"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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sábado, 19 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(19) Loucura e Pecado: Uma Análise Crítica da Visão Moralizante

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(19) Loucura e Pecado: Uma Análise Crítica da Visão Moralizante

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A visão comum entre fanáticos religiosos, é que a loucura e o pecado são garantias de ruína. No entanto, essa perspectiva é problemática e carece de uma análise mais aprofundada. Ao me basear em argumentos bíblicos e filosóficos, este ensaio busca validar a visão moralizante sem fanatismo. Entretanto, qualquer abordagem simplista que não leva em consideração a complexidade da condição humana, é repugnante.

Aqui eu refuto a visão de que loucura e pecado levam à ruína, apesar de ser uma constatação bíblica e histórica. Porém é necessário reconhecer que a Bíblia é um texto sujeito a interpretações e que suas mensagens podem ser abordadas de maneiras diversas. Generalizar o pecado como um fator determinante para a ruína ignora a graça divina e a capacidade de transformação humana.

O argumento bíblico de que "tolos e pecadores estão caindo, e não há nada que eles possam fazer para impedir" (Pv 11:21) é excessivamente pessimista. Essa visão fatalista desconsidera a importância da responsabilidade pessoal e da capacidade de mudança. Autores como Viktor Frankl enfatizam a liberdade interior do ser humano, que pode escolher seu caminho e transcender suas circunstâncias.

Além disso, a interpretação literal de passagens bíblicas como a história de Adão e Eva (Gn 3:1-24) não considera outras perspectivas teológicas. A narrativa do pecado original pode ser entendida simbolicamente, representando a vulnerabilidade humana à tentação e o afastamento da vontade divina. A visão de que o pecado é uma condição inerente a todos os seres humanos (Rm 3:23; 5:12) também requer uma análise crítica, pois ignora a diversidade e complexidade das experiências individuais.

Em vez de adotar uma visão determinista, é necessário considerar o equilíbrio entre graça divina e responsabilidade humana. A Bíblia, por exemplo, ensina sobre a capacidade de redenção através da graça de Deus e do arrependimento pessoal (Ef 2:8-9; 2Co 5:17). A responsabilidade humana é reconhecida na busca pela salvação e pela transformação de caráter.

Portanto, é essencial questionar a visão simplista de que loucura e pecado levam à ruína. A complexidade da condição humana exige uma análise mais abrangente, considerando tanto as questões espirituais quanto as nuances psicológicas e sociais. A busca por uma compreensão mais completa da relação entre fé, responsabilidade e transformação é fundamental para um diálogo enriquecedor e equilibrado sobre esse tema.

“Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’.

Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal (sinédrio). E qualquer que disser: ‘Louco! ’, corre o risco de ir para o fogo do inferno – Mateus 5:21,22, Versão NVI.

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(18) O Enigma da Retribuição Divina: Reflexões Teológicas e Filosóficas

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(18) O Enigma da Retribuição Divina: Reflexões Teológicas e Filosóficas

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O presente ensaio tem como objetivo analisar o enigma da retribuição divina, isto é, a ideia de que aqueles que conspiram para causar o mal estão apressando a própria morte. Essa ideia é encontrada tanto nas narrativas bíblicas quanto nas reflexões filosóficas, revelando uma visão de que a justiça divina é intrinsecamente ligada às ações humanas. Para isso, serão utilizadas citações bíblicas e filosóficas que ilustram e sustentam essa concepção.

A Bíblia condena o assassinato como uma violação do sexto mandamento: "Não matarás" (Êxodo 20:13). Aqueles que conspiram para matar alguém estão agindo contra a vontade de Deus e contra a dignidade da vida humana, que foi criada à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27). Além disso, aqueles que planejam e executam o assassinato estão apressando a própria morte, pois Deus é justo e não deixa o sangue inocente impune. Como diz o apóstolo Paulo: "Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará." (Gálatas 6:7).

A Bíblia está repleta de exemplos de como Deus pune os assassinos com a mesma medida que eles usaram para tirar a vida dos outros. O rei Salomão, um dos homens mais sábios que já existiu, advertiu seu filho contra os conspiradores sanguinários, que se juntavam para roubar e matar os inocentes (Provérbios 1:10-19). Ele disse que eles estavam armando uma armadilha para si mesmos e que o seu sangue seria derramado (Provérbios 1:18-19). Salomão sabia que Deus protege a vida dos homens e que Ele é o juiz supremo de todas as coisas (Eclesiastes 12:14).

Jezabel e Acabe foram mortos por causa da sua cobiça e crueldade contra Nabote, um homem justo que possuía uma vinha (I Reis 21:1-24). Hamã foi enforcado na forca que ele havia preparado para Mardoqueu, um servo fiel do rei da Pérsia, por causa do seu ódio e inveja (Ester 7:8-10). Judas Iscariotes se enforcou depois de trair Jesus Cristo, o Filho de Deus, por trinta moedas de prata (Mateus 27:3-5). Esses casos mostram que Deus não se agrada daqueles que derramam sangue inocente e que Ele retribui a cada um segundo as suas obras (Salmos 62:12).

A retribuição divina transcende as páginas sagradas e encontra ressonância no pensamento filosófico. A filosofia socrática, por exemplo, explora a ideia de que a alma é afetada pelo bem e pelo mal que faz, refletindo a noção de que a ação humana é intrinsecamente conectada às consequências que se seguem. E como afirmado por Sócrates, "o mal que alguém faz a outrem não permanece na outra pessoa, mas reflete de volta ao autor original". Outros filósofos também abordaram essa questão, como Sêneca, que disse: "O mal que fazemos não nos atrai tanto como aquele que recebemos." E Epicuro, que afirmou: "A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem."

Em suma, o enigma da retribuição divina é um tema que nos desafia a pensar sobre a relação entre ação e consequência, tanto no plano individual quanto no coletivo. A partir das narrativas bíblicas e das reflexões filosóficas, podemos compreender que a justiça divina não falha e que aqueles que conspiram para causar o mal estão trilhando um caminho de autodestruição. Essa compreensão nos leva a questionar as nossas próprias escolhas e valores, bem como as implicações sociais e históricas das nossas ações. Assim, somos convidados a buscar uma vida pautada pela ética, pela bondade e pelo respeito ao próximo.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(17) O Equilíbrio entre Advertências e Graça: Uma Reflexão Teológica sobre a Natureza Humana e o Perdão Divino

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(17) O Equilíbrio entre Advertências e Graça: Uma Reflexão Teológica sobre a Natureza Humana e o Perdão Divino

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Neste ensaio teológico, analisamos a passagem bíblica sobre os pássaros atraídos pela rede do passarinheiro, que serve como uma advertência contra a tolice humana diante das consequências do pecado. A analogia utilizada pelos autores bíblicos nos lembra que, assim como os pássaros, podemos ser cegos pela ganância e nos entregar a caminhos destrutivos. Essa mensagem ressalta a importância de nos afastarmos da tentação e do pecado.

Contudo, ao abordar essa questão, devemos ter uma visão equilibrada. A Bíblia, com suas metáforas e ensinamentos morais, também nos revela a misericórdia e o perdão oferecidos por Deus. Salmo 103:12 enfatiza que Deus afasta nossas transgressões tão longe quanto o Oriente está do Ocidente, oferecendo-nos a oportunidade de nos arrepender e recomeçar.

O cerne da mensagem é que, apesar de nossas fraquezas e tendências pecaminosas, Deus é um Deus de amor e compaixão, pronto para perdoar e acolher aqueles que se voltam para Ele. A fé nos ensina que, ao invés de nos entregarmos ao desespero, devemos buscar a sabedoria divina para discernir o que é correto e resistir às tentações do pecado.

É fundamental entender que o pecado é uma realidade presente na vida humana, mas a graça divina nos oferece a chance de nos libertar desse fardo. Devemos refletir sobre as advertências da Bíblia, mas também abraçar a esperança da transformação espiritual e da redenção. Romanos 6:14 lembra que o pecado não nos dominará, pois estamos sob a graça divina.

Portanto, esse ensaio ressalta a importância de equilibrar a advertência contra o pecado com a compreensão do amor e perdão de Deus. Devemos buscar a retidão, resistindo às tentações, mas também confiando na graça divina para nos guiar em nossa jornada espiritual. Somente assim poderemos alcançar a verdadeira liberdade e paz espiritual, como ensina João 8:36: "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."

Assim, concluímos que a sabedoria reside na compreensão de nossa natureza pecaminosa, reconhecendo nossas fraquezas e buscando a orientação divina para viver uma vida de retidão e fé, confiando na promessa da graça e do perdão divino. Essa jornada espiritual nos conduz à liberdade genuína e à paz interior, sendo guiados pela luz do amor divino que nos resgata do pecado e nos conduz à verdadeira reconciliação com Deus.

domingo, 13 de agosto de 2023

O QUE REALMENTE VALE A PENA? ("É muito melhor viver sem felicidade do que sem amor". -- William Shakespeare)

 


O QUE REALMENTE VALE A PENA? ("É muito melhor viver sem felicidade do que sem amor". -- William Shakespeare)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Eu estava lendo Mario Quintana, e ele me impressionou com essa frase: "A felicidade bestializa, só o sofrimento humaniza as pessoas." Então lhe questionei sobre precisar jamais procurar o sofrimento, ele é inerente! Mas, a felicidade se procura sim! Lembrei-me do John Stuart Mill: "Aprendi a procurar a felicidade limitando os desejos, em vez de tentar satisfazê-los." Tudo em nome da humanização! Por isso, nem gosto de comer, de dormir, de "f" e tomar banho! Só o necessário, mantendo o grau de infelicidade já conseguido. Pensando nisso: como apenas o necessário, logo me privo do viver para comer; Dormir se parece muito com morrer, e isso não me agrada; "transar" é muito esforço obtendo breve prazer, o orgasmo de 5 segundos de forma alguma vale a meia hora de suor; banhar estraga a pele, os óleos naturais nos protegem de insetos picadores. E me defendo, usando as palavras de Albert Einstein: "Jamais considerei o prazer e a felicidade como um fim em si e deixo este tipo de satisfação aos indivíduos reduzidos a instintos de grupo". Por que as pessoas comuns se esforçam tanto para mostrar prazer ou desfrutando da vida? Fazem de tudo, e há aqueles que se sentam à porta da rua com uma latinha de cerveja na mão, sendo visto por muitos, que ele bebe e farreia; é o "lascadão na vida".

Agora compreendo o filósofo, Luiz Felipe Pondé quando disse em seu texto: "Deus me livre de ser feliz": "A mania da felicidade nos deixa retardado" Preparar-se para o pior é uma forma de antecipar a qualificação própria do prazer. Depois de tudo, posso dizer que só o combate nos faz felizes. Uma luta prenuncia outra luta. Querer ser feliz é querer parar de sofrer e sem sofrimento não há viver. Então prefiro viver lutando, pois o contrário é atrofiar meus talentos. Na luta, há outra felicidade!


sábado, 12 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(16) Reformar ou Abandonar? O Dilema das Relações com Amigos Perversos

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(16) Reformar ou Abandonar? O Dilema das Relações com Amigos Perversos

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há pessoas que se dizem crentes, mas que na verdade são fanáticos. Eles não têm amor, nem compaixão, nem esperança. Eles só têm ódio, desprezo e condenação. Eles se acham donos da verdade, mas na verdade são ignorantes da Palavra de Deus. Eles usam a Bíblia como uma arma, mas na verdade a deturpam e a desrespeitam. Eles se isolam do mundo, mas na verdade se afastam da missão de Deus.

Esses fanáticos vivem em um mundo de ilusão, onde eles se sentem superiores aos outros e se julgam infalíveis. Eles não reconhecem os seus pecados, nem os seus erros, nem as suas limitações. Eles não aceitam a graça de Deus, nem a sua misericórdia, nem o seu perdão. Eles não buscam a santidade de Deus, nem a sua vontade, nem o seu reino.

Esses fanáticos têm uma visão pessimista e fatalista da natureza humana. Eles afirmam que os tolos não podem desistir da loucura e os pecadores não podem parar de pecar. Eles ignoram a possibilidade de arrependimento, conversão e transformação pela graça de Deus, que é revelada nas Escrituras e na história. Eles usam de forma seletiva e distorcida alguns versículos bíblicos para sustentar a sua tese, sem considerar o contexto e a interpretação adequados.

Neste ensaio, quero mostrar como esses fanáticos erram em sua argumentação e como a Bíblia oferece uma esperança maior para os homens.

Primeiro, eles citam Efésios 4:17-19 para dizer que os tolos e os pecadores correm com pressa para mais maldade em vez de andar, e que eles avidamente correm para sentir seus desejos malignos. No entanto, esse texto não se refere a todos os tolos e pecadores, mas apenas àqueles que vivem na ignorância e na dureza de coração, sem conhecer a Deus nem o seu chamado. O próprio apóstolo Paulo, que escreveu essa carta aos efésios, reconhece que ele mesmo foi um pecador e um perseguidor da igreja, mas que Deus teve misericórdia dele e o salvou pela fé em Cristo (I Timóteo 1:12-16). Portanto, há uma diferença entre os que rejeitam a Deus deliberadamente e os que ainda não ouviram o evangelho ou não tiveram uma oportunidade de se arrepender.

Segundo, eles citam Provérbios 1:10; 4:14-17 e Salmos 1:1-3 para dizer que a segurança da sabedoria é simples: nem mesmo faça amizade com todos. Essa afirmação é contraditória com o próprio livro de Provérbios, que ensina que o sábio deve ouvir o conselho dos outros (Provérbios 12:15; 15:22; 19:20), que o amigo ama em todo o tempo (Provérbios 17:17), e que há amigos mais chegados que um irmão (Provérbios 18:24). Além disso, o salmista não diz para evitar todas as amizades, mas apenas as dos ímpios, dos pecadores e dos escarnecedores (Salmos 1:1). Há uma diferença entre se associar com os maus para praticar o mal e se relacionar com eles para testemunhar do bem. Jesus mesmo foi chamado de amigo dos publicanos e pecadores, pois ele veio buscar e salvar o que se havia perdido (Lucas 19:10).

Terceiro, eles citam I Coríntios 15:33 para dizer que você não pode reformar amigos perversos, mas que eles irão corromper suas boas maneiras. Essa citação bíblica não se refere aos amigos em geral, mas aos falsos mestres que negavam a ressurreição dos mortos e influenciavam negativamente a fé dos cristãos em Corinto. Paulo estava advertindo os crentes a não se deixarem enganar por esses homens, mas a permanecerem firmes no evangelho que ele lhes havia pregado (I Coríntios 15:1-2). Portanto, há uma diferença entre seguir doutrinas erradas e amar pessoas erradas. A Bíblia ensina que devemos amar até mesmo os nossos inimigos e orar por eles, pois Deus faz nascer o seu sol sobre maus e bons (Mateus 5:44-45).

Em conclusão, esses fanáticos apresentam uma visão equivocada da natureza humana e das relações interpessoais, baseada em uma leitura superficial e tendenciosa da Bíblia. A verdade é que Deus é capaz de mudar os tolos e os pecadores pela sua graça, como fez com muitos exemplos na história da salvação. A nossa missão como crentes não é julgar, mas amar; não é isolar, mas evangelizar; não é condenar, mas salvar.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(15) Entre os Ímpios e os Santos: A Tensão dos Cristãos na Sociedade Contemporânea

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(15) Entre os Ímpios e os Santos: A Tensão dos Cristãos na Sociedade Contemporânea

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A Bíblia toda nos ensina a "Não entrar pela vereda dos ímpios, nem andar no caminho dos maus" (Pv 4:14), pois esse é um conselho sábio e divino para todos os que desejam seguir a Deus e a sua vontade. No entanto, há quem defenda que os cristãos devem evitar os tolos e os pecadores, e se isolar do mundo, como se isso fosse uma garantia de santidade e sabedoria. Essa ideia, porém, não encontra respaldo nas Escrituras, nem na história da igreja, nem na experiência cristã. Pelo contrário, ela revela uma compreensão equivocada do propósito de Deus para o seu povo e do papel dos cristãos na sociedade.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que todos nós somos pecadores e carecemos da graça de Deus (Rm 3:23). Não há ninguém que seja justo por si mesmo, nem que possa se gloriar diante de Deus por suas obras (Ef 2:8-9). Portanto, não cabe aos cristãos se olharem superior aos demais, nem se afastarem dos que ainda não conhecem a Cristo. Pelo contrário, cabe-lhes testemunhar do amor de Deus e da salvação que ele oferece em Jesus (Mt 28:19-20). Como disse o apóstolo Paulo: "Porque Cristo me enviou, não para batizar, mas para evangelizar" (1 Co 1:17).

Em segundo lugar, é preciso lembrar que Jesus foi chamado de "amigo dos publicanos e pecadores" (Mt 11:19), pois ele não veio para os justos, mas para os pecadores (Mc 2:17). Ele não se isolou do mundo, mas se envolveu com as pessoas, com suas dores, suas necessidades, seus anseios. Ele não rejeitou os que eram marginalizados pela sociedade, mas os acolheu com compaixão e misericórdia. Ele não condenou os que erravam, mas os perdoou e os chamou ao arrependimento. Ele não se conformou com o mal, mas o combateu com a verdade e a justiça. Ele foi o exemplo perfeito de como um cristão deve se relacionar com o mundo.

Em terceiro lugar, é preciso entender que Deus nos chamou para sermos sal da terra e luz do mundo (Mt 5:13-14), ou seja, para influenciarmos positivamente a sociedade com os valores do reino de Deus. Não podemos nos omitir diante das injustiças, das opressões, das violências, das mentiras que assolam o mundo. Não podemos nos calar diante das falsas doutrinas, das heresias, das idolatrias que desviam as pessoas de Deus. Não podemos nos acomodar diante das tentações, dos pecados, das corrupções que nos afastam de Deus. Temos que ser agentes de transformação, de beleza, de restauração. Temos que ser testemunhas da esperança, da fé, do amor.

Portanto, evitar os tolos e os pecadores não é uma atitude cristã. Pelo contrário, é uma atitude farisaica, hipócrita e egoísta. Como disse o teólogo Dietrich Bonhoeffer: "A igreja não é apenas chamada a estar entre os fracos; ela pertence a eles incondicionalmente" [1]. E como disse o escritor CS Lewis: "O cristão não pensa que Deus nos amará porque somos bons; mas que Deus nos fará bons porque ele nos ama" [2]. Que possamos seguir esses exemplos e cumprir a nossa missão no mundo.

Referências:

[1] Bonhoeffer, D. Discipulado. São Leopoldo: Sinodal/EST; Petrópolis: Vozes; São Paulo: Fonte Editorial; Londrina: Descoberta Editora; Belo Horizonte: Editora Ultimato; Curitiba: Editora Encontrão; Recife: Editora Betel Brasileiro; Brasília: Editora Palavra; Rio de Janeiro: Editora Batista Regular; São Paulo: Editora Cristã Unida; São Paulo: Editora

[2] Lewis, C.S. Mere Christianity. London: HarperCollins, 2002.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(14) As Sedutoras Mentiras do Pecado: A convivência entre cristãos e não-cristãos: uma análise crítica.

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(14) As Sedutoras Mentiras do Pecado: A convivência entre cristãos e não-cristãos: uma análise crítica.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O cristianismo é uma religião que se baseia na fé em Jesus Cristo como o filho de Deus e o salvador da humanidade. Os cristãos seguem os ensinamentos da Bíblia, que é considerada a palavra de Deus revelada aos homens. No entanto, existem diferentes interpretações da Bíblia e diferentes formas de viver a fé cristã. Uma questão que divide os cristãos é a convivência com os não-cristãos, ou seja, com as pessoas que não compartilham da mesma crença ou que vivem em pecado. Alguns cristãos defendem que os cristãos devem se separar dos não-cristãos, usando como argumento algumas passagens bíblicas que exortam os fiéis a se afastarem dos ímpios. Outros cristãos defendem que os cristãos devem conviver com os não-cristãos, usando como argumento outras passagens bíblicas que exortam os fiéis a serem sal e luz do mundo. Neste ensaio, eu vou analisar criticamente esses dois argumentos e defender a minha posição sobre o tema.

O argumento dos cristãos que defendem a separação dos não-cristãos se baseia em passagens bíblicas como Provérbios 1:10-15, Isaías 52:11, Micaías 2:10, 2 Coríntios 6:14-18 e Hebreus 13:13. Essas passagens advertem os cristãos sobre os perigos de se associar com os pecadores, os inimigos de Deus e os falsos profetas. Eles afirmam que os cristãos devem se preservar da contaminação do mundo e buscar a santidade.

No entanto, esse argumento é falho por vários motivos. Primeiro, ele ignora o contexto histórico e cultural em que essas passagens foram escritas. Elas refletem situações específicas de tentação, opressão ou perseguição que os cristãos enfrentavam na época. Elas não podem ser aplicadas de forma literal e universal para todas as situações e épocas. Segundo, ele ignora outras passagens bíblicas que mostram uma atitude diferente dos cristãos em relação aos não-cristãos. Por exemplo, Jesus Cristo se relacionou com publicanos, prostitutas, samaritanos e outros marginalizados pela sociedade judaica. Ele disse que veio para buscar e salvar o que estava perdido (Lucas 19:10). Ele também mandou os seus discípulos pregarem o evangelho a toda criatura (Marcos 16:15). Paulo também se tornou tudo para todos para ganhar alguns para Cristo (1 Coríntios 9:19-23). Terceiro, ele ignora o mandamento maior de Deus, que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22:37-40). Esse mandamento inclui amar e perdoar os inimigos, orar pelos que nos perseguem e fazer o bem aos que nos odeiam (Mateus 5:44-48). Como os cristãos podem cumprir esse mandamento se se isolam dos não-cristãos?

Diante do exposto, eu concluo que os cristãos não devem se separar dos não-cristãos, mas sim conviver com eles de forma respeitosa, amorosa e evangelística. Os cristãos devem estar no mundo, mas não ser do mundo (João 17:14-18). Eles devem viver de forma distinta dos não-cristãos, mas também devem estar dispostos a alcançá-los com o evangelho da graça de Deus. Como disse o filósofo e teólogo Agostinho de Hipona: "Ama e faz o que quiseres" (Sermão 7, 8). Ou seja, se os cristãos amam a Deus e ao próximo, eles farão o que é certo e agradável a Deus. Como disse o filósofo e escritor C.S. Lewis: "O próximo passo é o mais importante" (Cartas de um diabo a seu aprendiz, capítulo 12). Ou seja, os cristãos devem se preocupar em fazer a vontade de Deus em cada situação, sem se deixar levar pelo medo ou pelo orgulho.