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terça-feira, 30 de junho de 2009

RECREIO INTERDISCIPLINAR (Conhecendo minhas medidas e limitações, reafirmo que gastar mais do que ganho é mera “burrice”.)




Crônica

RECREIO INTERDISCIPLINAR (Conhecendo minhas medidas e limitações, reafirmo que gastar mais do que ganho é mera “burrice”.)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Certa vez, participei de uma conversa muito instrutiva na sala dos professores do Colégio Estadual Porfírio de Sousa. Começou quando, a professora de Língua Portuguesa perguntou ao professor de matemática:

           — Por que você escolheu matemática?

          — Porque a matemática é, já em si, divina – disse ele com um sorriso angelical – mesmo antes de ser representada pelos números, os seus signos abstratos já davam ao homem usufruto mensurável da existência. Então, essa ciência que trata das medidas, agora representada pelos algarismos, facilitou aos humanos suas relações, dando-lhes a oportunidade de representar as noções de quantidade e qualidade; promoveu o desenvolvimento dos seus raciocínios e tão necessariamente facilitou-lhes a justiça.

          A linguista, meio sem jeito, procurando fazer valer seu raciocínio, escolheu as palavras certas para mostrar seu aspecto de visão, mas não conseguiu senão mostrar sua arrogância, dizendo:

          — A matemática é muito fácil, aquelas fórmulas engessadas subestimam minha inteligência. Bastando-me decorar algumas delas e a tudo se resolve. Com a linguagem, sou criativa, pois nunca estou pronta e acabada, assim me posiciono como um ser vivo e atuante, transformo e sou transformada.

          O professor de Física, quase não conseguia esperar o momento certo de falar, entrou de supetão na conversa, dizendo:

          — O homem não saberia posicionar-se, como tal, no tempo e no espaço, sem os conhecimentos matemáticos, enfim, sem as noções exatas de quantidade e qualidade. Os valores das porções dão-lhe qualidade de vida, volvendo-o para o caminho do meio, isto é, o caminho do equilíbrio. Assim há maior aceitação das variedades, das formas, dos volumes e dos pesos universais. Também, fazendo do homem a parte ativa em todas as grandezas.

          — Isto tem a ver com as ciências humanas e não com as exatas! – Insiste a professora de língua.

          Nisso o professor de Ciências já estava com sua contribuição elaborada “na ponta da língua”.

          — Eu, como professor de Ciências, admito que a Matemática seja a Ciência das Ciências, entre os infindáveis benefícios prestados ao homem como um ser evolutivo, traz-lhe oportunidade para desenvolver o seu raciocínio sincrônico e diacrônico. É comprovado nos humanos que o exercício físico e mental promove-lhes desenvolvimento vital e dar-lhes tonicidade em todas as áreas e são muitas as vantagens neste aspecto. Quanto mais racional o homem, maior sua diferença dos outros seres e mais semelhante a seu Criador.

          — Por falar em Criador, eu gostaria de dizer que a Bíblia está cheia de números – levantou-se o professor de Ensino Religioso – números bem empregados nas relações proféticas. É como diz o princípio moral da Lei Divina: não se pode usar “dois pesos e duas medidas em um julgamento”, então o justo faz uso da matemática para ser honesto e merecer a aprovação do Céu e o bem-estar da consciência. Deus também Se utiliza dos números, a Seu modo, para mostrar Sua justiça, portanto devemos fazer o mesmo para com nossos semelhantes.

          A professora que abriu o debate fechou o mesmo com uma fala extremamente finalizadora:

          — Preciso ir para a sala, nosso recreio acabou, porém quero dizer uma última coisa a vocês: sem a linguagem, vocês não teriam se expressado tão bem!

          A sirene soou, e eles foram cada um para a sua sala. Fiquei só, naquele local, por alguns minutos a mais, enquanto o diretor chegava, no entanto o suficiente para eu refletir: por que fiquei calado o tempo todo se sou da mesma área da professora!?

          Não demorei muito para entender: o homem é exatamente o que ele calcula dele mesmo, e eu não sou diferente, conhecendo minhas medidas e limitações, reafirmo que gastar mais do que se ganha é mera “burrice”.

Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 11/08/2009
Código do texto: T1748238

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