"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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domingo, 10 de dezembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(9) ***Dar a Deus: uma questão de lógica ou de fé?***

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(9) ***Dar a Deus: uma questão de lógica ou de fé?***

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Dar a Deus e honrá-lo com nossos recursos é um princípio financeiro fundamental que tem sido debatido e discutido ao longo dos tempos. Muitos cristãos seguem esse princípio como uma forma de expressar sua gratidão, sua obediência e sua confiança em Deus. Eles acreditam que, ao dar a Deus, eles estão investindo no seu reino e recebendo bênçãos em troca. No entanto, essa visão pode ser questionada por uma perspectiva mais centrada na lógica e na racionalidade. Neste ensaio, vamos analisar os argumentos a favor e contra essa prática, bem como as implicações éticas e sociais que ela envolve.

Um dos argumentos a favor de dar a Deus é que ele é o dono de tudo e que nós somos apenas administradores dos seus bens. Segundo essa visão, tudo o que temos vem de Deus e pertence a ele. Portanto, devemos devolver uma parte do que recebemos como um reconhecimento da sua soberania e da sua bondade. Esse argumento se baseia em várias passagens bíblicas, como: "Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem" (Salmos 24:1) e "Lembrem-se: aquele que semeia pouco também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura também colherá fartamente. Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria" (2 Coríntios 9:6-7).

Outro argumento a favor de dar a Deus é que ele nos promete recompensas materiais e espirituais quando o fazemos. Segundo essa visão, dar a Deus é uma forma de semear para colher no futuro. Deus se agrada dos que dão com generosidade e os abençoa com prosperidade, saúde, paz e salvação. Esse argumento também se baseia em várias passagens bíblicas, como: "Tragam o dízimo todo ao depósito do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponham-me à prova", diz o Senhor dos Exércitos, "e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las" (Malaquias 3:10) e "Honre o Senhor com todos os seus recursos e com os primeiros frutos de todas as suas plantações; os seus celeiros ficarão plenamente cheios, e os seus barris transbordarão de vinho" (Provérbios 3:9-10).

No entanto, esses argumentos podem ser contestados por uma perspectiva mais lógica e racional. Um dos argumentos contra dar a Deus é que ele não precisa do nosso dinheiro ou dos nossos bens. Segundo essa visão, Deus é auto-suficiente e não depende das nossas ofertas para sustentar o seu reino ou para realizar a sua vontade. Ele não é um comerciante que troca favores por pagamentos. Ele é um pai que nos ama incondicionalmente e nos provê gratuitamente. Esse argumento se baseia em algumas passagens bíblicas, como: "Pois quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos contribuir tão generosamente como fizemos? Tudo vem de ti, e nós apenas te demos o que vem das tuas mãos" (1 Crônicas 29:14) e "Pois se vocês derem aos outros, Deus dará a vocês. Ele lhes dará uma medida boa, socada, sacudida e transbordante na concha de vocês. A mesma medida que vocês usarem para medir os outros Deus usará para medir vocês" (Lucas 6:38).

Outro argumento contra dar a Deus é que ele não nos garante recompensas materiais ou espirituais quando o fazemos. Segundo essa visão, dar a Deus é uma questão de fé e de obediência, não de barganha ou de interesse. Deus não é um caça-níqueis que nos devolve mais do que colocamos. Ele é um juiz que nos avalia pela nossa sinceridade e pelo nosso amor. Ele pode nos abençoar ou nos provar, conforme a sua vontade e o seu propósito. Esse argumento se baseia em algumas passagens bíblicas, como: "Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração" (Mateus 6:19-21) e "Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá" (Gálatas 6:7).

Além desses argumentos, há também implicações éticas e sociais envolvidas na questão de dar a Deus. Uma delas é a responsabilidade social dos cristãos em relação aos pobres e aos necessitados. Dar a Deus não significa apenas dar à igreja ou aos ministérios religiosos, mas também dar aos que sofrem e aos que clamam por justiça. Como disse Jesus: "Pois tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram" (Mateus 25:35-36). Dar a Deus é também dar ao próximo, pois eles são imagem e semelhança dele.

Outra implicação é a liberdade individual dos cristãos em relação à sua consciência e à sua situação financeira. Dar a Deus não significa seguir regras rígidas ou obrigações impostas por líderes ou tradições religiosas, mas seguir o Espírito Santo e o seu próprio coração. Como disse Paulo: "Cada um faça como já resolveu em seu coração, sem pesar nem constrangimento; pois Deus ama quem dá com alegria" (2 Coríntios 9:7). Dar a Deus é também dar a si mesmo, pois ele nos fez livres e responsáveis.

Em conclusão, dar a Deus é um princípio financeiro fundamental que pode ser analisado de diferentes perspectivas. Há argumentos bíblicos, lógicos e racionais a favor e contra essa prática. Há também implicações éticas e sociais que devem ser consideradas. O importante é que cada cristão tenha uma visão equilibrada e coerente sobre esse assunto, respeitando a sua ideologia e a dos outros. Como disse Agostinho: "Ama a Deus e faz o que quiseres".

sábado, 9 de dezembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(8) “Fé e Vitalidade: Uma Análise Crítica da Visão Religiosa”

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(8) “Fé e Vitalidade: Uma Análise Crítica da Visão Religiosa”

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A relação entre religião, saúde e vitalidade é um tema controverso que envolve diferentes perspectivas e argumentos. Neste ensaio, pretendo analisar criticamente a visão religiosa que afirma que a saúde espiritual e física depende exclusivamente de escolhas específicas baseadas na fé e na obediência a Deus. Para isso, vou apresentar alguns contra-argumentos que mostram que a vitalidade da vida não pode ser reduzida à fé religiosa, mas envolve diversos fatores biológicos, socioeconômicos, culturais e éticos.

A visão religiosa que defende que a saúde e a vitalidade são frutos da fé e da obediência a Deus se baseia em provérbios bíblicos como: "O temor do Senhor é fonte de vida, para desviar dos laços da morte" (Provérbios 14:27) e "O meu filho, atenta para as minhas palavras; às minhas razões inclina o teu ouvido. Não as deixes apartar-se dos teus olhos; guarda-as no íntimo do teu coração. Porque são vida para os que as acham, e saúde para todo o seu corpo" (Provérbios 4:20-22). Esses versículos sugerem que a obediência aos mandamentos divinos é a única forma de garantir uma vida plena e saudável, tanto espiritual quanto física.

No entanto, essa visão desconsidera a influência de fatores biológicos e genéticos na saúde e vitalidade física de um indivíduo. A genética desempenha um papel fundamental na predisposição a doenças e na longevidade, independentemente da religião ou crença. Como afirmou o filósofo francês Voltaire: "A natureza sempre prevalece; nós somos totalmente determinados por ela" (Voltaire, 1756). Assim, não se pode negar que há uma variabilidade natural entre os seres humanos que afeta sua saúde e vitalidade de forma independente da sua fé.

Além disso, a visão religiosa sugere que a obediência a Deus é a única fonte de bênçãos e prosperidade. No entanto, a prosperidade e o bem-estar estão frequentemente ligados a fatores socioeconômicos, acesso a cuidados de saúde e educação, entre outros. Não se pode ignorar que muitas pessoas que não compartilham da mesma fé experimentam saúde e vitalidade em suas vidas. Como disse o filósofo grego Epicuro: "Não é nada mais do que opinião vazia que leva os homens à adoração dos deuses" (Epicuro, 300 a.C.). Assim, não se pode atribuir toda a prosperidade e felicidade à obediência religiosa, mas sim ao uso racional dos recursos disponíveis.

A visão religiosa também pressupõe que a obediência a Deus é a única maneira de evitar as consequências naturais do pecado. No entanto, essa afirmação desconsidera a diversidade de crenças e sistemas éticos que existem no mundo, cada um com suas próprias noções de moralidade e consequências do pecado. Como disse o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard: "O pecado não é algo objetivo; é uma relação entre o indivíduo e Deus" (Kierkegaard, 1849). Assim, não se pode impor uma única visão religiosa sobre o que é certo ou errado, mas sim respeitar as diferentes formas de compreender e viver a vida.

Em resumo, embora a fé e a obediência religiosa possam ser fontes de conforto e significado na vida de muitas pessoas, a saúde e a vitalidade são resultados de uma interação complexa de fatores, incluindo genética, fatores socioeconômicos, acesso a cuidados de saúde e educação, bem como crenças religiosas. Portanto, atribuir toda a vitalidade e bênçãos à obediência religiosa é uma visão simplista que não reflete a realidade da experiência humana. Como disse o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: "Não há fatos, apenas interpretações" (Nietzsche, 1887). Assim, devemos estar abertos a questionar e dialogar com outras perspectivas, sem impor ou negar a nossa própria.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(7) "Um Estudo sobre Humildade, Orgulho e Verdade”

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(7) "Um Estudo sobre Humildade, Orgulho e Verdade”

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A prosperidade e o sucesso, desejos universais, são frequentemente apresentados como estando a apenas três passos de distância: temor a Deus, desprezo pelo orgulho e rejeição do pecado. No entanto, essa visão requer um olhar crítico. Como Sócrates, que questionou incessantemente, devemos lembrar que a reflexão e o questionamento não são necessariamente sinais de orgulho, mas sim ferramentas poderosas para o autoconhecimento e a busca por verdades mais profundas.

O mundo moderno é complexo e repleto de nuances. Rejeitar o orgulho e desprezar o mundo requer cuidado para não cair em visões extremamente simplistas ou maniqueístas. Como Albert Einstein disse: "As coisas devem ser feitas o mais simples possível, mas não mais simples do que isso." A riqueza do mundo, sua diversidade e complexidade, não devem ser reduzidas a uma condenação cega.

É inegável que a humildade, o temor a Deus e a rejeição do pecado têm seus méritos. No entanto, é essencial abraçar a complexidade da vida, questionar nossas próprias crenças e ser capazes de discernir o bem do mal com sabedoria e prudência. Seguir um caminho de reflexão crítica e busca pela verdade é tão importante quanto qualquer outro ensinamento. Como Sêneca nos lembra: "A verdade é áspera. Você não pode tocá-la sem preparação."

Portanto, ao invés de rejeitar o orgulho de maneira absoluta, devemos buscar um equilíbrio saudável entre a humildade e o pensamento crítico, reconhecendo a complexidade da vida e a importância de questionar nossas próprias crenças, sempre na busca constante da verdade.

domingo, 3 de dezembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(6) "Explorando a Sabedoria: Uma Jornada Além da Bíblia"

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(6) "Explorando a Sabedoria: Uma Jornada Além da Bíblia"

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A Bíblia, embora seja uma fonte de orientação para muitos, não deve ser vista como a única fonte de sabedoria. Como Sócrates disse: "Só sei que nada sei". Isso nos lembra que a busca pelo conhecimento é infinita e não deve ser limitada a uma única fonte.

A diversidade de crenças e culturas enriquece nossa compreensão do mundo. Como está escrito em Provérbios 27:17, "Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro". Isso sugere que devemos aprender uns com os outros através do diálogo intercultural e inter-religioso.

A razão e o pensamento crítico desempenham um papel crucial na tomada de decisões éticas e morais. Como Immanuel Kant afirmou: "O esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado". Isso implica que devemos usar nossa razão para avaliar cuidadosamente situações complexas, em vez de nos apegarmos cegamente a uma única fonte de autoridade.

Em conclusão, a busca pela sabedoria e orientação na vida deve ser uma jornada aberta que valorize a diversidade de conhecimentos e perspectivas. Como está escrito em Provérbios 1:5: "O sábio ouvirá e aumentará o aprendizado, e o entendido adquirirá sábios conselhos". Isso sugere que devemos estar dispostos a aprender com várias fontes para enriquecer nossa compreensão do mundo.

sábado, 2 de dezembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(5) A fiança como expressão de amizade e generosidade

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(5) A fiança como expressão de amizade e generosidade

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A fiança é uma prática comum nas relações financeiras, que consiste em garantir o pagamento de uma dívida de outra pessoa, assumindo a responsabilidade em caso de inadimplência. A Bíblia, em várias passagens, adverte contra a fiança, considerando-a uma ação imprudente e perigosa, que pode levar à ruína financeira e à perda da amizade. Por exemplo, em Provérbios 11:16, lemos: "A mulher bondosa conquista o respeito; os homens cruéis só conquistam riquezas. Quem é bondoso faz bem a si mesmo; quem é cruel prejudica a si mesmo" (NVI). Essa passagem sugere que a bondade é mais valiosa do que as riquezas, e que quem se envolve em negócios cruéis, como a fiança, acaba se prejudicando.

No entanto, será que essa é a única forma de entender a fiança? Será que não há situações em que a fiança pode ser uma expressão de amizade e generosidade, e não de imprudência e crueldade? Neste ensaio, pretendo defender que a fiança, quando feita com sabedoria e discernimento, pode ser não apenas permitida, mas também caridosa e necessária, desde que sejam observados alguns critérios.

Em primeiro lugar, é preciso considerar o contexto atual e a importância das relações financeiras e de amizade na sociedade. Vivemos em um mundo globalizado e interdependente, onde as pessoas precisam de crédito para realizar seus projetos pessoais e profissionais. Muitas vezes, as instituições financeiras exigem garantias para conceder empréstimos, e nem sempre as pessoas dispõem de bens ou recursos suficientes para oferecê-las. Nesses casos, a fiança pode ser uma alternativa viável para facilitar o acesso ao crédito e possibilitar o desenvolvimento econômico e social.

Além disso, vivemos em um mundo marcado por desigualdades e injustiças, onde muitas pessoas sofrem com a pobreza, a exclusão e a opressão. Nesses casos, a fiança pode ser uma forma de solidariedade e compaixão, para ajudar alguém que está em situação de vulnerabilidade ou emergência financeira. Ajudar um amigo piedoso ou alguém em necessidade financeira é um ato de amizade e generosidade que pode fortalecer os laços e promover o bem-estar coletivo.

Em segundo lugar, é preciso considerar os critérios para fazer uma fiança com sabedoria e discernimento. Não se trata de garantir as dívidas de qualquer pessoa ou de qualquer forma, mas sim de avaliar cuidadosamente cada caso e cada situação. A Bíblia não condena a fiança absolutamente, mas sim relativamente, dependendo das circunstâncias e das consequências. Por exemplo, em Provérbios 17:18 lemos: "Quem dá garantia por alguém sem juízo está agindo sem pensar; quem se responsabiliza por dívidas alheias está arranjando problemas" (NVI). Essa passagem indica que há pessoas sem juízo, ou seja, sem prudência ou responsabilidade, que não merecem confiança ou crédito. Além disso, há dívidas alheias, ou seja, que não são necessárias ou justas, que não valem a pena assumir.

Portanto, antes de fazer uma fiança, é preciso considerar alguns aspectos: Quem é a pessoa que pede a fiança? Qual é o seu caráter? Qual é o seu histórico financeiro? Qual é o seu propósito? Qual é o valor da dívida? Qual é o prazo para o pagamento? Quais são os riscos envolvidos? Quais são as garantias oferecidas? Quais são as consequências possíveis? Essas perguntas podem ajudar a evitar decisões precipitadas e arriscadas, que podem levar a perdas financeiras e à ruptura da amizade. A pressa, o orgulho, o sentimento e o impulso são fatores que contribuem para a imprudência e a crueldade. Por isso, a ênfase deve ser na avaliação adequada e na ponderação dos riscos envolvidos, em vez de descartar a fiança como algo intrinsecamente ruim.

Em terceiro lugar, é preciso considerar o fundamento teológico e filosófico da fiança como expressão de amizade e generosidade. A Bíblia apresenta o próprio Jesus como o Fiador de Seu povo, garantindo a salvação eterna. Em Hebreus 7:22 lemos: "Por isso Jesus se tornou a garantia de uma aliança superior" (NVI). Essa passagem mostra que Jesus assumiu a dívida do pecado da humanidade, pagando-a com o seu sangue na cruz, e oferecendo a graça de Deus aos que creem nele. Essa é a maior prova de amor e amizade que alguém pode dar. Como disse Jesus em João 15:13: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos" (NVI).

Essa imagem de Jesus como Fiador ressalta a importância da confiança e do apoio mútuo, que podem ser aplicados não apenas na esfera religiosa, mas também na vida cotidiana. A fiança pode ser uma forma de imitar o amor de Cristo pelos outros, demonstrando fidelidade, lealdade e generosidade. A fiança pode ser também uma forma de praticar o mandamento do amor ao próximo, que resume toda a lei de Deus. Como disse Paulo em Romanos 13:8: "Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei" (NVI).

Além da Bíblia, vários filósofos também reconheceram o valor da amizade e da generosidade nas relações humanas. Por exemplo, Aristóteles definiu a amizade como "uma única alma habitando em dois corpos", e afirmou que "a amizade é uma virtude ou implica virtude". Para ele, a amizade verdadeira é baseada na bondade e na reciprocidade, e visa o bem comum. Outro exemplo é Cícero, que escreveu um tratado sobre a amizade, onde declarou que "a amizade duplica as alegrias e divide as tristezas", e que "o amigo é a resposta aos teus desejos". Para ele, a amizade é um bem essencial para a vida humana, que requer confiança, benevolência e concordância.

Portanto, em vez de evitar a fiança a todo custo, é crucial abordá-la com discernimento e consideração, promovendo relações de confiança e amizade, enquanto se evita compromissos financeiros impulsivos e irresponsáveis. Dessa forma, a fiança pode ser uma ferramenta valiosa para apoiar os outros e fortalecer os laços entre as pessoas, desde que seja feita com sabedoria.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(4) A Busca pela Aprovação Divina e Humana

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(4) A Busca pela Aprovação Divina e Humana

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A busca pela aprovação, seja dos homens ou de Deus, é um tema de considerável relevância nas discussões teológicas e filosóficas. Enquanto alguns argumentam que a aprovação divina é o objetivo supremo da vida, outros sustentam que a aprovação dos homens desempenha um papel significativo em nossa jornada espiritual. Neste ensaio, exploraremos essa questão, considerando diferentes perspectivas teológicas e filosóficas.

Ralph Waldo Emerson, um dos grandes filósofos, nos adverte sobre o perigo de buscar incessantemente a aprovação dos outros. Ele enfatiza a importância de ser autêntico em um mundo que muitas vezes nos pressiona a ser diferentes do que somos. Essa ideia ressoa com a noção de que a busca excessiva pela aprovação dos homens pode nos desviar de nossa verdadeira identidade espiritual.

Por outro lado, o apóstolo Paulo, em sua carta aos Gálatas, coloca a busca pela aprovação de Deus como a mais alta prioridade. Ele argumenta que se estamos constantemente buscando agradar aos homens, podemos comprometer nossa devoção a Deus. Isso nos leva a considerar se a aprovação divina deve ser nossa bússola moral primária.

Exemplos bíblicos, como José e Daniel, são frequentemente citados como modelos de indivíduos que obtiveram tanto a aprovação divina quanto a dos homens. No entanto, é importante lembrar que esses são casos excepcionais e que a realidade nem sempre espelha esses exemplos.

Em última análise, podemos concluir que a busca pela aprovação deve ser equilibrada. A aprovação de Deus é fundamental em nossa jornada espiritual, mas não devemos negligenciar a importância das relações humanas. Devemos aspirar a ser autênticos, como preconizado por Emerson, ao mesmo tempo em que priorizamos a busca pela aprovação divina, como sugerido por Paulo.

Portanto, nossa busca pela aprovação deve ser guiada pela sabedoria, discernimento e uma compreensão profunda de nossos princípios e valores. Devemos buscar a harmonia entre a aprovação divina e humana, lembrando-nos de que a verdadeira grandeza está em viver uma vida que reflita nossa fé e autenticidade espiritual, independentemente da aprovação externa.

domingo, 26 de novembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(3) A perfeição é uma ilusão: uma análise crítica da relação entre misericórdia e verdade

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(3) A perfeição é uma ilusão: uma análise crítica da relação entre misericórdia e verdade

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A Bíblia menciona a importância da misericórdia e da verdade como componentes essenciais da perfeição. Em Provérbios 3:3, lemos: "Não te desamparem a benignidade e a fidelidade; ata-as ao teu pescoço; escreve-as na tábua do teu coração." (ARA) Embora esse conceito seja defendido por muitos cristãos, vale a pena analisar de outra perspectiva. Embora misericórdia e verdade sejam virtudes admiráveis, a ideia de que sua combinação é necessariamente a chave para a perfeição pode ser contestada por vários motivos.

Em primeiro lugar, é fundamental reconhecer que a perfeição é uma meta idealizada e inatingível. Nenhum ser humano é perfeito, independentemente de quão bem ele incorpore a misericórdia e a verdade em sua vida. Como disse o apóstolo Paulo: "Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus." (Romanos 3:23, ARA) Além disso, a busca pela perfeição pode criar pressão e ansiedade desnecessárias, levando a uma busca incessante por virtudes inatingíveis. Como disse Voltaire: "O melhor é inimigo do bom." (Dicionário Filosófico)

Além disso, a ideia de que misericórdia e verdade são opostas e, quando combinadas, tornam uma pessoa perfeita, pode ser vista como uma simplificação excessiva. Na realidade, a virtude está em encontrar um equilíbrio entre esses extremos. Às vezes, a misericórdia excessiva pode levar à tolerância com o comportamento prejudicial, enquanto a adesão estrita à verdade pode resultar em insensibilidade e rigidez. Como disse Aristóteles: "A virtude é um meio-termo entre dois vícios." (Ética a Nicômaco)

Em vez de buscar a perfeição, é mais realista e benéfico para os seres humanos aspirar a serem compassivos, honestos e equilibrados em suas ações. Em vez de amarrar a misericórdia e a verdade ao pescoço ou escrevê-las na mesa do coração, as pessoas devem cultivar essas virtudes em seu caráter de maneira equilibrada e realista. Como disse Jesus: "Sede vós, pois, perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste." (Mateus 5:48, ARA) Essa perfeição não se refere à ausência de falhas, mas à plenitude do amor.

Portanto, enquanto a misericórdia e a verdade são certamente virtudes valiosas, sua busca pela perfeição idealizada pode ser contraproducente. Em vez disso, a busca pela compaixão e integridade equilibradas pode ser uma abordagem mais realista e alcançável para viver uma vida virtuosa. Como disse Albert Einstein: "Tente não ser uma pessoa de sucesso, mas sim uma pessoa de valor." (Como Vejo o Mundo).