"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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MINHAS PÉROLAS

AS PESSOAS SÓ APRENDEM O QUE QUEREM APRENDER, ENTÃO CABE À ESCOLA ACOMPANHAR A EVOLUÇÃO.
Claudeci Ferreira de Andrade

segunda-feira, 31 de março de 2025

Transfobia em Sala de Aula (Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." - Nelson Mandela)

 

Transfobia em Sala de Aula (Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." - Nelson Mandela)  ´

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A notícia cruzou as telas dos computadores e ecoou nas manchetes virtuais naquele final de março de 2025: uma professora foi afastada no Rio de Janeiro após a denúncia de preconceito contra uma menina trans de apenas 13 anos. A história, que rapidamente se espalhou, carregava em si a dor e a indignação de uma mãe defendendo a identidade de sua filha, Kauane.

Segundo os relatos divulgados pelas reportagens, Kauane, uma jovem no espectro autista, passou por uma situação humilhante na Escola Municipal Acre, em Todos os Santos. A professora de inglês, aparentemente, se recusava a reconhecer o nome social da menina, adotado no ano anterior e devidamente registrado em seus documentos.

A mãe, Rosana Sarmento Ribeiro, em declarações reproduzidas em diversos veículos, expressava sua revolta e preocupação, não apenas pela filha, mas por todas as crianças que enfrentam a mesma batalha por respeito. Ela enfatizava a necessidade de as crianças confiarem na escola, nos educadores e nos pais.

O relato materno detalhava um episódio particularmente doloroso: na frente de toda a turma, a professora perguntou quem era Kauane. Ao se identificar, a menina viu a professora escrever o seu antigo nome no trabalho escolar. Um ato que, para a mãe, foi um "absurdo", uma demonstração clara de transfobia.

A notícia também trouxe à tona um histórico preocupante. Em 2023, a mesma professora teria obrigado os alunos a rezarem em sala de aula ao descobrir que Kauane era praticante do Candomblé. Um padrão de comportamento intolerante que deixava a família ainda mais angustiada.

Diante do episódio de transfobia, Rosana não hesitou. Acompanhada da polícia, registrou um boletim de ocorrência por crime de preconceito. A imagem da menina trans de 13 anos, divulgada nas reportagens, falava por si só, carregando a fragilidade e a força de quem luta por sua identidade.

A Secretaria Municipal de Educação, sensível à gravidade da denúncia, agiu prontamente, abrindo uma sindicância e afastando a professora de suas funções. A Polícia Civil informou que as investigações estavam em andamento, com testemunhas sendo ouvidas.

Lendo essas notícias, era impossível não sentir a dor daquela mãe e a vulnerabilidade de Kauane. A escola, que deveria ser um espaço seguro e acolhedor, tornou-se palco de discriminação e desrespeito. A atitude da professora, ao ignorar o nome social de Kauane e expô-la publicamente, revelava uma profunda falta de empatia e preparo para lidar com a diversidade.

A história de Kauane ecoou em minha mente por dias. Refleti sobre a importância fundamental de um ambiente escolar inclusivo, onde todas as crianças se sintam seguras e respeitadas em sua identidade. A luta de Rosana, ao defender sua filha com tanta garra, era um exemplo de amor e coragem.

Que essa notícia sirva de alerta para a urgência de combater o preconceito em todas as suas formas, especialmente dentro das escolas. Que a história de Kauane inspire a reflexão sobre a importância de reconhecer e respeitar a identidade de gênero de cada indivíduo. Porque, no final das contas, o nome que escolhemos para nós é a primeira afirmação da nossa existência, e a escola deve ser um lugar onde todos os nomes possam florescer livremente.


https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/03/31/professora-e-afastada-de-escola-municipal-denuncia-preconceito-no-rio.ghtml (Acessado em 31/03/2025)


Como um bom professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas simples, baseando-me nas ideias principais do texto apresentado, para estimular a reflexão sobre os aspectos sociais envolvidos no caso de preconceito contra Kauane:


1. De que maneira o caso de Kauane ilustra a importância do reconhecimento da identidade de gênero no contexto escolar e social? (Esta questão visa explorar a relevância da identidade de gênero para o bem-estar e a inclusão social.)

2. A atitude da professora de se recusar a usar o nome social de Kauane e de expô-la publicamente pode ser analisada como uma forma de discriminação. Quais são as possíveis consequências psicológicas e sociais dessa discriminação para a adolescente? (Esta questão busca analisar os impactos da discriminação na vida da vítima.)

3. O texto menciona que essa não foi a primeira vez que a professora demonstrou comportamento intolerante, mencionando um episódio de intolerância religiosa. Como a ocorrência de múltiplos atos de discriminação por uma mesma pessoa pode ser compreendida sociologicamente? (Esta questão pretende estimular a reflexão sobre padrões de comportamento discriminatório e suas raízes sociais.)

4. A reação da mãe de Kauane, ao denunciar o caso às autoridades e à imprensa, demonstra um importante papel de advoca. De que maneira a ação de indivíduos e famílias pode contribuir para o combate ao preconceito e a promoção dos direitos de grupos menorizados? (Esta questão busca analisar o papel do ativismo individual e familiar na luta por justiça social.)

5. Considerando o papel da escola como uma instituição social fundamental, quais medidas você considera essenciais para garantir um ambiente escolar inclusivo e respeitoso para todos os alunos, independentemente de sua identidade de gênero ou outras características? (Esta questão visa incentivar a reflexão sobre as responsabilidades da escola na promoção da inclusão e do respeito à diversidade.)

domingo, 30 de março de 2025

Entre o Dever e o Medo ("Professor agride aluno ao tentar separar briga" - A culpa é do professor por não ter antecipado e evitado o conflito!)

 

Entre o Dever e o Medo ("Professor agride aluno ao tentar separar briga" - A culpa é do professor por não ter antecipado e evitado o conflito!)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquela terça-feira, o sol de março invadia as frestas das cortinas da sala 9B como quem pede licença para participar da aula. Eu explicava sobre os tipos de violência quando percebi o movimento suspeito nas carteiras da frente. Pedro empinava sua cadeira, apoiando as mãos na mesa de Lucas para equilibrar-se. O olhar irritado de Lucas denunciava o incômodo que crescia a cada minuto.


— "Professor, ele não para de mexer na minha mesa!", - reclamou Lucas enquanto eu tentava manter o fio da explicação sobre violência física e violência simbólica que, ironicamente, oscilavam na mesma frequência da minha crescente preocupação.


Respirei fundo. Em vinte anos de magistério, aprendi a reconhecer os sinais de uma tempestade iminente. — "Pedro, por favor, sente-se corretamente", - pedi com a voz controlada que desenvolvi ao longo dos anos, aquela que tenta soar firme sem ser intimidadora.


Pedro sorriu debochado. Lucas pediu novamente, agora com a voz mais alta. Considerei intervir fisicamente, posicionar-me entre eles, mas as palavras da última reunião pedagógica ecoaram em minha mente: — "Lembrem-se, professores: contato físico com alunos pode gerar processos administrativos e até criminais. Temos o caso do professor Silva, da escola vizinha, que quebrou o braço ao tentar separar uma briga e acabou sendo processado pela família do agressor."


Hesitei. Adolescentes de 14, 15 anos já têm força considerável – alguns até mais altos que eu. Um empurrão mal calculado, uma queda acidental, e eu poderia ser acusado de agressão. Naquele momento de indecisão, vi a cena desenrolar-se como em câmera lenta: Lucas puxou sua mesa bruscamente, Pedro perdeu o equilíbrio e caiu. Antes que eu pudesse alcançá-los, Pedro já estava de pé, o punho cerrado dirigindo-se ao rosto de Lucas com uma força desproporcional.


O som do impacto silenciou a sala. Vi o sangue escorrer pelo nariz de Lucas enquanto os outros alunos observavam em estado de choque, alguns já com celulares em punho, prontos para registrar o que eu faria a seguir. Qualquer movimento meu seria julgado: se segurasse Pedro com força, poderia ser acusado de excesso; se apenas me colocasse na frente, arriscava levar um golpe eu mesmo.


— "Lucas, vamos à diretoria", - disse automaticamente, seguindo o que mandava o regimento, aquele mesmo que nos orienta a "nunca tocar em um aluno em situação de conflito". No corredor, o menino cambaleava levemente, a camisa do uniforme já não era mais branca. Na diretoria, Dona Marta, a diretora, disse apenas que ele poderia ir para casa, que moravam ali perto mesmo. Tentei argumentar sobre chamar os pais ou uma ambulância, mas ela assegurou que "era só um sangramento nasal" e me lembrou dos "riscos jurídicos de assumir responsabilidade médica sem formação adequada".


—Vi Lucas sair pelo portão, sozinho, a mão tentando conter o sangue que ainda escorria. Voltei para a sala e tentei retomar a aula, como se nada tivesse acontecido, como se não houvesse um vazio na terceira carteira da segunda fileira, como se não houvesse sangue no chão.


Na manhã seguinte, a mãe de Lucas estava na entrada da escola, os olhos inchados, a voz embargada narrando para a imprensa local como seu filho chegou em casa "quase desmaiando". A notícia se espalhou rapidamente: "Aluno agredido dentro da sala de aula, escola não presta socorro". Vi meu nome nos comentários das redes sociais: "E o professor, não fez nada?" Ninguém mencionava que, no ano anterior, um colega de outra escola havia sido afastado por "uso desproporcional de força" ao separar dois alunos que brigavam.


E o que poderia eu ter feito? Intervido fisicamente e arriscado não só meu emprego, mas também um processo criminal? Imaginem o título: "Professor agride aluno ao tentar separar briga". Desobedecido o protocolo e chamado uma ambulância por conta própria? Confrontado a diretora? As perguntas não me deixaram dormir por dias.


Nas semanas que se seguiram, participei de reuniões administrativas, ouvi sermões sobre "manutenção da ordem em sala de aula" e recebi uma advertência por "não ter antecipado e evitado o conflito". Pedro recebeu três dias de suspensão. Lucas mudou de escola. E eu fui chamado para uma capacitação sobre "mediação não violenta de conflitos em sala de aula" – um curso teórico que não abordava a realidade de adolescentes do nono ano, com hormônios à flor da pele e quase do meu tamanho.


E eu? Permaneço aqui, entre o quadro e as carteiras, dividido entre a responsabilidade de zelar pelos alunos e o receio de ultrapassar fronteiras delicadas, entre os conceitos de Moral e Ética que consigo ensinar e os dilemas reais para os quais não há respostas prontas. A cada indício de tensão entre estudantes, meu coração dispara e um frio percorre minha espinha. Estou encurralado nesse território indefinido onde agir pode resultar em punição, e não agir pode ser visto como negligência.

Por vezes, quando o sol invade novamente as frestas das cortinas da sala 9B, olho para a carteira vazia que Lucas ocupava e me pergunto se algum dia encontraremos o equilíbrio entre proteger nossos alunos e proteger nossas carreiras. Enquanto isso, sigo ensinando como combater as violências física, psicológica e simbólica, carregando a consciência pesada por aquele dia em que, entre o dever e o medo, escolhi seguir o protocolo – porque, no final das contas, quem protege o professor?


Como um bom professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas simples, baseando-me nas ideias principais do texto apresentado, para estimular a reflexão sobre os aspectos sociais envolvidos na situação vivenciada pelo professor:


1. De que maneira o relato do professor ilustra as tensões e os desafios enfrentados pelos educadores no que se refere à manutenção da disciplina e à segurança dos alunos em sala de aula? (Esta questão visa explorar as dificuldades práticas e éticas do papel do professor no contexto escolar.)

2. O texto destaca o conflito entre o dever de intervir e o medo de sofrer consequências legais ou administrativas. Como essa situação reflete as mudanças nas dinâmicas de poder e nas expectativas sociais em relação à figura do professor? (Esta questão busca analisar as transformações na autoridade docente e nas relações sociais no ambiente escolar.)

3. A reação da diretora e a ênfase nos "riscos jurídicos" revelam uma possível priorização de aspectos burocráticos em detrimento do bem-estar imediato do aluno agredido. Como essa postura institucional pode ser analisada sob a perspectiva sociológica das organizações e suas prioridades? (Esta questão pretende estimular a reflexão sobre a cultura organizacional da escola e suas possíveis implicações sociais.)

4. O professor menciona a repercussão do caso na mídia e nas redes sociais, com comentários questionando sua atuação. De que forma a opinião pública e a mídia podem influenciar a percepção e o julgamento de eventos ocorridos no ambiente escolar? (Esta questão busca analisar o papel da mídia e da opinião pública na construção de narrativas sobre questões sociais.)

5. Ao final do texto, o professor questiona quem protege o professor. Como essa pergunta evidencia as vulnerabilidades e a falta de suporte que, por vezes, podem caracterizar a profissão docente na sociedade contemporânea? (Esta questão visa incentivar a reflexão sobre as condições de trabalho e o reconhecimento social dos professores.)

sábado, 29 de março de 2025

Gota Fria da Indiferença ("O respeito é a base de toda a educação." - Não atribuído)

 

Gota Fria da Indiferença ("O respeito é a base de toda a educação." - Não atribuído)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sala de aula sempre fora seu refúgio, um palco onde mapas e bússolas ganhavam vida e onde, entre a geografia do mundo, ele tentava traçar as coordenadas da vida em mentes jovens. Mas, naquele dia, um gesto tão trivial quanto um copo d’água transformou-se em um marco doloroso em sua trajetória como educador.

Ele estava de costas para a turma, o "canetão" deslizando sobre o quadro, desenhando as sinuosas linhas de nível, quando sentiu um impacto repentino e gelado em suas costas. A água escorreu pela camisa, encharcando o tecido, que grudou na pele. O burburinho adolescente, tão habitual até segundos antes, foi substituído por um silêncio denso e constrangedor. Virou-se lentamente, ainda segurando o pincel marcador entre os dedos, buscando nos rostos diante de si alguma pista do autor daquele ato inesperado. Nenhum se destacou particularmente, mas, no fundo, a gente sempre sabe.

Respirou fundo, tentando conter a indignação sob a couraça da profissionalismo. Seguiu o protocolo: dirigiu-se à administração da escola e relatou o ocorrido com precisão. No entanto, logo percebeu que, naquele ambiente, protocolo era apenas um ritual vazio. O relato foi recebido com um aceno indiferente e um vago *"vamos verificar"*, que seus vinte e sete anos de experiência na Escola Estadual Delano Brochado, em Paracatu, já haviam lhe ensinado a interpretar. Como temia, nada aconteceu.

Nada. Esse foi o golpe mais difícil de suportar. A água fria que molhou suas costas era um incômodo passageiro, mas a frieza da indiferença institucional feriu muito mais fundo. O episódio não era um fato isolado; somava-se a outros tantos, evidenciando que os muros da escola, concebidos para proteger o saber, pareciam agora erguer trincheiras onde o professor se encontrava sozinho. A questão não se resumia a um simples copo d’água. Tratava-se, essencialmente, de respeito. Do direito de ensinar sem medo, de entrar em sala de aula sem a incerteza de ser alvo do próximo ato de desrespeito mascarado de brincadeira.

Naquela noite, não perdeu o sono pela camisa molhada, que já secava ao vento, mas pela certeza de que, diante da inércia, outras camisas seriam encharcadas e outras vozes, sufocadas pelo peso da frustração. A escola, esse espaço onde o futuro deveria ser moldado, mostrava-se cada vez mais frágil diante de um presente em que a autoridade do professor se diluía a cada novo episódio de indisciplina convenientemente ignorado.

No dia seguinte, voltou à sala de aula. O quadro branco aguardava suas anotações, os mesmos rostos o observavam, e sua missão de compartilhar conhecimento permanecia intacta. No entanto, agora, a luta era dupla: ensinar geografia e batalhar por um ambiente onde o saber fosse mais valorizado do que a indisciplina tolerada.

Sabia que sua voz podia parecer apenas uma gota em meio a um vasto oceano, mas aprendera, com a própria geografia, que até os maiores rios nascem de pequenos filetes d’água. E, no fim das contas, talvez a maior lição fosse essa: até mesmo um simples copo d’água pode ser o prenúncio de um tsunami de mudanças necessárias.


https://www.instagram.com/reel/DHrwgKnsPv6/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA== (Acessado em 29/03/2025)


Como um bom professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas simples, baseando-se nas ideias principais do texto apresentado, para estimular a reflexão sobre os aspectos sociais envolvidos na situação vivenciada pelo professor:


1. De que maneira o incidente do copo d'água atirado no professor pode ser interpretado como um sintoma de questões mais amplas relacionadas ao respeito e à autoridade no ambiente escolar? (Esta questão visa explorar o evento específico como um reflexo de dinâmicas sociais maiores.)

2. O texto enfatiza a "frieza da indiferença institucional" por parte da administração da escola. Quais são as possíveis consequências dessa postura para a comunidade escolar, incluindo alunos, professores e a própria instituição? (Esta questão busca analisar o impacto da resposta institucional nas relações sociais dentro da escola.)

3. A crônica menciona que a escola parece ter se tornado uma "trincheira solitária" para o professor. Como essa metáfora ilustra os desafios enfrentados pelos educadores na sociedade contemporânea? (Esta questão pretende estimular a reflexão sobre o papel e as dificuldades da profissão de professor na atualidade.)

4. Considerando a perspectiva sociológica, como a falta de consequências para o aluno que jogou a água pode influenciar a socialização dos jovens e a internalização de normas de conduta dentro do ambiente escolar? (Esta questão busca analisar o impacto da ausência de sanção no processo de socialização dos estudantes.)

5. Ao final da crônica, o professor expressa a esperança de que o episódio sirva de alerta para a valorização do papel do professor. De que maneira a sociedade em geral pode contribuir para a construção de um ambiente escolar mais respeitoso e propício ao aprendizado? (Esta questão visa incentivar a reflexão sobre o papel da sociedade na promoção de um ambiente educacional positivo.)

Passando Mel na Boca de Todo Mundo ("A infância é um pote de mel." - Fernando Pessoa)

 

Passando Mel na Boca de Todo Mundo ("A infância é um pote de mel." - Fernando Pessoa)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquele dia, o sol de Roraima já despontava no céu, pintando-o com tons de laranja e rosa, enquanto a notícia se espalhava, trazendo consigo um zumbido doce e promissor. As informações chegavam através das ondas do rádio e das páginas da internet: a Assembleia Legislativa havia dado um passo importante, um daqueles que, à primeira vista, podem parecer pequenos, mas que carregam em si a força de transformar o cotidiano. Falavam sobre mel, aquele néctar dourado tão apreciado, e sobre a possibilidade de ele fazer parte da merenda escolar das crianças.

A notícia soou para muitos como um raio de otimismo em meio à rotina. Mel na merenda? Que ideia saborosa e nutritiva! Imaginavam as reações dos pequenos ao se depararem com essa novidade: seus olhinhos brilhando, não apenas pela doçura do mel, mas também pela sensação de cuidado e atenção que essa inclusão representava. Afinal, quem não se lembrava daquele potinho de mel que a avó oferecia para acalmar a tosse ou adoçar um dia mais cinzento?

A curiosidade levou muitos a buscar mais informações. Descobriram que essa iniciativa não era apenas um capricho, mas o resultado de um esforço conjunto, liderado por pessoas que enxergavam no mel um potencial muito maior do que um simples adoçante. Havia por trás disso a dedicação dos apicultores locais, homens e mulheres que, com esmero, cuidavam de suas colmeias, extraindo da natureza esse presente valioso. Alguns se lembravam de ter visto essas pequenas propriedades rurais, onde o aroma floral pairava no ar, anunciando a produção artesanal e cuidadosa.

Ao tomar conhecimento das declarações dos apicultores, percebi a alegria e a esperança em suas palavras. Para eles, essa lei representava o reconhecimento de um trabalho árduo e a oportunidade de expandir seus horizontes. A possibilidade de fornecer mel para as escolas abria um novo mercado, impulsionando a economia local e gerando mais empregos. Era como se o zumbido das abelhas, antes um som distante, agora ecoasse com mais força, anunciando um futuro mais próspero para toda a comunidade.

E não era só a economia que se fortalecia. Especialistas destacavam os inúmeros benefícios do mel para a saúde, especialmente para as crianças em fase de desenvolvimento. Sua riqueza em nutrientes e suas propriedades anti-inflamatórias o tornavam um aliado poderoso para uma alimentação escolar mais saudável e equilibrada. Imaginei a energia extra que as crianças teriam para aprender e brincar, impulsionadas por essa doçura natural.

Acompanhei o desenrolar dessa história através das notícias. Vi a Assembleia Legislativa debater o tema, ouvir os apicultores, analisar os dados de produção que mostravam um crescimento constante ao longo dos anos. Era gratificante perceber que o poder público estava atento às necessidades da população e buscando soluções inovadoras para o desenvolvimento do estado.

Hoje, imagino as crianças saboreando o mel em suas merendas e, de certa forma, fico até orgulhoso como professor. Não apenas pelo sabor delicioso que certamente alegra seus paladares, mas principalmente pela preocupação dos políticos em construir um futuro mais doce e saudável para as novas gerações. Essa pequena mudança, impulsionada pela visão de alguns e pela dedicação de muitos, mostra que, às vezes, as soluções mais simples e naturais são as que trazem os maiores benefícios. Que o doce zumbido das abelhas continue a ecoar nas escolas, trazendo consigo saúde, prosperidade e a certeza de que Roraima tem um mel de qualidade para oferecer ao mundo. Refiro-me também ao exemplo de educação para o Brasil.


https://g1.globo.com/rr/roraima/especial-publicitario/assembleia-legislativa-de-roraima/noticia/2025/03/28/mel-na-merenda-texto-aprovado-na-ale-rr-fortalece-apicultura-e-alimentacao-escolar.ghtml (Acessado em 29/03/2025)


Como um bom professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas simples, baseadas nas ideias principais do texto, para estimular a reflexão sobre os aspectos sociais envolvidos na iniciativa do mel na merenda escolar em Roraima:


1. De que maneira a notícia sobre o mel na merenda escolar em Roraima pode ser interpretada como um exemplo de como políticas públicas podem impactar positivamente a vida cotidiana das pessoas? (Esta questão visa explorar a conexão entre a ação governamental e seus efeitos na sociedade.)

2. O texto destaca a importância dos apicultores locais para a concretização da lei. Como essa iniciativa pode fortalecer a economia local e as relações de trabalho na comunidade de Roraima? (Esta questão busca analisar o impacto da política no desenvolvimento econômico e nas dinâmicas sociais locais.)

3. A reação positiva à notícia, mencionada no texto, sugere alguns valores sociais importantes para a população. Quais valores você identifica nessa reação e como eles se manifestam na sociedade? (Esta questão pretende estimular a reflexão sobre os valores sociais subjacentes à aceitação da política.)

4. O texto menciona os benefícios do mel para a saúde das crianças. Como a inclusão desse alimento na merenda escolar pode contribuir para a promoção da saúde e para a redução das desigualdades sociais no acesso a uma alimentação nutritiva? (Esta questão busca analisar a política sob a perspectiva da saúde pública e da equidade social.)

5. Considerando a perspectiva do "exemplo para o Brasil" mencionada no final do texto, quais elementos dessa iniciativa em Roraima poderiam ser considerados relevantes e inspiradores para outras regiões do país no âmbito da alimentação escolar e do apoio à produção local? (Esta questão visa incentivar a análise comparativa e a identificação de boas práticas em nível nacional.)

sexta-feira, 28 de março de 2025

Sombras no Corredor ("Não se nasce com a luz; aprende-se a acendê-la." - Mia Couto)

 

Sombras no Corredor ("Não se nasce com a luz; aprende-se a acendê-la." - Mia Couto)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Os dias cinzentos de março sempre guardam segredos. Naquela quinta-feira, quando o mundo ainda dormia em seu silêncio mais profundo, algo se quebrava além das paredes da Escola Municipal André De Nadai — não apenas fios elétricos, mas talvez um pedaço da esperança coletiva.

O telefone vibrou cedo, trazendo consigo histórias de abandono. A notícia do furto de fios chegava como um sussurro de desalento, tão comum nos dias atuais que quase perdia o poder de chocar. Era mais um capítulo na saga interminável de descaso com a educação, um sintoma de um mal que corrói as estruturas sociais como ferrugem silenciosa.

Os corredores da escola mergulharam em uma penumbra que ia além da simples ausência de luz. Era como se a escuridão portasse uma mensagem — um grito silencioso sobre os desafios que assolam o sistema educacional. Ana Sofia, uma menina de 11 anos, encontrou a metáfora perfeita: "Parecia uma série de zumbis". Que imagem mais precisa poderia existir? Zumbis: seres sem alma, vagando por espaços sem vida. Não seriam os estudantes, muitas vezes, como zumbis de um sistema que os deixa à deriva?

Os ventiladores mudos, as lousas digitais inertes, os bebedouros secos — cada objeto parecia clamar por uma história. Uma história de abandono, de descaso, mas também de resistência. Porque, mesmo no escuro, a escola continuava. Atividades pedagógicas seguiam, professores improvisavam, alunos persistiam.

A cena revelava mais do que um simples furto. Era um retrato da resiliência brasileira, dessa capacidade quase sobre-humana de seguir em frente diante de adversidades que pareceriam intransponíveis para qualquer outro povo. As famílias, cansadas, mas esperançosas, continuavam empurrando seus filhos em direção ao conhecimento. "É melhor mandar para a escola", disse uma mãe. Não era resignação, era esperança. Uma esperança teimosa que se recusa a morrer, mesmo quando tudo ao redor parece conspirar contra ela.

A prefeitura prometia soluções. Palavras bonitas que dançavam nos comunicados oficiais, como pequenos balés de burocracia. Mas todos sabiam — era um segredo não declarado — que a verdadeira solução não estava em comunicados, mas na transformação. Na valorização real da educação.

Ao anoitecer, pairava no ar uma reflexão: os fios roubados eram apenas um sintoma. O diagnóstico era mais profundo: precisava-se reconectar não apenas a fiação elétrica, mas os fios que unem a sociedade. Reacender não só as luzes das escolas, mas a luz nos olhos dos jovens.

A escuridão era temporária. A esperança, infinita.

E no silêncio daquela escola, entre sombras e sussurros, a educação seguia. Resiliente. Inquebrantável.


https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/03/28/furto-de-fios-deixa-escola-municipal-de-sumare-sem-aulas.ghtml (Acessado em 28/0382025)


Como um bom professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas e simples, baseando-me nas ideias principais do texto apresentado:


1. O autor descreve o furto de fios em uma escola como um "sintoma de um mal que corrói as estruturas sociais". De que maneira a sociologia pode analisar eventos como esse como indicadores de problemas mais amplos na sociedade, especialmente no que diz respeito à valorização da educação e da infraestrutura pública?

2. A metáfora da escuridão é utilizada no texto para descrever a situação da escola sem energia e, de forma mais ampla, os desafios do sistema educacional. Como a sociologia interpreta o uso de metáforas como essa para representar problemas sociais e quais as implicações dessa representação para a percepção pública da educação?

3. O texto destaca a resiliência da comunidade escolar, com professores e alunos continuando as atividades apesar das dificuldades. De que forma a sociologia estuda a resiliência como um fenômeno social, e quais fatores podem contribuir para a capacidade de indivíduos e comunidades de superar adversidades no contexto da educação?

4. O autor menciona a reação da prefeitura e a burocracia envolvida na solução do problema. Como a sociologia analisa o papel do Estado e das instituições governamentais na gestão da educação e na resposta a problemas sociais como o descrito no texto? Quais são os desafios e as possíveis críticas a essa atuação?

5. O texto conclui com a ideia de que é preciso "reconectar não apenas a fiação elétrica, mas os fios que unem a sociedade" e "reacender não só as luzes das escolas, mas a luz nos olhos dos jovens". Sob uma perspectiva sociológica, qual a importância da coesão social e da esperança para o desenvolvimento da educação e para o futuro de uma sociedade? Como eventos como o furto de fios podem afetar esses aspectos?