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MINHAS PÉROLAS

sábado, 15 de agosto de 2009

FIZ VISTA GROSSA (Quantos não estavam esperando o beijo gay do final na novela: Amor à vida?)



CRÔNICA


FIZ VISTA GROSSA (Quantos não estavam esperando o beijo gay do final na novela: Amor à vida?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

No Dia do Estudante, a escola cumpriu o ritual que não pode passar em branco, dedicando-se a homenagear seus alunos. No entanto, o esforço extra tinha um preço no mundo das trocas: as aulas terminaram mais cedo para que os professores pudessem confeccionar as lembrancinhas. É difícil discernir se tal atitude é um efeito puro do mundo capitalista ou a aplicação sutil da velha máxima de São Francisco de Assis — "é dando que se recebe". O fato é que os docentes garantiam, de forma recíproca, a organização da sua própria festa, normalmente a cargo dos estudantes. Nesses dias festivos, a formalidade se quebra, e um espírito de euforia e desprendimento toma conta, conduzindo as criaturas a um estado menos que humanas, talvez, somente carnais.

A falha dos mestres, percebi, foi não ter anexado uma "bula de uso" ao pirulito da celebração, pois a ausência de um manual para o doce pareceu liberar a conduta. Foi nesse vácuo que assisti à cena chocante: um adolescente, num ato de furto e agressão lúdica, arrancou o pirulito da boca do colega e o saboreou com manifesto gosto. Minha formação, forjada em outra geração, viu ali não apenas um assalto, mas uma transgressão íntima, quase um beijo forçado, desafiando os limites da permissividade cultural de hoje. Essa cena, embora parecendo uma mera "brincadeira" de pátio, carrega a revelação da intimidade desregulada e da exposição de fluidos em tempos de vigilância sanitária. A inocência do doce se quebra, e o que resta é a percepção de uma fronteira moral e física cada vez mais tênue, onde a troca e o risco se tornam parte do cotidiano.

A reflexão me assusta, ainda mais neste tempo de saúde frágil: a quebra de um tabu moral acaba expondo a riscos reais, muito além da mera "brincadeira" — um beijo compartilhado é uma porta aberta, como a fonte citada demonstra (http://www2.uol.com.br/vyaestelar/beijo_saude.htm - 01/02/2014). Resta-nos torcer para que a atitude do adolescente não resulte em consequências que inspirem seus pais a pleitearem indenização à escola, tal como fizeram os pais do "Zeca" na Novela Caminho das Índias.

Paradoxalmente, nessa mesma ocasião, presenciei uma atitude igualmente agressiva: a recusa explícita, com palavras de desprezo, do "pirulito da Paz". Seria porque o doce é a "isca" visível da troca? Ou porque, de tão macacos velhos, já não se deixam comprar pelo açúcar? A rejeição do doce, assim como o furto desavergonhado, são dois lados da mesma moeda: a negociação explícita dos valores no nosso pátio social.


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O texto possui uma excelente fluidez e uma crítica social afiada, perfeita para a discussão em uma aula de Sociologia. Como seu professor, vou focar as questões nos conceitos-chave do texto: a crítica à reciprocidade utilitarista, a hipocrisia das relações, a quebra de normas sociais e a influência do capitalismo na escola.

1 - Reciprocidade e Instituições Sociais: O texto levanta a dúvida se a homenagem aos alunos reflete o "mundo capitalista ou a aplicação sutil da velha máxima de São Francisco de Assis — 'é dando que se recebe'." Analise sociologicamente esta passagem, explicando a diferença entre a troca utilitária (mercadológica/capitalista) e a reciprocidade social no contexto das relações entre professores e alunos.

2 - Moralidade e "Vácuo de Conduta": A ausência de uma "bula de uso" para o pirulito é usada como metáfora para a quebra de formalidades e a liberação da conduta. Discuta como a quebra de normas sociais explícitas (formalidade) pode levar a um "vácuo" que permite a transgressão, como o ato do furto e compartilhamento do pirulito, e o que isso revela sobre a moralidade na esfera pública.

3 - Transgressão e Permissividade Cultural: O autor descreve a cena do pirulito como uma "transgressão íntima, quase um beijo forçado," atribuindo seu choque à "permissividade cultural de hoje." Como a Sociologia pode interpretar o choque geracional do narrador, considerando a mudança nos limites do que é considerado "público" e "íntimo" nas interações juvenis contemporâneas?

4 - O "Pirulito da Paz" como Objeto de Troca: No final do texto, a recusa explícita do "pirulito da Paz" é interpretada como uma possível rejeição à "isca" da troca. Explique o conceito de valor simbólico em Sociologia e como a rejeição ou o desinteresse por um objeto com valor simbólico (a lembrancinha/doce) pode ser interpretada como uma forma de protesto ou negociação explícita dos valores pelos alunos.

5 - Corpo, Risco e Vigilância Sanitária: A crônica associa o ato do adolescente à "revelação da intimidade desregulada e da exposição de fluidos em tempos de vigilância sanitária." Reflita sobre como o corpo e as interações físicas, que antes eram reguladas primariamente por tabus morais, hoje são crescentemente enquadradas pela preocupação com a saúde pública e o risco (a menção à fonte sobre beijo e doenças).




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