"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

terça-feira, 22 de agosto de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(20) Crenças e Caminhos: Sabedoria na Era da Diversidade

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio I(20) Crenças e Caminhos: Sabedoria na Era da Diversidade

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um tema central na literatura bíblica, especialmente nos livros de Provérbios, Eclesiastes e Jó. Nesses livros, a sabedoria é apresentada como um dom de Deus, que orienta o homem para uma vida justa, próspera e feliz. A sabedoria também é personificada na figura da Senhora Sabedoria, que convida os homens a segui-la e a rejeitar a loucura e o pecado.

No entanto, essa visão da sabedoria pode ser questionada à luz da realidade humana, que é marcada pela complexidade, diversidade e pluralidade. A vida não é simples nem linear, mas cheia de desafios, dilemas e contradições. A sabedoria não é única nem absoluta, mas relativa e contextual. A sabedoria não é estática nem imutável, mas dinâmica e adaptável.

Neste ensaio, pretendo analisar criticamente a proposta da Senhora Sabedoria, que oferece aos homens uma jornada intrincada e eterna pela busca da sabedoria. Para isso, vou considerar três aspectos: a premissa de que a rejeição dessa oferta resulta em um desinteresse futuro por parte da sabedoria; a sugestão de que as escolhas pessoais conduzem aos problemas da vida; e a afirmação de que o Deus Criador oferece sabedoria através dos céus, da Bíblia e de pregadores.

Em primeiro lugar, a premissa de que a rejeição da oferta da Senhora Sabedoria resulta em um desinteresse futuro por parte da sabedoria implica uma visão determinista e fatalista da natureza humana. Essa visão ignora a possibilidade de arrependimento, conversão e transformação pela graça de Deus, que é revelada nas Escrituras e na história. A Bíblia mostra vários exemplos de pessoas que mudaram de atitude e de comportamento depois de terem rejeitado ou ignorado a sabedoria divina. Um desses exemplos é o próprio Salomão, que escreveu os Provérbios, mas que se desviou da sabedoria no final da sua vida, seguindo outros deuses e cometendo injustiças (I Reis 11:1-13). No entanto, ele se arrependeu e reconheceu a sua vaidade (Eclesiastes 12:8-14). Outro exemplo é o apóstolo Paulo, que perseguiu os cristãos, mas que se converteu depois de ter uma visão de Jesus no caminho de Damasco (Atos 9:1-22). Portanto, há uma esperança para os tolos e os pecadores, pois Deus é paciente e misericordioso (II Pedro 3:9).

Em segundo lugar, a sugestão de que as escolhas pessoais conduzem aos problemas da vida implica uma visão individualista e simplista da realidade humana. Essa visão desconsidera as influências externas, como a sociedade, cultura e contexto familiar, que também moldam as nossas ações. A vida não é apenas resultado das nossas decisões, mas também das circunstâncias que nos cercam. A Bíblia mostra vários exemplos de pessoas que sofreram por causa de fatores alheios à sua vontade ou responsabilidade. Um desses exemplos é o de Jó, que era justo e temente a Deus, mas que perdeu tudo o que tinha por causa de uma aposta entre Deus e Satanás (Jó 1:1-22). Outro exemplo é o de Jesus Cristo, que era inocente e santo, mas que foi crucificado por causa dos pecados da humanidade (Isaías 53:4-6). Portanto, há uma complexidade para os justos e os ímpios, pois Deus permite o sofrimento para provar a nossa fé ou para cumprir o seu propósito (Romanos 8:28).

Em terceiro lugar, a afirmação de que o Deus Criador oferece sabedoria através dos céus, da Bíblia e de pregadores implica uma visão exclusivista e dogmática da revelação divina. Essa visão exclui a pluralidade de crenças e perspectivas no mundo contemporâneo, que desafia a ideia de que uma única fonte de sabedoria oferece respostas universais. A sabedoria não é monopólio de uma religião ou de uma tradição, mas se manifesta de maneiras diversas e multifacetadas. A Bíblia mostra vários exemplos de pessoas que receberam sabedoria de outras fontes além das mencionadas. Um desses exemplos é o de Moisés, que foi educado na ciência dos egípcios, que eram politeístas e idólatras (Atos 7:22). Outro exemplo é o de Daniel, que aprendeu a sabedoria dos caldeus, que eram astrólogos e magos (Daniel 1:17-20). Portanto, há uma diversidade para os sábios e os simples, pois Deus se revela de formas variadas e surpreendentes (Hebreus 1:1-2).

Em conclusão, a proposta da Senhora Sabedoria, que oferece aos homens uma jornada intrincada e eterna pela busca da sabedoria, merece ser abordada de uma perspectiva mais ampla e crítica. A sabedoria não é uma fórmula pronta e definitiva, mas uma busca constante e dinâmica. A sabedoria não é uma garantia de felicidade e prosperidade, mas uma orientação para a justiça e a paz. A sabedoria não é uma imposição de Deus, mas um convite à sua comunhão.

Nenhum comentário: