CrônicaO Amor, a Lei e a Vertigem do Novo (Minha nova família é um pedaço do Céu na terra!)
O panorama legal foi alterado de forma irreversível: os cartórios habilitam e celebram casamento civil — incluindo a conversão da união estável — "entre pessoas do mesmo sexo." Essa mudança impulsiona uma nova realidade, corroborada pelo IBGE: "Casamento gay no país cresce em ritmo maior que o de heterossexuais. Uniões entre casais do mesmo sexo aumentaram 15,7%."
Perante este cenário, as instruções da Igreja à família continuam firmes, exigindo vigilância nos atos e palavras dos pais, a manutenção do bom exemplo e o respeito mútuo entre marido e esposa. Mas como pretendem resguardar a santidade do enlace matrimonial diante de tamanha inovação? Para onde migram os princípios e valores culturais da Igreja?
As influências educacionais do lar e da escola são forças decisivas — silenciosas, graduais e, se exercidas do lado "certo," cheias de valor. Mas qual é esse lado, neste caso? E qual será o destino da eficiência moral da Escola?
Talvez o "lado certo" dependa menos de dogmas e mais de empatia. Estudos sérios indicam que crianças criadas por casais homoafetivos demonstram desenvolvimento psicológico tão saudável quanto as demais. O medo, então, nasce de dados ou de preconceito? Talvez o mundo não esteja ruindo, mas apenas mudando de forma que ainda não compreendemos em toda sua profundidade. E se o verdadeiro desafio do nosso tempo for este: aceitar que o amor se reinventa, mas a responsabilidade permanece? A humildade intelectual também é uma forma de fé — a fé de que a verdade não teme o confronto com o real.
A responsabilidade social não se limita àqueles com filhos biológicos. Mesmo casais sem prole podem acolher crianças órfãs ou destituídas de amparo. Diante deste horizonte de adoção, o que se exige da disciplina de quem pretende herdar a "família do Céu"? Para onde se deslocam os conceitos e valores da família tradicional?
Minha constante oração é: Deus me deixe viver, com sanidade suficiente, até os setenta e quatro anos, para que eu possa olhar para trás e comparar o desempenho das leis proibitórias do abuso sexual de menores. Quero sentir-me em paz, não pelo prazer de uma realidade porvir, mas pela confirmação do meu ministério profético. Contudo, quando o futuro chegar, inevitavelmente perguntar-me-ei: para onde vão os princípios e valores culturais de mim mesmo?
Que os elementos modernos do mundo, ardendo em paixão, se esbaldem em "amor" — eu, por minha vez, quero apenas responsabilidade social. Quanto mais intensamente essas "desproibições" invadirem nossa vida, menos motivação teremos para olhar o passado, pois para a frente tudo se anuncia "excelente!" Mas talvez não se trate de depravação, e sim de cansaço de quem tenta ver o novo com os olhos da velha moral. A crônica, afinal, é resistência contra o esquecimento.
E aqui recordo a lucidez da poeta Sílvia Regina Costa Lima: "... a família mudou demais e temos, dela, novos modelos que antes nem se pensava, nem se sonhava... as crianças perdem o referencial sobre o que é avô original, avô agregado, tios, primos, meio-irmãos, outros pais... e todos perderam a noção de valores, tradição, cidadania... e não sei aonde iremos todos parar..."
Talvez, Sílvia, não paremos: apenas sigamos — menos certos, mas, quem sabe, mais humanos.
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Este texto é um excelente ponto de partida para refletirmos sobre as mudanças sociais em curso e como elas impactam instituições como a família, a escola e a religião. Como seu professor de Sociologia, preparei 5 questões discursivas simples para que vocês articulem a tensão entre tradição e modernidade presente no texto.
1 - Mudança Social e Instituições: O texto inicia mencionando a alteração legal que permite o casamento "entre pessoas do mesmo sexo" e a reação das instituições religiosas. Explique como a mudança na legislação (Direito) pode gerar um conflito ou uma crise de valores em instituições sociais como a Igreja e a Família Tradicional.
2 - Dogmas vs. Empatia: O autor sugere que o "lado certo" nas questões familiares "dependa menos de dogmas e mais de empatia." Diferencie, em termos sociológicos, o papel dos dogmas/tradição (regras fixas de uma instituição) e da empatia (compreensão interpessoal) na construção da moralidade e das relações sociais na contemporaneidade.
3 - Preconceito e Dados (Fato Social): O texto contrapõe o "medo" à evidência de que crianças criadas por casais homoafetivos têm desenvolvimento saudável. Com base no conceito de Fato Social de Émile Durkheim, como a Sociologia pode analisar o papel dos estudos científicos na desconstrução de crenças e preconceitos enraizados na sociedade?
4 - A Transformação da Família: A citação de Sílvia Regina Costa Lima descreve a perda do "referencial" sobre parentesco ("avô agregado, tios, primos, meio-irmãos"). Discuta como a Sociologia interpreta a flexibilização dos modelos familiares (diversidade familiar) na modernidade tardia e o que isso implica para os conceitos de "tradição" e "cidadania" mencionados na citação.
5 - Responsabilidade Social vs. "Amor": O autor declara querer "apenas responsabilidade social," em contraste com o "amor" ardente dos elementos modernos. Qual é a crítica sociológica implícita nessa afirmação? Explique por que, para o autor, a responsabilidade social (como o acolhimento de órfãos) é um valor mais fundamental e duradouro do que a paixão momentânea.


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