Vandalismo na Escola Ângela Borin ("O castigo do homem bom que se omite da política é ser governado pelo homem mau." - Platão)
Naquela manhã, um silêncio pesado e estranho pairava sobre a Escola Ângela Borin. Não era um silêncio de paz, mas a quietude que se instala após o caos. Quem chegava ao portão deparava-se com um cenário de destruição: vidros estilhaçados cintilavam no chão, enquanto paredes exibiam manchas grotescas de tinta, escorrendo como a materialização da raiva. O cheiro de pó químico denunciava extintores esvaziados, e o corredor estava coberto de cadernos, livros e jogos pedagógicos, agora manchados e inúteis.
Os autores do ato foram três jovens, sendo um deles aluno da escola, de apenas 12 anos, e os outros dois com até 17. Entraram, atacaram e saíram, deixando um rastro de destruição calculado, mas sem roubar nada. Esse detalhe chamou a atenção de um delegado experiente, que, após observar a cena, concluiu: “Fizeram um estrago enorme, jogaram tinta até no telhado, mas não roubaram nada... parece recado encomendado”. A suspeita era de que o ato não era apenas vandalismo, mas uma mensagem dirigida à comunidade, à gestão pública, ou a ambos.
Enquanto a equipe da escola tentava conter o caos, o Conselho Tutelar foi acionado. A resposta foi fria e protocolar: "não vai acontecer absolutamente nada" com o menor de 12 anos. O máximo a ser feito seria registrar um boletim de ocorrência e aguardar a apuração policial. O peso da impunidade recaía sobre a equipe escolar, que enfrentaria horas extras de trabalho para reparar os danos, consumindo recursos de um orçamento já apertado. A consequência mais grave, no entanto, seria a interrupção das aulas para 650 crianças, obrigando suas famílias a improvisar soluções.
Além dos vidros quebrados e das paredes manchadas, o incidente revelava danos invisíveis e mais profundos. Mães teriam de faltar ao trabalho, pais precisariam explicar o inexplicável, e crianças, com mochilas prontas e uniformes passados, teriam o dia transformado em um vazio. Para muitas delas, a escola é mais que um local de estudo; é um refúgio, um ponto de encontro, uma fonte de segurança e, para algumas, a garantia de uma refeição. Ao privá-las disso, o dano vai além do material, tocando o humano. A pergunta que ressoa não é apenas sobre justiça, mas sobre responsabilidade coletiva: o que a sociedade está disposta a fazer quando o futuro começa a se quebrar, caco por caco?
O chão, coberto de cacos de vidro brilhando à luz, servia de lembrete de que o que se quebra nem sempre se conserta. E, no ar, a pergunta persistente ecoava sem resposta: em que momento a conta deixou de chegar para quem a fez? Talvez, de forma inconsciente, todos estivessem ensinando que destruir é fácil, e sair impune, ainda mais. A resposta para essa questão não veio naquele dia, e os vândalos seguiram livres, enquanto a comunidade se sentia, em certo sentido, algemada pela situação.
https://www.instagram.com/reel/DMp5hazuu_P/?igsh=MWNlenhzNnh2dmxiOQ== (Acessado em 10/08/2025)
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A partir da leitura do texto sobre o incidente na Escola Ângela Borin, preparei cinco questões para nossa reflexão. Respondam de forma discursiva, explorando os conceitos de sociologia que podemos extrair deste acontecimento. O delegado sugere que o vandalismo foi um "recado encomendado" e não um simples roubo. Com base no texto, explique por que este ato de destruição pode ser interpretado como um fenômeno social que carrega uma mensagem, e não apenas um crime comum.
1 - Considerando que um dos agressores era menor de 12 anos e o Conselho Tutelar afirmou que "não vai acontecer absolutamente nada" com ele, discuta, sob a perspectiva sociológica, a questão da responsabilidade e da impunidade neste caso.
2 - O texto ressalta que o maior dano não foi material, mas sim humano e social, ao privar 650 crianças das aulas. Explique o impacto dessa interrupção para as famílias e a comunidade, considerando a escola como uma instituição que oferece segurança e apoio social.
3 - A escola é descrita no texto como um "refúgio, encontro, esperança". Reflita sobre o que significa o vandalismo em um espaço com essa importância social e como tal ato afeta o tecido comunitário.
4 - O texto finaliza questionando sobre a "responsabilidade coletiva" e o papel da sociedade em prevenir atos de violência como este. Como você interpreta essa pergunta e qual seria a sua visão sobre o papel de cada cidadão na preservação desses espaços comunitários?



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