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terça-feira, 30 de junho de 2009

DESABAFO DE UM EX-TUTOR (Experimentei a separação de meus ideais)




Crônica

DESABAFO DE UM EX-TUTOR (Experimentei a separação de meus ideais)

Claudeci Ferreira de Andrade

          Estas foram minhas primeiras palavras, logo depois que recebi o veredicto de exoneração do cargo: apoio técnico pedagógico; Ou melhor, escorraçado da fiscalização e condenado à sala de aula, feliz, como se isso não equivalesse: “sair do espeto e cair na brasa” ou fazer “voltar o cachorro ao seu vômito”: — “De vidraça a estilingue.”

           Porém confesso, foram palavras que constituíram um angustioso clamor de terrível agonia. Experimentei a separação de meus ideais, ocasionando-me, como se fosse, a “segunda morte”. É quase impossível fazer você compreender o que suportei: – vou me ater aqui apenas no conveniente.
          Uma ilustração bastante adequada seria a de um marido que ama ternamente a sua esposa e acredita que ela também o ama. Chega, porém, o tempo em que, por alguma razão, ele começa a duvidar desse amor. A vida perde, então, o significado para ele. Isso constitui um dos motivos por que a “educação” é tão “poderosa” e “admirável”. Servimos a homens que nos amam, e só não podemos estar certos, a esse respeito, é de que o façam, “aconteça o que acontecer”.

          Depois de tudo, fiquei como alguém suspenso sobre uma cruz, numa verdadeira luta para decidir que rumo tomar, veio-me um certo pensamento: – “O Colégio João Carneiro dos Santos é a Terra Prometida”. Em primeiro lugar, eu sabia que ao fazer esta escolha, estaria separando-me de mim mesmo. Sempre o chamei de purgatório.

          Quando cheguei lá, diante do ponto temido, não pude olhar além dos portais da sepultura de mesmice. Agora, tudo que preciso é ter fé, simples fé, apenas. Excluiu-se-me a sensação do amor e da presença dos que se diziam amigos. Na verdade, meus irmãos permaneceram ao lado de minha cruz, mas eu não os conhecia. Não pude vê-los ou sentir a presença deles. Foi, então, que proferi as palavras deste texto. Eu não tinha o direito de crer que meus chefes amavam-me, pois me tornara uma ameaça para eles uma vez que cresci. No entanto, tudo estaria perdido se eu não mantivesse a fé no plano de Deus. Às vezes, levo as pessoas a crerem que caí no momento em que me fragilizei, mas afirmo: preferi ser eu mesmo.

          Hoje ninguém pode avaliar a alegria que sinto, conduzindo meus alunos à competência linguística, ao raciocínio lógico e a questionar o sistema educacional público. Temos de crer que a “coisa” vai melhorar independente dos que foram postos para nos dirigir. Quão grande é a necessidade que temos hoje de estudar, estudar e estudar!   Os que ocuparão as páginas dos bons livros são os que creem de maneira constante e firme, os que se constituem o supremo assunto de crescimento social.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 10/08/2009
Código do texto: T1746396

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