EDUCAÇÃO: CICATRIZES DA PERSEGUIÇÃO! ("O mal que fazemos não suscita tanto a perseguição e o ódio como as nossas boas qualidades." — François La Rochefoucauld)
A sala da diretora sempre me pareceu um tribunal improvisado. Há um fluxo constante de alunos por ali, ora em busca de um diálogo, ora carregando queixas que mais parecem sentenças prontas. E, muitas vezes, quando eles saem, é a vez dos professores entrarem, convocados não para uma conversa, mas para prestar contas (assinara o relatório administrativo). O pior são os líderes que apreciam esses informantes. Quando os vejo ali, já sei que algo está por vir: uma denúncia ou uma advertência.
Observo essa dinâmica com certa inquietação. O limite de um aluno acaba delimitando os demais, e o coletivo gira em torno dos interesses individuais. A escola, que deveria ser espaço de crescimento e formação, se perde em formalidades e em procedimentos que garantem a manutenção de um sistema, mas não necessariamente da educação. Como bem diz Martha Medeiros: "Paixão é a força motora que justifica nossa existência, mas a perseguição desenfreada por esse privilégio nos torna dementes, viramos parasitas de uma obsessão".
Em uma de minhas reflexões diárias, publiquei no Facebook: "Na sala sem professor, os alunos esperam em silêncio para fazer bagunça quando ele chega. Zelam de sua imagem para o sistema, mas não se preocupam com a imagem que deixam para quem os avalia". Foi o suficiente para que um amigo virtual me questionasse: "Professor, parece tão insatisfeito com a educação!".
Não foi uma pergunta simples de responder. Mas, depois de uma pausa reflexiva, concordei. Sim, estou insatisfeito. Mas não com o ensino em si, pois ainda existem aqueles que desejam aprender, que buscam conhecimento como quem bebe água no deserto. Minha insatisfação é com o que fizeram da educação. As coordenações, que deveriam orientar, tornaram-se verdadeiros palcos de perseguição. Mercenários criaram labirintos burocráticos que garantem seus cargos, mas dificultam o trabalho de quem realmente ensina. O excesso de normas sufoca a criatividade e impõe barreiras ao verdadeiro aprendizado. Estuda-se não para a vida, mas para justificar a existência da escola. Mas se é para ser filantrópica (dar comida), qualquer outra entidade pode fazer o mesmo.
Meu interlocutor ainda tentou me consolar: "Professor, lembre-se de que para aqueles que querem, o senhor faz a diferença; os que não querem, a vida ensina". Mas eis a questão: a escola ensina para a vida ou deve deixar que a vida ensine aqueles que a escola não conseguiu alcançar? Talvez sejam tantos os ensinados pela escola que eles vão ensinar a vida a ser cruel. Se o ensino fosse realmente eficiente, talvez o mundo fosse um lugar menos hostil, pois não seríamos obrigados a aprender às custas do sofrimento.
Outra incoerência que me incomoda: tenho quinze aulas semanais no vespertino e poderia organizá-las em três dias. No entanto, sou obrigado a comparecer um quarto dia — não para ensinar, mas para planejar, num espaço onde nem sempre tenho as condições ideais. Planejar é essencial, mas não pode ser reduzido a um cumprimento de expediente. Eu poderia fazer isso de forma mais eficaz em casa, numa biblioteca ou num ambiente mais adequado. Mas não. Há regras a cumprir, mesmo que inúteis.
E assim seguimos, entre insatisfação e resignação. Entre a vontade de fazer diferença e os muros invisíveis que nos impedem. Vance Havner tinha razão ao dizer que "a popularidade matou mais profetas do que a perseguição". O temor da rejeição nos amarra, enquanto aqueles que brilham demais são vistos como ameaças.
No fim das contas, me resta a esperança de que o verdadeiro ensino resista, mesmo que escondido nas entrelinhas, nas conversas furtivas, na paixão que ainda persiste em alguns olhos atentos. Pois, afinal, não é a popularidade que move o verdadeiro professor, mas o desejo sincero de ensinar. Ainda que a escola insista em fazer o contrário.
Questões Discursivas sobre o Texto:
1. O autor descreve a sala da diretora como um "tribunal improvisado". Discuta essa metáfora, explorando as relações de poder presentes no ambiente escolar e como elas se manifestam na dinâmica entre alunos, professores e direção.
2. O autor expressa insatisfação com o que se "fizeram da educação". Identifique e analise os pontos de crítica apresentados no texto, como a burocratização do ensino, a perseguição de professores e a falta de foco no aprendizado significativo.
3. A frase "a escola ensina para a vida ou deve deixar que a vida ensine aqueles que a escola não conseguiu alcançar?" Levanta uma questão fundamental sobre o papel da escola na formação dos indivíduos. Discuta essa questão, argumentando sobre a importância da educação formal para o desenvolvimento pessoal e social.
4. O autor critica a obrigatoriedade de comparecer à escola para planejar aulas, argumentando que poderia realizar essa tarefa de forma mais eficiente em outros ambientes. Qual a sua opinião sobre essa questão? Discuta a importância do planejamento para a prática docente e como a organização do trabalho dos professores pode impactar a qualidade do ensino.
5. A frase: "a popularidade matou mais profetas do que a perseguição" sugere que o medo da rejeição pode ser um obstáculo para a transformação da educação. Discuta essa afirmação, refletindo sobre o papel dos professores como agentes de mudança e os desafios que enfrentam ao questionar o status quo.
A sala da diretora sempre me pareceu um tribunal improvisado. Há um fluxo constante de alunos por ali, ora em busca de um diálogo, ora carregando queixas que mais parecem sentenças prontas. E, muitas vezes, quando eles saem, é a vez dos professores entrarem, convocados não para uma conversa, mas para prestar contas (assinara o relatório administrativo). O pior são os líderes que apreciam esses informantes. Quando os vejo ali, já sei que algo está por vir: uma denúncia ou uma advertência.
Observo essa dinâmica com certa inquietação. O limite de um aluno acaba delimitando os demais, e o coletivo gira em torno dos interesses individuais. A escola, que deveria ser espaço de crescimento e formação, se perde em formalidades e em procedimentos que garantem a manutenção de um sistema, mas não necessariamente da educação. Como bem diz Martha Medeiros: "Paixão é a força motora que justifica nossa existência, mas a perseguição desenfreada por esse privilégio nos torna dementes, viramos parasitas de uma obsessão".
Em uma de minhas reflexões diárias, publiquei no Facebook: "Na sala sem professor, os alunos esperam em silêncio para fazer bagunça quando ele chega. Zelam de sua imagem para o sistema, mas não se preocupam com a imagem que deixam para quem os avalia". Foi o suficiente para que um amigo virtual me questionasse: "Professor, parece tão insatisfeito com a educação!".
Não foi uma pergunta simples de responder. Mas, depois de uma pausa reflexiva, concordei. Sim, estou insatisfeito. Mas não com o ensino em si, pois ainda existem aqueles que desejam aprender, que buscam conhecimento como quem bebe água no deserto. Minha insatisfação é com o que fizeram da educação. As coordenações, que deveriam orientar, tornaram-se verdadeiros palcos de perseguição. Mercenários criaram labirintos burocráticos que garantem seus cargos, mas dificultam o trabalho de quem realmente ensina. O excesso de normas sufoca a criatividade e impõe barreiras ao verdadeiro aprendizado. Estuda-se não para a vida, mas para justificar a existência da escola. Mas se é para ser filantrópica (dar comida), qualquer outra entidade pode fazer o mesmo.
Meu interlocutor ainda tentou me consolar: "Professor, lembre-se de que para aqueles que querem, o senhor faz a diferença; os que não querem, a vida ensina". Mas eis a questão: a escola ensina para a vida ou deve deixar que a vida ensine aqueles que a escola não conseguiu alcançar? Talvez sejam tantos os ensinados pela escola que eles vão ensinar a vida a ser cruel. Se o ensino fosse realmente eficiente, talvez o mundo fosse um lugar menos hostil, pois não seríamos obrigados a aprender às custas do sofrimento.
Outra incoerência que me incomoda: tenho quinze aulas semanais no vespertino e poderia organizá-las em três dias. No entanto, sou obrigado a comparecer um quarto dia — não para ensinar, mas para planejar, num espaço onde nem sempre tenho as condições ideais. Planejar é essencial, mas não pode ser reduzido a um cumprimento de expediente. Eu poderia fazer isso de forma mais eficaz em casa, numa biblioteca ou num ambiente mais adequado. Mas não. Há regras a cumprir, mesmo que inúteis.
E assim seguimos, entre insatisfação e resignação. Entre a vontade de fazer diferença e os muros invisíveis que nos impedem. Vance Havner tinha razão ao dizer que "a popularidade matou mais profetas do que a perseguição". O temor da rejeição nos amarra, enquanto aqueles que brilham demais são vistos como ameaças.
No fim das contas, me resta a esperança de que o verdadeiro ensino resista, mesmo que escondido nas entrelinhas, nas conversas furtivas, na paixão que ainda persiste em alguns olhos atentos. Pois, afinal, não é a popularidade que move o verdadeiro professor, mas o desejo sincero de ensinar. Ainda que a escola insista em fazer o contrário.
Questões Discursivas sobre o Texto:
1. O autor descreve a sala da diretora como um "tribunal improvisado". Discuta essa metáfora, explorando as relações de poder presentes no ambiente escolar e como elas se manifestam na dinâmica entre alunos, professores e direção.
2. O autor expressa insatisfação com o que se "fizeram da educação". Identifique e analise os pontos de crítica apresentados no texto, como a burocratização do ensino, a perseguição de professores e a falta de foco no aprendizado significativo.
3. A frase "a escola ensina para a vida ou deve deixar que a vida ensine aqueles que a escola não conseguiu alcançar?" Levanta uma questão fundamental sobre o papel da escola na formação dos indivíduos. Discuta essa questão, argumentando sobre a importância da educação formal para o desenvolvimento pessoal e social.
4. O autor critica a obrigatoriedade de comparecer à escola para planejar aulas, argumentando que poderia realizar essa tarefa de forma mais eficiente em outros ambientes. Qual a sua opinião sobre essa questão? Discuta a importância do planejamento para a prática docente e como a organização do trabalho dos professores pode impactar a qualidade do ensino.
5. A frase: "a popularidade matou mais profetas do que a perseguição" sugere que o medo da rejeição pode ser um obstáculo para a transformação da educação. Discuta essa afirmação, refletindo sobre o papel dos professores como agentes de mudança e os desafios que enfrentam ao questionar o status quo.