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sábado, 26 de novembro de 2016

O PROFESSORADO BIPOLAR ("E aí, a bipolaridade chega, o sorriso que estava no rosto sai, a música que estava a tocar para, a alegria some. E isso já não é estranho para mim". — Maxsander Barros)


Crônica

O PROFESSORADO BIPOLAR ("E aí, a bipolaridade chega, o sorriso que estava no rosto sai, a música que estava a tocar para, a alegria some. E isso já não é estranho para mim". — Maxsander Barros)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Outubro chegou sorrateiramente, trazendo consigo uma mistura agridoce de emoções. As festividades antecipadas do Dia dos Professores encheram os corredores da escola com risos e o aroma tentador de quitutes deliciosos. Enquanto mordo um pedaço de bolo, sinto o gosto doce da alegria momentânea se misturando com o amargor da ansiedade que se aproxima. É nesse instante que percebo: sou um professor vivendo numa montanha-russa emocional, num universo à parte onde dramas e comédias se desenrolam diariamente.

Os momentos festivos na escola são como fogos de artifício - brilhantes, barulhentos e efêmeros. Neles, as responsabilidades cotidianas parecem se dissipar como fumaça no ar, dando lugar a uma sensação reconfortante de bem-estar. Observo meus colegas rindo descontraidamente e me pergunto: por que ainda morremos de estresse? A resposta, infelizmente, não tarda a chegar.

Como um pêndulo implacável, a rotina escolar oscila entre extremos. A alegria das celebrações logo dá lugar à tensão do fechamento do bimestre. Outubro não é apenas o mês de homenagens, mas também o período em que nossa profissão se transforma numa delicada dança sobre a corda bamba da avaliação. Cada nota atribuída é um peso sobre nossos ombros, cada conceito uma responsabilidade que pode desencadear acusações de injustiça.

Nessas horas, sinto-me como um equilibrista malabarista, tentando jogar entre a objetividade profissional e a empatia humana. O diário eletrônico (SIAP), meu algoz noturno, pisca incessantemente na tela do computador, lembrando-me que o sono é um luxo que não posso me dar ao luxo de ter. A única saída é abandonar a vaidade e deixar que minha humilde competência fale por si.

Em meio a esse turbilhão, percebo-me numa encruzilhada existencial. De um lado, a insatisfação com as dificuldades da profissão; do outro, uma teimosia esperançosa que insiste em acreditar na nobreza do ofício. É uma dicotomia que me consome, mas que também me impulsiona. Após a pandemia, sinto que estou passando por uma revolução emocional, onde a privacidade se reconfigura e a alegria compartilhada se torna mais valiosa que o distanciamento social.

Às vezes, pego-me sonhando com as férias como um náufrago imaginando terra firme. Planejo viagens, visualizo novos horizontes, busco inspiração além dos muros da escola. É esse vislumbre de liberdade que me mantém são, que me faz levantar todas as manhãs e enfrentar mais um dia de batalha.

Reconheço em mim o estereótipo do professor bipolar: ora exuberante e falante, ora retraído e frustrado. Falo alto, opino sobre tudo (mesmo quando não deveria), e por vezes me pego corrigindo detalhes irrelevantes nas falas alheias. É um comportamento que oscila entre o cômico e o trágico, um reflexo das pressões e expectativas que carregamos.

Ao final do dia, exausto e reflexivo, lembro-me das palavras sábias: "Os sentimentos do coração humano, tanto a tristeza quanto a alegria, só são conhecidos por quem sente". Ninguém além de nós, professores, pode realmente compreender a complexidade emocional de nossa jornada.

E assim, entre bolos e diários, risos e tensões, sigo em frente nesta montanha-russa particular que é a vida escolar. A cada subida íngreme de desafios, aguardo ansiosamente a descida vertiginosa das realizações. Porque, no fim das contas, é essa mistura de emoções que dá sabor à nossa profissão e nos lembra, diariamente, que estamos vivos e fazendo a diferença, um aluno de cada vez. Somos, antes de tudo, eternos aprendizes da vida, equilibrando-nos entre as sombras e as luzes do magistério, sempre na esperança de dias melhores.

Questões Discursivas:

1. O texto apresenta uma metáfora interessante ao comparar a vida de um professor a uma montanha-russa emocional. De que forma essa metáfora contribui para a compreensão dos desafios e recompensas da profissão docente?

2. O autor descreve um momento de crise existencial em que questiona a sua própria vocação para o magistério. Como ele supera essa crise e encontra novos motivos para continuar atuando como professor?

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