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MINHAS PÉROLAS

quarta-feira, 5 de março de 2025

Cicatrizes Invisíveis: Uma Crônica sobre Dignidade e Dor ("A sombra da tecnologia cai sombriamente sobre o futuro." - Don DeLillo)

 

Cicatrizes Invisíveis: Uma Crônica sobre Dignidade e Dor ("A sombra da tecnologia cai sombriamente sobre o futuro." - Don DeLillo)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Na penumbra da tela, o terror se materializa. Não se trata de monstros fantásticos ou ameaças palpáveis, mas da perversão da tecnologia, da crueldade anônima que se esconde por trás de pixels e algoritmos. Professoras, baluartes da sabedoria e da dedicação, são transformadas em mercadoria pornográfica, vítimas de uma obscenidade virtual que lhes rouba a dignidade e a paz. Na Coreia do Sul, terra da inovação tecnológica, floresce também a barbárie digital, ceifando sonhos e carreiras.

Lee Ga-eun, nome fictício escolhido para se proteger ainda mais, vivenciou essa tragédia. Por dez anos, o magistério pulsou em suas veias, a sala de aula era seu palco, o aprendizado, sua paixão. Até que, em um março fatídico, o pesadelo se instaurou. Um aluno, um rosto familiar, apresentou-lhe a ignomínia: seu rosto angelical, colado a um corpo ultrajante, uma montagem repulsiva urdida nas profundezas da internet. O *deepfake*, a fraude perfeita, escancarava a fragilidade da honra, a vulnerabilidade da alma.

A imagem, viralizada em canais sombrios do Telegram, onde a infâmia era celebrada sob a "hashtag" "humilhando professores", atingiu em cheio o coração de Ga-eun. A sala de aula, antes refúgio e deleite, transmutou-se em palco de suplício. "A cada olhar dos alunos", confessou com a voz embargada, "torturava-a a dúvida: teriam visto? Estariam a esquadrinhando em busca daquela imagem vil?". O fardo da suspeita, o peso do escárnio imaginado, tornaram insuportável a missão de educar. A licença médica, remédio amargo para a alma ferida, tornou-se refúgio, mas não alívio. O sonho de outrora, nutrido desde a infância, agoniza sob o peso da depressão e da ansiedade. Cinco comprimidos diários, uma rotina medicamentosa para aplacar a dor lancinante, a impotência que teima em não se dissipar.

Park Sehee, outra professora, viveu martírio semelhante. Em Gyeonggi, a professora de inglês viu sua imagem profanada em um site abjeto, o Dcinside. Uma foto extraída de um aplicativo escolar, instrumento de comunicação com os alunos, foi transformada em pastiche pornográfico. Seu rosto, o rosto de um homem qualquer, foram colados em corpos de macacos em cópula. A legenda, sórdida e cruel, dizia: "Park Sehee fazendo AQUILO com o filho". O choque, o asco, a fúria a invadiram. Noites em claro, o travesseiro como saco de pancadas, a raiva latejante, a impotência corrosiva. E a pergunta que martelava em sua mente: como? Como alunos, antes tão queridos, tão próximos, seriam capazes de tamanha atrocidade? A busca pelo culpado esbarrou na inércia policial, na burocracia insensível, na impunidade ululante. A desistência foi o único caminho para evitar o abismo da loucura.

A Coreia do Sul, palco dessa tragédia moderna, registra um alarmante surto de pornografia *deepfake* nas escolas. Centenas de instituições foram maculadas pela infâmia digital, milhares de vítimas silenciosas, entre alunos e professores, submergiram em um mar de vergonha e dor. Os números, frios e cruéis, escancaram a epidemia: denúncias policiais multiplicam-se exponencialmente, adolescentes e crianças engrossam as fileiras dos criminosos virtuais, escudados na impunidade etária, na falta de leis eficazes, na leniência de um sistema educacional que falha em proteger seus mestres.

Jihee, professora em Incheon, experimentou a frustração da denúncia ignorada, a revitimização institucional. Diante da inação policial, transformou-se em detetive, rastreando vestígios digitais, analisando ângulos de cadeiras, mergulhando no esgoto da própria infâmia para tentar encontrar um fio de esperança, um rastro do algoz. A saga investigativa, porém, esbarrou na burocracia, na falta de provas, na desilusão lancinante. A aluna suspeita, ao menos, respondeu por outro crime, uma migalha de justiça em meio ao oceano de impunidade.

O abandono, a solidão, o descaso. Professoras são compelidas a retornar às salas de aula, a encarar os algozes disfarçados de alunos, a conviver com o trauma, com a humilhação, com a ferida exposta. Licenças médicas são concedidas a conta-gotas, a burocracia kafkiana impera, revisões são intermináveis e indeferimentos cruéis. A transferência é uma miragem distante, utopia burocrática. "Não sei o que me consome mais", desabafou Ga-eun, "se o *deepfake* em si, ou a batalha inglória contra as autoridades educacionais".

A supervisora Kim Soon-mi, voz burocrática em meio ao caos, escancara a fragilidade do sistema: "Não há lei, não há manual, não há protocolo para amparar as vítimas, para punir os algozes, para estancar a sangria". A educação, mera formalidade, reduz-se a transferir o aluno para o fundo da sala, a sugerir o ensino domiciliar, medidas paliativas, ineficazes, irrisórias.

E a ignorância soma-se à crueldade. Pesquisas revelam a alarmante falta de consciência dos jovens sobre a gravidade da pornografia *deepfake*. Para 54% dos estudantes, é "apenas diversão", uma brincadeira macabra, um passatempo sádico, um crime banalizado. O assédio, multifacetado e perverso, espreita nos corredores, nas salas de aula, nos banheiros escolares. Câmeras espiãs, comentários lascivos, contatos físicos forçados: uma escalada de violência que se disfarça sob o manto da "brincadeira", da "inocência juvenil". A impunidade é, mais uma vez, o fermento da barbárie.

Yu Ji-woo, jovem aluna, voz dissonante em meio à algaravia da ignorância, indigna-se com a omissão do Estado, com a falta de campanhas educativas, com o silêncio ensurdecedor das autoridades. "Esperávamos educação nas escolas, conscientização nacional, mas o vazio ecoa", lamenta a adolescente, testemunha da dor da colega, vítima da sanha digital.

Chung Il-sun, burocrata do Ministério da Educação, em discurso oco e protocolar, afirma que o governo "trabalha arduamente" para combater o problema, que os alunos "agora entendem" a criminalidade do *deepfake*. Lee Yong-se, inspetor da Agência Nacional de Polícia, vangloria-se da "repressão", da "queda" no número de denúncias, como se estatísticas pudessem apagar o sofrimento das vítimas, estancar a hemorragia moral que assola as escolas sul-coreanas.

Jihee, em prantos, confessa o desejo de retroceder no tempo, de apagar a memória nefasta, de retornar à vida pregressa, à inocência roubada. Ga-eun, professora ferida, aguarda em vão o pedido de perdão dos algozes juvenis, sonha com o dia em que a justiça, tardia e claudicante, se fará presente. E o cronista, testemunha de um tempo sombrio, pergunta-se: quantas Ga-euns, quantas Sehees, quantas Jihees serão sacrificadas no altar da tecnologia descontrolada, da impunidade adolescente, da omissão estatal? Até quando a educação, instrumento de emancipação e luz, será maculada pela sombra nefasta da barbárie digital?


https://g1.globo.com/educacao/noticia/2025/03/05/um-aluno-fez-um-deepfake-porno-meu-e-minha-vida-virou-de-cabeca-para-baixo.ghtml (Acessado em 05/03/2025)


Questões discursivas baseadas no texto, explorando as ideias principais e provocando reflexões sociológicas:


1. A banalização da violência online: O texto retrata a pornografia deepfake como "apenas diversão" para muitos jovens. Como a sociologia pode explicar essa banalização da violência online? Discuta o papel da cultura digital, do anonimato e da falta de empatia nesse fenômeno.

2. O impacto da tecnologia na vida social: As professoras Ga-eun, Sehee e Jihee tiveram suas vidas profundamente afetadas pela tecnologia. Analise como a tecnologia, apesar de seus benefícios, pode gerar novas formas de violência e desigualdade na sociedade contemporânea.

3. A falha das instituições: O texto critica a inércia policial, a burocracia insensível e a omissão estatal diante dos crimes de deepfake. Como a sociologia pode explicar essa falha das instituições em proteger as vítimas? Discuta o papel do poder, da lei e da cultura organizacional nesse contexto.

4. A violência de gênero no ambiente escolar: As professoras são as principais vítimas dos crimes de deepfake no texto. Como a sociologia pode analisar a violência de gênero no ambiente escolar? Discuta o papel do machismo, da cultura do estupro e da falta de representatividade feminina nesse contexto.

5. A busca por justiça e reparação: As professoras Ga-eun, Sehee e Jihee buscam justiça e reparação após serem vítimas de crimes de deepfake. Quais são os desafios enfrentados por elas nessa busca? Discuta o papel do sistema jurídico, da mídia e da sociedade civil na luta contra a violência online.

terça-feira, 4 de março de 2025

Cipós e Memórias ("Pais permissivos produzem filhos tiranos." - Provérbio popular)

 

Cipós e Memórias ("Pais permissivos produzem filhos tiranos." - Provérbio popular)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Na vastidão do mundo, poucas coisas me entristecem tanto quanto presenciar pais amordaçados, impotentes diante de sua própria prole. Vejo-os hesitantes, temerosos de impor limites, como se a correção fosse um pecado capital, um ato de barbárie imperdoável. E, nesse abismo de frouxidão, nesse mar de condescendência, percebo a escola naufragar, o futuro se esvair pelos dedos.

Recordo-me, como se fosse ontem, das lapadas memoráveis de Dona Maria José. Não, não evoco a violência gratuita, mas a pedagogia ancestral daquela mulher de fibra, cujo método, embora rústico, era carregado de amor e propósito. Uma surra, sim, quando a ocasião clamava por rigor. E quem ousaria dizer que tais corretivos me causaram mazelas? Pelo contrário, forjaram em mim um caráter resiliente, uma bússola moral inabalável.

Jamais me esqueço daquele episódio pueril, quando meu tio José Gonçalo deu parte ao soldado Florêncio porque o filho de Dona Maria José estava atirando com garrucha, feita de pé de bicicleta, em sua privada de Duratex. Eu era o desobediente. A emoção do estampido, o buraco do chumbo no alvo e a fumaça da pólvora me cegaram, a ponto de não respeitar a propriedade alheia. Chegando em casa, o cipó de goiabeira cantou em minhas costas, não como vingança, mas como lição indelével. "Vergonha nunca matou", dizia ela, "mas a falta dela pode te levar à perdição." Ela me informou que o Soldado Florêncio tinha visitado a nossa casa por minha causa.

E assim, entre dores e ensinamentos, fui moldado. Aprendi a refrear os impulsos, a respeitar o próximo, a discernir o lícito do proibido. Lições que a rua, em sua crueza implacável, jamais ensinaria com tamanha precisão. Hoje, observo pais reféns dos próprios filhos, justificando a leniência com discursos modernosos, ignorando que a ausência de limites pavimenta o caminho para a delinquência, para o caos social.

A correção firme, temperada pela justiça e pelo afeto, sempre foi e sempre será o alicerce da formação humana. O que se esvai não é apenas a autoridade parental, mas a compreensão de que o limite, longe de ser um grilhão, é o leme que orienta a embarcação da vida. No tempo de outrora, um olhar reprovador bastava, pois o respeito era moeda corrente. Hoje, o excesso de zelo descamba para a omissão, para o abandono disfarçado de proteção. Se a família abdica de educar, a rua assume o bastão, com métodos brutais e sequelas profundas. Urge, portanto, uma reflexão coletiva: estamos, de fato, protegendo nossas crianças, ou apenas lhes legando um futuro de incertezas e ilusões?

E o povo, na sabedoria ancestral das ruas, conclama: "Antigamente, meu amigo, era cipó de marmeleiro e pronto! Menino aprendia na carne o que era respeito. Hoje, qualquer coisinha é 'trauma', 'bullying', 'agressão'. Mas me diga, a bandidagem lá na frente vai ter paciência de dar sermão? A rua educa sem manual, e a conta chega, amarga e salgada. O mundo virou de pernas pro ar mesmo!"

E eu, testemunha ocular dessa metamorfose social, pergunto-me: até quando insistiremos nesse equívoco? Até quando trocaremos a bússola da disciplina pela deriva da permissividade? A rua, lócus da barbárie travestida de liberdade, aguarda faminta, pronta a engolir os filhos que a escola e a família, em conluio silencioso, se recusam a educar. Urge resgatarmos a coragem de corrigir, de orientar, de amar com firmeza, pois o futuro de nossos jovens, e da sociedade que almejamos construir, depende dessa urgente e inadiável retomada de responsabilidade.


Preparei 5 questões discursivas e simples para você refletir sobre a temática da disciplina e da educação sob a perspectiva da sociologia:


1. A crônica descreve uma mudança nas práticas parentais, contrastando a "frouxidão" e "condescendência" atuais com a "pedagogia ancestral" baseada na correção firme. Sob a perspectiva da sociologia da educação, como podemos analisar essa transformação nas abordagens disciplinares ao longo do tempo? Quais fatores sociais, culturais e históricos podem ter contribuído para essa mudança nas práticas de criação de filhos?

2. O autor da crônica valoriza a disciplina como "alicerce da formação humana" e critica a ausência de limites como um caminho para a "delinquência" e o "caos social". De que maneira a sociologia do desvio e da criminalidade pode nos ajudar a analisar a relação entre disciplina, socialização e comportamento desviante? A ausência de disciplina familiar e escolar pode ser considerada um fator determinante para o aumento da criminalidade e da desordem social?

3. O texto evoca a figura de "Dona Maria José" e o uso do "cipó de goiabeira" como métodos de correção, associando-os à formação de um "caráter resiliente" e uma "bússola moral inabalável". Sob a ótica da sociologia da família e da infância, como podemos analisar o papel da disciplina física na educação? Quais os possíveis impactos da violência física na formação da personalidade e no desenvolvimento social das crianças, considerando diferentes perspectivas teóricas e evidências empíricas?

4. A crônica apresenta um contraste entre a educação familiar e a "educação da rua", sugerindo que, na ausência da primeira, a segunda se impõe de forma "brutal" e com "sequelas profundas". De que maneira a sociologia urbana pode nos ajudar a compreender a "rua" como um espaço de socialização e educação? Quais os diferentes papéis e influências da família, da escola e da rua na formação dos jovens em diferentes contextos sociais e urbanos?

5. Em suma, o texto conclama a "resgatarmos a coragem de corrigir, de orientar, de amar com firmeza", argumentando que o futuro da sociedade depende dessa "retomada de responsabilidade". Em sua opinião, quais seriam os desafios e as possibilidades de se promover uma "retomada da responsabilidade" na educação contemporânea, conciliando a necessidade de disciplina e limites com os princípios de respeito, diálogo e autonomia na formação das novas gerações? Como a sociologia pode contribuir para repensarmos as práticas educativas e construirmos sociedades mais justas e equilibradas?

domingo, 2 de março de 2025

ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VIII(5) “A Mente Aberta: O Caminho para a Verdadeira Sabedoria”

 Ensaio 



ANTIFARISEU — Ensaio Teológico VIII(5) “A Mente Aberta: O Caminho para a Verdadeira Sabedoria”

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria, conquistada por meio do conhecimento e da experiência, não pode ser imposta. O discurso evangélico fanático propõe uma visão unilateral desse conceito, baseando-se exclusivamente em preceitos religiosos e citações bíblicas. No entanto, essa abordagem carece de uma perspectiva mais ampla e atualizada. Como afirma Provérbios 1:7, "O temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução."

Bertrand Russell, um dos mais notáveis filósofos do século XX, observou que "O todo é algo além da parte, e na mais absoluta confiança há sempre uma parcela de ceticismo." Sua reflexão destaca a importância de questionar crenças estabelecidas e buscar a verdade por meio do pensamento crítico e do ceticismo saudável.

O conhecimento contemporâneo se sustenta sobre os alicerces do passado, mas também se renova com descobertas e reflexões do presente. Carl Sagan, renomado cientista e divulgador da ciência, afirmou que "A sabedoria é filha das desilusões, não do princípio da autoridade." Essa perspectiva reforça a necessidade de aprender com os erros e superar as limitações do pensamento dogmático.

A verdadeira sabedoria não está na aceitação cega de preceitos religiosos ou na mera repetição de citações de autoridades, mas na capacidade de cultivar uma mente aberta e inquisitiva. Albert Einstein, um dos maiores gênios da física, afirmou: "A mente é como um pára-quedas. Ela só funciona quando está aberta." Sua metáfora ilustra a importância de estar receptivo ao novo e ao desconhecido.

Além disso, a sabedoria não é um destino final, mas uma jornada contínua de aprendizado e transformação. Como Sócrates afirmou: "Só sei que nada sei." Essa humildade intelectual reconhece os limites do conhecimento humano e a necessidade de estar sempre disposto a aprender e evoluir.

Em suma, a busca pela sabedoria deve ser guiada pelo ceticismo saudável, pela mente aberta e pela humildade intelectual. Ao contrário da visão imposta pelas igrejas, a sabedoria não é uma verdade absoluta e imutável, mas um processo dinâmico de questionamento, aprendizado e crescimento contínuo. Como nos lembra Tiago 1:5, "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada."


Preparei 5 questões discursivas e simples para estimular a reflexão sociológica sobre a natureza da sabedoria e do conhecimento em diferentes contextos sociais:


1. O texto contrasta uma visão religiosa dogmática da sabedoria com uma perspectiva mais laica e crítica, baseada no ceticismo e na abertura intelectual. Sob a ótica da sociologia do conhecimento, como podemos analisar essa tensão entre diferentes formas de conceber e buscar a sabedoria? Quais os papéis da religião, da ciência e da filosofia na construção de diferentes regimes de verdade e sabedoria em sociedades diversas?

2. A crônica argumenta que "a sabedoria, conquistada por meio do conhecimento e da experiência, não pode ser imposta", criticando a visão "unilateral" do discurso evangélico fanático. De que maneira a sociologia do poder e da cultura pode nos ajudar a compreender como diferentes grupos sociais e instituições disputam a autoridade na definição e imposição de determinadas formas de "sabedoria"? Como a imposição de uma visão única de sabedoria pode gerar exclusão e conflitos sociais?

3. O texto valoriza o "pensamento crítico", o "ceticismo saudável" e a "mente aberta" como elementos essenciais na busca pela sabedoria, contrapondo-se à "aceitação cega de preceitos religiosos ou à mera repetição de citações de autoridades". Como a sociologia da educação pode analisar o papel da escola e de outras instituições na promoção do pensamento crítico e da autonomia intelectual dos indivíduos? Quais os desafios e obstáculos sociais e culturais para o desenvolvimento de uma cultura de questionamento e abertura ao novo?

4. A crônica cita diversos autores, como Bertrand Russell, Carl Sagan, Albert Einstein e Sócrates, para sustentar sua visão de sabedoria como um processo dinâmico e aberto. De que maneira a sociologia da ciência e da cultura pode nos ajudar a compreender como diferentes figuras de autoridade intelectual (filósofos, cientistas, líderes religiosos, etc.) influenciam a construção e a disseminação de diferentes concepções de sabedoria e conhecimento na sociedade? Como o reconhecimento da pluralidade de autoridades intelectuais pode enriquecer o debate público sobre temas complexos e controversos?

5. Em suma, o texto defende que "a verdadeira sabedoria não é um destino final, mas uma jornada contínua de aprendizado e transformação", citando a humildade socrática ("Só sei que nada sei"). Na sua perspectiva sociológica, como podemos analisar a importância da humildade intelectual e do reconhecimento dos limites do conhecimento humano na busca por uma sabedoria mais ampla e inclusiva? De que maneira a valorização da dúvida e da incerteza pode contribuir para o diálogo intercultural e para a construção de sociedades mais tolerantes e abertas à diversidade de saberes e visões de mundo?

A Falácia da Educação Híbrida como Solução Educacional ("A tecnologia é apenas uma ferramenta. Em termos de motivar os garotos e deixá-los animados em relação ao aprendizado, você precisa de um professor." - Nancy Kassebaum)

 Crônica 


A Falácia da Educação Híbrida como Solução Educacional ("A tecnologia é apenas uma ferramenta. Em termos de motivar os garotos e deixá-los animados em relação ao aprendizado, você precisa de um professor." - Nancy Kassebaum)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

No turbilhão de modismos pedagógicos, surge agora a promessa da educação híbrida, vendida como a panaceia para os males do ensino contemporâneo. O Ministério da Educação, em sua infinita sabedoria burocrática, orquestra cursos, edita guias e propaga o verbo da inovação tecnológica. Mas, por trás da cortina de fumaça digital, paira o espectro de um retrocesso, a maquiagem de problemas estruturais com o verniz da modernidade.

Lembro-me de ter lido, não faz muito tempo, as palavras incisivas de um renomado pensador da educação, que, com a lucidez de quem enxerga além do óbvio, sentenciou: “Digitalizar a miséria não produz milagre, apenas potencializa a própria miséria no universo digital.” E a frase ecoa em minha mente, confrontando o discurso oficial que nos quer convencer de que tablets e plataformas online são a chave para a Terra Prometida educacional.

Os números, esses arautos da realidade, escancaram a farsa. Uma pesquisa recente, divulgada por um instituto de credibilidade inquestionável, revela um abismo digital que aparta milhões de brasileiros do paraíso tecnológico. “Quase trinta milhões de cidadãos permanecem à margem da inclusão digital”, alertava o estudo, “transformando a tão propalada educação híbrida em mais um instrumento de exclusão, em vez de ascensão social.” O contraste entre o marketing governamental e a crueza dos dados é gritante, revelando a fragilidade de um modelo que se pretende universal, mas que nasce intrinsecamente desigual.

A retórica da “capacitação docente” soa como um mantra vazio quando confrontada com a precariedade das escolas, a desvalorização da carreira e a falta de infraestrutura básica. Um respeitado especialista em tecnologia educacional, em recente entrevista, foi categórico: “Professores, por mais bem intencionados e capacitados que sejam, tornam-se meros reprodutores digitais de um sistema falido se as bases estruturais do ensino não forem solidamente reconstruídas.” A metáfora é dura, mas precisa: adiantar a tecnologia sem alicerçar a educação é como construir um arranha-céu sobre areia movediça.

Ao revisitar a história das políticas educacionais em nosso país, deparo-me com um padrão inquietante. Soluções tecnológicas mirabolantes são alçadas ao pódio antes mesmo que as questões mais elementares sejam equacionadas. Um influente relatório de uma organização internacional dedicada ao estudo da educação global é taxativo: “As nações que priorizaram o saneamento básico, a infraestrutura física das escolas e a valorização do corpo docente antes de se aventurarem na digitalização desenfreada ostentam resultados educacionais incomparavelmente superiores em rankings internacionais.” A lição, escancarada pelos fatos, parece convenientemente ignorada em nossos gabinetes ministeriais.

A dita “educação híbrida”, portanto, longe de representar um salto qualitativo, configura-se como um engodo, um desvio estratégico que nos afasta do cerne da questão. Desviar o foco da desvalorização dos mestres, da penúria infraestrutural e da chaga da desigualdade social para o brilho sedutor das telas é trocar o essencial pelo acessório, o substancial pelo superficial. Retomo, então, as palavras pungentes de uma filósofa contemporânea, cuja sabedoria ilumina a escuridão do debate educacional: “Sistemas de ensino que privilegiam a tecnologia em detrimento da equidade formam legiões de indivíduos digitalmente habilidosos, porém, lamentavelmente, humanamente alienados.” E, diante deste retrato desolador, resta-me a inquietante pergunta: até quando permutaremos a substância da educação pelo espectro vazio da inovação tecnológica?


Preparei 5 questões discursivas e simples para você refletir sobre a problemática da educação híbrida sob a perspectiva da sociologia da educação:


1. O texto critica a educação híbrida como uma "maquiagem de problemas estruturais com o verniz da modernidade", sugerindo que ela mascara problemas mais profundos do sistema educacional. "Sob a perspectiva da sociologia da educação, como podemos analisar a relação entre inovação tecnológica e problemas estruturais na educação? A adoção de tecnologias digitais pode, de fato, mascarar ou agravar desigualdades preexistentes no sistema educacional?"

2. A crônica argumenta que "digitalizar a miséria não produz milagre, apenas potencializa a própria miséria no universo digital", referindo-se à falta de acesso digital para milhões de brasileiros. "De que maneira a sociologia pode nos ajudar a compreender as desigualdades de acesso à tecnologia como um fator de exclusão social e educacional? Como a falta de equidade digital impacta a implementação e os resultados da educação híbrida em diferentes contextos sociais?"

3. O texto questiona a retórica da "capacitação docente" no contexto da educação híbrida, argumentando que "professores bem formados em sistemas mal estruturados reproduzem digitalmente as mesmas falhas do ensino tradicional". "Como a sociologia do trabalho docente pode analisar os desafios da formação de professores para a educação digital e híbrida? Quais as condições de trabalho e infraestrutura necessárias para que a capacitação docente em tecnologias digitais seja efetiva e contribua para a melhoria da qualidade da educação?"

4. A crônica destaca que "nações que priorizaram o saneamento básico, a infraestrutura física das escolas e a valorização do corpo docente antes de se aventurarem na digitalização desenfreada ostentam resultados educacionais incomparavelmente superiores em rankings internacionais". "De que maneira a sociologia pode nos ajudar a compreender a importância dos fatores socioeconômicos e da infraestrutura básica para o sucesso das políticas educacionais? A priorização de investimentos em tecnologia digital em detrimento de outras áreas da educação pode ser considerada uma política pública eficaz e equitativa?"

5. Em suma, o texto questiona "até quando permutaremos a substância da educação pelo espectro vazio da inovação tecnológica?". "Em sua opinião, quais são os principais desafios e dilemas éticos e políticos da adoção da educação híbrida em larga escala? Como a sociologia da educação pode contribuir para um debate mais crítico e aprofundado sobre o papel da tecnologia na educação e para a construção de um sistema educacional mais justo e inclusivo?"

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Uma Realidade Educacional Distorcida ("O declínio da educação anuncia a decadência de uma nação." - Platão)


Uma Realidade Educacional Distorcida ("O declínio da educação anuncia a decadência de uma nação." - Platão)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Na manhã seguinte à entrega dos boletins, a escola foi tomada por uma tensão que se espalhou rapidamente, como fogo em palha seca. O pai da menina, furioso, exigia explicações: como sua filha poderia ter tirado apenas dois em uma prova? “Isso é o que ela mereceu!”, disse a mãe, com o tom de quem tenta justificar o injustificável. No dia seguinte, uma reunião na escola. A diretora, com uma autoridade que parecia vir de algum lugar indefinido, ordenou: “Proibido dar menos que sete. Se a criança tirar dois ou três, a culpa é de vocês, professores. Isso engana os pais, porque eles não aceitam que seus filhos não estão aprendendo.” Eu, ali, era apenas um espectador dessa ordem. O que se passou em minha mente foi um turbilhão: como justificar uma farsa dessa magnitude?

Aquela situação, onde o aprendizado real havia sido substituído pela mera aparência de aprendizado, não era novidade para mim. No entanto, o que vi no dia seguinte me abalou ainda mais. Em outra escola, um menino de oito anos, sem hesitar, foi até a cozinha, abriu a bolsa da moça da limpeza e tirou cinco reais. Quando ela o flagrou, uma gritaria tomou conta do ambiente. “Ladrão! Sem vergonha!” O grito dela ecoou pelos corredores, e a diretora, como que surgindo do nada, desceu as escadas. “O que houve?”, perguntou, com sua autoridade de quem resolve tudo com uma palavra. “Ele pegou meus cinco reais do ônibus!” O menino, parado, não dizia uma palavra. “Toma dez”, ordenou a diretora. “Cala a boca, vai trabalhar, guria, e volta para a aula.” E, assim, tudo parecia resolvido, como se fosse um simples erro, como se a moral do menino não importasse. Mas a verdade era outra. Ali, em meio à bagunça e ao desdém, um ladrão de oito anos estava sendo ignorado por um sistema que se recusava a reconhecer suas falhas.

Essa é a realidade distorcida que vivemos. Em vez de educar, as escolas parecem mais preocupadas em agradar os pais, em proteger suas imagens, mesmo que isso signifique omitir a verdade. Em muitas dessas instituições, não se pode mais advertir o aluno, nem impor limites. O professor, em vez de ser o guia, é silenciado, uma figura decorativa, impotente diante de um sistema que prefere fazer de conta que tudo está bem. E o que isso gera? Um ciclo de desrespeito que se perpetua, uma geração sem disciplina, sem caráter. A indisciplina se torna regra, e a falta de aprendizado se disfarça de sucesso.

Lembro de um pai que, em uma reunião de escola, arremessou as chaves de sua casa sobre a mesa da diretora e disse: “Eu pago o salário de vocês! Não se esqueçam disso!” Como se o dinheiro fosse a única medida de valor em um ambiente que deveria ser de educação e respeito. O que ele não percebe é que a falta de disciplina e limites custa mais do que qualquer salário. A falta de respeito por parte de pais, alunos e até da própria instituição leva a um futuro incerto, onde o ensino não prepara mais para o mundo real.

A escola, com sua falsa sensação de autoridade, já não é mais um espaço genuíno de aprendizado. Transformou-se em um campo de batalha, onde os professores, acuados, são impedidos de ensinar, de impor limites, de educar. Hoje, no lugar de um professor respeitado, temos uma figura desmoralizada, que não pode mais disciplinar nem exigir nada de seus alunos. E, ao invés de formar cidadãos conscientes, o sistema educacional vai moldando uma geração sem caráter e sem responsabilidade.

Como educador, sinto o peso dessa transformação. Fico me perguntando: até quando vamos permitir que isso aconteça? Até quando vamos aceitar que nossa profissão seja tratada com tanto desdém? Chega o momento em que precisamos nos levantar e dizer que a educação não é uma mercadoria, que a autoridade não é negociável, que a disciplina e o respeito são valores que devem ser preservados. O professor deve ser respeitado, não apenas pelo salário, mas pela importância do seu papel. E o sistema precisa reconhecer isso, ou o que teremos é uma geração perdida, sem limites, sem rumo.

Eu, como professor, me recuso a ser parte dessa farsa. A verdadeira educação não se faz com tapinhas nas costas ou promessas vazias. Ela exige coragem, exige respeito. E, mais importante, exige a verdade.


Preparei 5 questões discursivas e simples para você refletir sobre a crise no sistema educacional contemporâneo, sob a perspectiva da sociologia da educação e do trabalho:


1. A crônica descreve escolas onde a "aparência de aprendizado" e a preocupação em "agradar os pais" se sobrepõem ao ensino real e à disciplina. "Sob a ótica da sociologia da educação, como podemos analisar essa inversão de valores no contexto escolar contemporâneo? Que fatores sociais e culturais podem estar contribuindo para essa priorização da 'aparência' em detrimento da 'essência' da educação?"

2. O texto relata a desvalorização da figura do professor, que se torna "silenciado" e "impotente", perdendo sua autoridade e capacidade de disciplinar. "Como a sociologia do trabalho docente pode nos ajudar a entender esse processo de desprofissionalização e desvalorização dos professores? Quais as consequências dessa desvalorização para a qualidade da educação e para a motivação dos educadores?"

3. A crônica aborda a questão da indisciplina e da falta de limites nas escolas, mencionando alunos que "fazem o que querem" e pais que "não aceitam que seus filhos não aprendem". "De que maneira a sociologia pode analisar a relação entre escola, família e sociedade na produção e reprodução da indisciplina e da violência no ambiente escolar? Quais as implicações sociais e culturais da falta de limites na formação das novas gerações?"

4. O texto critica um sistema educacional que "prefere fingir que tudo está bem" e "omite a verdade" para evitar conflitos e manter as aparências. "Como a sociologia pode nos ajudar a compreender os mecanismos de manutenção de 'fachadas' e de 'ilusões' em instituições sociais como a escola? Quais os custos sociais e educacionais dessa cultura da dissimulação e da falta de transparência?"

5. Em suma, a crônica questiona "até quando vamos permitir que isso aconteça?" e conclama os professores a "se levantarem" e "dizerem que a educação não é mercadoria". "Na sua perspectiva sociológica, quais seriam os caminhos possíveis para reverter esse cenário de crise na educação? Que papel podem desempenhar os professores, as famílias, as escolas, o Estado e a sociedade em geral na construção de um sistema educacional mais justo, eficiente e valorizador dos profissionais da educação?

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

O Dia Nacional do Livro Didático ("Livros são os mais silenciosos e constantes amigos; os mais acessíveis e sábios conselheiros; e os mais pacientes professores." - Charles William Eliot)

 

O Dia Nacional do Livro Didático ("Livros são os mais silenciosos e constantes amigos; os mais acessíveis e sábios conselheiros; e os mais pacientes professores." - Charles William Eliot)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Hoje, 27 de fevereiro, o calendário me lembra de algo singelo, mas fundamental: o Dia Nacional do Livro Didático. Uma data que, talvez, passe despercebida no turbilhão de notícias e redes sociais, mas que, ao me fazer parar por um momento, me leva a refletir sobre um objeto tão comum, tão presente em nossas vidas escolares, e, por vezes, tão subestimado: o livro didático.

Confesso que, por um instante, me vi diante da imagem de pilhas de livros empoeirados, capas desbotadas e páginas amareladas pelo tempo. Uma cena que talvez desperte uma nostalgia, mas que não faz jus à real importância desse silencioso companheiro do aprendizado. Porque, ao contrário do que a pressa do mundo digital nos faz crer, o livro didático pulsa vida, organiza saberes e abre caminhos para o conhecimento.

Foi então que lembrei de Abílio César Borges, nome que a reportagem me apresentou. Educador visionário do século XIX, ele, em tempos de ensino precário e oralidade predominante, enxergou no livro didático uma ferramenta essencial para modernizar a educação no Brasil. Ele compreendeu, lá atrás, que sistematizar o conhecimento em páginas impressas era democratizar o acesso ao saber, pavimentando o caminho para um aprendizado mais sólido e igualitário. E quanta razão ele tinha!

Folheando mentalmente as páginas dos livros que marcaram minha trajetória, percebi a espinha dorsal da minha formação ali, organizada em capítulos, exercícios e ilustrações. Matemática, português, ciências, história... Disciplinas que, de forma estruturada, me conduziram por diferentes fases do aprendizado, construindo alicerces para o pensamento crítico, para a criatividade, para a autonomia intelectual.

Ludovico Omar Bernardi, diretor acadêmico citado na matéria, tocou num ponto crucial: mesmo na era digital, o livro didático resiste, reinventa-se e ganha novo valor. Em tempos de excesso de telas e informações fragmentadas, ele se torna um oásis de concentração, um convite à leitura atenta, um despertar para o gosto pelo estudo. Especialmente para as crianças, imersas em um universo digital frenético, o livro físico oferece um respiro — um momento de pausa, de contato palpável com o saber.

A democratização do ensino, tão bem lembrada na reportagem, ecoou fundo em mim. Em um país de tantas desigualdades, o livro didático, para muitos estudantes, é a principal, senão a única, fonte de informação. Garantir o acesso a materiais de qualidade é, portanto, um passo fundamental para reduzir as distâncias, construir uma educação mais justa e inclusiva e oferecer a todos as mesmas oportunidades de desenvolvimento.

Neste Dia Nacional do Livro Didático, celebro não apenas o objeto em si, mas tudo o que ele representa. Celebro a organização do conhecimento, o estímulo à leitura, a democratização do ensino, o apoio aos professores e o futuro das crianças. Celebro a resistência silenciosa de um instrumento pedagógico que, mesmo em tempos de algoritmos e inteligência artificial, mantém-se indispensável, essencial, vivo. E, ao fechar os olhos, quase consigo sentir o cheiro inconfundível de livro novo, prenúncio de descobertas, de aprendizados e de um futuro mais promissor para todos nós.


Preparei 5 questões discursivas e simples para você refletir sobre o papel do livro didático na sociedade, sob a perspectiva da sociologia da educação:


1. O texto descreve o livro didático como um "companheiro silencioso do aprendizado" e destaca seu papel na organização do conhecimento. Sob a perspectiva sociológica, como podemos analisar o livro didático como um instrumento de socialização e transmissão de conhecimento, considerando seu papel na formação de indivíduos em diferentes contextos sociais?

2. A crônica menciona Abílio César Borges e sua visão do livro didático como ferramenta para "modernizar a educação no Brasil" e "democratizar o acesso ao saber". De que maneira a sociologia da educação pode nos ajudar a compreender o papel histórico dos livros didáticos na conformação dos sistemas educacionais e na promoção (ou não) da igualdade de oportunidades educacionais em diferentes sociedades?

3. O texto argumenta que, mesmo na era digital, o livro didático "resiste, reinventa-se e ganha novo valor", especialmente como "oásis de concentração" e "convite à leitura atenta". Considerando as transformações sociais e tecnológicas contemporâneas, como a sociologia pode analisar a persistência e a ressignificação do livro didático no contexto da cultura digital e da crescente importância das tecnologias na educação?

4. A crônica enfatiza que, em um país desigual como o Brasil, o livro didático pode ser "a principal, senão a única, fonte de informação" para muitos estudantes, e que "garantir o acesso a materiais de qualidade é um passo fundamental para reduzir as distâncias". De que maneira a sociologia pode nos ajudar a compreender as desigualdades de acesso ao livro didático e a outros recursos educacionais como um reflexo e um fator de reprodução das desigualdades sociais mais amplas, e quais políticas públicas poderiam ser propostas para mitigar essas desigualdades?

5. Em suma, o texto celebra o livro didático como um "instrumento pedagógico indispensável, essencial, vivo". Em sua opinião, quais são os principais desafios e potencialidades do livro didático no século XXI, considerando as demandas por uma educação mais crítica, inclusiva e conectada com as transformações sociais, culturais e tecnológicas contemporâneas, e como a sociologia da educação pode contribuir para refletir sobre esses desafios e potencialidades?