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MINHAS PÉROLAS

⁠UM PRAZER LEVA AO OUTRO ("O que não dá prazer não dá proveito." — William Shakespeare)
           Sou portador de sentidos e sensibilidades com os cinco sentidos bem intermediadores, sou a razão do prazer que sinto. Se o prazer é pecado; então, a existência de todo ser humano é pecado. O medo do pecado é exatamente o maior bloqueador da felicidade, como não ter prazer de existir? Portanto, é do forte desejo do prazer proibido que a religião se aproveita e vende a paz de consciência para os compradores de Deus com dízimos. E o pecado que o Céu condena tem na igreja: As relações sexuais e ambição! Mas, são os do inferno que nos ensinam que tudo é pecado, divulgando o inferno! Há, sim, maneiras diferentes de gozar a vida. Saborear cada consequência prazerosa tanto para vida como para a morte, o gozo último deve ser o real sentido do viver. Isto é, o prazer que traz a vida é o mesmo que traz a morte! Na região mais profunda da língua está a percepção do amargo, pois no corpo pronto para morrer ainda desperta sensações desconhecidas. Quem pode dizer que também não é prazer, se a dor pode viciar! Tudo realizado no limite é prazeroso em dobro: escapar do perigo ileso é bom demais. Ruim não é a morte, é o que mata. (CiFA

Claudeci Ferreira de Andrade

sábado, 3 de agosto de 2019

A PROFISSÃO DO FUTURO ("O Brasil é um país onde arrogância torna-se crime e delação virtude." — Nelson Barh)



Crônica

A PROFISSÃO DO FUTURO ("O Brasil é um país onde arrogância torna-se crime e delação virtude." — Nelson Barh)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O calor da manhã de verão refletia-se intensamente no telhado enquanto eu me dedicava à colheita dos cajus. As galhas do velho cajueiro, generosas, se estendiam sobre a casa, oferecendo seus frutos maduros. Absorvido pela tarefa e pelo calor do sol queimando minha pele, fui interrompido por um reflexo. Ao olhar para o quintal vizinho, percebi que minha vizinha me filmava com o celular. O gesto, aparentemente simples e corriqueiro na era digital, me causou um incômodo profundo. Não era a filmagem em si, mas a sensação de ser alvo de um olhar vigilante, pronto para julgar e, possivelmente, expor.

Esse episódio trivial me levou a refletir sobre a cultura da denúncia que permeia nossa sociedade. Em todos os cantos, proliferam os “paparazzi” amadores, ávidos por flagrar o deslize alheio, munidos de câmeras e uma sede insaciável por expor a vida do outro. A figura do denunciante, antes relegada às sombras, ascendeu aos holofotes, impulsionada pela lógica da “delação premiada” e pela voracidade das redes sociais. Mas a quem serve essa cultura de exposição? A quem beneficia a constante vigilância sobre o próximo?

Nunca vi um “dedo-duro” ser alçado ao status de herói. Pelo contrário, o delator carrega consigo um estigma de deslealdade. A busca pela “verdade”, muitas vezes, se transforma em um instrumento de vingança ou de autopromoção, distorcendo os fatos e alimentando um ciclo vicioso de fofocas e linchamentos virtuais. A mídia, ávida por audiência, se alimenta desse espetáculo, explorando a desgraça alheia e disseminando o medo e a desinformação.

O denunciante anônimo, protegido pelo véu do anonimato, age com irresponsabilidade, divulgando versões unilaterais dos fatos sem se preocupar com a veracidade ou com as consequências de seus atos. Essa covardia virtual se manifesta na ausência de disposição para o diálogo, para a busca por soluções pacíficas. É como assistir a um filme pirata: usufruímos do conteúdo sem arcar com as responsabilidades de nossos atos, fortalecendo um mercado ilegal.

A frase de Martin Luther King Jr., "O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons", ressoa com força neste contexto. Mas o que acontece quando os “bons” se calam por medo da exposição, receosos de se tornarem alvos da mesma cultura da denúncia que condenam? O silêncio, neste caso, não é apenas omissão, mas conivência com a injustiça.

O denunciante, o fofoqueiro, o “informante”, não é mais do que um reflexo da sociedade que cultiva a superficialidade e se alimenta do fracasso alheio. A busca pela perfeição virtual e a obsessão por expor as imperfeições dos outros revelam uma profunda fragilidade e uma incapacidade de lidar com a própria humanidade.

Enquanto a cultura da denúncia se fortalece, os verdadeiros problemas permanecem ocultos e negligenciados. A solução não está em apontar o dedo para o outro, mas em construir pontes de diálogo, em cultivar a empatia e a compreensão. Que possamos ter a coragem de enfrentar os desafios de frente, sem nos esconder atrás do anonimato ou da exposição alheia. Que a busca pela verdade seja guiada pela responsabilidade e pelo respeito, e não pela sede de vingança ou pela busca por audiência. Que o olhar indiscreto se transforme em um olhar compassivo, capaz de reconhecer a humanidade em cada um de nós.


Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


1. De que maneira o episódio da vizinha filmando o autor com o celular serve como ponto de partida para a reflexão sobre a cultura da denúncia?

2. Segundo o autor, qual a relação entre a figura do denunciante e a lógica da "delação premiada" e das redes sociais?

3. O texto critica o anonimato dos denunciantes. Quais argumentos são utilizados para sustentar essa crítica?

4. Como o autor interpreta a frase de Martin Luther King Jr. ("O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons") no contexto da cultura da denúncia?

5. Qual a proposta apresentada pelo autor para superar a cultura da denúncia e construir uma sociedade mais justa?

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