Crônica
O SÁBIO MEDO DE UM TOLO MEDO (O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo. Léon Tolstoi)
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade
Com a barbárie do mundo, até a escola, em nossos dias, nos causa medo, a começar por alguns termos próprios de seu meio, como: Delegacia de Ensino, Grade Curricular, Chefe de Departamento, Parada Pedagógica, Ronda de inspetor; até a violência praticada a seu patrimônio e ameaças externas de invasão. Que tipo de segurança nos ensina um agente escolar amedrontado?
Estávamos em três funcionários da Secretaria de Educação: eu, o professor Cláudio e o motorista. Saímos para fazer um trabalho de monitoramento ao Ensino Noturno, com um certo medo de não darmos conta das três visitas em tempo hábil; já passava das vinte e uma horas, e aquela ainda seria a segunda visita da noite, quando o motorista disse:
— Pronto, chegamos!
Pulamos para fora da Kômbi como quem não sentia nenhum tipo de medo e rapidamente estávamos batendo no portão. De repente, a cinquenta metros dali, alguém gritou de uma forma indistinguível; era o guarda motivado por um tolo medo, tentando fazer o seu melhor:
— Quem são você?§ºª£%$#@!
— Ele falou blá blá bláááaa? – Perguntou o Cláudio, com os olhos arregalados para mim.
— Venha nos atender, rapaz. – Berrei com tal competência que fiz meu chefe franzir a testa.
— Não, vão embora, senão chamo a polícia. – O guarda continuou impertinente, gritando de longe.
Eu, com um sábio medo da situação agravar-se, sugeri ao Cláudio que apelasse para a sua autoridade, pois estávamos representando a Secretaria de Educação, embora parecêssemos sem...!
Então, já nervoso, meu chefe, de forma um tanto mais desprezível, por não saber mais o que fazer, esbaforiu. — Nós somos da Secretáriiiiiiiiiiiia.
— Não tem ninguém da secretaria aqui, nããããããooo. – Insistiu o guarda no mesmo tom.
— Então vem assinar nosso relatório aqui. – Ordenou o comissário da inspeção.
Afinal de contas, simultaneamente ao ouvir esse último apelo do Cláudio, o guarda, em fração de segundo, viu a possibilidade da secretaria referida por nós ser a Secretaria de Educação e não a secretaria da escola. À vista disso, deslocou-se, ainda meio precavido, à nossa direção. Apesar de ter se desculpado muito, deixou claro que o sábio medo de perder o emprego era maior do que o tolo medo de perder a vida. Por último gaguejou suas palavras finais:
— Se fosse onze horas, eu não colocaria nem a minha cabeça aqui fora!
Aquela foi uma noite proveitosa para mim. Ao chegar em casa, depois de contar o acontecido, como uma história de vida digna de ser escrita, finalizei à minha esposa, dizendo que tinha um sábio medo do tolo medo de amedrontar quem lesse um texto assim. Ela confortou-me, assegurando que todos os seres têm medo, mas só os sábios transformam sua coragem em medo, enquanto os tolos transformam o seu medo em coragem. Citou ainda o pensamento de Léon Tolstoi: "O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo."
Então entendi que os sábios dignificam a morte temendo a vida, mas os tolos estragam a vida temendo a morte. Os sábios temem a luz por esta lhes negar as trevas, e os tolos temem as trevas por estas lhes negarem a luz. Portanto, o medo é uma condição intelectual ou emocional, virtude de quem sabe usufruí-lo. É uma condição intelectual para os evoluídos, aqueles que sempre reagem cantando, orando e encarando os problemas de frente, e, emocional para os retrógrados, aqueles que reagem falando sem parar, sem pensar e chorando muito quando a morte aparece para eles.
Encaminhamento de percepção:
1-Em que momento o guarda mostrou-se tolo, e qual é a participação educativa de um guarda noturno na vida da escola?
2-Explique o sentido do título: “Sábio medo de um tolo medo”;
3-Com que segurança ensinará um professor amedrontado?
4-Em que momento os dois professores demonstraram tolice?
5-Se você fosse o guarda, qual seria sua atitude diante desse fato? Você se deixava levar por um sábio medo ou um tolo medo?
Claudeci Ferreira de Andrade
Com a barbárie do mundo, até a escola, em nossos dias, nos causa medo, a começar por alguns termos próprios de seu meio, como: Delegacia de Ensino, Grade Curricular, Chefe de Departamento, Parada Pedagógica, Ronda de inspetor; até a violência praticada a seu patrimônio e ameaças externas de invasão. Que tipo de segurança nos ensina um agente escolar amedrontado?
Estávamos em três funcionários da Secretaria de Educação: eu, o professor Cláudio e o motorista. Saímos para fazer um trabalho de monitoramento ao Ensino Noturno, com um certo medo de não darmos conta das três visitas em tempo hábil; já passava das vinte e uma horas, e aquela ainda seria a segunda visita da noite, quando o motorista disse:
— Pronto, chegamos!
Pulamos para fora da Kômbi como quem não sentia nenhum tipo de medo e rapidamente estávamos batendo no portão. De repente, a cinquenta metros dali, alguém gritou de uma forma indistinguível; era o guarda motivado por um tolo medo, tentando fazer o seu melhor:
— Quem são você?§ºª£%$#@!
— Ele falou blá blá bláááaa? – Perguntou o Cláudio, com os olhos arregalados para mim.
— Venha nos atender, rapaz. – Berrei com tal competência que fiz meu chefe franzir a testa.
— Não, vão embora, senão chamo a polícia. – O guarda continuou impertinente, gritando de longe.
Eu, com um sábio medo da situação agravar-se, sugeri ao Cláudio que apelasse para a sua autoridade, pois estávamos representando a Secretaria de Educação, embora parecêssemos sem...!
Então, já nervoso, meu chefe, de forma um tanto mais desprezível, por não saber mais o que fazer, esbaforiu. — Nós somos da Secretáriiiiiiiiiiiia.
— Não tem ninguém da secretaria aqui, nããããããooo. – Insistiu o guarda no mesmo tom.
— Então vem assinar nosso relatório aqui. – Ordenou o comissário da inspeção.
Afinal de contas, simultaneamente ao ouvir esse último apelo do Cláudio, o guarda, em fração de segundo, viu a possibilidade da secretaria referida por nós ser a Secretaria de Educação e não a secretaria da escola. À vista disso, deslocou-se, ainda meio precavido, à nossa direção. Apesar de ter se desculpado muito, deixou claro que o sábio medo de perder o emprego era maior do que o tolo medo de perder a vida. Por último gaguejou suas palavras finais:
— Se fosse onze horas, eu não colocaria nem a minha cabeça aqui fora!
Aquela foi uma noite proveitosa para mim. Ao chegar em casa, depois de contar o acontecido, como uma história de vida digna de ser escrita, finalizei à minha esposa, dizendo que tinha um sábio medo do tolo medo de amedrontar quem lesse um texto assim. Ela confortou-me, assegurando que todos os seres têm medo, mas só os sábios transformam sua coragem em medo, enquanto os tolos transformam o seu medo em coragem. Citou ainda o pensamento de Léon Tolstoi: "O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo."
Então entendi que os sábios dignificam a morte temendo a vida, mas os tolos estragam a vida temendo a morte. Os sábios temem a luz por esta lhes negar as trevas, e os tolos temem as trevas por estas lhes negarem a luz. Portanto, o medo é uma condição intelectual ou emocional, virtude de quem sabe usufruí-lo. É uma condição intelectual para os evoluídos, aqueles que sempre reagem cantando, orando e encarando os problemas de frente, e, emocional para os retrógrados, aqueles que reagem falando sem parar, sem pensar e chorando muito quando a morte aparece para eles.
Encaminhamento de percepção:
1-Em que momento o guarda mostrou-se tolo, e qual é a participação educativa de um guarda noturno na vida da escola?
2-Explique o sentido do título: “Sábio medo de um tolo medo”;
3-Com que segurança ensinará um professor amedrontado?
4-Em que momento os dois professores demonstraram tolice?
5-Se você fosse o guarda, qual seria sua atitude diante desse fato? Você se deixava levar por um sábio medo ou um tolo medo?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 04/07/2009
Código do texto: T1681649
Código do texto: T1681649
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