A Mostra Pedagógica/2012 na Praça Criativa, com seus valiosos trabalhos manuais e pesquisas, proporcionou uma tarde de profunda reflexão. Contudo, pairava a sensação de que certas ações, pomposas e ensaiadas para um único dia, foram programadas apenas para atender ao convite da Secretaria. Coisas de profissionais!
Outras, no entanto, eram dignas de elogios pela simplicidade e originalidade: a verdadeira cara dos nossos bons alunos!
No geral, sob a heterogeneidade e a pompa, percebia-se uma disputa silenciosa — uma espécie de guerra santa pelo título de “melhor estande”. Por onde eu passava, cada grupo tentava cativar, explicando com sorrisos e buscando ser mais convincente que os vizinhos. Era divertido, sim, mas profundamente revelador do espírito competitivo que se infiltra até nas boas intenções.
Cada estande na Praça representava uma escola, mas, cá no Colégio João Carneiro dos Santos, no dia seguinte, revivi as mesmas emoções. Uma experiência inspirou a outra, oferecendo nova oportunidade de reflexão.
Não contávamos com os patrocinadores generosos daquele grande evento, mas nossa modesta quadra de esportes abrigava, em fileiras de mesinhas, pequenas ilhas de saber com projetos vibrantes e sinceros. A I Feira de Ciência, Meio Ambiente e Tecnologia do JC, sob o comando enérgico do professor de Geografia, Janailson Machado, mostrou o poder da vontade e da competência. Ele, que parecia duvidar de si, revelou uma liderança admirável.
Fiquei impressionado com o comprometimento dos alunos, que dominaram seus temas com segurança e brilho. O sucesso foi tamanho que se tornaria constrangedor se algum colega tivesse recusado colaborar. Por fim, todos — até a direção — sentiram a necessidade de se infiltrar entre os projetos para compartilhar dos méritos.
Sim, cá com meus botões, agora creio: a Educação tem jeito. Com iniciativas como a da Secretaria Municipal e a bravura criativa de colegas como Janailson, é possível reacender a esperança. Quando a ação é autêntica, mesmo uma centelha ilumina o breu. Se há eventos para mostrar, é porque há o que mostrar. E se ainda não há, que se faça e se mostre!
Endosso as palavras do professor Clodoaldo Ferreira: “Pensar educação é compreender a dinâmica social como algo mutável, em intensa transformação, sempre em movimento. As identidades são híbridas, cambiantes, negociáveis, múltiplas e contraditórias.” (DM, 15/06/2012, OP, pág. 6).
Essa hibridez não é apenas teoria — vi-a materializada nas feiras. Lembro-me do estande em que alunos do 8º ano uniram Biologia, Arte e Religião num projeto sobre o ciclo da água: pintaram painéis com mandalas feitas de garrafas recicladas e citaram versos de São Francisco para explicar o equilíbrio ambiental. Noutra barraca, Matemática e História se cruzaram num jogo sobre as civilizações que criaram sistemas numéricos. Era ciência, poesia e memória se misturando num mesmo tabuleiro. Aqueles jovens, sem saber, faziam transdisciplinaridade com a naturalidade dos que não temem fronteiras.
Vendo tudo isso, percebi que a educação que dá certo é aquela que deixa de ser compartimento e se torna travessia — onde o saber não se empilha, mas se entrelaça.
As pessoas só aprendem o que querem aprender, e cabe à escola acompanhar o ritmo dos tempos, canalizando o desejo dos que buscam crescer à sua maneira.
Mas, como quem desperta de um sonho, percebo que paramos na primeira, hesitantes, pertinho da marcha ré — como se temêssemos avançar demais e perder o conforto das velhas fórmulas. No entanto, talvez seja hora de trocar a embreagem do sistema e deixar o motor da esperança rugir outra vez.
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Sou seu professor de Sociologia. O texto que apresento nos provoca a refletir sobre a cultura escolar, o papel das feiras de conhecimento e a dinâmica social das identidades na educação. Com base nos principais conceitos sociológicos e educacionais abordados no texto, preparei 5 questões discursivas simples para nosso Alinhamento Construtivo. Lembrem-se de usar as ideias do texto como ponto de partida para suas respostas.
1. Cultura do Espetáculo vs. Autenticidade
O texto critica a diferença entre as ações "pomposas e ensaiadas" da Mostra Pedagógica na Praça Criativa e os projetos que demonstram a "simplicidade e originalidade" dos alunos. Em termos sociológicos, qual é o risco para a qualidade do aprendizado e para a cultura escolar quando as ações educativas são realizadas apenas para "atender ao convite da Secretaria" (o espetáculo), em vez de serem fruto de um processo autêntico?
2. Competição e Disputa Silenciosa
O autor observa uma "disputa silenciosa" ou "guerra santa" entre os estandes pelo título de "melhor". Como essa observação revela a influência do espírito competitivo (uma característica marcante da sociedade capitalista) dentro de um ambiente que, teoricamente, deveria priorizar a cooperação e a troca de saberes?
3. O Conceito Sociológico de Identidades Híbridas
O professor Clodoaldo Ferreira afirma: "As identidades são híbridas, cambiantes, negociáveis, múltiplas e contraditórias.” Explique o que significa o conceito de identidades híbridas no contexto da Sociologia da Educação e como essa ideia se materializa no exemplo dos alunos do 8º ano que uniram Biologia, Arte e Religião em um único projeto.
4. Transdisciplinaridade como "Travessia"
O texto conclui que a educação de sucesso é aquela que se torna "travessia", onde "o saber não se empilha, mas se entrelaça". Diferencie, com base no texto e nas suas próprias palavras, a ideia de educação como "compartimento" (compartimentalizada) e a educação como "travessia" (transdisciplinaridade).
5. Inércia e Resistência à Mudança
No final, o autor utiliza a metáfora de "pararmos na primeira, hesitantes, pertinho da marcha ré" e a necessidade de "trocar a embreagem do sistema". O que esta metáfora representa em relação à resistência da escola (o "sistema") em "acompanhar o ritmo dos tempos" e aceitar as novas formas de aprendizado e as "identidades híbridas" dos alunos?