"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

SEM PERSPECTIVA DE FUTURO MELHOR ("Em ciência não existe um erro tão grosseiro que, amanhã ou depois, sob alguma perspectiva, não pareça profético." — Jean Rostand)

 


SEM PERSPECTIVA DE FUTURO MELHOR ("Em ciência não existe um erro tão grosseiro que, amanhã ou depois, sob alguma perspectiva, não pareça profético." — Jean Rostand)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O QUE É MELHOR: O MIOLO OU A CASCA? ("A gente deve atravessar a vida como quem está gazeando a aula, e não como quem vai para a escola." — Mario Quintana)

 


O QUE É MELHOR: O MIOLO OU A CASCA? ("A gente deve atravessar a vida como quem está gazeando a aula, e não como quem vai para a escola." — Mario Quintana)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

No chamado velho normal, eu era facilmente rotulado como professor “ruim”, não por incompetência, mas por recusar a encenação da autoridade pela força. Não expulsava alunos da sala nem confundia educação com intimidação. A pedagogia dominante parecia exigir gestos duros para legitimar o ensino, como se o saber precisasse vir acompanhado de medo para ser reconhecido como sério.

Nesse contexto, a coordenadora considerada “boa” era a que patrulhava os corredores sem trégua, empurrando alunos de volta às salas, como se a ordem pudesse ser sustentada apenas pela vigilância constante. A escola operava sob a lógica do controle visível: corpos alinhados, portas fechadas, silêncio imposto. A disciplina valia mais pela aparência do que pela qualidade da experiência educativa que produzia.

O aluno “esperto”, por sua vez, aprendia cedo a jogar com o sistema. Exagerava comportamentos, encenava conflitos, criava rupturas calculadas para chamar atenção e, em seguida, recorria a justificativas bem elaboradas — não para assumir responsabilidades, mas para conquistar complacência. A astúcia era premiada; a reflexão sincera, quase sempre, deslocada para a margem.

Com o advento do chamado novo normal, as estratégias se transformaram, ao menos na superfície. Fala-se em mais tempo pedagógico, em didática refinada, em autonomia mediada por telas. O smartphone tornou-se extensão do processo educativo, e “subir aula” deixou de significar encontro e diálogo para se reduzir, muitas vezes, a um simples upload de conteúdos assíncronos. A inovação passou a ser medida pela tecnologia empregada, não pelo sentido do que se ensina.

Ainda assim, o passado não desapareceu: apenas se reconfigurou. Ele retorna travestido de modernidade, sustentado pela crença confortável no hibridismo como solução universal. Queremos o novo sem abrir mão do velho e, nessa contradição, acumulamos excessos — agora digitais. A internet oferece tudo, mas não garante profundidade; flexibiliza formas, mas não corrige estruturas. Entre a nostalgia da ordem perdida e o fetiche da inovação permanente, a escola insiste em se declarar transformada, quando talvez apenas tenha aprendido a reorganizar, com novas ferramentas, as mesmas ambiguidades de sempre.


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Como seu professor de Sociologia, este texto nos oferece uma excelente oportunidade para discutir como as relações de poder, a disciplina e a modernização se manifestam no ambiente escolar. Ele compara o "velho normal" da autoridade pela força com o "novo normal" da tecnologia, expondo as permanentes ambiguidades da escola. Preparei cinco questões discursivas simples para analisarmos a lógica do controle, a encenação da autoridade e o dilema da inovação tecnológica na educação.


1. O Contraste entre Autoridade pela Força e Incompetência (Foucault)

O autor relata que, no "velho normal", era rotulado como "professor ruim" por "recusar a encenação da autoridade pela força", enquanto a pedagogia dominante exigia "gestos duros para legitimar o ensino". Utilizando a perspectiva de Michel Foucault sobre o Poder Disciplinar , analise por que a escola tradicional associava a eficácia do ensino à intimidação e à "lógica do controle visível". De que forma a recusa em exercer essa autoridade pela força era lida como uma falha ou incompetência profissional?

2. Vigilância, Aparência e a Figura da "Coordenadora Boa"

O texto descreve a coordenadora considerada "boa" como aquela que patrulhava corredores e impunha o silêncio, operando sob a lógica de que a disciplina valia mais "pela aparência do que pela qualidade da experiência educativa". Discuta a relação entre Vigilância e a busca pela Ordem aparente na escola. Como a exigência social por "corpos alinhados e portas fechadas" criava uma "encenação" de eficácia, e por que a manutenção dessa aparência de ordem se sobrepunha ao verdadeiro objetivo da escola, que é a qualidade da experiência educativa?

3. O Aluno "Esperto" e a Astúcia Premiada

O narrador descreve o aluno "esperto" que aprendia a "jogar com o sistema" criando rupturas calculadas, não para assumir responsabilidades, mas para conquistar complacência. Analise, sociologicamente, o comportamento do aluno "esperto" como uma Estratégia de Adaptação (Merton). De que forma a rigidez e a falta de diálogo do sistema escolar levam os alunos a desenvolverem a astúcia — em vez da reflexão sincera — como um meio de sobrevivência e sucesso dentro das regras implícitas da instituição?

4. Tecnologia, Inovação e Redução do Sentido

No "novo normal", o texto aponta que "subir aula" se reduziu a um "simples upload de conteúdos assíncronos" e que a inovação passou a ser medida pela tecnologia empregada, e não pelo "sentido do que se ensina". Discuta a Fetichização da Tecnologia no contexto educacional. Como a priorização de ferramentas digitais e o hibridismo (a "crença confortável" em soluções universais) arrisca descaracterizar a essência da pedagogia (o encontro e diálogo), transformando o processo educativo em mera gestão de conteúdos assíncronos?

5. Contradição Estrutural e Ambiguidade da Transformação

O texto conclui que a escola quer o novo sem abrir mão do velho, "acumulando excessos" digitais, e que ela apenas "reorganizou, com novas ferramentas, as mesmas ambiguidades de sempre". Explique o conceito de Contradição Estrutural na Sociologia da Educação. De que forma a nostalgia da ordem perdida se choca com o fetiche da inovação, e por que a simples mudança de ferramentas (tecnologia) é insuficiente para corrigir as estruturas de controle e autoridade que definem a essência da instituição escolar?

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sábado, 3 de dezembro de 2022

"O BARATO SAI CARO" ("A gratuidade das escolhas nos leva aos abusos das decisões." — Valdeci Alves Nogueira)

 


"O BARATO SAI CARO" ("A gratuidade das escolhas nos leva aos abusos das decisões." — Valdeci Alves Nogueira)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há algo de silenciosamente corrosivo rondando o jovem contemporâneo — não como culpa individual, mas como sintoma de um tempo confuso. Sua fragilidade não nasce do nada: forma-se entre expectativas infladas e exigências rarefeitas, entre discursos de liberdade e práticas de abandono. A autoestima, antes de ser vaidade, torna-se defesa precária. Desde cedo, ele aprende a receber muito e a esperar pouco de si mesmo, atravessando a escola como quem passa por um corredor sem espelhos, sem reconhecer ali um chamado à responsabilidade ou ao esforço.

Esse jovem não é preguiçoso por natureza; está, antes, exausto de estímulos vazios. Imerso na lógica midiática, consome imagens, tendências e promessas como quem tenta preencher um vazio que não sabe nomear. Confunde autonomia com dispersão porque ninguém lhe ensinou que liberdade exige direção. Quando finalmente lhe dizem “seja você mesmo”, já lhe roubaram as ferramentas para descobrir quem é. Assim, a exposição constante de suas fragilidades, longe de libertá-lo, aprofunda o ciclo de frustração que ele próprio não consegue explicar.

Mas seria injusto falar sobre ele sem escutá-lo. Há, nesse jovem, uma intuição esquecida: a de que aprender ainda pode ser um gesto de sentido. Quando encontra algo que realmente o interpela — um exemplo, uma palavra justa, uma experiência exigente — ele responde. Aprende, às vezes, até sem mestre, porque o desejo verdadeiro antecede o método. O esforço, quando não é imposto como castigo, transforma-se em conquista. Não é a gratuidade em si que empobrece, mas a ausência de significado que frequentemente a acompanha.

Talvez seja isso que Paulo Freire quis dizer ao lembrar que ninguém educa ninguém sozinho, e que a educação acontece no entrelaçamento humano, mediada pelo mundo. Aprende-se menos pelo acúmulo e mais pelo encontro. Em tempos de excesso, a raridade se torna valor. A internet, com sua abundância incessante, não peca por oferecer demais, mas por ensinar pouco a escolher. Como alerta o provérbio, há doçura que cansa e honra que se esvazia quando buscada sem critério.

O problema, portanto, não está simplesmente na escola obrigatória ou gratuita, mas quando ela abdica de sua vocação formativa e se limita a administrar presenças. Educação sem exigência não emancipa; apenas acomoda. O barato, nesse caso, sai caro — não por ser acessível, mas por ser raso. E o jovem, longe de vilão ou vítima passiva, permanece ali, à espera de algo mais: não de facilidades, mas de um convite honesto à construção de si mesmo. Quando esse convite acontece, ainda há esperança de formar sujeitos verdadeiramente livres.


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Como seu professor de Sociologia, o texto aborda a complexa situação da juventude contemporânea, analisando a relação entre fragilidade, excesso de estímulos vazios e a crise da educação que se limita a administrar presenças. O cerne da discussão está na busca por sentido, autonomia e o verdadeiro papel da exigência no processo formativo. Preparei cinco questões discursivas simples para analisarmos a socialização, o consumo midiático e a crise do sentido na educação.


1. Fragilidade, Expectativas Infladas e a Crise da Responsabilidade

O texto afirma que a fragilidade do jovem se forma entre "expectativas infladas e exigências rarefeitas" e que ele atravessa a escola "sem reconhecer ali um chamado à responsabilidade ou ao esforço". Utilizando o conceito de Socialização e Anomia (Durkheim), analise como o desequilíbrio entre o que a sociedade espera (expectativas midiáticas) e o que a educação exige (tarefas e responsabilidades) contribui para a fragilização da autoestima e a ausência de um senso de direção ou dever no jovem contemporâneo.

2. Estímulos Vazios, Dispersão e a Confusão da Autonomia

O narrador argumenta que o jovem está "exausto de estímulos vazios" e "confunde autonomia com dispersão porque ninguém lhe ensinou que liberdade exige direção". Discuta a influência da Lógica Midiática e do Consumo Cíclico na formação da autonomia individual. De que maneira a imersão constante em tendências e imagens (estímulos vazios) gera um "vazio que não sabe nomear" e impede a construção da verdadeira autonomia, que, para ser efetiva, necessita de disciplina e foco?

3. A Crise da Escola e a Administração de Presenças

O texto critica a escola que "abdica de sua vocação formativa e se limita a administrar presenças", concluindo que "Educação sem exigência não emancipa; apenas acomoda". Explique como a Burocratização do Ensino e o foco na "administração de presenças" (o aspecto quantitativo) desviam a escola de sua "vocação formativa" (o aspecto qualitativo). Por que essa acomodação — o "barato que sai caro" por ser raso — impede a emancipação do aluno e o mantém à espera de um convite honesto à construção de si mesmo?

4. Paulo Freire e a Educação como Encontro Humano

O autor evoca Paulo Freire para sustentar que "ninguém educa ninguém sozinho" e que a educação acontece no "entrelaçamento humano, mediada pelo mundo", concluindo que se aprende menos pelo acúmulo e mais pelo encontro. Discuta a Pedagogia do Diálogo e da Mediação de Freire. De que forma o "encontro" entre mestre e aluno (o entrelançamento humano) é essencial para que o jovem encontre sentido no aprendizado, superando a superficialidade do acúmulo de informações e respondendo a algo que "realmente o interpela"?

5. O Paradoxo da Abundância (Internet) e a Crise da Escolha

O texto menciona o paradoxo da internet: ela "não peca por oferecer demais, mas por ensinar pouco a escolher", e que "em tempos de excesso, a raridade se torna valor".

Analise sociologicamente a relação entre Abundância de Informação e a Crise da Escolha (ou sobrecarga cognitiva). De que maneira o excesso de dados (a internet) impede a formação do critério e da autodisciplina necessários para discernir o que é "raridade" (significado) no meio da "abundância incessante"?

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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

"UM ABISMO CHAMA OUTRO ABISMO" ("E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti." — Friedrich Nietzsche)

 


"UM ABISMO CHAMA OUTRO ABISMO" ("E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti." — Friedrich Nietzsche)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Vivemos num mundo paradoxal, onde a dor se repete em espirais: muitas vezes o oprimido devolve a opressão que recebeu, e o violentado descobre em si um violentador adormecido. Nas escolas, esse ciclo se insinua nas pequenas tensões diárias, quando alguns alunos — feridos por um sistema que os reduz a números — devolvem sua mágoa aos professores em forma de ironia, desafio ou desdém. Mas é preciso frisar: não são todos. Há também os que resistem ao acúmulo de violências, que ainda conversam com delicadeza e sabem reconhecer um gesto de cuidado. Ainda assim, a relação professor-aluno mudou de tal modo que um simples “queridão” pode carregar um veneno implícito, e até um elogio sincero corre o risco de ser lido como insinuação. Nada mais frágil que esse clima onde cada palavra se equilibra entre o afeto e o ataque.

A tensão se aprofunda quando vemos casos extremos ocupando os noticiários: ex-alunos que retornam não para aprender, mas para acertar contas. É como se parte dessa juventude, incapaz de metabolizar o próprio fracasso, transformasse a escola num palco tardio de vingança. No entanto, nem tudo é tragédia anunciada. Em muitas salas de aula, discretamente, florescem outras histórias: jovens que encontram abrigo na biblioteca, professores que acolhem sem heroísmo, colegas que defendem outros do sarcasmo cruel. São minúsculas resistências, quase invisíveis — mas existem. E talvez seja isso que impede o quadro de se tornar inteiramente apocalíptico.

Ainda assim, paira no ar o temor de que uma parcela desses ex-alunos possa, um dia, desestabilizar o ensino presencial. Não por um destino inevitável, mas por um conjunto de fatores que se repetem com obstinação: famílias que perpetuam comportamentos desajustados, a força de uma maioria confusa que se impõe mesmo quando erra, e o ressentimento de quem bate às portas do mercado de trabalho sem encontrar espaço. Diante dessa frustração, alguns retornam à escola buscando culpados, não respostas. Mas aqui também há um contraponto necessário: muitos outros, mesmo enfrentando as mesmas tempestades, encontram caminhos menos hostis — em cursos técnicos, em pequenos empregos, ou simplesmente no esforço silencioso de não reproduzir o que sofreram.

O que emerge desse contraste é uma juventude que avança entre o vazio e a esperança, entre a sensação de que o futuro é um terreno estéril e a percepção de que alguma semente ainda pode germinar. Onde falta sentido, qualquer planejamento parece ficção; mas, paradoxalmente, é justamente nesses vazios que alguns jovens — e alguns professores — criam seus pequenos mapas. Às vezes um projeto de leitura, às vezes um conselho dito na hora certa, às vezes uma simples presença que não cede ao cinismo. Não é muito, mas é algo.

Talvez por isso o salmista ainda faça sentido quando diz que “um abismo chama outro abismo”, pois o cotidiano escolar conhece bem essa lei do eco. Contudo, o mesmo salmo fala de uma canção à noite, e é nesse trecho que reside nossa pequena práxis possível: sustentar a voz mesmo quando o mundo parece desabar. Quem ensina vive desse paradoxo — carregar o peso da desilusão sem renunciar à esperança. O clamor do texto antigo se espalha pelos corredores, perguntando: “Por que ando angustiado?” A resposta, se existe, é frágil: porque somos humanos. E, apesar disso — ou por causa disso — ainda tentamos. Ainda resistimos. Ainda cremos que, entre um abismo e outro, alguém possa encontrar um caminho que não termine em queda.


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Como seu professor de Sociologia, o texto que acabamos de ler mergulha na complexidade das relações sociais na escola, explorando o ciclo da violência, a fragilidade da comunicação e a resistência silenciosa da juventude e dos docentes. Preparei cinco questões discursivas simples para analisarmos o conflito social, o ressentimento e o paradoxo da esperança.

1. O Ciclo da Opressão e a Violência Recíproca

O texto descreve que "o oprimido devolve a opressão que recebeu, e o violentado descobre em si um violentador adormecido", manifestando-se na escola como ironia, desafio ou desdém dos alunos contra os professores. Analise esse fenômeno sob a ótica da Reprodução Social e do Ciclo da Violência. De que forma a estrutura do sistema escolar (que "reduz a números") gera mágoa e ressentimento, e como essa dor é transferida e devolvida pelos alunos aos docentes, perpetuando um ciclo de agressão recíproca?

2. A Fragilidade da Comunicação e a Suspeita Constante

O narrador aponta que a comunicação mudou, de modo que um simples "queridão" pode carregar um veneno implícito e um elogio sincero corre o risco de ser lido como insinuação. Discuta a fragilidade da comunicação na escola contemporânea, utilizando o conceito de Desconfiança Generalizada. Por que a hostilidade subentendida e a suspeita constante tornam a interação professor-aluno um "clima onde cada palavra se equilibra entre o afeto e o ataque", dificultando o vínculo pedagógico e o acolhimento?

3. O Retorno Vingativo e a Falta de Metabolização do Fracasso

O texto trata de ex-alunos que retornam à escola como um "palco tardio de vingança", buscando culpados pelo fracasso em bater às portas do mercado de trabalho. Relacione a exclusão do mercado de trabalho (desajuste econômico) com a agressividade contra a escola. De que forma a incapacidade de metabolizar o próprio fracasso transforma a instituição, que deveria ser um local de ascensão, no principal alvo de ressentimento dessa juventude?

4. Resistência Silenciosa e a Práxis da Esperança

O texto contrasta o quadro apocalíptico com as "minúsculas resistências, quase invisíveis" — jovens que encontram abrigo na biblioteca, professores que acolhem "sem heroísmo" — e menciona a “canção à noite” do salmista como nossa “pequena práxis possível”. Discuta a natureza e a importância dessas formas discretas de resistência. Por que a manutenção de pequenos atos de esperança, acolhimento e humanidade (o "não ceder ao cinismo") é crucial para impedir o colapso total do ambiente escolar, mesmo quando prevalece o "vazio" e a desilusão?

5. Determinismo Social e a Lei do Eco ("Um Abismo Chama Outro Abismo")

O texto evoca a lei do eco, onde “um abismo chama outro abismo”, ligando a repetição de comportamentos desajustados das famílias à força de uma "maioria confusa" na escola. Utilize o conceito de Determinismo Social para analisar essa lei do eco. De que maneira a reprodução de fatores sociais e familiares (violência, desajuste) parece criar um "destino inevitável" para a juventude, e como a escola (apesar das minúsculas resistências) luta para romper essa cadeia de negatividade que se impõe?

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

DIA DA LÍNGUA PORTUGUESA, 5 DE MAIO ("Se escrever é arte, a Língua Portuguesa, só pode ser um OFÍCIO!!!" — Luana Cruz)

 


DIA DA LÍNGUA PORTUGUESA, 5 DE MAIO ("Se escrever é arte, a Língua Portuguesa, só pode ser um OFÍCIO!!!" — Luana Cruz)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Na alvorada de 5 de maio, o sol que se infiltrava pelas frestas da cortina parecia sussurrar uma mensagem especial. Era o Dia da Língua Portuguesa, uma data que sempre despertou em mim, professor Claudeci, um misto de emoção e responsabilidade. As palavras de Fernando Pessoa ecoavam em minha mente: "Minha pátria é a língua portuguesa". Naquele momento, compreendi que essa frase não era apenas uma bela metáfora, mas a essência do meu ofício como educador.

Enquanto caminhava para a escola, observava o mundo ao meu redor com novos olhos. Jovens absortos em seus smartphones, idosos folheando jornais, outdoors gritando mensagens - todos imersos em um oceano de palavras. Percebi que, nesta era digital, nunca se leu e escreveu tanto. Paradoxalmente, notava uma crescente dificuldade na escrita e interpretação textual entre meus alunos. Essa constatação me levou a repensar minha abordagem de ensino.

Ao entrar na sala de aula, fui recebido pelo burburinho habitual, mas sentia uma urgência em compartilhar algo além da lição planejada. "Turma", comecei, "vocês sabiam que hoje é o Dia da Língua Portuguesa?" Os olhares curiosos me encorajaram a continuar. Compartilhei minha nova perspectiva: não basta ler e escrever muito; o verdadeiro aprendizado está na qualidade, não na quantidade. "Se aprende a escrever escrevendo certo", expliquei, vendo um brilho de compreensão nos olhos deles.

Naquele momento, a sala de aula se transformou em um laboratório de ideias. Discutimos a beleza das palavras e seu poder de construir mundos inteiros. Falamos sobre como a língua que falamos é um reflexo de nossas vivências, das histórias que carregamos e das emoções que transbordam em nossas interações. Era mais do que uma lição de gramática; estávamos explorando a essência da comunicação humana.

Ao final da aula, uma aluna se aproximou. "Professor", ela disse, "nunca tinha pensado na língua portuguesa dessa forma. É como se fosse... um ofício, não é?" Sorri, lembrando-me das palavras de Luana Cruz: "Se escrever é arte, a Língua Portuguesa só pode ser um ofício!" Naquele instante, percebi que havia transmitido mais do que conhecimento; havia inspirado uma nova apreciação pelo nosso idioma.

Saí da escola com o coração leve, renovado em meu propósito. Enquanto caminhava para casa, as palavras pareciam dançar ao meu redor - nos cartazes, nas conversas, no farfalhar das folhas. Compreendi que a língua portuguesa não era apenas meu trabalho ou paixão; era, verdadeiramente, minha pátria, meu lar.

Neste Dia da Língua Portuguesa, renovei meu compromisso não apenas de ensinar regras e estruturas, mas de inspirar o amor por esse ofício tão nobre que é o domínio das palavras. Como artesãos da linguagem, nós, professores, moldamos mentes e corações, semeando as sementes do conhecimento na esperança de que floresçam em eloquência e sabedoria.

A língua que falamos é mais do que um meio de comunicação; é uma ponte que nos liga ao passado e um guia que nos ilumina para o futuro. Cada palavra que escrevemos é uma construção de nosso legado, um reflexo de quem somos e do que desejamos transmitir ao mundo. Neste dia especial, celebramos não apenas um idioma, mas a capacidade humana de se expressar, de contar histórias, de mudar realidades através do poder das palavras.

Que possamos sempre valorizar e nutrir esse ofício com a dedicação e a paixão que ele merece. Afinal, são as palavras que nos permitem contar nossas histórias, expressar nossos sentimentos e, quem sabe, mudar o mundo, uma frase de cada vez.

Com base no texto apresentado, proponho as seguintes questões para uma discussão em sala de aula, explorando os temas da língua portuguesa, educação e identidade:

O texto destaca a importância da língua portuguesa como parte da identidade individual e coletiva. De que forma a língua que falamos molda nossa percepção de mundo e nossas relações sociais?

O professor menciona o paradoxo entre o aumento do uso da língua escrita e a diminuição da qualidade da escrita. Quais os principais desafios enfrentados pelo ensino da língua portuguesa na atualidade e como eles podem ser superados?

O texto enfatiza a importância de ir além da gramática e explorar a dimensão cultural da língua. Como podemos integrar a cultura e a literatura na sala de aula para tornar o ensino da língua portuguesa mais significativo?

O autor menciona o papel do professor como um artesão da linguagem. Qual a responsabilidade do professor na formação de cidadãos críticos e capazes de se comunicar de forma eficaz?

O texto destaca a importância da linguagem como ferramenta de transformação social. De que forma a língua portuguesa pode ser utilizada para promover a inclusão, a diversidade e a construção de uma sociedade mais justa?

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segunda-feira, 28 de novembro de 2022

ALUNO FOCADO ("Não me siga, não estou perdido, mas não faço a mínima ideia de onde posso chegar..." — Márcio de Oliveira)

 


ALUNO FOCADO ("Não me siga, não estou perdido, mas não faço a mínima ideia de onde posso chegar..." — Márcio de Oliveira)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O adolescente despertou antes do sol, como quem obedece não a um relógio, mas a um tribunal invisível. O corpo seguiu o rito sem perguntas: o banho breve, o café apressado, a escova nos dentes, a mochila nas costas. Do lado de fora, a rua vazia parecia um templo abandonado. Nenhuma voz, nenhum passo, nenhuma pressa. Apenas aquele silêncio que pesa — e educa.

Caminhou até a escola com a tranquilidade de quem cumpre um voto. O portão, entreaberto, oferecia uma nesga de esperança, como uma porta mal fechada entre o mundo dos vivos e o dos eleitos. Empurrou-o com cuidado e viu o guarda, imóvel, quase sagrado em sua indiferença. “Seu guarda, hoje não tem aula?”, perguntou, com a ansiedade de quem teme ter faltado à própria salvação. A resposta veio leve, quase misericordiosa: “Hoje é sábado, meu filho”. E, naquele instante, não foi o calendário que se rompeu, mas o encanto.

No caminho de volta, compreendeu o mecanismo com a clareza de quem sai de uma catequese. Não é a falta que reprova, mas o temor dela. Raramente alguém é de fato condenado pela ausência, mas todos crescem sob a ameaça da queda. Funciona assim: instala-se o medo e oferece-se a escada. Aponta-se o inferno com uma mão, enquanto a outra sustenta a imagem do céu. Não se governa pela verdade, mas pela promessa.

As instituições, afinal, não educam apenas mentes — moldam almas. O céu vira prêmio, o inferno se torna ameaça, e a obediência, virtude suprema. No fim, o paraíso não é um lugar de descanso, mas um altar distante, sempre visível e jamais alcançado. E é nesse altar que muitos se ajoelham, não por fé, mas por medo de arder.


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Como seu professor de Sociologia, este texto utiliza a experiência de um adolescente que vai à escola em um sábado para discutir o controle social, o medo como ferramenta de disciplina e o papel das instituições (como a escola) na moldagem do comportamento e da moralidade individual. Preparei cinco questões discursivas simples para analisarmos o poder das normas e a construção do conformismo.


1. A Escola como "Tribunal Invisível" e o Controle do Corpo

O adolescente desperta e segue o rito matinal "como quem obedece não a um relógio, mas a um tribunal invisível". Analise essa frase utilizando o conceito de Disciplina e Sociedade Disciplinar (Foucault). De que maneira o corpo do indivíduo é moldado pela vigilância internalizada das instituições, a ponto de ele seguir o ritual (banho, café, pressa) mesmo na ausência de uma autoridade física (o professor ou o horário)?

2. A Construção do Medo e a Obediência Condicionada

O texto afirma: "Não é a falta que reprova, mas o temor dela", e que as instituições governam pela "promessa" e não pela verdade, apontando o "inferno com uma mão, enquanto a outra sustenta a imagem do céu". Discuta a relação entre Medo e Obediência no contexto do Controle Social. De que forma a ameaça de "queda" ou "condenação" (simbólicas ou reais) condiciona o comportamento dos indivíduos, tornando a obediência uma virtude suprema e o principal motor da ação, mesmo que a ação seja inútil (ir à escola no sábado)?

3. A Escola como "Templo Abandonado" e a Sacralização do Rito

A rua em direção à escola é descrita como um "templo abandonado", e o portão, como uma "nesga de esperança" entre o "mundo dos vivos e o dos eleitos" (a salvação). Analise o uso de metáforas religiosas (templo, salvação, eleitos) para descrever a escola. Como a instituição escolar se apropria de uma função sacralizada na sociedade contemporânea, elevando a rotina (o rito) e a presença (a obediência) a um nível quase religioso de devoção?

4. Moldagem da Alma e a Finalidade do Paraíso

O texto conclui que as instituições "moldam almas" e que o "paraíso não é um lugar de descanso, mas um altar distante, sempre visível e jamais alcançado". Discuta a função do Mérito e da Promessa (ideologia meritocrática) no sistema educacional. Por que o prêmio (o céu/o sucesso) deve ser mantido sempre visível, mas inatingível, e como essa distância perpetua a obrigação da obediência e do esforço contínuo dos indivíduos?

5. O Papel do Silêncio e a Educação por Ausência

O narrador nota que a rua vazia tinha um "silêncio que pesa — e educa". Explique o significado sociológico do Silêncio e da Ausência como ferramentas educativas em ambientes de controle institucional. De que maneira a ausência de ruído e vozes permite que o indivíduo perceba a força coercitiva das normas e interiorize a disciplina com mais clareza do que em meio ao barulho da vida social?

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