivo nobre: promover-se a si mesmo como um líder de homens, um político.

Karen, a "filhinha de papai", tentou usar sua riqueza para ganhar favores. Ela acreditava que, ao adquirir favores e usá-los egoisticamente, poderia promover a si mesma e tornar-se uma mulher próspera.

Outros alunos frequentavam a escola por motivos de sobrevivência. Eles viam seus amigos correndo atrás dos programas do governo: bolsa escola, salário escola, renda cidadã, vale-gás, pé-de-meia e pensavam que deveriam fazer o mesmo.

Havia também aqueles cujo motivo era simplesmente "lanchar". De todos os incentivos que promoviam a frequência, este era o pior; desviava a atenção do objetivo principal e enganava o estômago do despreparado. Esses alunos aprendiam que era preferível o peixe já pescado e frito na hora "certa" do que a dignidade de aprender a adquiri-lo.

Conta-se que quando os barcos que pescavam camarões nas águas do litoral da Flórida se afastaram da região de Santo Agostinho e começaram a atuar em Key West, ocorreu uma pequena tragédia. Centenas de gaivotas morreram na praia e muitas foram arrebatadas pela maré. O mistério foi esclarecido quando se descobriu que essas gaivotas se esqueceram de pescar por se haverem acostumado a alimentar-se de camarões jogados para fora dos barcos. Como resultado, morreram de fome.

Os que buscavam a boa educação tinham um motivo único. Em primeiro lugar, eles procuravam conhecer mais o seu próprio caráter e lutavam fervorosamente para serem semelhantes aos grandes homens da história. Procuravam então usar seus talentos bem desenvolvidos com os conteúdos da matriz curricular bem direcionados, querendo ser úteis ao próximo e à sociedade.

Esta é a minha crônica, a história de um professor que viu a educação ser usada e abusada de várias maneiras. Mas, no final, acredito que a educação é a chave para a transformação, e que cada aluno, independentemente do seu motivo para frequentar a escola, tem o potencial para se tornar um cidadão de bem. E é essa a mensagem que quero transmitir: a educação é a chave para a transformação, e todos nós temos o potencial para nos transformarmos em cidadãos de bem.

ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

1. A Busca por Transformação:

a) A crônica narra a história de um professor que acredita na educação como ferramenta de transformação social. Como as experiências com seus alunos, como Cidão e Karen, ilustram essa crença?

b) De que forma a comparação com as gaivotas de Santo Agostinho reforça a importância do aprendizado autônomo e do desenvolvimento do senso crítico?

c) A crônica destaca a busca pelo "conhecimento do próprio caráter" como um dos principais motivos para a educação. Como essa busca se relaciona com a formação de cidadãos conscientes e responsáveis?

2. Motivações Divergentes:

a) O texto apresenta diferentes motivações para frequentar a escola: ambição política, busca por favores, sobrevivência e lanche. Como essas motivações refletem as realidades sociais e as desigualdades existentes?

b) De que forma a comparação com o "peixe já pescado e frito" ilustra os perigos da busca por soluções imediatas e da falta de investimento em aprendizado?

c) Como a crônica contribui para a reflexão crítica sobre os diferentes objetivos da educação e os desafios de garantir o acesso à educação de qualidade para todos?

3. A Educação como Chave para a Transformação:

a) A crônica afirma que "a educação é a chave para a transformação". Como essa afirmação se conecta com a ideia de que a educação pode promover a emancipação individual e a construção de uma sociedade mais justa?

b) De que forma o potencial transformador da educação se manifesta na busca por ser "semelhante aos grandes homens da história" e na vontade de "ser útil ao próximo e à sociedade"?

c) Como a crônica incentiva os alunos a buscarem um significado mais profundo na educação, transcendendo as motivações imediatas e reconhecendo seu potencial para contribuir para o bem comum?

4. Desafios e Perspectivas:

a) A crônica reconhece os desafios e os abusos da educação. Como o professor lida com esses desafios e busca garantir que todos os alunos, independentemente de suas motivações iniciais, tenham acesso a um aprendizado significativo?

b) De que forma a crônica contribui para o debate sobre o papel da educação na formação de cidadãos éticos, engajados e críticos?

c) Como a história do professor pode inspirar outros educadores a buscarem práticas pedagógicas que motivem os alunos, valorizem suas diferentes perspectivas e promovam a transformação social?

5. A Educação como Jornada Constante:

a) A crônica apresenta a educação como uma jornada constante de aprendizado e crescimento. Como essa perspectiva se conecta com a necessidade de adaptação às mudanças sociais e à busca por conhecimento ao longo da vida?

b) De que forma a crônica incentiva os alunos a serem protagonistas de sua própria educação, assumindo a responsabilidade por seu aprendizado e buscando oportunidades de desenvolvimento contínuo?

c) Como a mensagem da crônica pode contribuir para a construção de uma sociedade mais aprendente, onde a educação seja valorizada como um processo contínuo e essencial para o desenvolvimento individual e coletivo?

Explore mais:

Sociologia da Educação: Aprofunde seus conhecimentos sobre as relações entre educação, sociedade e cultura, investigando como a educação influencia e é influenciada pelas estruturas sociais e pelas relações de poder.

Filosofia da Educação: Explore as diferentes teorias filosóficas sobre o propósito, valor e significado da educação, refletindo sobre os objetivos e os princípios que orientam o processo educativo.

Políticas Públicas Educacionais: Investigue as políticas públicas que regulam e financiam a educação, analisando como essas políticas impactam o acesso à educação, a qualidade do ensino e as oportunidades de aprendizagem para diferentes grupos sociais.

Práticas Pedagógicas Inovadoras: Conheça e explore diferentes metodologias e práticas pedagógicas que visam

O JOGO DE MESTRE




Texto

JOGO DE MESTRE

terça-feira, 30 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade

          Assisti a uma partida de futsal entre professores e alunos, acompanhei detalhadamente com uma certa angústia a superioridade física dos alunos, e os diferentes sentimentos que os levavam a mostrar suas habilidades. Uns queriam apenas exibir seu jogo, contribuindo, assim, com o time. Outros, tirar suas diferenças e quebrar toda barreira da hierarquia como forma de vingança pelas incompreensões em classe. Havia uma certa liberdade e descontração, um ambiente propício para se pronunciar um palavrão, um aqui, outro acolá, sem qualquer escrúpulo, que em outro lugar, alunos e professores não se atreveriam. Vislumbrei a última vez em que participei ativamente de um momento “lúdico” desses, quando ainda os professores ganhavam, pois a quadra era na verdade uma extensão do massacre da sala de aula.
           O jogo entre professores e alunos é um dos mais nobres métodos para nivelar mestres e discípulos, porque quando o professor perde, cai a diferença, promovendo assim uma disposição para o aprendizado; só assim, o Jogo ganha a oportunidade de tornar-se o método miraculoso para eternizar boas relações. O professor, em qualquer outro lugar, poderia ficar ressentido com uma ofensa verbal e/ou uma pancada injusta na canela, mas no jogo não. Ele não pode manifestar ressentimento algum contra os alunos que precisam aprender a viver. Deve aplicar suas energias em outra direção: na socialização. Nessa dinâmica educacional, manter-se leal ao ofício significa manter a desvantagem na partida.
           No caráter do professor “perdedor” há, porém, algo mais que é digno de imitação. Além de não ficar ressentido com alguns alunos adversários, escarnecedores, paranóicos e com a torcida frequentemente dominada pelo demônio, ele formou duradoura amizade consigo mesmo. Por quê? Os sentimentos que perpassam o seu coração são de que ele está naquela situação inferior porque é didática. Ou de que está se deixando levar como prova de seu domínio próprio! Pois, perder no jogo, o que parece ser uma escolha cruel, não significa um fracassado. Então, como posso ser um bom jogador, isto é, driblar, enganar todo mundo, e permanecer ao mesmo tempo leal ao magistério?
           Somente a ética possibilitará que o clássico - Professores X Alunos - sobreviverá, como um bom método pedagógico, enquanto o verdadeiro forte for dilacerado em nome da lealdade ao ofício.


EDUCADOR ou PROFESSOR (Na burocracia é assim: Denuncia quem pode, espera quem tem juízo.)


EDUCADOR ou PROFESSOR (Na burocracia é assim: Denuncia quem pode, espera quem tem juízo.)

Claudeci Ferreira de Andrade

          Em uma visita de rotina, numa das escolas do município, tive o desconforto de ouvir uma aluna que denunciava um de seus professores sendo que o mesmo saía da sala de aula, a cada dez minutos, para fumar; como se não bastasse, naquele mesmo instante, veio a confirmação, da delatação, por um dos “colegas” dele, dizendo que o dito cuja se comportava da mesma forma nas reuniões pedagógicas da escola.
           — Aqui o cheiro é insuportável – dizia eu para me mostrar compactuado com os reclamantes.
           Saí dali com a fumaça da indignação, questionando a mim mesmo, – o que é ser educador? Aliás, sempre aparece na tela de minha mente, um quadro aterrorizador quando ouço a palavra “educador”, ainda mais quando vem de dentro para fora, isto é, quando falo a mim mesmo. A maioria das pessoas crê que o indivíduo que frequentou a faculdade, e licenciou-se ao professorado, já é um educador, mesmo que seja um delinquente moral. Um professor é bem visto por seu preparo acadêmico e competência didática. Se ele é bem sucedido em seu trabalho, o mundo o considera uma sumidade, não importa se é ou não moralmente correto. O mesmo já não é verdade a respeito de um educador, por que as suas qualidades espirituais importam mais que sua popularidade e suas aulas tecnicamente interessantes.
           Então penso que quando se faz “vista grossa” ao caráter de quem ensina, a educação se transforma em poder egoísta. Poder para destruir a minoria! Poder para acabar com a paz! O homem instruído, porém viciado, simplesmente é potencializado seu poder de destruição.
           Depois, em reunião do departamento, debatendo sobre aquele tema, com o grupo de técnicos da Secretaria de Educação, alguém brincou, sem pesar muito suas palavras, dizendo:
           —É... nessa educação...! Eu preciso mesmo é de um remédio para deixar de ser “fumado”!
           Por aquela exclamação e por outras que apelam para valorização humana e profissional: coisas sem remédio! Fui obrigado a concordar que esta é a essência dos ideais de muitos professores e alunos: denunciar por meramente denunciar e contimuar vivendo sem razão. Entretanto, o que dizer de quem não tem “sangue” de educador, mas gestiona políticas públicas educacionais? O que dizer de mim, incentivador da denúncia, se aquelas, até hoje, não saíram do meu relatório de monitoramento? Apesar de tê-lo encaminhado para quem é de direito, retornou marrotado de tanto circular e esbarrar na burocracia.
          Parafraseando um lugar comum, concluo: Denuncia quem pode, espera quem tem juízo. E acrescento a chacota: Se "chiar" valesse de alguma coisa, Sorrisal não morria afogado!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 04/08/2009
Código do texto: T1736019

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O "MENTIRÁRIO" ( Diário de Classe: Corromperam meu instrumento de trabalho!)



CRÔNICA

O "MENTIRÁRIO" (Diário de Classe: Corromperam meu instrumento de trabalho!)


Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Alguns anos atrás, uma coordenadora pedagógica recusou-se a olhar meus diários de classe, no final do bimestre, alegando que as “notas quebradas”, ali registradas, dificultavam seu trabalho (A dita cuja se dizia licenciada em matemática). Fui, então, encaminhado para a outra, a principal da dupla, em um clima muito ruim de insatisfação pessoal, esta autorizou meus diários assim mesmo, se impôs sobre mim e sobre sua parceira de trabalho, sua intenção era de se redimir de outras ofensas do passado a mim cometidas. Pois, não era só esse o meu problema com os diários, eu me recusava assinar no final de cada linha escrita e no traço diagonal que eu mesmo fazia por recomendação pedagógica, era para inutilizar os espaços em branco. Além do mais, rubricava na linha subtraçada, própria para assinatura, no rodapé de cada folha, e elas queriam o meu nome por extenso. Obrigavam-me a falsificar a minha própria assinatura, uma vez que a minha carteira de identidade ostenta rubrica. Ainda hoje, fazem o mesmo, e há quem goste!
           Que "documento" tão sério é esse que somos obrigados a assinar todas as linhas utilizadas, nos forçando a crer que não há nenhuma chance de fraude? Que veracidade tem isso: lançar-se o dia primeiro de junho como letivo, para obrigar professores e alunos a participarem do evento, que é aniversário da cidade de Senador Canedo, validando as aulas que teriam naquele dia! Outra coisa, o que se chama de bimestre, no diário é registrado ora três meses, ora dois e meio! Os coordenadores inventaram isso. Ah, "hora aula" não é "hora relógio", e por aí vai! Todos os professores lançam o tal "sábado letivo" no diário como um dia normal, o conteúdo de um dia escolhido, se o Ensino Médio tem 11 disciplinas fica registrado que cada série teve 11 aulas naquele turno sabático. É possível?
          O diário demanda contra a própria coordenação de turno, que tem que dar conta do aluno dentro da unidade escolar, quando um aluno no mesmo período do mesmo dia tem falta com um professor e com outros, não; isto acontece frequentemente,  bastando apenas um ou outro professor deixar de fazer a chamada naquela aula, aí surge a pergunta: onde estava o aluno ausente da terceira aula que respondeu a chamada da primeira aula e da última? Sem falar que uns respondem a chamada por outros.  O professor devia está preocupado com isso, sabendo que falta, na prática, não reprova? ( pelos critérios da lei é impossível reprovar por falta, sendo a computação das mesmas no geral de horas letivas do ano - A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96 - em Art.24 inciso VI). Quem se candidataria a fraudar um diário de classe? Até porque não é índice de crescimento reprovar o aluno! Se simplificássemos esse “gerador de divergência profissional”, ou melhor, desprofissionalizador, acabar-se-iam todas as funções dos coordenadores pedagógicos? – Se isso é o que os faz tremer! O coordenador ainda teria de se preocupar com o cumprimento dos duzentos e nove dias letivos, driblando vários deles com eventos culturais, e conselhos de classe, etc. 
          Vejo que para os coordenadores, o diário de classe é mais importante do que o próprio professor, provando assim a coisificação do humano que trabalha na unidade escolar. Para castigar-nos, no mesmo colégio em que trabalho, em pleno século XXI, onde já aceitavam o diário totalmente digitado, bastando apenas trocarem de coordenadora, retroagiram, para um tempo do absurdo, obrigando o professor a fazer as folhas da frequência de aluno em manuscrito, o resto do diário continuaria digitado. Assim fica claro a desvalorização da boa estética e da uniformidade do "documento" (a beleza do inútil?). Para justificar a incoerência, a coordenadora explicou-nos que precisava verificar se a chamada era praticada rigorosamente todos os dias (como se ela tivesse disposição para isso), por causa dos professores "malandros" que fazem a chamada por amostragem. Pois é, mas esta mesma coordenadora, em reunião anterior, orientou os mesmos que não deviam lançar faltas para os alunos na última semana de janeiro e nem no mês de fevereiro (2011). De que parte do inferno estão vindo as orientações para o manuseio deste "ditoso" instrumento de trabalho do professor? Agora compreendo, por que uma boa parte dos professores pagam para outros mais inescrupulosos fazerem seus diários de classe. E não tem como não errar o preenchimento do diário, pois a maior parte de seu conteúdo é inventado!
          Corrigir provas com caneta de tinta vermelha pode, mas preencher diário de classe com essa caneta nem pensar. O que é mais importante? Já refiz diários sem rasura nenhuma, só porque estava em vermelho. Comprovaram as minhas suspeitas, porque tinha feito de propósito! Só as leis de Murphy explicam, especialmente estas: "Quando um trabalho é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo piora." "Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível."
         Sem falarmos que preencher diários de classe atrofia o cérebro dos professores pela falta de exercício criativo, pois a siste(mato)logia é sem motivação a novos sentidos. É uma rotina descomunal e toma uma grande parcela do seu tempo fora de classe, em que poderiam exercer imaginação fértil. Eu por exemplo só entrego meus diários atrasados, pois tiro um tempinho para exercitar meu cérebro, lendo temas diversificados e escrevendo sobre minhas desgraças (atualizo meu blog toda semana - Crônicas da vida escolar).           
           Se a escola pública tem fama de fingir ensinar, e o aluno fingir aprender, eu diria que seus documentos fingem uma seriedade impecável. Assim, vamos coniventemente, é claro, em busca da mentira perfeita! Portanto, culpados, mas ainda recebemos o tratamento dispensado aos mais altos escalões da sociedade: “Educadores”. Deveríamos ser chamados de políticos, e os políticos de professores, pois eles é que têm "moral" e merecem salários, cada vez, melhores.
           Deixemos de considerar leviano o dolo, e o Sistema Educacional em que estamos inseridos pagará por isso, aliás é um sistema cruel que se vinga de si mesmo. O que farão elas, funcionárias de "notas redondas", desprestigiadoras do computador, quando o "Diário de Classe Eletrônico" for-lhes metido de goela abaixo? Ou goela acima!? E assim como diz Sacha Guitry, vivemos (professores e coordenadores): "Uma das mentiras mais fecundas, interessantes e fáceis é fazer a pessoa mentirosa pensar que acreditamos no que ela nos diz".
           Seis anos depois, estou editando esta crônica, acrescentando este último parágrafo, pois o diário eletrônico chegou de fato e em todas as escolas que trabalho, cumpriu-se a profecia. Agora, faço o tal diário digital. A minha vingança foi satisfeita ao assistir as tais professoras com muita dificuldade para lidar com um computador. Mas, não sei se posso ficar feliz, acho que não: Justamente nesse ano, depois de ter digitado todo o conteúdo dos dois  últimos bimestres, de todas as salas, a coordenadora entrou em minha conta e apagou tudo, não sei se por incompetência ou de propósito para sacanear comigo, devido minhas críticas. O certo é que tive que digitar tudo novamente. Não sei o que acontece, se no conselho de classe são usadas a listas de notas digitadas na página eletrônica do professor, não falta nenhuma nota e depois aparecem alguns alunos sem nota no boletim ...?! Todos têm a senha de acesso ao diário do professor, só o professor não tem ao SIGE. Imagina se um professor traidor tiver acesso a página de notas do colega...! Nem se fala quando a internet está congestionada, e a plataforma em manutenção sem aviso algum, digita-se de duas a três vezes até salvar o conteúdo e haja tempo desperdiçado. Contudo, quero comemorar o cumprimento da profecia. E o "avanço" tecnológico na educação! E pelo fato de não preenchermos mais diário de papel, acham-se que podem nos encher de trabalho, pois agora estamos sobrecarregado de tantas pautas, projetos e formulários para enviar em tempo determinado. A secretaria bloqueia e desbloqueia o aplicativo quando bem quer, tornou-se a atual Coleira eletrônica: "Os demais que atrasarem a entrega irão ter advertência anexada à avaliação profissional e será prejudicado o recebimento integral do Bônus" - diz a gestora.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 02/08/2009
Código do texto: T1732260

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A POLÍTICA DA SOBREVIVÊNCIA (Alugam-se crianças a preço de banana!)




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A POLÍTICA DA SOBREVIVÊNCIA (Alugam-se crianças a preço de banana!)

terça-feira, 30 de junho de 2009
Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Chorou-me a alma gotas de hormônio, o hormônio da compaixão. Foi isso, exatamente, o que senti! Eram apenas oito horas da manhã, daquele sábado, o transporte coletivo rumava cheio para Goiânia. Como muitos não costumavam comprar suas passagens com bastante antecedência, cinco senhoras ali tumultuavam o compartimento antecatraca. Eu também estava ali, prensado com pinto no ovo, mas a imprudência não era meu caso. Elas infelizmente estavam impedindo qualquer acesso ao interior do veículo, que, talvez bastasse um solavanco para caber só mais um. Até que elas tinham boa vontade, mexiam-se tentando facilitar a movimentação, mas não adiantava, o corredor era muito estreito, e como cada uma tinha um bebê nos braços, não podíamos fazer muita pressão, até porque, o cheiro nauseabundo, que combinava com a sujeira de suas vestimentas, nos repelia. Pés descalços e sacolas a tiracolo que podiam esfregá-las no chão sem nenhum ressentimento. Sem revelar os falatórios característico daqueles que tinham pressa, e se sentiam impedidos de passar, vou dizer apenas, que tive de reclamar também com algumas sugestões. Depois de muito custo, conseguimos rodar a “catraca” e no interior do ônibus, agora, já, mais confortavelmente  pude observar melhor àquelas cinco senhoras, que depois de uma pequena e rápida conferência, tomaram uma atitude para combater um inimigo comum: passar a catraca sem pagar e resolver, de vez, aquele problema. Continuei observando, quando uma movimentação, produto do amor materno, tomou conta daquele espaço, chamando a atenção de todos. Primeiro uma segurou duas crianças enquanto sua colega passava, e esta, ao conseguir se arrastar por baixo, retribuiu o favor para que aquela fizesse o mesmo. Porém, as outras preferiram caminhos diferentes. Pularam a roleta ou se espremeram na lateral interna do ônibus! Quando a última passou, olhei para o final da “nave”, e todas estavam sentadas! Como conquistaram os assentos numa fileira só? Que projeto bem elaborado!
           De uma forma bem discreta, comecei a olhar para as serenas criancinhas nos braços de quem parecia ser sua mãe de verdade. Mas, elas não precisavam saber disso. Fui eu quem imaginou, porque, a olho nu, não se pareciam, nem um pouco, com as suas respectivas amparadoras. Uma menina chorou, e recebeu uma mamadeira vazia na boquinha! Que mãe é essa? Todos os bebês com mais ou menos o mesmo tamanho! Que coincidência é essa?
           No destino final, todos os estranhos se perdem, refiro-me, não só ao desembarque da tripulação heterogênea que chegou à seu alvo, mas, pensando, também, na fusão dos distintos em algum momento no etéreo. Se é que os opostos se atraem!
           No dia seguinte encontrei, na feira de domingo, uma daquelas senhoras pedindo esmola, e a criança que ela conduzia não era a mesma que levava naquele ônibus. Não dei centavo algum, mas esperei que outros dessem na mesma fé daqueles que cederam seus assentos no ônibus (cenário do ontem). Com nada menos que um bom projeto, faz-se a política da sobrevivência.

            Nesse Brasil inescrupuloso, as crianças são usadas para assegurar casamento, e muitas das vezes, até para se evitar as grandes filas do comércio. Elas também são peças valiosas nos depósitos públicos educacionais, chamados Escolas de Tempo Integral,  para arrecadar mais dinheiro do FNDE. Isso não está escrito no ECA! 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 01/08/2009
Código do texto: T1730766

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