AS APARÊNCIAS NÃO ENGANAM ("Educação é o que resta depois de ter esquecido tudo que se aprendeu na escola." — EINSTEIN)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Durante muito tempo, procurei entender em que momento a escola deixou de ser um refúgio do conhecimento para se tornar uma trincheira da mediocridade. Hoje, percebo com nitidez a gradação maligna que se instaurou de forma sorrateira: a política de não reprovação, embora revestida de aparente benevolência, desencadeou, como efeito imediato, a indisciplina generalizada. Esta, por sua vez, inviabilizou qualquer possibilidade real de aprendizagem, criando gerações de alunos que atravessam o sistema educacional sem absorver sequer o mínimo necessário.
O tempo – esse incansável revelador de verdades – mostrou-me que a semente do descaso não apenas germinou, mas floresceu dentro de um ciclo perverso. Hoje, ao meu lado em reuniões pedagógicas, estão rostos que um dia ocuparam as carteiras escolares como alunos desinteressados. O incompetente de ontem tornou-se o professor de hoje, regressando à mesma instituição que o formou na negligência. Assim se completou o ciclo: a colheita malfazeja da semeadura irresponsável, comprovando a infalibilidade da lei de causa e efeito — um devastador efeito dominó.
O preço dessa cadeia de concessões é altíssimo. Quando as instituições educacionais abandonam seus objetivos nobres; quando o ensino deixa de preparar para a vida e passa a servir apenas para melhorar a vida de quem ensina, todo o tecido social se fragiliza. Chegamos, então, ao paradoxo: o único aluno que realmente progride é aquele que, cedo demais, percebe a falência do sistema. Desconfiado do que lhe oferecem, torna-se autodidata, lançando-se sozinho ao estudo pela internet. A triste ironia é que quem mais aprende é justamente quem menos acredita em nós. No entanto, mesmo esse aluno encontra obstáculos, pois o diploma — esse documento que valida socialmente o conhecimento — não pode ser conquistado na solidão do autodidatismo.
Ainda me permitem falar porque não represento ameaça. A verdadeira ameaça, aquela que de fato assusta, é o aluno defraudado em suas expectativas — aquele que retorna à escola, não com saudade, mas com ressentimento. Alguns voltam para perpetuar o ciclo como professores despreparados; outros, infelizmente, retornam com fúria. E, às vezes, com violência.
Peço que não me silenciem por revelar verdades incômodas. Falo apenas do que vi, do que vivi, e das realidades que o tempo me ensinou a reconhecer. Na ânsia de me comportar como sábio, compartilho observações dolorosas, muitas vezes ignorando o desconforto que a verdade provoca. Tentam me calar com frases feitas: “Um tolo calado passa por sábio”. Mas aprendi que o tolo silenciado apenas prejudica menos, assim como o sábio que se cala diante da deterioração torna-se cúmplice — e se assemelha ao tolo.
Já não busco parecer sábio. Quero apenas ser ouvido, antes que o abismo se aprofunde de forma irreversível. Porque a pior das colheitas — aquela que realmente compromete o futuro — não é fruto da ignorância, mas da omissão consciente de quem sabe e, mesmo assim, escolhe o conforto do silêncio.
Como seu professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas e simples, baseando-me nas ideias principais do texto apresentado:
1. O autor critica a política de não reprovação, argumentando que ela desencadeia uma série de consequências negativas. Sob uma perspectiva sociológica, como a decisão de não reprovar alunos pode impactar as normas de disciplina e o processo de aprendizagem dentro da escola?
2. O texto menciona a figura do "incompetente de ontem" que se torna o "professor de hoje". De que maneira essa situação pode ser analisada à luz dos conceitos sociológicos de reprodução social e das possíveis consequências para a qualidade da educação?
3. O autor destaca o paradoxo do aluno autodidata que busca conhecimento por conta própria, mas enfrenta dificuldades em obter reconhecimento formal (o diploma). Como a sociologia aborda a importância das credenciais educacionais na sociedade e como essa importância pode afetar indivíduos que aprendem fora do sistema tradicional?
4. O texto sugere que o "aluno defraudado" pode representar uma ameaça. De que forma a sociologia explica a relação entre as expectativas dos indivíduos em relação à educação e as possíveis reações de frustração ou ressentimento quando essas expectativas não são atendidas?
5. O autor reflete sobre a importância de não se calar diante dos problemas do sistema educacional. Qual o papel da crítica e da manifestação de opiniões, mesmo que desconfortáveis, para a análise sociológica e para a possibilidade de transformação social dentro do contexto da educação?
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