"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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domingo, 12 de maio de 2019

QUEM DITA AS REGRAS NA ESCOLA? ("O respeito pelos pais só resiste enquanto os pais respeitem o interesse dos filhos." — Raul Brandão)


QUEM DITA AS REGRAS NA ESCOLA? ("O respeito pelos pais só resiste enquanto os pais respeitem o interesse dos filhos." — Raul Brandão)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Sabe aquele sonho que nos acompanha por uma vida inteira? O meu era simples, mas significativo: comprar um carro e viajar pela Costa Nordestina com minha esposa. Depois de décadas economizando cada centavo, finalmente conseguimos realizar esse desejo. Lá estávamos nós, dois velhinhos empolgados, prontos para enfrentar a estrada com nosso possante zero quilômetro.

A euforia inicial, no entanto, logo deu lugar a uma série de pequenos imprevistos. Mal tínhamos saído da cidade quando os problemas começaram. A cada obstáculo, eu parava o carro e sacava minha carteira de motorista do bolso, como se aquele pedaço de plástico pudesse me dar a confiança que eu tanto precisava.

"Querido, por que você fica olhando tanto para essa carteira?", perguntou minha esposa, intrigada.

"Por segurança", respondi com um sorriso nervoso. "É que aqui diz que sou habilitado para dirigir. Preciso me certificar de que não é mentira."

Enquanto seguíamos viagem, entre solavancos e paradas bruscas, comecei a refletir sobre minha jornada como professor. Quantas vezes não me senti como agora, inseguro ao volante de uma sala de aula? A licenciatura era minha carteira de habilitação, mas será que ela bastava?

Percebi que, assim como na estrada, ser professor vai muito além de conhecer a matéria ou ter um diploma. É preciso conhecer os alunos, observá-los, entendê-los. Eles são os verdadeiros guias dessa viagem chamada educação, o mapa e a bússola de nossa travessia.

Lembrei-me das reuniões com coordenadores pedagógicos, sempre à caça de professores perdidos, sem rumo. E dos pais, ah, os pais! Exigindo rigidez na escola enquanto seus filhos ditavam as regras em casa. Era como dirigir em uma estrada esburacada, com placas confusas e motoristas imprudentes por todos os lados.

A disposição de espírito para ser um bom professor é como um tanque cheio de combustível, mas nossa "carne fraca" é como um pneu furado. Precisamos constantemente calibrar nossas ações, alinhar-nos com os alunos, observar e avaliar. Sem observação, a avaliação se torna um exercício vazio; sem avaliação, a observação é mera presunção.

No fundo, sabemos que a estrada da educação é longa e cheia de desafios. E, assim como aquele motorista inexperiente que confere sua licença na esperança de garantir sua competência, seguimos aprendendo, ajustando o curso, na tentativa de nos tornarmos melhores guias nessa jornada.

Chegamos ao nosso destino depois de muitas aventuras e desventuras. Olhando para o mar do Nordeste, entendi que tanto na estrada quanto na sala de aula, a jornada é o que importa. Os obstáculos, as paradas inesperadas, as mudanças de rota - tudo isso faz parte do aprendizado.

Ser professor é como realizar esse sonho de viagem, requer paciência, perseverança e a coragem de seguir em frente, mesmo quando o caminho parece incerto. O que importa é reconhecer que estamos todos, alunos e professores, no mesmo caminho. Sejamos capazes de nos guiar e aprender uns com os outros, para que, quando os imprevistos surgirem, estejamos prontos para continuar a viagem, mais fortes e mais preparados.

E você, caro leitor, qual é a sua jornada? Lembre-se, seja na estrada ou na vida, não é o destino que nos define, mas como escolhemos percorrer o caminho.


Com base no texto apresentado, elabore respostas completas e concisas para as seguintes questões:


O autor estabelece uma analogia entre a experiência de dirigir e a experiência de ser professor. Qual a principal ideia que essa analogia busca transmitir?


O texto menciona diversos desafios enfrentados pelos professores. Quais são os principais desafios destacados e como eles se relacionam com a prática pedagógica?


A importância da observação e da avaliação é enfatizada no texto. Explique como esses elementos se complementam e contribuem para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem.


O autor reflete sobre a jornada do professor e a importância de aprender com os alunos. Como essa perspectiva pode transformar a relação professor-aluno?


Qual a mensagem central que o texto transmite sobre a profissão docente?

sábado, 11 de maio de 2019

DENUNCIAR POR DENUNCIAR ("Falar mal dos outros agrada tanto às pessoas que é muito difícil deixar de condenar um homem para comprazer os nossos interlocutores". — Leon Tolstói)



Crônica

DENUNCIAR POR DENUNCIAR ("Falar mal dos outros agrada tanto às pessoas que é muito difícil deixar de condenar um homem para comprazer os nossos interlocutores". — Leon Tolstói)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era mais uma manhã na secretaria de educação. O ar estava carregado de tensão e expectativa enquanto pais e alunos chegavam em ondas, cada um com sua própria história para contar, sua própria denúncia a fazer. O espetáculo estava prestes a começar.

— "Meu filho foi injustamente rejeitado na matrícula!" - bradava uma mãe indignada, com o rosto vermelho de raiva. Observei, fascinado, o funcionário acatando o pedido sem questionar. Vivíamos em um mundo onde a razão havia sido substituída pela conveniência, onde a verdade se tornara menos importante que a aparência de justiça. As palavras de Diógenes ecoavam em minha mente: "Entre os animais ferozes, o de mais perigosa mordedura é o delator; entre os animais domésticos, o adulador". A observação se encaixava perfeitamente ao que testemunhava. Com o avançar do dia, as denúncias se multiplicavam. Cada pessoa encontrava sua própria causa, sua cruzada particular. Hal Ozsan sussurrava em meus pensamentos: "E eu nunca conheci um louco, que não tem uma causa, e eu nunca conheci um pervertido, que não tem um coração partido". Era fascinante observar como as pessoas se agarravam a títulos e posições que não lhes pertenciam. Denunciantes se portavam como autoridades, guardas como policiais, tratoristas como motoristas, leiteiro como fazendeiro e caixa de lotérica como bancário. Um verdadeiro carnaval de identidades trocadas, um baile de máscaras onde ninguém era quem alegava ser. O aspecto mais perturbador era perceber como as verdadeiras vítimas sofriam duplamente: primeiro pelo ato que as vitimizou, depois pela exposição e pelo circo que se formava em torno de seu sofrimento. A dor alheia transformava-se em palco para autopromoção. Refletindo sobre as artes, o teatro e como a transgressão se tornara a nova norma, recordei Umberto Eco: "Para rebater uma acusação, não é necessário provar o contrário, basta deslegitimar o acusador". Era impressionante como se tornara fácil descartar acusações legítimas com argumentos retorcidos! Ao final do dia, exausto e contemplativo, as palavras de Tito ressoavam: "Tudo é puro para os que são puros; mas nada é puro para os impuros e descrentes, pois a mente e a consciência deles estão sujas". Observei a pilha de denúncias e os rostos ansiosos que aguardavam resoluções rápidas e fáceis. Estávamos presos em um ciclo interminável onde denúncias geravam mais denúncias, e acusações multiplicavam acusações. Em meio a esse turbilhão, a verdade e a justiça pareciam cada vez mais distantes. Deixei a secretaria naquela noite com questionamentos profundos: Em um mundo de denunciantes, quem assume o papel de juiz? Quem ousa ser simplesmente humano, com todas as suas imperfeições e complexidades? Por que persistimos nessa caça frenética sem fim aparente?
Talvez estejamos todos aprisionados neste teatro de aparências e moralismos superficiais, buscando papéis que nos façam sentir menos culpados ou mais importantes. A verdadeira questão que devemos enfrentar, enquanto o espetáculo das denúncias prossegue indefinidamente, é: quem está realmente em paz com sua consciência?

Duas questões discursivas sobre o texto:


1. O texto descreve um cenário de constantes denúncias e acusações. Como a busca por justiça pode se transformar em um espetáculo, onde a verdade se perde em meio a interesses pessoais e disputas de poder?


Esta questão convida os alunos a refletir sobre os mecanismos sociais que podem transformar a busca por justiça em um jogo de poder, e as consequências dessa dinâmica para as relações sociais.


2. O texto questiona a natureza das acusações e a busca por pureza em um mundo marcado pela complexidade humana. Como a sociologia pode contribuir para uma compreensão mais profunda das motivações que levam as pessoas a denunciar e acusar os outros, e quais as implicações sociais dessa prática?


Esta questão estimula os alunos a analisar as diferentes motivações que levam as pessoas a denunciar e acusar os outros, considerando os fatores sociais, psicológicos e culturais que podem influenciar esse comportamento.

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sábado, 4 de maio de 2019

Os Muitos "sim" ( "Ou você opta por seguir a luz, ou a escuridão, não faz sentido burlar o caminho escuro com uma lanterna na mão." — Lu Lena)



Os Muitos "sim" ( "Ou você opta por seguir a luz, ou a escuridão, não faz sentido burlar o caminho escuro com uma lanterna na mão." — Lu Lena)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era mais uma tarde abafada na escola estadual onde eu lecionava há mais de uma década. O ventilador de teto zumbia preguiçosamente, mal movendo o ar pesado da sala dos professores. Enquanto folheava distraidamente uma pilha de provas, minha mente vagou para uma cena da televisão: a personagem do "Zorra Total", uma médica obesa que aconselhava dietas rigorosas aos pacientes enquanto ela mesma devorava guloseimas às escondidas. Que ironia! Pensei comigo mesmo, percebendo o paralelo com nossa situação na escola.

De repente, uma voz estridente cortou o silêncio como um trovão em dia de sol. "Por que é sempre assim?" A pergunta de Jussara, nossa nova coordenadora pedagógica, ecoou pela sala. Seus olhos faiscavam de frustração, as mãos gesticulando freneticamente no ar. "Isto pode! Aquilo pode! Ali pode! Acolá pode! A escola é toda feita no 'jeitinho brasileiro', onde tudo pode! Estou farta de tudo isto!"

Observei-a com uma mistura de compaixão e divertimento. Jussara era nova no cargo, cheia de ideais e energia, lembrando-me de mim mesmo anos atrás, igualmente indignado com as incongruências do sistema educacional. Tentei acalmá-la: "Ora, Jussara, isto não é tão mau assim. Os documentos oficiais da educação até proíbem muitas coisas. Mas na prática..." Dei de ombros, deixando a frase no ar.

Ela não se deixou consolar. "Tudo que leio é 'isso pode, isso pode, isso pode', e este 'tudo pode' já se tornou uma obrigação! Estou a ponto de detestar tudo!" O desabafo de Jussara continuou, suas palavras pintando um quadro vívido de uma escola onde as regras pareciam existir apenas no papel. Bonés, celulares, camisetas de time - tudo teoricamente proibido, mas na prática... bem, na prática era outra história.

Observei os outros professores na sala. Alguns assentiam discretamente, outros fingiam não ouvir, absortos em suas próprias tarefas. Mas eu sabia que todos ali já havíamos passado por momentos semelhantes de frustração. A situação de Jussara não era nova. Outros gestores já haviam se rebelado contra essa suposta democracia educacional, que, em vez de promover a aprendizagem, parecia criar um espaço onde a indisciplina se instalava confortavelmente.

"Sabe, Jussara", comecei, escolhendo cuidadosamente minhas palavras, "às vezes me pergunto se esse 'jeitinho brasileiro' não é apenas um reflexo da nossa própria natureza humana. Até Deus, dizem, nos coloca diante de escolhas fáceis e difíceis." Ela me olhou, intrigada. Continuei: "O importante é lembrar que o resultado do nosso trabalho reflete exatamente a relação e o respeito que construímos com nossos alunos. As regras são importantes, sim, mas talvez o segredo esteja em como as aplicamos."

Um silêncio pensativo caiu sobre a sala. Jussara parecia ponderar minhas palavras, sua expressão suavizando-se gradualmente. Era verdade que o bom gestor não deve forçar seus liderados a agir contra a própria vontade. Contudo, as brechas nas normas educacionais eram um privilégio de quem sabia manipulá-las a seu favor.

O famoso "jeitinho brasileiro" é uma herança antiga, como se o próprio tempo nos ensinasse a driblar as regras. No dia a dia, somos constantemente bombardeados por oportunidades e desafios. Até mesmo nas provações que a vida nos impõe, percebemos que muitas vezes o que parece difícil é, na verdade, uma questão de perspicácia.

Entretanto, uma reflexão se impõe: o verdadeiro resultado de um trabalho em equipe reflete a relação de respeito entre liderados e gestores. Nas escolas, onde certas regras são impostas como verdades absolutas, a situação se complica. "Não pode usar camiseta de time, não pode boné, não pode celular, não pode reprovar, não pode nada!" — e assim, o espaço para o aprendizado se reduz, como se o "não" fosse um professor silencioso, incapaz de ensinar.

Naquele momento, o sinal tocou, anunciando o fim do intervalo. Enquanto nos preparávamos para retornar às salas de aula, percebi que aquela conversa havia mexido com algo dentro de mim. Talvez o verdadeiro desafio não fosse lutar contra o "jeitinho brasileiro", mas encontrar uma forma de usá-lo a nosso favor, transformando a flexibilidade em uma ferramenta para o aprendizado e o crescimento.

Saí da sala dos professores com um novo olhar. As contradições e desafios continuariam lá, é claro, mas agora eu os via não como obstáculos intransponíveis, mas como oportunidades para exercer nossa criatividade e compaixão. A vida é feita de escolhas e, por mais que o "jeitinho" possa oferecer soluções rápidas, é necessário lembrar que o verdadeiro aprendizado e a disciplina são fundamentais.

E você, caro leitor, já se pegou praticando seu próprio "jeitinho" em situações desafiadoras? Talvez a verdadeira lição aqui seja aprender a navegar pelas complexidades da vida com um pouco mais de graça e um pouco menos de rigidez. Afinal, no grande teatro da vida, todos nós somos, de certa forma, atores em nossa própria "Zorra Total". Somente assim conseguiremos transformar nossas escolas em lugares onde todos possam crescer e se desenvolver de maneira justa e respeitosa.


1. Como o "jeitinho brasileiro" é retratado no texto e qual é a sua relação com o sistema educacional descrito?


2. Qual é a principal frustração de Jussara em relação às regras escolares e como isso reflete nas práticas cotidianas da escola?


3. De que maneira o autor sugere que as regras escolares deveriam ser aplicadas para promover um ambiente de aprendizado mais eficaz?


4. Como a metáfora da personagem do "Zorra Total" é utilizada para ilustrar a situação na escola? Explique a ironia presente nessa comparação.


5. Qual é a reflexão final do autor sobre o "jeitinho brasileiro" e como ele propõe que essa característica cultural seja utilizada de forma positiva no contexto educacional?

ESCOLHA DIFÍCIL É VOTAR EM UM POLÍTICO ("Não existe ser humano mais miserável do que aquele em que a única coisa habitual é a indecisão." — William James)


ESCOLHA DIFÍCIL É VOTAR EM UM POLÍTICO ("Não existe ser humano mais miserável do que aquele em que a única coisa habitual é a indecisão." — William James)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Aqui estou eu, sozinho, envolto no silêncio que tanto anseio, mas que também me aterroriza. Pior do que isso, as pessoas me assustam, e quando estou entre elas, o pânico se instala. Meu problema são os outros. Então, busco refúgio em um lugar solitário, mas lá não há ninguém para me consolar. Eis o meu dilema! Como disse Mario Quintana, "O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso".

Hoje é um dia importante para nós, brasileiros. Estou prestes a embarcar em uma jornada arriscada, escolher um vereador que me representará pelos próximos quatro anos. E o prefeito? Nem se fala! Estou tomado por uma ansiedade descomunal, pelo desejo de fazer a diferença. Não nego que é um bom dia para acomodações, mesmo que o desafio seja superar a dúvida. Preciso de um distanciamento emocional e muita frieza para isso. Ainda que os interesses individuais falem mais alto, convém dispensar alguma atenção à coletividade, a fim de contribuir com a harmonia geral. Isso já vem ocupando a minha mente: nada mais é coerente do que votar em um ex-aluno, talvez ele tenha aprendido meus modos, pois confio em mim. Você não...? Como disse Marguerite Yourcenar, "A felicidade é uma obra-prima: o menor erro falseia-a, a menor hesitação altera-a, a menor falta de delicadeza desfeia-a, a menor palermice embrutece-a."

Amanhã, após a comoção do pleito político, ou seja, depois da votação, sentirei minha alma lavada, por cumprir o meu dever de cidadão. No entanto, uma perda poderá ocorrer em minha vida, a ideia é de limpeza, pois o sabão leva restos de pele também.

Tudo foi tão rápido e decepcionante. Após as apurações, vi meu candidato, o qual apoiei, perder. Talvez seja uma dor necessária. Eu perdi meu voto! Mas, num sentido mais amplo, é como se extraísse um dente podre. Para a próxima estarei mais maduro ou desdentado! Todavia, vou procurar aplicar o melhor dessa experiência, principalmente mostrar satisfação pela vida. Estou me certificando de que a pressão emocional da decepção não vá mesmo impedir o que precisa de apenas um impulso para a frente. Dê-me o seu empurrãozinho... Como disse Paulo de Tarso, "O maior impasse da humanidade: Não fazer o BEM que gostaria e fazer o MAL que não quer!"

No final das contas, acredito que a educação é uma via de mão dupla. Não basta apenas a escola oferecer, é preciso que o aluno queira aprender. E para aqueles que realmente desejam, que não se deixem desanimar pelas adversidades. Sou exemplo disso. Afinal, a educação é a chave para um futuro melhor. E eu, como professor, estarei sempre aqui, pronto para orientar aqueles que desejam seguir esse caminho, mesmo que tenham sido frustrados em alguma situação da vida. A vida é feita de altos e baixos, e é nos momentos de adversidade que crescemos e nos tornamos mais fortes. Portanto, não desista, continue lutando, pois o futuro é brilhante para aqueles que acreditam em si mesmos.

Com base no texto apresentado, elabore respostas completas e concisas para as seguintes questões:

  1. O texto inicia com uma reflexão sobre a solidão e as relações interpessoais. Qual a relação entre essa reflexão inicial e a decisão de votar?
  2. O autor demonstra uma grande expectativa em relação ao processo eleitoral. Quais são as suas principais preocupações e esperanças em relação à política?
  3. O texto aborda a questão da decepção após o resultado das eleições. Como o autor lida com essa frustração e qual a importância dessa experiência para ele?
  4. Qual a importância da educação para o autor? Como ele relaciona a educação com a superação das adversidades e a construção de um futuro melhor?
  5. O texto apresenta uma visão complexa sobre a natureza humana e as relações sociais. Quais são os principais dilemas e contradições apresentados pelo autor?


segunda-feira, 29 de abril de 2019

NOTA: PRESENTE DE GREGO ("Presente de Grego você ganha sempre de um aproveitador, Hoje você ganha e depois você paga por ele!!!" — Marcos Dantas)


NOTA: PRESENTE DE GREGO ("Presente de Grego você ganha sempre de um aproveitador, Hoje você ganha e depois você paga por ele!!!" — Marcos Dantas)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma manhã comum de segunda-feira, mas eu ainda não sabia que aquele dia guardaria aprendizados valiosos. O aroma do café fresco se misturava ao cheiro de giz e livros, criando uma atmosfera familiar na sala dos professores. Enquanto ajeitava meus óculos, observava o movimento dos colegas, todos prontos para enfrentar mais um dia no campo de batalha da educação.

Ah, se as paredes daquela escola pudessem falar! Quantas histórias contariam sobre nós, professores, e nossos eternos aprendizes. A lembrança de um colega de História ecoava em minha mente: “Aluno só quer boa nota!” Era uma frase simples, mas que se tornou um mantra em minha jornada educacional, especialmente ao observar as complexas teias de amizade e interesse que se entrelaçam entre os alunos.

Certa vez, uma aluna à beira da reprovação decidiu que a vingança era a melhor resposta. Sua trama envolvia mentiras e desentendimentos que mancharam minha reputação, até seu marido veio confrontar-me, como se eu fosse o verdadeiro vilão da história. Senti como se estivesse em uma peça de teatro onde o script foi escrito por alguém que não compreendia o valor do esforço e da dedicação. Se ela tivesse canalizado aquela energia em estudar, o enredo teria sido bem diferente.

Conforme caminhava pelos corredores, os ecos das vozes me atingiam como facadas: “Lá vem esse velho caduco de novo!” ou “Ah, não! Professor chato!” O que mais me feriu não foram as palavras, mas a expressão de desprezo que as acompanhava. Às vezes, sentia-me preso em um poço escuro, com uma abertura minúscula por onde entrava um raio de luz: a esperança de que a aposentadoria me trouxesse alívio. Mas a vida, com suas ironias, sempre estava à espreita.

Lembro-me da vez em que nosso colégio foi incendiado por alunos descontentes. Os diários de classe, cheios de histórias e memórias, tornaram-se cinzas. Naquele caos, fui orientado a dar notas baseadas na “consciência” dos alunos. Curiosamente, aqueles que me atacavam se tornaram amáveis, buscando a aprovação que parecia poder substituí-las relações autênticas que eu sempre quis cultivar. Oferecer notas em troca de amizade? Um crime que eu me negava a cometer.

Hoje, embora o peso da idade sobre meu corpo se faça sentir, minha mente ainda clama por verdadeiras conexões. O que mais anseio é a companhia de jovens que compartilhem a esperança de um crescimento cultural genuíno. Porém, ao olhar para meus alunos, percebo que muitos deles ameaçam o professor e desafiam o sistema, lutando por notas que não refletem seu verdadeiro esforço. A preocupação com o aprendizado se perdeu, e a passagem de série tornou-se uma mera formalidade, um rótulo sem significado.

E se os alunos são, de certo modo, espelhos do mundo exterior, percebo que são amigos momentâneos, que compartilham o café que nunca contribuíram para comprar, enquanto tramam contra os que se negam a dar notas generosas. Essa realidade, tão cruel quanto triste, leva-me a refletir sobre a verdadeira natureza das relações.

Como um velho professor, carrego as cicatrizes e lições que o tempo me trouxe. Aprendi que, no tumulto da sala de aula, o verdadeiro valor da amizade não reside nas notas ou nas aparências, mas na sinceridade dos laços que se formam. Mesmo que as palavras de encorajamento sejam escassas, continuo acreditando que a educação é uma luz que, embora distante, um dia brilhará intensamente na vida de cada um.

Assim, seguimos em frente, cultivando a esperança de que a amizade se transforme em um elo verdadeiro, onde cada um possa encontrar seu espaço e significado no mundo. Porque, no final das contas, não estamos apenas ensinando matérias; estamos ensinando a viver. E você, caro leitor, o que aprendeu hoje que vai além das páginas dos livros?

Com base no texto apresentado, proponho as seguintes questões para uma discussão em sala de aula, explorando os temas da educação, das relações interpessoais e da experiência docente:

O texto apresenta um retrato crítico da educação. Quais os principais desafios enfrentados pelo professor na sala de aula, segundo o relato?

A relação entre professor e aluno é central no texto. Como a falta de reconhecimento e respeito por parte dos alunos afeta o trabalho docente?

O autor menciona a busca por uma educação que vá além da mera transmissão de conhecimento. Qual o papel do professor na formação integral do aluno?

O texto aborda a questão da avaliação e da motivação dos alunos. Como a busca por notas altas pode prejudicar o processo de aprendizado?

O autor reflete sobre a importância da amizade e das relações interpessoais na escola. De que forma essas relações podem influenciar o ambiente de aprendizagem?

sábado, 27 de abril de 2019

APRENDENDO COM OS ERROS ("Manipulação Não Existe, O Que Realmente Existe É A Incapacidade Do Outro De Não Visualizar O Outro Lado" (Welton Barbosa)



Crônica

APRENDENDO COM OS ERROS ("Manipulação Não Existe, O Que Realmente Existe É A Incapacidade Do Outro De Não Visualizar O Outro Lado" (Welton Barbosa)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquela manhã de outono, enquanto caminhava pelos corredores da escola onde leciono há mais de duas décadas, fui atingido por uma epifania. O burburinho dos alunos, as paredes decoradas com trabalhos coloridos e o cheiro de tinta no ar pareciam contar uma história diferente da que eu costumava ouvir. Parei diante do mural de avisos, onde um cartaz anunciava mais um curso de capacitação para professores. Suspirei, pensando em quantos desses já havia feito ao longo dos anos. Foi então que me perguntei: estamos realmente atacando o cerne da questão?

As palavras do mestre Juan Matus ecoaram em minha mente: "Esteja alerta a cada segundo. Não permita que nada nem ninguém decida por você." Percebi que, em nossa ânsia de melhorar os índices educacionais, talvez estivéssemos perdendo de vista o verdadeiro propósito da educação. O aprendizado, ou a falta dele, muitas vezes caminha em círculos, sempre em busca de respostas para erros que já conhecemos bem, mas que insistimos em repetir.

Enquanto observava os alunos passando, cada um com seu mundo particular de sonhos e aspirações, refleti sobre a complexidade do processo de aprendizagem. Não é algo que possamos forçar ou impor. É uma dança delicada entre o consciente e o inconsciente, entre o desejo de saber e a resistência ao desconhecido. Recordei-me de uma aluna, Mariana, que certa vez me disse: "Professor, por que devo aprender isso se posso ser famosa no TikTok?" Sua pergunta me atingiu como um raio. Como competir com uma realidade onde o sucesso imediato parece mais atraente que o conhecimento?

Caminhei até minha sala de aula, os passos pesados de quem carrega o peso da responsabilidade. Ao entrar, vi os rostos expectantes dos meus alunos. Naquele momento, entendi que meu papel não era convencê-los, como bem disse Saramago, mas sim inspirá-los a querer aprender por conta própria. "Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito," suas palavras ressoavam em minha mente.

Iniciei a aula de forma diferente naquele dia. Em vez de seguir o plano, perguntei: "O que vocês realmente querem aprender hoje?" O silêncio inicial foi quebrado por uma onda de ideias e curiosidades. Percebi que o verdadeiro desafio não era ensinar, mas despertar o desejo de aprender. A frustração de explicações mal compreendidas deu lugar à reflexão: "Sou responsável pelo que digo, mas não pelo que você entende," como dizia Anaïs Nin.

A Secretaria de Educação, perdida em números e metas, promove capacitações como se o fracasso escolar estivesse nas mãos apenas dos professores. Quando o foco deveria ser a construção de uma motivação interna, capaz de despertar neles a curiosidade e o desejo de saber, estamos mais preocupados com índices. E o mercado, claro, ri da nossa ingenuidade, enquanto esportistas, músicos e políticos prosperam, sem precisarem de diplomas que justificam suas habilidades.

Ao fim do dia, enquanto arrumava minhas coisas para ir embora, senti uma mistura de esperança e apreensão. A educação, percebi, é um campo minado de contradições. Queremos que nossos alunos pensem por si mesmos, mas muitas vezes os sufocamos com nossas expectativas. Talvez seja culpa nossa. Afinal, o ensinar muitas vezes é inconsciente. Estamos tão ocupados em fingir que estamos "elaborando" que esquecemos de nos perguntar se realmente estamos sendo vistos.

Saí da escola naquela tarde com uma nova perspectiva. A verdadeira mudança na educação não virá de cima para baixo, mas de dentro para fora. Não podemos controlar o que nossos alunos aprendem, mas podemos criar um ambiente onde o aprendizado seja uma aventura emocionante, não uma obrigação tediosa. A escola vive na ilusão de que todos querem o que ela oferece, mas a realidade é mais complexa. As portas do sucesso, muitas vezes, não se abrem com o que oferecemos em nossas salas de aula.

Enquanto caminhava para casa, as palavras de Anaïs Nin ecoavam em minha mente: "A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros." Prometi a mim mesmo que, a partir daquele dia, buscaria a verdade na educação, não a perfeição.

A noite caía, e com ela, a certeza de que o amanhã traria novos desafios. Mas agora, eu estava pronto para enfrentá-los com um novo olhar. Afinal, como educadores, nossa maior lição talvez seja aprender a aprender, todos os dias, com cada aluno que cruza nosso caminho. No fim, não posso deixar de pensar que, em meio a tantos desafios, é preciso continuar tentando. Porque, no fundo, quem decide o que aprender – e como viver – são eles. E talvez esse seja o maior aprendizado que possamos proporcionar.

Com base no texto apresentado, proponho as seguintes questões para discussão:

O autor expressa uma profunda insatisfação com o sistema educacional tradicional. Quais são as principais críticas apresentadas por ele e quais as alternativas que ele sugere?

A relação entre professor e aluno é central no texto. Como o professor pode criar um ambiente de aprendizagem que estimule a autonomia e a curiosidade dos alunos?

O texto questiona a eficácia dos cursos de capacitação para professores. Qual a importância da formação continuada e como ela pode ser mais eficaz para melhorar a qualidade do ensino?

A influência da cultura popular, como as redes sociais, é mencionada como um desafio para a educação tradicional. Como a escola pode competir com a atratividade da cultura popular e tornar o aprendizado mais relevante para os alunos?

O texto destaca a importância da motivação intrínseca para o aprendizado. Como podemos despertar a curiosidade e o desejo de aprender nos alunos?

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