"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A TRAVESSIA DE CORNÉLIO (Um grande amor não morre assim. )


CONTO 

A Travessia de Cornélio ( Um grande amor não morre assim. )

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          A viagem seria uma tentativa para resgatar a vida a dois.  Para isso, comprou uma motocicleta que não era das melhores, mas era novinha. Cornélio e sua amada esposa foram visitar os pais dele numa aventura incomparável! Uma paradinha de direito aqui e acolá, descanso merecido: na beira da BR 153.  Foram seis dias de pouca velocidade e muito calor, ida e volta, para uma estada de quatro dias apenas, em território tocantinense. Na sua cidade de origem, fazia poera! 
     Com a chegada do casal da cidade grande, o pessoal de lá não tinha como conter tamanha felicidade, foi o melhor natal dos últimos vinte anos para seus pais. Foi o que disseram, isso pude ver bem claro. O que não ficou claro foi o motivo da indiferença de quem era nora e se dizia apaixonada por viagem: Jacobina, uma mulher de vinte e cinco anos de idade, muito bonita, dissimulada e se trajava com o esbanjamento de uma prostituta “classe A”, acompanhava à risca as personagens das novelas televisivas e especialista em futilidades. Aliás, o tratava como um “leproso”, não gostava de sexo, entretanto se deitava com ele, para essa finalidade, a cada quinze dias, quando insistia muito. Além da força dos seus sentimentos, valia a pena suportar esta situação, por que se beneficiava da companhia de uma bela mulher e das lições de vida, ele queria se mostrar! E na viagem, nenhuma palavra de elogio, ouviu só repreensões pelas passagens nas quais conduzia a moto com destreza e aptidão! Fez-se de palhaço para agradar e gastou mais do que o planejara.
          Entre as poucas palavras que ouviu dos lábios finos os quais tentara, sem sucesso, muitas vezes beijar, foi dentro do banheiro de um hotel em Rialma, já na volta, o primeiro de raspão!
          —“É muito chato!”
          Jacobina, apesar de ter empenhado todo esforço para provar que era superior a ele, se dobrava de vez em quanto, com o aparelho celular e um mapa rodoviário em punhos, para lhe falar a hora e verificar o trajeto. Ele havia investido na pessoa que mais confiava: a navegadora do percurso.
          Já no final do pesadelo, de volta ao “leito sem mácula”, como assim acreditava Cornélio, ouviu dela, como nunca ouvira dantes, o brado de alegria na chegada ao último viaduto, ali no Novo Mundo:
          — Graças a Deus estamos chegando!
          Não reagiu à expressão que o fez vibrar involuntariamente, pois ele ainda estava atônito centrado na inocência, cego pela parcialidade, surdo pela dissonância irritante do silêncio, mudo pelas as mil conjecturas amontoadas em sua cabeça.
          — O que eu fiz para tanto merecer? – apenas, perguntou Cornélio a si mesmo com a voz da alma.
          Mas, tinha uma razão aparente para agradecer a Deus: estavam com vida, naquele pôr-do-sol da sexta-feira, vinte e nove de dezembro de dois mil e seis. Precisaram só de mais dez minutos para reabrir aquele portão verde morto, ensombrado pela o vigor da ferrugem. A casa estava em estado de abandono, carecia de uma arrumação, afinal estavam por nove dias fora. 
        Uma saudade diferente espetava o coração de Jacobina, era tamanho o desejo da carne que perdeu o senso do perigo: Chico, nome de santo, despojado do mundo, amante do bem! Verso Cornélio, traído e inconveniente, e, por ironia do destino, estava em férias, não arredava o pé, queria gozar tudo que tinha direito. Jacobina num “pé-e-noutro”, procurando espaço para destilar o mel que prometera ao outro.
           Mal pôde esperar o sábado, Jacobina chegou da faculdade mais cedo, mesmo depois da farra com todos os seus colegas de curso, era horário de verão, o dia estava claríssimo. Para o bem da justiça, Cornélio não estava em casa, deu uma saidinha.  Ele sabia a hora que sua amada chegava para recepcioná-la a tempo, mas ela chegou cedo demais, vestiu-se de uma malha colada e uma camiseta bastante cavada, exibindo todas as suas belas formas arredondadas; assim como quem vai fazer “ginástica”. Ligou para o Chico e saíram passeando pelas ruas da pacata Prostilândia.
          Por quatro meses estavam assim, ninguém suspeitava, cobriam-se com um manto de convento. Porém, desta vez foi diferente, Cornélio viu. Mandou a embora de sua casa, por pouco não aconteceu uma tragédia. No entanto, não mediu bravura para romper os seis anos de casamento. Ele era um homem humilde e trabalhador, vinte e dois anos mais velho que ela, mas sua fisionomia não o denunciava, cristão fervoroso e por muitas vezes dizia:
          — Ninguém consegue enganar um homem de Deus por muito tempo.
          É verdade, ele estava com a razão. O destino o ajudou com ideias criativas a seu favor. Agora  precisava provar para a sociedade sua justiça. Então, foi urgentemente à prestadora de serviço telefônico com a ajuda de um detetive e solicitou um extrato de todas as ligações da Jacobina dos últimos trinta dias. Qual não foi sua constatação, ela tinha feito apenas quatro legações para ele, e constavam quarenta e oito para o número ****6126 e mais de dezoito torpedos (SMS) para o mesmo.
          — É!! O amante sempre tem um pouco mais! – dizia Cornélio inconformado.
          Porém, uma semana depois, ele inspirado na leitura da história bíblica, bem sucedida, de Oséia, que comprou de volta sua esposa Gômer depois de abandonado por ela com três filhos pequenos, os quais não eram seus biologicamente. Cornélio foi à luta, como quem não queria perder o pouco que lhe restava, mandou buquês de rosas, mensagens românticas e declarou todo o seu amor incondicional; concedeu-lhe o perdão, mesmo sem ela desejá-lo. Depois de tudo, Ele ainda queria força para continuar lutando, porque a amava de verdade, mas era uma decepção atrás da outra. Perguntava a ela todas às vezes que podia:
          — Você me ama?
          — Eu gosto de você, não sei se te amo!
          Sobretudo, Como resultado das chantagens dele, uma vez e outra, Cornélio se encontrava com Jacobina. O combustivo estava acabando! Porque, sempre nas despedidas tinha que ouvir:
          — Você não pode me beijar assim no meio da rua, estamos separados.
          Era apenas um beijo no rosto, mas não podia! Cornélio não estava lutando com um único adversário, antes e depois do Chico tinham outros, o amante revelado era só para disfarçar. Não tinha futuro promissor, pois tinha apenas o Ensino Fundamental, trabalhava fazendo faxina, porém era calmo e sigiloso, totalmente submisso, mas, também, não era o homem ideal para ela.
          — Então, querem dizer que eu e o Chico somos usados como trampolim para o projeto de vida depravada dela?! Ah, vou dar outro rumo à minha vida, se Deus quiser restaurarei meu lar, e terei parentes ao meu redor, para minha segurança na velhice.
          Depois disso, Cornélio “descobriu o Brasil”, caiu na vadiagem, levou uma vida errante e aplicou toda malandragem que aprendera com a Jacobina, todavia, assim que soube, depois de cinco anos da separação, que sua amada estava, por um acidente de moto, paraplégica, recomeçou a visitá-la no intuito de continuar a conquista. — Um grande amor não morre assim. Tem um preço!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 25/04/2009
Código do texto: T1558623

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários



DISSIMULAR PARA VIVER BEM ("Discrição é saber dissimular o que não se pode remediar..." — Vítor Santos)



CRÕNICA

 DISSIMULAR PARA VIVER BEM ("Discrição é saber dissimular o que não se pode remediar..." — Vítor Santos)

por Claudeci Ferreira de Andrade


             A causa da falta de cumplicidade, ou melhor, falta de corporativismo na escola, entre os docentes, é a desnudez dos opositores, que são tantos. Alguém disse que parece ser mais fácil obedecer à ordem de Jesus de amar os nossos inimigos, do que viver em harmonia com os colegas de trabalho! Quando somos maltratados por alguém que não pertence ao nosso MEIO, temos a tendência de ser um pouco mais condescendentes – afinal de contas, ele não conhece os nossos assuntos, e não representa nossa CATEGORIA! Quando, porém, um membro da nossa unidade escolar não se sujeita à orientação a que seguimos, sentimo-nos traídos, visto que ele compartilha o mesmo ambiente e rótulo, porém não comunga conosco das ideias cativas. Achamos que aquilo que as pessoas pensam de nós será afetado pelo que pensam a respeito DESSE REBELDE. Esse mau exemplo queima nossa imagem por tabela! Ou salva, quando ele adota a hipocrisia não ironizada. Depois dizem que "um erro não conserta o outro"!
             Conta-se que um homem levou um amigo para fora a fim de ensinar-lhe a dirigir um automóvel. Foram para um campo aberto, onde o principiante aprendeu a dar partida, parar o carro, dar marcha à ré, estacionar entre balizas etc. depois de uma hora, o aluno sentia-se bastante confiante em si mesmo, pois dirigir um veículo era mais fácil do que havia imaginado. O instrutor mandou então que ele fosse para a estrada principal. O movimento do transito, à tarde, estava aumentando, e os carros passavam em rápida sucessão. O som das buzinas, os sinais de trafego, e os pedestres foram demais para o motorista iniciante, na primeira entrada lateral, ele saiu da rodovia, deteve o carro e enxugou a transpiração da testa.
            — Ufa, teria sido fácil – disse ele – se não fossem as outras pessoas!
            AO MESMO TEMPO QUE ZELAMOS PELA A UNIFORMIZAÇÃO COMO uma "PANELINHA". POR OUTRO LADO, as pessoas que vivem ao nosso redor nos atrapalham, e me parece que no sistema educacional, isso é mais grave. Também me parece que  trabalhando as aparências, com o intuito de promover o viver em harmonia é a solução. E aprender que devemos respeitar as outras pessoas tanto quanto a nós mesmos, fingindo, se não puder ser verdadeiro, faz parte do processo de crescimento profissional (o testemunho do educador conta mais). O fraco vence os inimigos fortes, se ouvir cada palavra deles, vesti sua camisa e caminhar para onde eles vão. Quem melhor fingir ser um deles escapa com vida. Essa é a macumba da hipocrisia. Com efeito, parte de nossa responsabilidade é não impedir que os nossos  observadores cresçam; nossa atitude para com eles constitui uma indicação de nossa própria maturidade profissional.
            Não devemos ficar desalentados quando nossos colegas não vivem de acordo com os nossos ideais, mas com abnegado amor pela emprego adquirido por concurso, devemos fingir confiar neles, E ASSIM, eles também fingem confiar em nós. TANTO É VERDADE QUE Até mesmo os inimigos, quando têm objetivos comuns unem-se, Aí, então, como resultado vem a cumplicidade. "Quem quiser vencer na vida deve fazer como os seus sábios: mesmo com a alma partida, ter um sorriso nos lábios"(Dinamor). Se isto promove a harmonia nas relações, sejamos hipócritas sempre de sorriso largo! Vamos concluir com marca de autoridade de Chico Xavier: "A verdade que fere é pior do que a mentira que consola." (Carlos A Baccelli).
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 16/05/2009
Código do texto: T1597663

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários



C(S)em Dias Letivos ("Não exijas dos outros qualidades que ainda não possuem." — Chico Xavier)



CRÔNICA

C(S)em Dias Letivos ("Não exijas dos outros qualidades que ainda não possuem." — Chico Xavier)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Por Claudeci Ferreira de Andrade
         Faz algum tempo, quando eram 100, os dias letivos propostos no calendário escolar, para contar a promoção do aluno da EJA, de um período para outro. Então, li uma faixa de advertência, na frente do prédio escolar, bem exposta: “como seria terrível se eu saísse em férias com a certeza da reprovação!” Ela não só se referia à suposição de alguém que está reprovado, mas, sim, à conjetura de ter sido liberado para gozar férias sem fazer jus. Dei, porém, àquelas palavras o sentido de que eu estaria perdido sem o direito de descansar neste recesso de final de ano. Como professor, fui reprovado também, porque reprovei trabalhadores, fiz muito pouco por eles, sendo que os fracos cabem justamente no ideário do sistema. Isto me levou a fazer imediatamente sérias reflexões.
         Tomo por exemplo, uma senhora idosa que atravessou os tempos de angústia e finalmente contemplou a chegada de sua aposentadoria. Que vitória! Imagine então que ela esteja cursando a EJA (Educação de Jovens e Adultos) ou um desses programas de aceleração para encurtar o percurso da corrida, e que ela vê uma nuvem de facilidade aproximar-se mais e mais, sempre aumentando de tamanho e esplendor sem precisar correr tanto em sua direção. Finalmente essa nuvem se transforma em perspectivas futurísticas. Mais tarde, glorioso momento da formatura chega tão perto de si que lhe conduz ao céu. O diploma lhe promete poder e sucesso. Essa favorecida, avaliada diferenciadamente, como se houvesse dois pesos e duas medidas na justiça educacional, fica com receio, não sabendo se está apta ou inapta; mas o fato de ainda está legalmente no páreo, isso lhe traz esperança, que se transforma em alegria ao ser ouvidas as palavras: “hoje é sua festa de formatura.”— essa é a voz da escola moderna, não tradicional e inclusiva custa o que custar. (Formada em quê?).
          “— Despertem! Despertem! Despertem! Vocês que dormem no berço de palha, venham para o berço esplendido” — assim ordenam os otimistas demais com essa modalidade. Mas, esses “mágicos” da educação não dizem qual será o próximo passo, e que só poderão dá-lo os autodidatas. Os concursos facilitados vêm como terremotos que abrem as sepulturas dos justamente poupadores de esforços, “paparicados”. Depois de “formados” observam atentamente para o horizonte procurando ver se alguma vibração indique que eles estão verdadeiramente no páreo do mercado. Mas, nada acontece!
          Esta é uma cena muito desagradável, mas continuará ocorrendo algo semelhante. A notícia alvissareira é que podemos ser úteis sem qualidade, praticando a lei do menor esforço em detrimento do que é justo e funcional.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 15/05/2009
Código do texto: T1596636


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários



LIÇÕES DE BIA (Quem merece maior reprovação, Bia ou aqueles que correm atrás de boa nota, meramente copiando e colando?)



Crônica

LIÇÕES DE BIA

 Por Claudeci Ferreira de Andrade


                No ano passado, eu estava dirigindo aulas de Língua Portuguesa para um segundo ano do Ensino Médio no Colégio Estadual. Uma jovem, a qual chamaremos de Bia, não assistia às minhas aulas regularmente, frequentando pouco o colégio nos dias letivos. Talvez, ela não conhecesse bem as obrigações de aluno. Eu estava certo de que ela seria em breve a pior aluna da unidade escolar. Assim procurei pressioná-la um pouco mais.
        — Bia – eu disse – você é uma aluna de comportamento desfavorável e é pouco assídua ao colégio. Que você pensa dessa sua falta de dedicação?
          — Creio que não é de disciplina, tudo que um bom aluno precisa – ela me respondeu sem hesitar.
          — Isso é bom – retruquei esperançoso – e o que pensa dos seus professores?
          — Creio que também são filhos de Deus – respondeu-me mais uma vez com segurança.
          — Ótimo – assenti – e quanto ao regimento da unidade escolar?
          — Tenho a intenção de obedecê-lo – foi sua pronta resposta. Senti que o diálogo se desenvolvia bem.

          — Então você planeja ser uma boa aluna e tornar-se um exemplo de dedicação e no final ser coroada com uma merecida aprovação em todas as matérias? – Eu arrisquei, esperando uma resposta convencional e dentro do permitido.

            Bia olhou-me espantada e replicou: —Tornar-se uma boa aluna e ser alguém na vida? Jamais me passa pela cabeça tal ideia, não no modelo da escola; estou aqui para me divertir, comer, socializar e zoar, aprender o mínimo possível! Aprendemos mesmo a arte de viver e ganhar dinheiro é na rua.
              Ela simplesmente cria que poderia incluir a vida escolar entre os seus outros lazeres: quebrar as normas e ainda continuar fazendo “sucesso” na comunidade escolar era seu objetivo.

            Bia não é a primeira, nem será a última que frequenta o colégio sem jamais chegar ao conhecimento do verdadeiro objetivo disso. Muitos há, dentro da escola, que sofrem da mesma doença: desvio focal.

            Há outros alunos que frequentam às aulas regularmente, fazem as atividades propostas pelos professores para ganhar nota, mas recusam deixar que o conhecimento os transforme numa pessoa de sucesso de verdade! Estão sempre reivindicando boas notas, mas nunca chegam ao objetivo da escola, que é dar-lhes o conhecimento acadêmico, anexando-lhes a competência crítica e analítica da vida real.
            Quem merece maior reprovação, Bia ou aqueles que correm atrás de boa nota, meramente copiando e colando? Ou, até, comprando monografia? (desculpe-me a rima, se um pecado intencional merece perdão)!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 14/05/2009
Código do texto: T1593611

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários


07/12/2010 09:19 - Quésia
Professor Claudeci! Nossa! O senhor foi meu professor há muito tempo, quando eu ainda era uma criança (Aproximadamente uns 15 anos atrás)... Sempre gostou de escrever... Lembro-me bem das frases diárias no cantinho do quadro. Que momento mais nostálgico! É certo de que não se lembrará de mim, mas fico contente em ter feito neste momento uma breve viagem ao meu passado infantil. Grande abraço!


14/05/2009 14:03 - Debora Souza
Eles merecem mais orientação...

O DIVÓRCIO (Uma Metáfora Bucólica)

(

CONTO

O DIVÓRCIO (Uma Metáfora Bucólica)

Por Claudeci Ferreira de Andrade



          Um canário na gaiola, amarelo limão, brilho aproximado ao loiro de um cabelo bem cuidado, não era um bom cantor, mas era lindo como nenhum outro, parecia saudável e feliz, porém existia uma dissonância no cantar; para mim, isso desbotava o objetivo principal. Mantê-lo preso para ornamentar enchia-me os olhos, contudo, faltava-me encher os ouvidos, também, com belas melodias. Por ser assim incompleto, desmotivava minha alma para tratá-lo bem, como se faria com o balançar de um coração agradecido. Era uma vida de pássaro engaiolado, mas não lhe faltava o principal: boa comida e água fresca. Na verdade, querendo ou não, de certa forma, o engaiolado era eu!
          Seu debater ali dentro, forçou-me ampliar o espaço à medida da vasta imensidão, abri a porta do viveiro e a deixei ir por lugares estranhos, digo estranhos para ela porque era apenas uma fêmea que nascera em uma gaiola apertadinha: sem quase nenhuma possibilidade de “vida”.
        Ela voltou! Parecia-me uma esposa arrependida que descobrira amar demais seu marido, mais experiente, frustrada, um pouco triste e abatida. Acolhi com alegria, como fez o pai com o seu filho pródigo. O espaçoso viveiro ainda estava de porta aberta, esperando-a, e eu ali pronto para fechá-la novamente.
          Foi assim da primeira vez. Quando a peguei, ensaiava seus primeiros trinados. Paguei caro, dei o que de melhor tinha: boa reputação, na esperança de obter o reconhecimento dos amigos por ser o dono do melhor cantor da redondeza, era de um bom porte: grande e esguio, prometia muito mais depois da muda. Eu queria me enganar! Pois, a maior evidência era sua delicadeza, era mesmo uma fêmea! E uma fêmea não tem muito valor para o criador que não pretende aumentar seu plantel, pelo menos sem planejamento. Foi um destino, uma força divina que nos casou naquele instante inicial. Tomei-a só para mim, num envolvimento de fé e esperança, ou de sorte, talvez, ou ainda só para gabarolagem de um comerciante que fizera o melhor negócio do mundo, acertando a única chance entre mil possibilidades de errar.
          Os dias passaram-se depressa, mas o suficiente para a grande comprovação: um pássaro vinha namorá-la, eu o vi, queriam nidificar. Por que só agora percebi? Ela piava muito, e continuava se debatendo num esforço descomunal, como uma mulher apaixonada que apesar de casada dedica-se ao amante. Quer falar-lhe três vezes ao dia, mas não liga para mim; respondia a dança do acasalamento, mas não para mim. Se fosse uma mulher de verdade, eu a xingaria  de adúltera. Todavia, depois de tudo, era apenas um “animalzinho” diante de um homem, seu dono por direitos legais. Ah! Sinto muito! Tentei interromper o curso da natureza. Com ameaças brutais, espantei o seu namorado, e ele sumiu. E a ela, depois disso, ofereci uma gaiola mais estreita, foi difícil para quem uma vez ganhara o mundo como as formigas que voam para a desova. Até parecia aluna de faculdade, alienada. Também, foi difícil para mim, já não me interessava mais o seu porte, o seu canto desbotado de fêmea, uma coisa só me interessava, acima de tudo, queria manter a posse, quem sabe, eliminar de vez da minha mente a sensação de prejuízo e traição. Lembrei-me de uma frase de outro criador e vendedor de sucesso: “prejuízo pouco é lucro”. Então, soltei-a novamente na tarde chuvosa do dia vinte nove de janeiro de dois mil e sete, o céu chorava por mim, pois meus olhos não tinham mais lágrimas, e ela se foi, fiquei olhando seu comportamento, pois o dia inteiro, ficou saltitando de galho em galho no limoeiro solitário do nosso quintal. No outro dia, achei seus restos mortais debaixo daquela árvore. Sucumbiu aos perigos da noite, regida pela lei do mais forte. A ração que sobrou, ainda guardo na geladeira da minha insensatez, os apetrechos do seu aposento agora acomodam a poeira da minha insensibilidade, tudo isso são lembranças que me fazem estraçalhado como a sua última imagem que conservo na memória. Portanto, o vazio que agora sinto torna-se o signo do meu egoísmo corrosivo.
          Eu não perdoaria nunca a quem fizesse tal coisa com minha namorada. Qual foi a fortuna daquele pássaro que escorracei, o qual não pôde levá-la consigo?! Perdoe-me ave misteriosa, objeto do destino; quem sabe, anjo salvador! Nem conheço sua procedência e nem sua prole, talvez o acasalamento de vocês fosse minha realização, concretude do meu sonho de ser um rico criador, dono de um grande plantel! Sejam felizes no além, sem precisarem se esconder dos meus olhos carnais.  "Amo a liberdade,  por isso as coisas que eu amo deixo-as livre. Se voltarem é porque as conquistei. Se não voltarem é porque nunca as tive." (Bob Marley).
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 13/05/2009

Código do texto: T1591132



Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários




A DEMOCRACIA NÃO EDUCA. ("Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim".— Millôr Fernandes)


CRÔNICA

       

A DEMOCRACIA NÃO EDUCA. ("Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim".— Millôr Fernandes)

Por Claudeci Ferreira de Andrade
          
Se a maioria dos pedagogos, dentro do sistema, recomenda, é legítimo. Se não há nenhum dano imediato na execução de seus projetos — avante!— não há nada de errado nisto! Se estiver escrito nos livros de Paulo Freire - é lei! Aliás, ele é o deus dos pedagogos populistas. E há quem diga que esse comportamento "modista" tem contribuído consideravelmente para formação das boas normas educacionais! Assim, resoluções vindas das instâncias maiores e regimentos escolares têm sido aceitos como normativos. E provavelmente, os códigos de conduta da comunidade autorizada estão retratados ali. O que a comunidade autorizada aceitar hoje é engolido pela maioria! Se ela aceita algo novo, isto torna-se-á normativo, mesmo que não caia na graça da grande maioria comum? Aliás, a escola pública tem sido como laboratório, cheia de cobaias para testar ideias vindas de fora.
          Exponho a tolerância e o liberalismo do momento que vivemos na escola pública e reconheço como sendo contribuinte, mas não vivendo tão conformadamente dentro das ordens de uma maioria dos pedagogos que gestionam segundo suas próprias concupiscências. Do outro lado, o alunado rende-se ao permissivismo de nosso tempo e adota uma conduta sem cobrança e de total indisciplina.
          É nosso privilégio, nosso elevado destino, sermos coerentes. O fato de uma maioria decidir determinados comportamentos pedagógicos, não os devia tornar legítimos, não só por isso. A maioria, por ser sempre vencedora, quase sempre está errada. Precisa-se que outra maioria, dos comuns, para questionar a maioria dos mandantes. Tudo na escola se resolve seguindo a opinião da maioria autorizada. Devemos ser "antidemocráticos" em detrimento do que já está funcionando. Proíbe-se o uso do boné na escola sem justificativa educacional só porque a maioria dos pedagogos (maioria autorizada) decidiu; não a maioria dos alunos. E quanto ao uso de bermudas, sandálias havaianas e camisetas que trazem ao ambiente escolar um clima de clube, a maioria se posicionou permissiva?  A maioria transferiu o aluno indisciplinado do segundo ano "C" para o segundo "D", e não levou em conta a opinião da sala que iria recebê-lo só porque tem menos alunos e nem, também, levou em conta o dito popular: “um tomate podre estraga uma centena”! Estabeleceu-se uma semana de provas e não calcularam as competências na construção de um horário especial! e virou confusão! Nesse caso, o professor perdeu a autonomia de decidir quando aplicar suas provas, e que prova essa supervalorizada se o professor deve apresentar no mínimo quatro notas para fazer a média bimestral, já  por recomendação anteriormente decidida pela maioria? E o aluno que precisou faltar um dia na semana de prova, perdeu três provas de uma só vez!?
          Cabeça fraca é quem segue a maioria para imoralidade. Não estou aqui escarnecendo da maioria pelo mero prazer de fazê-lo. Mas, porque estou aflito enquanto muitos estão seguindo os ventos por ser mais cômodo segui-los, mesmo que seja para o fracasso.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 12/05/2009
Código do texto: T1590213

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários


CARTA DE UM (DES)NAMORADO (Meu primeiro dia dos namorados sem você, sem pizza e sem nada.)




CARTA

CARTA DE UM (DES)NAMORADO (Meu primeiro dia dos namorados sem você, sem pizza e sem nada.)

Carta de um (des )namorado
                                           Senador Canedo, 12 de junho de 2007.


À inesquecível Luz(i)esperança,

            Minha querida, outrora esposa enamorada, hoje tive um sonho de cachorro! No sonho, contava-me seu pai que "o cãozinho da casa só tinha olhos para uma pessoa: sua filhinha. Ele a seguia por toda parte. E havia amor mútuo entre eles. A família não podia levar o animal consigo para o novo apartamento, que acabara de comprar, e assim, deu-lho, à família de um parente próximo.  Um mês mais tarde, o cãozinho estava morto. Ele não mostrava nenhum sinal de enfermidade. O veterinário disse que ele morrera de quebrantamento de coração. Sentiu falta de sua amável dona".
            A verdade é que não existe resultado mais funesto do que um coração quebrantado, seja o coração de um animal, ou seja, de um ser humano. Ainda nesse sonho, ouvi de um Pastor evangélico, que me disse:
            — "Mais de uma vez, em minhas atividades missionárias, tenho ouvido a respeito de pessoas que perderam a vontade de viver, e pouco tempo depois estavam mortas, não por alguma enfermidade, mas por que o coração fora partido".
            Isso é uma tragédia; contudo, é quase de arrebentar o coração de quem passa o dia dos namorados no buraco negro da solidão. Poder-se-ia pensar que “quando Deus te desenhou Ele tava namorando”, mas ao lado, as hostes angelicais estivessem tristes quando previam um coração quebrantado e, normalmente assim, seria o meu.
            Agora lhe falo de cadeira cativa, sou o Cristo de sua cruz, clamando ao Pai por vida, porque as marcas ficaram em aberto, como os buracos de pregos que já não estão mais ali. Um cravo é uma coisa muito simples. Pode ser feito de ferro, de aço ou galvanizado. Pode ser também de madeira. Mas é muito importante! Lembra-nos da história de que por falta de um cravo, perdeu-se a ferradura, perdeu-se o cavalo, perdeu-se o cavaleiro, perdeu-se a batalha, até que finalmente todo o reino foi perdido, porque se perdera um cravo.
            Cravos, ou pregos, usam-se em construções. Eles mantêm firme a estrutura, unindo as partes componentes, e estas unidas permanecem enquanto os cravos ou pregos estiverem ali. Removam-se esses fixadores e a estrutura entra em colapso. Deus uniu os casais por meio de cravos. Não é difícil concluir que esses cravos sejam os atributos sentimentais. Eles iluminam-lhes os olhos, reacendem-lhes no coração, e a chama dá vontade de viver.
            Minha querida, ajude-me a reformar a estrutura de nosso relacionamento, restituindo-lhe os cravos necessários e, então, viva e permita-me a viver.


Feliz dia dos namorados do seu desnamorado.


Claudeci Ferreira de Andrade
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 11/05/2009
Código do texto: T1588375

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários


RECAIDAS ("O casamento é uma tragédia em dois atos: civil e religioso." (Barão de Itararé).)



CONTO

RECAÍDAS ("O casamento é uma tragédia em dois atos: civil e religioso." – Barão de Itararé).

Por Claudeci Ferreira de Andrade
         Depois de sua separação, Cornélio devia está feliz com sua  nova situação de homem livre. Pois, na vida de casado e de "Cornélio" não lhe sobrou nenhuma oportunidade para ser feliz. Mas, se com ela estava difícil, sem ela, ficou pior! A lembrança dela, nesse intervalo de tempo,  trouxe-lhe uma maior crise existencial. Com a sua  lembrança deu se a queda de um grande homem, e ali se iniciou a sua decadência moral e social. Do mais nobre homem, ele tornou-se um dos mais degradados, pois foi banido do direito de leito imaculado. Agora separado começou o resgate. E da parte dela só rebelião. Enfim, a esposa pródiga foi reintegrada no favor de seu marido com várias exceções e tornou-se participante de seu lazer nos momentos de folga, ou seja, visitava o pobre homem de vez em quando. Mas, assim, entre altos e baixos, bastava ela adentrar quele velho portão verde musgo, chamuscado pela ferrugem, para ele mergulhar nas lembranças comuns do passado, a sua casa se tornava o lugar mais sem beleza e desaconchegante da terra. Nela não pululavam todas as razões de alegria, e estavam em desarmonia entre si. Sem a Vanda, tudo estava muito desfigurado, com ela, a história só tinha conflito e o desfecho era sempre muito frustrante. As visitas diziam que a sua casa,  não era o mesmo lugar, era um fosso intranquilo e isolado e não possuía espaço aberto em que se podia olhar para cima e ver o sol novamente.
          Na primeira fase, o Cornélio, que também era filho de Deus, sofreu a desonra da traição. Porém, na segunda, a recaída, ele quer de novo morar junto, assim que soube que ela estava sem o namorado com quem condescendeu, por pouco tempo, com os desejos da carne, queria total posse. Porém já não era tão coitado, arranjou uma desculpa, de querer ter filho. Depois teria uma amante pois julgara ser assim a vingança ideal. Vanda não o aceitou, pois ela mesma não tinha mais as trompas de Falópio,  mas bastou pouco tempo para perceberem que a casa nunca deixou de estar em perigo!
          Se Vanda houvesse alcançado a vitória sobre a sua primeira tentação; alegria, felicidade e vida abundante teriam sido o seu quinhão. Cornélio perdeu o domínio sobre seu casamento, mais uma vez! E também perdera sobre si mesmo o respeito, opinando pelo suicídio a prestação. Finalmente Cornélio desistiu da vida a dois, justificando sua repugnância ao casamento com o pensamento de Barão de Itararé: "O casamento é uma tragédia em dois atos: civil e religioso." 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 14/01/2011
Código do texto: T2729223

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários