"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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MINHAS PÉROLAS

domingo, 31 de agosto de 2025

Avaliação de desempenho que se transforma em perseguição (“Se um sistema educacional é um fracasso, a culpa é dos educadores, não dos educandos.” — Carlos Drummond de Andrade)

 

Avaliação de desempenho que se transforma em perseguição (“Se um sistema educacional é um fracasso, a culpa é dos educadores, não dos educandos.” — Carlos Drummond de Andrade)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

É isso que, no fim das contas, acaba acontecendo — e está acontecendo agora na rede estadual de educação. Professores estão sendo perseguidos, assediados e até expostos a divisões artificiais entre estudantes e docentes. O absurdo chegou ao ponto de alunos avaliarem seus professores, como se fossem juízes de um processo sem critério algum. O que deveria ser um instrumento de melhoria virou mecanismo de intimidação.

Enquanto isso, gestores e autoridades que descumprem a legislação permanecem impunes. Prefeitos, governadores e até o presidente escapam sem qualquer responsabilização. Queremos, sim, uma reforma administrativa, mas que puna os gestores que não cumprem seu papel e não aqueles que estão na linha de frente, ensinando em salas de aula sucateadas. Essa é a luta por justiça social que precisamos travar juntos, pelo Brasil.

Mas se a palavra é avaliação, que seja feita com seriedade e justiça. Em países como Finlândia e Canadá, por exemplo, o desempenho docente é acompanhado por equipes pedagógicas qualificadas, com foco em formação contínua e não em punição. Avaliações por pares, feedback construtivo e planos de desenvolvimento individuais mostram que é possível conciliar rigor e respeito. “A crítica sem proposta é apenas ruído”, dizia Paulo Freire — e talvez seja hora de lembrarmos que a educação precisa de políticas de apoio, não de linchamentos simbólicos. Um modelo equilibrado poderia transformar a avaliação em instrumento de crescimento, e não em arma de perseguição.

E aí surge a pergunta inevitável: que competência tem o estudante para avaliar o professor? Como disse um dos colegas: “É o poste mijando no cachorro!” Muitos alunos ainda não dominam plenamente a leitura, mas já se arrogam o direito de julgar a formação de seus mestres. Em algumas escolas, diretores chegam a orientar os alunos nas provas a portas fechadas, proibindo a presença dos professores. Outro docente resumiu: “É o mesmo que o bandido avaliar o policial pelas costas...”

Claro que o professor precisa ser avaliado — pela postura, pela dedicação, pela responsabilidade. Mas não por mecanismos distorcidos. “Não são todos, mas há professores que não dão aula e apenas enrolam”, reconheceu um educador. O problema é que, nesse modelo atual, o professor que exige mais pode ser punido, enquanto o que pouco ensina, paradoxalmente, recebe melhor avaliação.

Como desabafou uma professora: “Não desista de derrubar essa resolução de avaliação! Estamos sendo ameaçados e humilhados.” O retrato não poderia ser mais claro: em 2009, uma docente foi avaliada por alunos do 8º ano do estado. Sua comparação diz tudo: “É a banana comendo o macaco.”


https://www.instagram.com/reel/DMga1bMJU7h/?utm_source=ig_web_copy_link (Acessado em 31/08/2025)


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Para nossa aula de sociologia, vamos analisar este texto que aborda a polêmica avaliação de professores. Ele levanta pontos importantes sobre poder, educação e justiça social. Leiam-no com atenção e respondam às questões a seguir para aprofundarmos a discussão.


1 - O autor critica a avaliação de desempenho que se tornou um "mecanismo de intimidação" e "perseguição". Com base no texto, explique como essa prática reflete um problema maior de responsabilização no setor público brasileiro.

2 - O texto compara a avaliação de professores por alunos a situações como "o poste mijando no cachorro!" e "o bandido avaliar o policial pelas costas...". Analise sociologicamente o que essas metáforas revelam sobre as relações de poder dentro da escola.

3 - O autor aponta que o atual modelo de avaliação pode premiar o professor que "enrola" e punir o que "exige mais". De que maneira essa crítica questiona a justiça e a eficácia do sistema de avaliação?

4 - O texto sugere que, em países como Finlândia e Canadá, a avaliação é feita por "equipes pedagógicas qualificadas". Qual a diferença fundamental entre esse modelo e o criticado no Brasil, no que diz respeito ao objetivo da avaliação?

5 - A frase de Paulo Freire, "'A crítica sem proposta é apenas ruído'", é citada. De que forma o autor usa essa ideia para argumentar que a luta dos professores não é contra a avaliação em si, mas contra a falta de apoio e critérios justos?

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

O Fim da Educação? ("Uma sociedade que não se preocupa com a educação de seus jovens, condena a si mesma à ignorância, pobreza e violência." — Mário Quintana)

 



O Fim da Educação? ("Uma sociedade que não se preocupa com a educação de seus jovens, condena a si mesma à ignorância, pobreza e violência." — Mário Quintana)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Uma professora de Curitiba, no Paraná, morreu de infarto dentro da escola. Um caso que, longe de ser isolado, escancara uma realidade assustadora na educação brasileira: ser professor se tornou uma profissão de risco, sinônimo de insalubridade. A violência, o estresse e a desvalorização estão matando os docentes de forma fulminante, por infarto ou agressão, ou gradualmente, sufocados pelo peso diário do ofício. Não à toa, especialistas preveem um enorme déficit de profissionais até 2040. Afinal, quem aceitaria arriscar a própria vida por um salário tão baixo e em condições tão precárias?

A responsabilidade por esse cenário tem nome e endereço: governos que reduzem a educação a meros números e secretarias que maquiam estatísticas. Políticos e gestores, por sua vez, fingem inclusão e valorização em um ambiente de abandono, criando políticas públicas que são uma farsa. A realidade é que não há inclusão de verdade, nem valorização real. O sistema trata alunos e professores como estatísticas, forçando a aprovação de estudantes sem condições de avançar, o que invalida o aprendizado.

As escolas cívico-militares, por exemplo, são apenas mais uma ilusão que maqueia os problemas reais. A disciplina e o respeito não dependem da presença de um militar. Essa é uma solução superficial para um problema que continua intocado: a falta de estrutura, de planejamento e de atenção aos profissionais.

A solução é mais profunda, e eles não querem que você saiba. É preciso reduzir o número de alunos por sala, pois uma sala com 40 estudantes não tem a mesma eficiência de uma com 15. É fundamental garantir a hora-atividade real, pois planejamento exige tempo, estudo e formação. É urgente investir em estrutura mínima — merenda, ventilação e materiais de qualidade — e oferecer acompanhamento psicológico aos professores, exaustos pela sobrecarga e pela pressão constante.

Essas medidas, embora não resolvam tudo, podem devolver dignidade ao ofício e permitir que o ato de ensinar volte a ser sinônimo de vida. É preciso que a sociedade e os governos entendam que, enquanto tratarem professores e alunos como números, a educação brasileira continuará caminhando para a extinção.


https://web.facebook.com/share/r/171YeaMKLo/ (Acessado em 27/08/2025)


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Como seu professor de sociologia, preparei cinco questões simples e discursivas para ajudar a refletir sobre as ideias presentes no texto. O objetivo é que você analise criticamente a relação entre educação, sociedade e o papel do Estado.


1 - O texto afirma que o professorado no Brasil está se tornando uma profissão de risco. Discuta, com base na sociologia do trabalho, quais fatores sociais e econômicos contribuem para essa insalubridade e perigo no ambiente escolar.

2 - A aprovação automática de alunos sem o devido aprendizado é apontada no texto como uma falha do sistema. Analise essa prática do ponto de vista sociológico, explicando como a maquiagem de estatísticas pode mascarar problemas sociais e impactar a formação da juventude.

3 - O autor do texto critica a visão das escolas cívico-militares como solução para os problemas educacionais. De que forma a presença de militares pode ser vista como uma resposta superficial a questões estruturais da educação, como a falta de recursos e planejamento?

4 - O texto sugere que a educação está "caminhando para a extinção". Explique, usando o conceito de instituição social, por que a desvalorização do professor e a falta de investimento podem levar ao colapso de todo o sistema educacional.

5 - Segundo o texto, a solução para a crise na educação passa por medidas como a redução de alunos por sala e o aumento da hora-atividade. Discuta a importância dessas propostas, sob uma perspectiva sociológica, para a qualidade do ensino e a valorização do profissional da educação.

sábado, 23 de agosto de 2025

As Facadas na Professora ("A violência é a linguagem do não-escutado." — Martin Luther King Jr.)

 


As Facadas na Professora ("A violência é a linguagem do não-escutado." — Martin Luther King Jr.)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há momentos em que a realidade rasga o véu da normalidade com uma brutalidade que nos deixa sem voz. Foi assim que me senti ao saber do que aconteceu na Escola Municipal Monteiro Lobato, em Valparaíso de Goiás, naquela sexta-feira que jamais esquecerei.

Era uma tarde comum de agosto. O sol se deitava sobre o bairro Valparaíso II, tingindo de dourado as janelas da escola onde tantas crianças descobrem suas primeiras letras. Dentro daqueles muros, que deveriam ser abrigo do conhecimento, uma professora preparava suas aulas vespertinas, alheia ao fato de que sua rotina seria atravessada pelo frio corte de uma faca.

M.A.S., apenas 14 anos, cabelos ainda adolescentes emoldurando um rosto prematuramente marcado por fardos invisíveis, chegou à escola com o coração transbordando de uma dor sem nome. O irmão mais novo havia chegado em casa chorando – lágrimas que escorriam como acusações silenciosas contra a professora pela manhã.

Imagino o turbilhão de emoções dentro daquela menina: a indignação fraterna, o senso de justiça deformado pela imaturidade, a impotência diante de um sistema que não a escutava. Ela buscou a educadora, tentou dialogar, pediu explicações. Mas suas palavras se perderam no ar como gritos no deserto. O silêncio da professora deve ter soado em seus ouvidos como o ruído mais ensurdecedor do mundo.

E então, em dois gestos bruscos e definitivos, a faca rasgou não apenas as costas da vítima, mas também a inocência daquele lugar. Dois golpes que ecoaram além dos corredores da escola, reverberando nas consciências de todos nós que ainda acreditamos na educação como transformação.

Talvez aquele gesto tenha sido menos um ataque e mais um grito que não encontrou outra forma de existir. O silêncio que ela carregava não era apenas a falta de palavras, mas o acúmulo de frustrações e feridas invisíveis que ninguém percebeu. A faca foi apenas o instrumento de um desespero antigo, moldado pela negligência de adultos que não souberam ouvir. Esse silêncio – o não-dito, o engasgado, o ignorado – deveria nos assombrar mais do que a própria violência.

Imaginei a menina permanecer ali, em estado de choque, como se despertasse de um pesadelo apenas para descobrir que era real. O SAMU chegou, a polícia chegou, o mundo inteiro pareceu convergir para aquela escola onde o impensável se tornou palpável. A professora, felizmente, sobreviveu. Seus ferimentos não colocaram sua vida em risco, mas que cicatrizes invisíveis carregará para sempre?

Soube depois que M.A.S. já dava sinais. Os registros de indisciplina estavam lá, clamando por atenção. As convocações aos pais, o Conselho Tutelar, toda uma rede de proteção que funcionou tarde demais – como uma ambulância que chega depois da morte.

Hoje, enquanto escrevo, penso em quantas M.A.S. estão sentadas em nossas salas de aula neste exato instante. Quantos gritos de socorro disfarçados de indisciplina passam despercebidos? Quantos pedidos de atenção se transformam em atos desesperados?

A violência escolar não brota do nada; ela germina no terreno fértil da negligência emocional, da comunicação interrompida, do diálogo que nunca acontece. Naquela tarde de sexta-feira, não foi apenas uma faca que feriu; foi o silêncio coletivo que finalmente gritou.

E esse grito ecoou pelo país inteiro, lembrando-nos de que educar é muito mais do que ensinar matemática ou português. É olhar nos olhos, escutar o que não se diz, perceber que por trás de cada ato de rebeldia pode estar um coração em desespero, implorando apenas para ser visto.

Que esta tragédia não seja em vão. Que nos ensine, de uma vez por todas, que o diálogo é a única arma capaz de desarmar todas as outras.

https://portalcerradonoticias.com.br/professora-e-esfaqueada-por-estudante-em-escola-municipal-de-valparaiso-de-goias/ (Acessado em 23/08/2025)


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O texto que compartilho é uma excelente base para discutirmos temas fundamentais da Sociologia. Como um professor de Sociologia, preparei 5 questões discursivas e simples para aprofundar a reflexão e a análise do texto.

1 - O texto sugere que a violência escolar é um reflexo da negligência emocional e da falta de diálogo. Discuta como a ausência de comunicação entre família, escola e alunos pode contribuir para a escalada de conflitos.

2 - A crônica menciona que o ataque foi um "grito que não encontrou outra forma de existir". Analise essa ideia a partir do conceito sociológico de anomia social, discutindo como a falta de normas e a percepção de abandono podem levar a atos extremos.

3 - O texto aborda a falha das instituições de apoio, como o Conselho Tutelar, que "funcionou tarde demais". Reflita sobre a responsabilidade de diferentes instituições sociais na prevenção da violência e no suporte aos jovens em situação de risco.

4 - Considere a frase "educar é muito mais do que ensinar matemática ou português". Explique, sociologicamente, o papel da escola como um espaço de socialização, e não apenas de ensino formal, e por que a dimensão emocional é tão crucial.

5 - O autor fala do "silêncio coletivo que finalmente gritou". Discuta o que essa metáfora significa em termos de responsabilidade social. De quem é a responsabilidade de ouvir os sinais de desespero dos alunos antes que se transformem em violência?

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

O Silêncio da Sala dos Professores ("A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele." — Hannah Arendt)

 



O Silêncio da Sala dos Professores ("A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele." — Hannah Arendt) 

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Sempre imaginei a sala dos professores como um refúgio. Lá, eu acreditava que poderia respirar depois do turbilhão da sala de aula, trocar confidências, dividir risadas ou ao menos silêncios cúmplices. Mas, com o tempo, descobri que nem sempre é assim. Há dias em que esse espaço, em vez de acolher, sufoca. Às vezes, a sala dos professores adoece mais do que a própria sala de aula.

Vejo colegas que preferem nem descer até lá. Escolhem ficar sozinhos, cercados de provas para corrigir, diários para preencher, relatórios intermináveis. Talvez seja uma forma de escapar daquele ambiente pesado, em que o cansaço se acumula nos olhares e o desânimo se espalha pelas conversas interrompidas. Não é questão de antipatia pessoal ou de uma escola em particular. É o sistema, esse grande mecanismo impessoal, que nos desgasta de tantas maneiras.

As cobranças não cessam. Os índices, as metas, a pressão para “inovar” sem recursos, a sensação de competição entre nós — tudo isso nos distancia quando, na verdade, precisávamos estar mais próximos. Penso, muitas vezes, que os gestores e secretários de educação não percebem a gravidade dessa realidade. Fala-se de currículo, de tecnologia, de rendimento, mas raramente de inteligência emocional. Como se cuidar do coração e da mente fosse luxo. E não é. Pesquisas já mostram: cerca de 70% dos professores admitem algum nível de adoecimento emocional.

Eu mesmo sinto na pele o peso dessa estatística. Tratar da saúde do educador não é capricho, é urgência. É questão de vida, de permanência, de resistência. Quando não se cuida do professor, pouco a pouco ele desiste. Não de repente, mas no silêncio das pequenas renúncias: menos brilho no olhar, menos energia em sala, até que um dia não volte mais.

É por isso que acredito que precisamos de uma mudança cultural, mais profunda que qualquer plano de metas. O primeiro passo talvez seja devolver humanidade ao ofício: transformar as formações em espaços de escuta, abrir brechas para o diálogo real e, sobretudo, ensinar que antes de números, lidamos com pessoas. Curar a sala dos professores significa reaprender a olhar uns para os outros, reconhecer fragilidades, partilhar forças. Só assim poderemos resgatar a dignidade de nossa profissão — e a alegria de ensinar sem carregar o peso de uma solidão adoecida.

E então, o que resta? Uma profissão esvaziada, corredores sem entusiasmo, escolas que sobrevivem sem professores saudáveis. Porque, afinal, "todo mundo tá doente". E quando a sala dos professores deixa de ser lugar de encontro para se tornar espaço de desistência, não é apenas o professor que adoece — é a educação inteira que começa a ceder.

https://www.instagram.com/reel/DNI7CrRRJxe/?igsh=MTdqbm1sbzY5b2tw


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O texto que acabamos de ler nos faz pensar sobre o dia a dia na escola e o papel do professor. Como vimos, a sala dos professores, que deveria ser um lugar de apoio, pode acabar se tornando um ambiente de adoecimento. Vamos refletir sobre isso a partir da Sociologia.


1 - O texto afirma que a sala dos professores adoece mais do que a sala de aula. Explique qual a principal causa desse adoecimento, segundo o autor.

2 - A crônica menciona que o sistema educacional impõe "cobranças incessantes" e uma "sensação de competição". Discuta como essa competição pode afetar a solidariedade e a colaboração entre os professores.

3 - O autor defende que a "saúde do educador não é capricho, é urgência". Qual a relação, de acordo com o texto, entre a saúde emocional do professor e a qualidade da educação oferecida aos alunos?

4 - A frase "todo mundo tá doente" é uma generalização forte. Explique o que o autor quer dizer com isso e por que ele acredita que o adoecimento dos professores pode levar ao "esvaziamento" da profissão.

5 - O autor propõe uma "mudança cultural" na educação. Cite as propostas dele e explique por que ele as considera essenciais para resgatar a alegria de ensinar.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

“Entre a Lei e o Giz: a Crueldade da Inclusão” (“A escola não pode tudo, mas pode algo decisivo: não mentir para os alunos.” — Rubem Alves)

 



“Entre a Lei e o Giz: a Crueldade da Inclusão” (“A escola não pode tudo, mas pode algo decisivo: não mentir para os alunos.” — Rubem Alves)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Valores, na teoria legislativa, podem até soar bonitos. Porém, na prática, revelam-se cruéis com os professores. E, antes que alguém de fora da sala de aula — defensor da inclusão sem conhecer a realidade — venha dizer que se trata de um “direito do aluno”, é preciso deixar claro: o professor não é contra o direito de ninguém. Muito pelo contrário, ele está ali justamente para garantir esse direito. Mas repetir que “é direito do aluno” não basta para que isso se realize.

Na realidade brasileira, a inclusão não funciona como deveria. É uma grande falácia, e quem sofre, no fim, são os próprios alunos. Sim, eles sofrem, porque seus direitos não são plenamente garantidos. E não é culpa do professor: ele é tão vítima quanto os estudantes.

Vou dar um exemplo. Se eu sou professora do Fundamental I, tenho duas turmas de 30 alunos. Entre eles, quatro são incluídos. Isso significa preparar atividades adaptadas em todas as aulas, elaborar quatro planos individuais por bimestre, mais quatro relatórios diferentes, além de prestar contas à família, ao professor de apoio e à direção. Se estou no Fundamental II, a carga é ainda maior: com 10 turmas e, em média, dois alunos incluídos por sala, chego a 20 alunos que exigem 20 Planos Educacionais Individualizados (PEI), somados a inúmeras adaptações, relatórios e registros.

Perceba o peso disso. O professor, que deveria ser um gestor pedagógico, acaba se tornando gestor de conflitos e burocracias. Seu planejamento se dissolve entre papéis, relatórios e cobranças. E onde ele encontra tempo para elaborar tantos PEIs? Na casa dele. Porque dentro da escola não existe um espaço real de planejamento semanal em que coordenadores, diretores, AEE, mediadores e regentes possam se reunir para discutir cada caso. Na prática, esse diálogo não existe.

E é justamente aqui que mora a saída: se houvesse um verdadeiro espaço de encontro, um pacto de corresponsabilidade entre todos os agentes escolares, talvez a inclusão deixasse de ser discurso vazio. Um modelo eficaz exigiria planejamento coletivo, formação continuada, apoio técnico e, sobretudo, tempo institucionalizado para que cada aluno fosse visto como sujeito singular. O diálogo que falta não é apenas entre papéis e relatórios, mas entre pessoas: famílias, professores, gestores e profissionais de apoio. Sem esse pacto vivo e permanente, a inclusão seguirá sendo promessa quebrada; com ele, poderia se tornar, enfim, uma realidade palpável.

O resultado, hoje, é óbvio: sofrem os alunos, sofrem os professores, e o sistema não funciona. O PEI, que deveria ser um instrumento de inclusão, acabou se tornando, para muitos docentes, um verdadeiro elefante branco.


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1. O texto afirma que a inclusão escolar no Brasil, na prática, não funciona como deveria. Em sua opinião, por que há uma diferença tão grande entre o que está previsto na lei e o que acontece dentro da sala de aula?

2. O autor descreve o professor como “vítima tanto quanto o aluno” diante das falhas do sistema de inclusão. Explique o que ele quis dizer com isso.

3. O texto apresenta o Plano Educacional Individualizado (PEI) como um “elefante branco”. O que essa metáfora quer transmitir sobre a eficácia desse instrumento?

4. Qual seria, na sua visão, o tipo de “diálogo” que deveria existir entre professores, gestores e famílias para que a inclusão funcionasse de fato?

5. De que maneira a burocracia escolar pode acabar prejudicando tanto os alunos quanto os professores? Cite exemplos a partir do texto.

sábado, 16 de agosto de 2025

Alfabetizados, mas não Lúcidos ("Uma sociedade que não distingue entre educar e doutrinar está condenada a produzir escravos que se julgam livres." — Roger Scruton)

 



Alfabetizados, mas não Lúcidos ("Uma sociedade que não distingue entre educar e doutrinar está condenada a produzir escravos que se julgam livres." — Roger Scruton)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A escola, que deveria ser o lugar da transmissão de saber e da formação crítica, transformou-se em palanque de doutrinações e laboratório de experimentos políticos. Professores já não são mestres de conteúdo, mas animadores de plateia que substituem a lição pelo ativismo. As salas de aula viraram trincheiras ideológicas, onde o conhecimento objetivo é descartado como “opressor” e a ignorância travestida de identidade recebe aplausos.

O resultado é visível: formam-se jovens incapazes de interpretar um texto simples, mas cheios de certezas militantes. Rejeitam a matemática porque exige raciocínio, desprezam a literatura porque pede leitura, ridicularizam a filosofia porque cobra reflexão. Não é falta de inteligência, é falta de disciplina. E a escola, em vez de corrigi-los, bajula suas deficiências como se fossem virtudes.

O absurdo atinge o auge quando se percebe que a missão central da escola — ensinar — foi desvirtuada. Hoje se gasta mais tempo ensinando a “respeitar pronome” do que a conjugar verbo; mais tempo treinando slogans de protesto do que fórmulas de física. Os estudantes saem diplomados em ressentimento e analfabetismo funcional.

Mas talvez nem tudo esteja perdido. Ainda acredito que seja possível recuperar a escola como espaço de saber se resgatarmos o óbvio: o professor precisa voltar a ensinar, o aluno precisa voltar a aprender e o conhecimento precisa recuperar sua dignidade. Não é uma utopia; é um recomeço simples, que exige coragem para separar educação de militância e devolver ao conteúdo o protagonismo que lhe foi roubado. Valorizar a leitura séria, a escrita clara, o raciocínio lógico e a disciplina intelectual seria um primeiro passo. Pequeno, sim, mas capaz de romper a engrenagem que fabrica analfabetos funcionais com diploma. No fundo, é menos sobre reinventar a roda e mais sobre deixá-la girar de novo.

E o mais cruel é que quem ousa denunciar esse fracasso é chamado de “reacionário” ou “inimigo da educação”. Como se amar a verdade e exigir qualidade fosse um crime maior do que perpetuar a ignorância. É nesse ponto que se revela a falência moral do sistema: quando a mentira ganha status de virtude e a verdade é expulsa da sala de aula como intrusa.


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Depois de lermos e refletirmos sobre as ideias apresentadas no texto, preparei algumas questões para guiar nossa discussão. O objetivo é que vocês articulem suas próprias compreensões sobre os desafios e as propostas que o autor levanta para a educação.


1 - O texto afirma que a escola "transformou-se em palanque de doutrinações e laboratório de experimentos políticos". De acordo com o autor, quais são as principais mudanças observadas no papel da escola e do professor nesse novo cenário?

2 - O autor descreve jovens que "rejeitam a matemática porque exige raciocínio, desprezam a literatura porque pede leitura, ridicularizam a filosofia porque cobra reflexão". Explique, com base no texto, o que ele aponta como a causa dessa rejeição e qual a atitude da escola diante dela.

3 - Segundo o texto, houve uma desvirtuação da "missão central da escola — ensinar". Cite dois exemplos dados pelo autor para ilustrar essa mudança de foco no conteúdo ensinado.

4 - Mesmo diante das críticas, o autor expressa uma esperança de "recuperar a escola como espaço de saber". Quais são os três pontos "óbvios" que ele sugere resgatar para um recomeço?

4 - O texto finaliza mencionando que "quem ousa denunciar esse fracasso é chamado de 'reacionário' ou 'inimigo da educação'". Na sua interpretação, por que o autor considera essa reação uma "falência moral do sistema"?