

LIÇÕES DE BIA
Por Claudeci Ferreira de Andrade
No ano passado, eu estava dirigindo aulas de Língua Portuguesa para um segundo ano do Ensino Médio no Colégio Estadual. Uma jovem, a qual chamaremos de Bia, não assistia às minhas aulas regularmente, frequentando pouco o colégio nos dias letivos. Talvez, ela não conhecesse bem as obrigações de aluno. Eu estava certo de que ela seria em breve a pior aluna da unidade escolar. Assim procurei pressioná-la um pouco mais.
— Bia – eu disse – você é uma aluna de comportamento desfavorável e é pouco assídua ao colégio. Que você pensa dessa sua falta de dedicação?
— Creio que não é de disciplina, tudo que um bom aluno precisa – ela me respondeu sem hesitar.
— Isso é bom – retruquei esperançoso – e o que pensa dos seus professores?
— Creio que também são filhos de Deus – respondeu-me mais uma vez com segurança.
— Ótimo – assenti – e quanto ao regimento da unidade escolar?
— Tenho a intenção de obedecê-lo – foi sua pronta resposta. Senti que o diálogo se desenvolvia bem.
— Então você planeja ser uma boa aluna e tornar-se um exemplo de dedicação e no final ser coroada com uma merecida aprovação em todas as matérias? – Eu arrisquei, esperando uma resposta convencional e dentro do permitido.
Bia olhou-me espantada e replicou: —Tornar-se uma boa aluna e ser alguém na vida? Jamais me passa pela cabeça tal ideia, não no modelo da escola; estou aqui para me divertir, comer, socializar e zoar, aprender o mínimo possível! Aprendemos mesmo a arte de viver e ganhar dinheiro é na rua.
Ela simplesmente cria que poderia incluir a vida escolar entre os seus outros lazeres: quebrar as normas e ainda continuar fazendo “sucesso” na comunidade escolar era seu objetivo.
Ela simplesmente cria que poderia incluir a vida escolar entre os seus outros lazeres: quebrar as normas e ainda continuar fazendo “sucesso” na comunidade escolar era seu objetivo.
Bia não é a primeira, nem será a última que frequenta o colégio sem jamais chegar ao conhecimento do verdadeiro objetivo disso. Muitos há, dentro da escola, que sofrem da mesma doença: desvio focal.
Há outros alunos que frequentam às aulas regularmente, fazem as atividades propostas pelos professores para ganhar nota, mas recusam deixar que o conhecimento os transforme numa pessoa de sucesso de verdade! Estão sempre reivindicando boas notas, mas nunca chegam ao objetivo da escola, que é dar-lhes o conhecimento acadêmico, anexando-lhes a competência crítica e analítica da vida real.
Quem merece maior reprovação, Bia ou aqueles que correm atrás de boa nota, meramente copiando e colando? Ou, até, comprando monografia? (desculpe-me a rima, se um pecado intencional merece perdão)!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 14/05/2009
Código do texto: T1593611
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07/12/2010 09:19 - Quésia
Professor Claudeci! Nossa! O senhor foi meu professor há muito tempo, quando eu ainda era uma criança (Aproximadamente uns 15 anos atrás)... Sempre gostou de escrever... Lembro-me bem das frases diárias no cantinho do quadro. Que momento mais nostálgico! É certo de que não se lembrará de mim, mas fico contente em ter feito neste momento uma breve viagem ao meu passado infantil. Grande abraço!
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