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MINHAS PÉROLAS

Não me impeça de contar as cruzinhas do meu caderno de classe. Eu não vejo outra forma de avaliação contínua sem registrar a produção constante do aluno para provar a pais, coordenadoras, alunos e colegas que não julgo as atividades só no olho, embora seja muito superficial.
Claudeci Ferreira de Andrade

terça-feira, 19 de novembro de 2024

O Cão Morto e a Escola: Símbolos de Descaso e Resistência ("A grandeza de uma nação e seu progresso moral podem ser julgados pela forma como seus animais são tratados." — Mahatma Gandhi)

 

O Cão Morto e a Escola: Símbolos de Descaso e Resistência ("A grandeza de uma nação e seu progresso moral podem ser julgados pela forma como seus animais são tratados." — Mahatma Gandhi)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma manhã densa, daquelas que carregam no ar um peso inexplicável. O feriado prolongado havia deixado a escola em um silêncio estranho, e agora, enquanto os alunos voltavam a preencher o pátio, algo parecia diferente. Caminhei pelo corredor, imerso no usual ruído de passos e risadas, mas um cheiro peculiar denunciava algo mais.

Diante da porta da sala dos professores, deparei-me com uma cena que interrompeu meus passos e pensamentos: o corpo inerte de um cachorro, abandonado como um segredo revelado. O odor era insuportável, mas profundamente simbólico. Não era apenas o cheiro de carne em decomposição; carregava o peso de um descaso que ultrapassava aquele momento, impregnando-se nas paredes da escola e, de certa forma, em cada um de nós.

Recordei os cães de rua que diariamente rondavam o espaço escolar. Mais que mendigos urbanos, eram sombras que acompanhavam a rotina das crianças, alimentados por migalhas da merenda. Olhos esperançosos e corpos franzinos moviam-se com a sabedoria de quem sobrevive à margem, sem nunca ser completamente marginal. Aquele cão morto parecia representar um reflexo do abandono que a própria escola, em sua essência, muitas vezes tenta esconder.

A escola não é apenas um lugar de aprendizado formal. É um organismo vivo que respira e pulsa com histórias não contadas entre seus muros. Como a vida, carrega o peso de suas feridas, frequentemente varridas para baixo do tapete da rotina. Os erros cometidos ali exalam um cheiro peculiar, não imediato, mas persistente — o cheiro de um descuido coletivo.

O cão morto, abandonado como um objeto qualquer, trouxe um incômodo inevitável. Mais que uma presença inconveniente, era um símbolo do que a escola e a sociedade insistiam em não enxergar. Enquanto os alunos passavam apressados, cobrindo os narizes com as mangas, vi em seus rostos uma mistura de curiosidade e repulsa. Era irônico perceber que aquele animal, em sua condição mais vulnerável, era parte da paisagem tanto quanto os próprios estudantes.

Mais tarde, quando o sino tocou, anunciando o recreio, o ritual se repetiu: crianças oferecendo pedaços de pão aos cães que circulavam pelo pátio. Em seus gestos despretensiosos, havia uma humanidade que contrastava com a negligência do sistema educacional. Cada pedaço compartilhado parecia um pacto silencioso, um lembrete de que a vida, por mais difícil, insiste em buscar conexão e acolhimento.

No final daquela manhã, ao cruzar o portão da escola, rumo a minha casa, olhei para um dos cães deitado à sombra, como quem espera um final que talvez nunca chegue. A cena me fez refletir sobre a escola como um espaço de migalhas: migalhas de atenção, de cuidado, de recursos. E, no entanto, também me fez pensar na força resiliente que sobrevive mesmo entre as sobras.

A vida, afinal, não escolhe seus palcos. Ela acontece, teimosa, entre migalhas e esperanças, entre erros e gestos de bondade, lembrando-nos que até o mais simples ato de cuidado pode ser o início de uma transformação ainda inimaginável.


Com base na reflexão apresentada no texto, proponho as seguintes questões para estimular um debate aprofundado sobre a educação e a sociedade:


Qual a relação entre a imagem do cão morto e a situação da escola descrita no texto?

Essa questão leva os alunos a refletirem sobre o simbolismo da morte do animal e como ela representa um problema mais amplo dentro da instituição escolar.


Como a escola, segundo o texto, se torna um reflexo da sociedade em que está inserida?

A pergunta incentiva os alunos a analisar as interconexões entre a escola e a sociedade, e como as questões sociais se manifestam dentro do ambiente escolar.


Qual o papel dos alunos na construção de um ambiente escolar mais humano e justo?

Essa questão leva os alunos a refletirem sobre sua própria responsabilidade na transformação da escola e a importância de suas ações individuais.


De que forma a indiferença e a negligência podem impactar a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos?

A pergunta incentiva os alunos a pensar sobre as consequências da falta de cuidado e atenção para com os estudantes e como isso pode afetar suas vidas.


Qual a importância de gestos simples de solidariedade e cuidado no ambiente escolar?

Essa questão convida os alunos a refletir sobre o poder transformador de pequenas ações e como elas podem contribuir para a construção de uma escola mais humana e acolhedora.


Observações:


Abordagem interdisciplinar: As questões podem ser relacionadas a outras disciplinas, como língua portuguesa, filosofia e psicologia, ampliando a perspectiva dos alunos.

Crítica e reflexão: As perguntas estimulam os alunos a pensar criticamente sobre as informações apresentadas no texto e a construir suas próprias opiniões.

Diálogo e debate: As questões podem ser utilizadas como ponto de partida para debates em sala de aula, promovendo o respeito às diferentes perspectivas e a construção de um conhecimento coletivo.

Ao trabalhar com essas questões, é importante que o professor crie um ambiente seguro e acolhedor para que os alunos possam expressar suas ideias e opiniões de forma livre e respeitosa. A partir desse debate, é possível aprofundar a reflexão sobre temas como educação, sociedade, ética e responsabilidade social.

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