"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

COMO SALVAR O SISTEMA EDUCACIONAL PÚBLICO (O que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho!)


Crônica


COMO SALVAR O SISTEMA EDUCACIONAL PÚBLICO (O que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho! — Cifa)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Afirma-se, em verdade, que para a educação não há remédio. Melhorar o sistema educacional deveria ser o desafio de toda a sociedade. Contudo, essa batalha se torna árdua porque muitos alimentam o sutil desejo de que tudo permaneça inalterado, apenas para garantir o próprio emprego. Há funções que poderiam ser extintas sem prejuízo algum ao sistema, mas enfrentamos um conflito íntimo no momento da decisão: se contribuímos com uma ação transformadora, sacrificamos nosso cargo; e, por medo disso, optamos por manter o curso da mediocridade, esperando o fracasso coletivo. Essa covardia disfarçada de prudência tem sido a ruína de muitos. Mas diga-me: não o incomoda seguir para o buraco junto com os demais? Já sei — o que você realmente teme é ser o único sacrificado.

Fazer o que deve ser feito fere o próprio egoísmo. Nessa luta silenciosa, é preciso empenhar-se para abandonar atos e pensamentos que servem apenas ao “eu”. E se falharmos em cumprir o que sabemos ser correto, que a consciência não nos dê descanso.

A preocupação excessiva com o olhar alheio tem ditado o sabor da vida profissional de muitos. Essa forma disfarçada de egoísmo é tão sutil que chega a parecer piedosa. Relatamos nossos progressos em reuniões pedagógicas e transformamos isso no centro de uma angústia particular, quando, na verdade, apenas mascaramos o fato de que o “eu” continua sendo o senhor de nossas ações.

O único remédio para a educação é aceitar inteiramente o risco de perder o bom cargo e fazer o que deve ser feito em prol do todo. Enquanto alguns olharem apenas para o próprio “umbigo”, a melhora será apenas individual — e, portanto, ilusória.

Tenho recebido, não como recompensa, mas como um dom de caráter, a dádiva de ansiar pela libertação deste egoísmo. Assim, a auto-obsessão se dissolve diante da constatação de que não precisamos mais viver sob o temor da perda, mas sim em favor daqueles que anseiam por um lugar ao sol — a nova geração de estudantes. Fazer o que deve ser feito, portanto, significa arriscar-se no campo de batalha da inovação ética, transformando a sala de aula em um farol de luz, onde a inutilidade não encontra guarida, prenunciando, assim, a única e verdadeira melhora do sistema.

Mas o que seria, afinal, “fazer o que deve ser feito”? Significa ter coragem de propor cortes reais, extinguir cargos cuja função já perdeu o sentido, substituir conselhos burocráticos por equipes de ação, dar à coordenação o caráter de liderança ética e não de chefia punitiva. É exigir do gestor presença na sala de aula — e não apenas na ata; é revisar projetos que não educam e servem apenas ao verniz das aparências. A inovação ética nasce da prática: menos relatórios, mais escuta; menos reuniões de aparência, mais enfrentamento do que está podre. O discurso profético se cumpre quando se nomeia o erro e se enfrenta o medo. Só assim o belo ideal se converte em transformação concreta.

Porque o verdadeiro educador não teme perder o posto, mas perder o propósito. É nesse campo de batalha interior que a educação se decide — não entre os que se acomodam, mas entre os que ousam arriscar-se a melhorar o todo, mesmo que isso lhes custe a própria estabilidade.


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Este texto, repleto de crítica social e reflexão ética, é um excelente material para a nossa aula de Sociologia. Ele nos permite analisar as estruturas de poder, a burocracia, e a moralidade dentro de uma instituição social fundamental: a Educação. Com base nas ideias apresentadas, preparei 5 questões discursivas simples para estimular nossa capacidade de análise sociológica.


Questão 1: Burocracia e Manutenção da Inutilidade

O texto critica a existência de funções que poderiam ser extintas e a atitude de manter o status quo para "garantir o próprio emprego".

Com base nos estudos de Max Weber sobre Burocracia, explique como a rigidez e a formalidade excessiva das estruturas educacionais podem gerar e proteger a "inutilidade" das funções, priorizando a estabilidade do cargo em vez da eficiência do sistema.

Questão 2: O Conflito entre o "Eu" e o "Todo"

O autor descreve um "conflito íntimo" onde o profissional opta por "manter o curso da mediocridade, esperando o fracasso coletivo" por medo de ser "o único sacrificado".

Utilizando o conceito de Ação Social (também de Weber) ou o conceito de Solidariedade (de Durkheim), analise a tensão entre o interesse individual (garantir o cargo) e a responsabilidade social (melhorar o sistema educacional).

Questão 3: Egoísmo e "Piedade" Profissional

O texto afirma que a preocupação excessiva com o olhar alheio ("o que os colegas pensam") é uma forma de egoísmo "tão sutil que chega a parecer piedosa".

Na perspectiva sociológica, discuta como a busca por reconhecimento e a necessidade de validação dentro de um grupo profissional podem, paradoxalmente, desviar o foco da função ética e transformadora do educador. Que tipo de capital social (Bourdieu) está sendo buscado nesse processo?

Questão 4: A Ética da Inovação e a Estabilidade

O texto propõe que o "único remédio" é aceitar o risco de perder o cargo e que "fazer o que deve ser feito" significa arriscar-se no "campo de batalha da inovação ética".

Identifique as sugestões concretas de "inovação ética" listadas no texto (como exigir presença do gestor na sala de aula ou substituir conselhos burocráticos). Explique por que, no contexto de uma instituição estabelecida, a implementação dessas mudanças exigiria o sacrifício da "estabilidade" e geraria resistência social.

Questão 5: O Sentido Profissional e a Crítica Profética

O texto conclui que o verdadeiro educador não teme "perder o posto, mas perder o propósito" e que o "discurso profético se cumpre quando se nomeia o erro".

Relacione o "propósito" do educador, conforme o texto, com a ideia de Vocação. Explique o papel da crítica (o "discurso profético") na Sociologia do Conhecimento, mostrando como nomear os erros institucionais é essencial para impulsionar a mudança e evitar a acomodação.

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sábado, 10 de janeiro de 2009

MAIS VANTAGENS AINDA (Suborno admirável)



Crônica

MAIS VANTAGENS AINDA ("O que é o céu se não um suborno, e o que é o inferno se não uma ameaça?" — Jorge Luis Borges)

Claudeci Ferreira de Andrade


           Certo homem tinha um filho na escola pública, e vindo pegar seu boletim, descobriu de novo que seu amado filho estava reprovado. Pelo que disse à diretora:

          —Há três anos venho tentando fazer desse menino gente, mas ele não quer; pode cortá-lo da escola. Para que está ele ainda ocupando inutilmente a escola?

          — Esse, é um menino saudável e não é violento, deixe-o, não está causando dano algum! – Disse a gestora hipocritamente.

          Porque, de acordo com a Secretaria da Educação, esta criança está causando dano sim, por está ocupando a vaga de outra que precisa entrar no sistema educacional. E custa cem dólares por dia ao Estado. Ela representa mal a sua família e não somente é improdutiva, mas constitui um estorvo para os que querem ascender na carreira estudantil.

           No ponto culminante desse relato, quando a situação parece estar muito tensa e desejamos saber se um aluno deve ou não ser expulso da escola quando reprovado na mesma série por mais de duas vezes; há o argumento apresentado por essa gestora escolar. Ela até admite que a declaração do pai é correta, porém, replica:
          — Deixe-o ainda este ano. Vamos conceder-lhe uma recuperação especial. Vamos inscrevê-lo no programa de bolsas, dar-lhe os livros, o uniforme, esse ano não vai faltar o lanche das crianças e se tiver boa frequência, a família será beneficiada com o salário escola.
          Agora, o pai e a diretora estão juntos aí com uma só ideologia, em unidade de propósito, então perguntemos: “Tiramos o menino da escola?” E eles dirão:
          — Não; não o tiremos. Deixá-lo-emos este ano. Procuraremos fazer outra coisa. Dar-lhe-emos mais vantagens.
          Ouça, amigo leitor: você acha que está passado o limite, e um aluno, que vai à escola só para fazer número, merece ser cortado; sim ou não? Eis aqui a evidência da opinião contraditória do sistema educacional a respeito do caso nesse tempo de misericórdia e graça, dizendo: “Deixe-o. A essa criança do fundamental, a esse jovem do Ensino Médio, àquela pessoa idosa da EJA, que ficou fora da graça muitos anos, concede-lhes mais um ano. E mais um depois disso, e então mais um ainda.”

          O mercado de trabalho corta mais depressa do que o sistema educacional. Quão admirável é o sistema educacional que servimos! Ele não nos trata como os empresários tratam seus funcionários e colegas de trabalho se tratam, mas continua oferecendo sua misericórdia e seus favorecimentos sem referência no mundo no qual pretende inserir seus "formados". RsRsRs.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 05/06/2009
Código do texto: T1633765

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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10/06/2009 12:49 - dimitriguimaraes
DESISTIR DO SER HUMANO SERIA O FIM DE TODOS NÓS. TODO SACRIFICIO ENPENHADO DEVE SER LOUVADO.



07/06/2009 12:17 - Joana
Foi bom ler sobre os subornos da escola, mas como eliminar essa tal nota para tudo?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A CONSCIÊNCIA DE SI (Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se.)


Crônica

A CONSCIÊNCIA DE SI (Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se.)

Por Claudeci ferreira de Andrade


            Ouço constantemente de meus alunos: — "Ela está se achando!" Dizem daquela pessoa oferecida, desinibida, autoconfiante e a “puxa saco” do professor etc! 
           Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se. Sou o útero de mim mesmo. Se você descobre que está com uma enfermidade e não procura um médico. Se, em vez disto, conclui que não necessita de um, deixa o tempo correr e não mais precisará de um médico. Muitas viúvas aflitas têm exclamado pesarosamente que o esposo não quis admitir que necessitava de auxílio médico — para a sua própria destruição. Compreendo que “se achar” é se valorizar, é se querer, é buscar o melhor para si.
           Nossa alienação de nós mesmos resulta no esvaziamento de boas opiniões próprias sobre si mesmo, este, por sua vez, nos causa incalculável sofrimento. Porém, os inimigos fracassados, entretanto, mentem convincentemente, a nossos ouvidos, têm nos levado a desconfiar do nosso maravilhoso potencial, fazendo afirmações ilusórias e completamente equivocadas sobre nosso caráter. Dizem que quando repetimos uma transgressão, a consciência é queimada parcialmente e que se repetirmos o erro por várias vezes, somos “burros”, talvez querem dizer: — ela não sinaliza mais. (está morta). O “si” em si do homem é sua consciência. Se a consciência abandonasse o homem, ele perderia toda a sua cultura, seria uma falsidade ambulante, teria um viver mentiroso. Em vez disso, quando a consciência age com suma integridade, nenhum opróbrio artificial é alcançado sobre esse fanal de comando do homem. Nenhuma disciplina arbitrária é extorquida. Considerando isso, podemos até mesmos descobrir uma definida cortesia para com a qual tratarmos a nós mesmos.
          Nosso caráter, adjetivador da  consciência, nunca muda, uma vez formado pode até mudar de cor, como os cabelos na velhice, mas tudo já previsto no DNA:  “Pode o leopardo mudar suas manchas”? Pelo contrário, descobrimos ter nascido com tais e tais inclinações quando falamos (“a boca fala do que o coração está cheio”), palavras que moldam nossas reações conscienciosas frente às circunstâncias advindas. Mas, com ternura infinita e cuidadosa linguagem, fala-nos a consciência. Fala-nos se erramos, se houve maus relacionamentos, ela fala para se impor como alicerce da vida cultural do homem. É minha consciência que sabe quem sou eu verdadeiramente. Portanto, ela me diz a verdade acerca de minha real condição. O juízo Divino acontece no tribunal da consciência de cada indivíduo e na consciência universal a todo instante, se assim não fora, não teríamos consequências justas para cada ato e procedimento de nosso ser. Nossa separação dela nos prejudica com a ausência de Deus. Ela nos pune infligindo ferimento psicológico, somos prejudicados sim naturalmente com as consequências de nossa separação de nós mesmos, ou seja, daquela que é a mais amável, cuidadora veraz, leal, estimulante do eu, renovadora, encorajadora e fonte de energia em nossa vida:  A consciência. Isto faz apenas bom sentido concordar que ela é absolutamente correta em confessar nossa condição. Voltando ao relacionamento correto com ela, e a partir daí, começamos a experimentar a cura completa para a infelicidade de que tanto buscamos.
          A consciência não é a voz de Deus porque não se pode apagar a voz de Deus, ela é sim cultural. Gostaria de apelar para quem ainda há que tenha consciência. Ela dói quando um princípio cultural é ferido.
        Hoje, ainda, estou me achando! A morte para mim será a perda de mim para mim mesmo, por isso escrevo sobre minhas experiências terráqueas, descrevendo-me objetivo e subjetivamente, para que sempre me tenham com vocês. E assim, por tabela, eu viva eternamente em em sua consciência.


 texto: T1629423

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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domingo, 28 de dezembro de 2008

O OUTRO LADO DO PORTFÓLIO AVALIATIVO ("Você é o que é seu portfólio. Uma verdade irônica que nos faz questionar o valor do reconhecimento." - Cifa)




Crônica


O OUTRO LADO DO PORTFÓLIO AVALIATIVO (Você é o que é seu portfólio!?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Já não me lembro ao certo quando foi que me disseram que, para ser um bom professor, era preciso ter um portfólio. Não um simples arquivo de lembranças, mas um verdadeiro compêndio da existência profissional. Como se nossa história de sala de aula, nossos erros e acertos, nossas noites mal dormidas preparando aulas e corrigindo provas pudessem ser condensadas em páginas encadernadas e bem diagramadas.

Aceitei o desafio, como tantos outros professores antes de mim. Passei dias mergulhado em gavetas, revirando papéis, resgatando registros amarelados pelo tempo. Juntei fotografias, recortes de jornal, certificados e planos de aula que, de tão remotos, me transportaram a um passado que eu nem lembrava ser meu. Cada papel encontrado era uma pequena arqueologia da própria docência.

Quando finalmente entreguei o portfólio à comissão avaliadora, senti um misto de orgulho e estranheza. Ali estava eu, entre capas plásticas e divisórias coloridas, resumido em documentos que deveriam atestar minha competência. A ironia se apresentou logo depois, no interrogatório informal de um colega curioso:

"Deve ter deixado muita coisa de lado para fazer esse portfólio, hein? Abandonou a família, os amigos, desenterrou defuntos e tudo mais! Valeu a pena tanto sacrifício para algo tão ridículo?"

Meditei um momento antes de responder, deixando que o silêncio incomodasse por um instante. Então, com sinceridade, disse:

"É curioso como sempre me perguntam sobre o que deixei de fazer para cumprir as exigências da escola. Jamais alguém pergunta sobre os benefícios que obtive. Na verdade, deixei de fazer muito pouco, comparado ao que conquistei. Nas páginas abarrotadas de informações, maquiadas ou não, encontra-se tudo que uma comissão pode desejar ver. Não apenas podem avaliar minha trajetória, mas também fornecer orientações para que eu possa alcançar novos objetivos."

O portfólio tornara-se não apenas um repositório de experiências, mas o manancial de revelações sobre nossa prática. Dele fluía luz, esperança, capricho, esforço e, paradoxalmente, certo conforto. Era como se tivesse se transformado em uma verdade quase absoluta: você é o que é seu portfólio.

E assim seguimos, empilhando papéis, organizando memórias e torcendo para que o futuro, ao menos no relatório final, nos devolva o que gastamos nele: tempo, dedicação e um tanto de fé em um sistema que parece querer nos reduzir a um amontoado de documentos bem apresentados.

O portfólio é uma espécie de Curriculum Vitae expandido, e pedi-lo como requisito para contratar é bastante coerente. Mas para nós, já empregados, eis a verdadeira questão: até que ponto essa compilação de papéis pode realmente refletir a essência de nossa prática docente?

1. Qual a principal contradição apontada no texto entre a necessidade de um portfólio para professores e a dificuldade de resumir a complexidade da experiência docente em documentos?

2. De que forma o texto descreve o processo de criação de um portfólio como uma "arqueologia da própria docência", e qual o significado dessa metáfora?

3. Qual a crítica central do colega da professora em relação ao portfólio, e como a resposta da professora revela uma visão irônica sobre a situação?

4. Além do reconhecimento profissional, que outros significados e simbolismos são atribuídos ao portfólio ao longo do texto?

5. Qual a principal reflexão proposta no final do texto sobre a utilidade do portfólio para professores já empregados, e que tipo de questionamentos essa reflexão suscita?

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

EDUCAÇÃO EM CRISE (A ausência dos pais faz aumentar consideravelmente os casos de indisciplina no ambiente escolar.)



EDUCAÇÃO EM CRISE
Por Gedeon Campos

                Os gráficos até podem dizer o contrário, mas a realidade da educação, na prática, não é nada boa. Não é de agora que a formação educacional por aqui vive a cargo exclusivamente das escolas que funcionam com parcos recursos. A família gradativamente vai saindo de cena, afinal, a maioria dos pais vem se limitando à singular responsabilidade de matricular as crianças menores, ainda assim por temer repressão do estado e por causa das ajudas assistenciais do tipo Bolsa Escola, PETI e outras tantas, por sua vez, atreladas à matrícula e à freqüência do aluno. Isso terá agravantes, porque a ausência dos pais faz aumentar consideravelmente os casos de indisciplina no ambiente escolar.
                Mas, se por um lado a formação educacional esbarra na indisposição dos pais em colaborar para a educação dos filhos, por outro, não dispomos de um projeto de educação que seja programa exclusivo do Estado. Por essa razão, o sistema sofre mutações constantes. A falta de propostas consistentes faz o sistema curvar-se diante da (má) vontade política e das organizações que ditam como deve ser a educação brasileira, introduzindo programas absurdos que tendem a desonerar o Estado, dando respostas quantitativas por meio da eliminação de etapas e da aceleração indiscriminada de alunos. O resultado da banalização desses programas é uma coisa insossa, já que o professor normalmente se Vê obrigado a ensinar o que ele não acredita que deve ensinar, limitando-se a disseminar crenças que possam ser consideradas úteis pelo sistema e a jogar para fora do ambiente escolar um sem tanto de homens que, embora “formados”, mal conseguem ler e desenhar o próprio nome. E o pior de tudo é que o professor converte-se, cédula por célula, num servidor cortês passando a executar as ordens de homens que não têm a sua cultura, aliás, de gente que não dispõe da menor experiência com o ofício e que leva o assunto “Educação” na base da propaganda. Talvez seja por isso que os profissionais vivam em constante depressão, já que o princípio geral da educação, como o qual muitos sonharam ao sair da academia, que era o de levar a criança a ler e a escrever contribuindo para sua experiência de mundo, mostra-se completamente distorcido. E o professor, agora um desconhecido a si mesmo, surpreende-se, inculcando a insensatez e o entusiasmo coletivo.
                E, por fim, como se não bastasse, resta um outro agravante relacionado à produção midiática. A indústria cultural brasileira vem se limitando à produção de bordões que são reproduzidos em cadeia de rádio e TV. Essa talvez seja a razão da gente não mais se assustar ao ouvir ou ver um professor no meio de alunos, na hora do recreio, dançando ao som de ritmos do tipo “só as cachorras, as preparadas” e assim por diante, já que a onda do memento parece ser contemporizar, ser light. Mesmo que, para isso, a gente venda nossa disposição de divulgar opiniões e prefira trazer essas besteiras para o contexto escolar. Afinal, está muito dissipada da nossa memória a imagem daquele professor que, em outros tempos, incomodava - ninguém se lembra que Sócrates foi condenado à morte e Platão, trancafiado, em decorrência daquilo que ensinavam – uma vez que o professor de agora não consegue ir além do burocrata que é, envolvido com diários e programas que se apóiam em números e controle das informações contidas nos conteúdos programáticos.
                (FARO, Circulação de idéias, ano I, edição nº 4, maio de 2006).

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS (Professores amedrontados, humilhados, tentam agradar alunos malcriados.)

Crônica 

O ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS (Professores amedrontados, humilhados, tentam agradar alunos malcriados.)

Por Bariani Ortencio


                Não há aprendizagem sem disciplina nem disciplina sem autoridade. A escola é o canteiro onde nascem as boas e as más sementes. Quem perdoa as pessoas são os castigos. Sem punição não pode haver disciplina e obediência: Educação sem amor; fofa.
                Faço palestras em escolas públicas e particulares, e fico pesaroso em ver a situação da maioria, as públicas, não os colégios militares, que são exemplares, estou denunciando, porém, não censurando quem quer que seja: as denúncias pela imprensa mostram que  o mal está generalizado em todo o País: “48.000 crianças em escolas goianas são analfabetas. 87% estão na rede pública. Faltam 250 mil professores na rede pública, mas e o salário?
                O projeto do cidadão está na escola e, no lar, o ambiente afetivo da criança, onde aprende educação, e como a educação vem de casa, uma parcela de culpa  é dos pais. Permitem a criança no computador pela noite a dentro e o professor acordando o aluno debruçado na carteira. Uns falando ao celular e outros assistindo aulas com o aparelho de som aos ouvidos, alguns prometendo, com palavrões, pegar o professor fora da escola.
                Professores amedrontados, humilhados, tentam agradar alunos malcriados. Pais omissos, diretores e coordenadores sem pulso forte e professores fazendo B.O na polícia. Colocam o filho na escola “pra professora dar um jeito”, achando que o professor (maioria professoras) é obrigado a domar a fera mal educada. E vai por aí, alunos drogados, sem uniformes, alguns vestidos até com deboche. O pior é não ter reprovação, não haver exigência de porcentagem de freqüência: “Lá na escola não pode repetir de ano. Então eu vou passando... João, 16 anos, com graves dificuldades para ler, escrever e fazer contas simples, mas cursa a nona série. Nesse sistema onde números são mais importantes que o ensino, alguém já parou para pensar no futuro destes jovens?” (O POPULAR, 18.8.2008).
                “De todos os assuntos de interesse da sociedade brasileira, o mais urgente é, sem dúvida, o problema da educação básica, primária ou fundamental... Os péssimos resultados colhidos estão aí, constatados e divulgados por organismos nacionais e internacionais especializados em avaliação escolar: os alunos brasileiros do ensino fundamental estão entre os piores do mundo, em matemática, língua portuguesa e ciências. Piores do que nós há somente dois ou três insignificantes países do Caribe e da África... E a escola fundamental continua de mal a pior, com seus concluintes incapazes de redigir um simples bilhete e mal sabendo as quatro operações...” (Lena Castelo Branco – DM, 30.9.2008).

                Nos colégios dirigidos por militares graduados (ambos os sexos) predominam a disciplina e a eficiência. Todos os alunos são uniformizados e se levantam quando o professor entra na sala de aula. No final da palestra a maioria faz perguntas interessantes.

                “A terceira edição do Prêmio Ciências no Ensino Médio, do MEC, premiou duas escolas goianas da rede estadual: uma foi o Colégio da Policia Militar Hugo de Carvalho Ramos, de Goiânia.” (DM, 6.6.2008).

                Não é da nossa intenção ensinar o Pai Nosso ao vigário a ninguém, mas apenas um palpite que julgamos feliz: para todos os males há remédios, e o remédio eficaz, o “santo remédio” para o mal da Educação em nosso País, o caminho certo para colocar a escola pública nos trilhos, é, além da reprovação, o modelo da Escola Militar. Assim teremos aprendizagem com disciplina e disciplina com autoridade. Macktub!
( O POPULAR, Crônicas e Outras histórias, 19.12.2008).
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 16/01/2011
Código do texto: T2732919

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
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